31 janeiro 2007

À descoberta do Vieiro



Chegou a vez de visitar o Vieiro!
O Vieiro pertence actualmente à freguesia de Freixiel mas a sua história divide-se entre Freixiel e Vilas Boas. No século XII pertencia ao concelho de Freixiel mas no século XIV pertenceu a Vilas Boas. A sua história perde-se no tempo mas há ruínas de um habitat romano.
Situa-se a 270 metros de altitude, na estrada N314 que ligava Moncorvo ao Porto e que ainda é bastante utilizada como acesso ao IP4.
Parti sem grande motivação. O dia estava o que se pode chamar horrível: frio e com muito nevoeiro. Acreditei na minha estrelinha da sorte, coloquei um garruço por baixo do capacete e segui viagem. Quando comecei a descer para o vale onde se situa Freixiel, o nevoeiro começou a diminuir. No Vieiro não havia nevoeiro, estava mais alto, impedindo o sol de iluminar e aquecer a aldeia.
A minha primeira paragem foi antes de chegar à aldeia. Um habitante andava a podar a vinha e aproveitei para dois dedos de conversa.
A receber os visitantes, logo à entrada, junto ao cemitério, está um bonito conjunto com um nicho a Nossa Senhora, uma fonte e um jardim por trás. Continuei a descer e surpreendeu-me o primeiro “quadro” da paixão de Cristo. Este foi só o primeiro, porque outros se encontram espalhados por toda a aldeia, permitindo rezar a Via Sacra. Não vi os 14 quadros, mas vi bastantes.
Procurando um lugar estratégico, subi pela Rua da Portela. As casas são em grande parte de granito, construídas por vezes sobre granito, com paralelos de granito nas ruas. Todo este granito rijo fez com que as ruas crescessem desorganizadas. Subi aos esses até à última casa. Consegui uma boa localização, via quase toda a aldeia. As casas mais antigas misturam-se, nem sempre de forma harmoniosa, com bonitas moradias recentemente construídas.
Voltei à estrada nacional e segui para a igreja, Igreja Nova de S. Tomé. De construção recente surpreendeu-me o facto de o campanário estar situado a cerca de 50 metros, nos rochedos. O interior é muito amplo e bonito, centrando a atenção numa grande imagem do Santo Cristo pregado na cruz, ladeado por Nossa Senhora das Dores e de S. João Evangelista.
Uma idosa rezava. Perante a minha curiosidade, explicou-me o porquê de duas Nossa Senhora de Fátima e respondeu com simpatia às minhas perguntas.
Subi aos rochedos onde está o campanário. Daqui também se tem uma bonita vista.
Continuarei a descer a aldeia. Os estabelecimentos comerciais situam-se na estrada nacional. Contei dois cafés e um mini mercado.
Decidi descer ao Rio Tua, a Quinta do Carvalhilho chamou a minha atenção.
Aproveitei a ponte para fotografar a linha do comboio e o rio. Também procurei vestígios da venha Ponte do Diabo. A antiga ponte que integrava a estrada real Porto-Moncorvo caiu em 1909. É tema de lendas que afirmam que foi o Diabo que a construiu. A verdade é que foi uma cheia que a destruiu.
Desci à linha do comboio, estação de Abreiro. Para surpresa minha a estação está perfeitamente conservada! Tem portas e janelas e está caiadinha de branco! Bem que gostaria de ver assim as restantes estações e apeadeiros que tenho visitado!
Voltei ao Vieiro, e, desta vez, cortei à direita pela Rua de Baixo. Apercebi-me que havia uns rochedos com pequenas quedas de água no ribeiro. Passei pela capela velha de S. Tomé, onde gostaria de ver o altar e as imagens de S. Tomé e Santa Bárbara, mas estava fechada. Cortei para a Rua da Costeirinha para apreciar o ribeiro. Encontrei partes de um velho moinho. A água corria de uma cor estranha, muito estranha. Durante a tarde andaram ali perto a abrir um furo artesiano para captação de água que pode ter contribuído para que a água tivesse aquela cor. Mais acima labora um lagar de azeite. Apesar de todas as precauções, a água que corre no ribeiro até aquele ponto não tem nada a ver com a que corre dali até ao Rio Tua.
Encontrei um rosto sorridente numa varanda. Não pode ser só a Graça Morais a imortalizar os rostos femininos do Vieiro! Pedi licença e fiz um retrato.
Continuei pela Rua do Olival até sair da aldeia precisamente no local onde comecei a visita. Pedalei até casa, onde cheguei quase de noite, com muito nevoeiro mas sem frio.
Pelo que dizem, fazia muito frio!

Quilómetros percorridos de bicicleta: 32
Total de quilómetros de bicicleta: 425
Total de fotografias: 6500

29 janeiro 2007

Descobrir Candoso



Hoje parti à descoberta de Candoso. Já passei vezes sem conta na estrada N214 mas foram poucas a vezes que desci ao centro da aldeia (penso que só o fiz de noite).
Candoso é uma freguesia situada no extremo do concelho. A 760 metros de altitude, já devia existir na altura da formação de Portugal. Pertenceu ao concelho de Freixiel até que o mesmo foi extinto em 1836, passando depois a integrar o concelho de Vila Flor.
A igreja matriz é de 1801 e tem uma robusta torre sineira, quadrangular com quatro sinos. Foi retirado o reboco que a revestia mas a fachada foi revestida de novo. A torre continua com o granito à mostra.
O dia esteve muito frio. Em Carvalho de Egas não havia nenhum fontanário onde corresse água, deve ter gelado nos canos. Era o típico dia em que ninguém recomenda andar de bicicleta, até andar na rua! Percorri bastantes freguesias e podia contar pelos dedos de uma mão as pessoas que encontrei nas ruas.
À chegada a Candoso fotografei a Fraga do Ovo. É o cartão de visitas da aldeia! Bem que podia ter aquecido os músculos a tentar move-la, mas não foi necessário, já estavam quentes. Mais à frente reencontrei os dois cafés que existem na freguesia: o Zimbo e o Abrigo. Já comi alguns petiscos em ambos.
Ao longo da Estrada Nacional têm sido construídas bonitas vivendas, mas ao descer para o centro da aldeia pela Avenida do Barreiro, notei que a fixação das pessoas também se verifica noutros pontos.
Sem chegar ao centro, mudei de planos, e comecei a subida ao Santuário. A capela é dedicada à Nossa Senhora da Assunção. Não deixa de ser curioso o facto das duas capelas da aldeia serem dedicadas a Nossa Senhora da Assunção. Também a festa maior da aldeia lhe é dedicada e realiza-se no Domingo seguinte ao dia 15 de Agosto, desencontrando-se da grande festa que se realiza no Santuário em Vilas Boas.
A vista do Santuário correspondia às minhas expectativas. Fiquei com uma ideia bem aproximada da aldeia. Não fora o vento frio e tinha ficado por ali mais tempo. Desci à Escola Primária. Tem afixados na janela os manuais escolares para o ano lectivo de 2006-2007, o que me deu indicação que ainda funcionou no ano lectivo passado. Está bem conservada, à excepção dos vidros das casas de banho, nas traseiras. No átrio ainda descansa alguma mochila esquecida, mas já não se ouvem os gritos das crianças no recreio. A rua mantém o nome, Rua da Escola.
No Largo da Fonte pude ver gelo com alguns centímetros de espessura, como não via já há algum tempo. Desci até à igreja, estava aberta, entrei. Foi restaurada recentemente, é muito sóbria mas bonita. Por todo o lado há imagens de santos. Lá estava a Nossa Senhora da Assunção, bem como Santa Bárbara, S. José, S. António, etc. O S. Sebastião ainda se encontrava no andor em forma de torre de castelo, tendo o seu capacete de soldado romano aos pés. Embora apareça sempre representado com o corpo cravado de frechas, essa não terra sido a causa da sua morte.
Também se encontram na igreja matriz as imagens da capela existente perto da Rua da Ponte que se encontra em obras e para onde me dirigi de seguida.
Na segunda capela dedicada a Nossa Senhora da Assunção pude admirar o painel de azulejos que A representa. Por algum motivo, o obreiro que o montou (que nunca deve ter resolvido nenhum puzzle) não o fez correctamente. Esta capela tem um alpendre virado a norte. Não pude admirar o seu interior porque estava fechada. Havia materiais de construção por todo o lado.
Desci mais um pouco a fotografar um nicho com data de 1955, representando as almas no purgatório. É semelhante ao que existe à frente do cemitério.
Comecei a subir a aldeia muito lentamente. Visitei a Rua da Nossa Senhora da Assunção, Rua do Navalho, Rua da Capelinha, Rua do Forno, cheguei de novo à igreja e depois ao Largo da Fonte.
Segui pela Avenida S. Sebastião, onde encontrei algumas casas bastante antigas e parei junto ao cemitério. Ainda pude admirar um bonito presépio e os vestígios da fogueira de Natal.
Subi ao que parece ser um Jardim-de-infância. Daqui tem-se outra perspectiva interessante da aldeia. Aproveitei para tirar algumas fotografias da escola de 1.ºciclo, numa elevação oposta, do cemitério recentemente ampliado, com a sua capela e de algumas rochas que por ali estavam que deviam ter vindo de um lagar.
Desci e apanhei de novo a Rua do Barreiro. Ainda pude ver algumas moradias bem bonitas e a Sede da Junta de Freguesia que mais parecia uma delas.
Estava quase a chagar à estrada nacional quando o telefone tocou. O almoço já me esperava… em Zedes.
Depois de almoço voltei à “estrada”. Apanhei a estrada N629 que liga Zedes a Folgares mas cedo a abandonei, ali pelos Carqueijais. A 750 metros de altitude comecei uma descida por uma trilha que me levaria a Freixiel através do Vale da Cabreira.
Fiz uma longa paragem na Quinta do Pobre. Há quase 15 anos que não passava por lá e, entretanto, o único habitante morreu.
Cheguei a Freixiel já era noite. As fotografias tinham terminado. Havia que regressar a casa.

Quilómetros percorridos de bicicleta: 46
Total de quilómetros de bicicleta: 393
Total de fotografias: 6242

27 janeiro 2007

Pelo sonho é que vamos

Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.
Chegamos? Não chegamos?
- Partimos. Vamos. Somos.

Sebastião da Gama

Fotografias na estrada Vila Flor-Trindade, no dia 25 de Janeiro de 2007.

25 janeiro 2007

Finalmente S. Comba da Vilariça

Santa Comba da Vilariça dista 14 quilómetros da sede de concelho e situa-se no Vale da Vilariça, na margem direita da Ribeira da Vilariça. A origem da freguesia é muito antiga, talvez medieval havendo documentos que atestam a sua existência no século XIII. Grande na história, mantém ainda hoje alguma pujança. A estrada N102 (E802) aproxima a freguesia de outros pontos de desenvolvimento, permitindo o escoamento de produtos agrícolas que Santa Comba produz em quantidade e qualidade. São de destacar o azeite, o vinho, as laranjas, as hortaliças, etc.
Em termos de serviços, Santa Comba da Vilariça mantém a Escola Primária que ocupou de novo o edifício centenário, de 1865, recebendo alunos de outras aldeias. Também é uma das duas freguesias do concelho, juntamente com Freixiel, com um G.A.C. (Gabinete de Apoio ao Cidadão).
A importância da freguesia é atestada pelas casas apalaçadas e solarengas e os seus três cruzeiros medievais.
Os visitantesdo blog, pela sua votação, têm também feito alguma “pressão” para o meu retorno a Santa Comba onde já passei no dia 19 de Novembro último. A par de todas estas razões há mais uma, inegável, o Vale da Vilariça é um espaço único, em vários aspectos, no Nordeste trasmontano e talvez em Portugal.
O passeio começou pouco antes das 14 horas. Adivinhava uma viagem longa. A tarde estava luminosa, apesar de um vento por vezes forte e gelado que teimava em me empurrar sem sentido contrário àquele em queria seguir.
Comecei a tirar fotografias logo à saída de Vila Flor, no Barracão! A claridade do dia, as nuvens, o cheiro, tudo convidava à fotografar e para cada lado que olhava saltavam motivos. Fui parando vezes sem conta até chegar próximo do cruzamento para Vale Frechoso. Ali, deixei a bicicleta e subi a pé ao cabeço Flor da Rosa (643 metros de altitude). Com o frio a bater-me na cara (e por todo o corpo), deliciei-me com a visão à minha volta! Eram 360º de beleza de montes fascinantes, vales escuros, rio, barragens, capelas, até avistava Mirandela! Andei por ali perdido entre urze e carqueja, subindo aos talefe, sentando-me no chão, esgotando a memória da máquina fotográfica com “landscape”s capazes de fazer inveja a qualquer lugar no mundo.
Arranquei. Pára aqui, pára acolá, cheguei a Benlhevai. Um pequeno desvio e… onde está a aldeia?! Afinal é bem grande Benlhevai, vai dar um óptimo motivo fotográfico num outro passeio!
Desci à Trindade. O dia estava cada vez mais fresco. A solução foi pedalar com toda a força, fingindo estar na Volta a Portugal. Ainda parei para fotografar Valbom e fazer algumas panorâmicas do Vale.
Cheguei a Santa Comba bastante tarde. Entrei pela Rua da Fonte da Portela e encontrei logo ali o primeiro cruzeiro medieval. Segui pela avenida Fernando Campos Monteiro, Rua do Cordão, Rua do Cais e depois Monte do Calvário. Depois da Rua de S. Sebastião, encontrei a capela dedica ao mesmo santo. Aqui é o lugar privilegiado para se ver Santa Comba. Ao lado há um nicho em granito, vazio, encimado por uma formação um tanto ou quanto estranha, fazendo lembrar alguns locais de culto pagão muito antigos.
Desci pela Rua de S. Pedro, passei pelo Centro de Dia e Lar e de S. Pedro da Santa Casa da Misericórdia de Vila Flor e pelo segundo cruzeiro.
Cheirou-me a pão fresco. A Padaria S. Pedro estava mesmo ali. Pedi licença e entrei. Pão, moletes, bolas de azeite e até Bolo Rei, esperavam na estante para serem despachados a fim de serem vendidos por todo o concelho e arredores. A D. Julieta, primeiro surpresa e depois muito simpática, mostrou-me, com vaidade, os diferentes pães e bolos.
Continuei pela Rua do Emigrante, Casa da Renda, Rua de S. António e parei na Capela de S. António que ostenta a data de MDCCIL. Ali ao lado há um lagar de azeite, mas devido à diminuição de azeitona para ser transformada, já não labora todos os dias e estava parado. Desci ao que me parece ser o centro da freguesia, o local onde se encontra a Escola Básica de 1.ºCiclo, a Junta de Freguesia e o coreto, o Largo das Eiras. Surpreendeu-me a escola! Imponente, de granito, recuperada à pouco tempo. Soube já hoje que carece de um espaço para as crianças brincarem. Não admira. Quando foi construída as crianças brincavam em qualquer lado. Sempre era melhor brincar fora da escola onde os dois sexos podiam conviver.
Ainda eram visíveis os vestígios do que deve ter sido uma grande fogueira de Natal.
Passei a Ribeira da Fonte de Ordem, admirei algumas oliveiras, que devem ser centenárias, laranjeiras e encontrei o terceiro cruzeiro, aquele que me parece mais rico na ornamentação. Aqui há novas e bonitas habitações. Mais abaixo encontrei a Escola Primária agora a funcionar como Jardim-de-infância.
Percorri a Avenida Lucinda Pereira e junto ao posto de abastecimento de gasolina apanhei de novo a estrada N102. Lá longe, ao fundo do Vale, onde o Douro corre pachorrentamente, brilhava o último clarão de luz solar. Estava atrasado.
O mais rápido que fui capaz, cheguei a Lodões. Ainda pensei repetir as fotografias que aí tirei há dois meses atrás, mas não foi possível. Começou a cair a noite quando subia em direcção a Roios. Liguei as luzes de presença e tirei o colete com faixas florescentes que trago na mochila. Pausadamente, fui subindo e a luz descendo. Até que nem é desagradável andar de bicicleta à noite, não fora o frio que me gelava a cara.
Chegado a Roios, pensava eu que seria fácil ir até Vila Flor! Para além da estrada continuar a subir, está cheia de buracos, o que me atrasou ainda mais.
Entrei em Vila Flor perto das dezanove horas, cansado, mas satisfeito. Foi uma tarde em cheio, daquelas que vai demorar muito esquecer.

Quilómetros percorridos de bicicleta: 44
Total de quilómetros de bicicleta: 347
Total de fotografias: 6060

24 janeiro 2007

Quando o Sol brilha...



Hoje o passeio foi longo: Benlhevai, Trindade, Valbom, Santa Comba, Lodões, Roios e Vila Flor. Cheguei a casa de noite. Não porque me faltassem as forças, ou pelos quilómetros percorridos, mas sim porque, quase metro a metro, me apetecia parar para registar toda a luz e beleza que que a minha visão recebia.

Esta fotografia é um exemplo. Perto de Vale Frechoso, olhando para o Vale, o vento e o frio não foram suficientes para me afastar desta visão magnífica.

Amanhã há mais.

23 janeiro 2007

A aventura continua


Queria agradecer a todos os que me incentivam, no blog, no trabalho e pela rua. Cada visita, cada passeio, é único. As marcas de deixa vão além das dezenas, centenas de fotografias, algumas admiráveis, que organizo com carinho.
Já penso nos próximos percursos. Quem sabe descer até ao vale, bem próximo de Bornes que por vezes se enrola em novelos de algodão. Já vejo Santa Comba, ali no canto, esperando por mim!

22 janeiro 2007

À descoberta de Vilarinho das Azenhas

No dia 21 de Janeiro fui ao Vilarinho das Azenhas. De repente, este começou a ser o destino com mais pontos na votação no Blog e também sentia uma certa curiosidade em conhecer esta terra da qual não lembrava mesmo nada (já passei várias vezes na Linha do Tua de comboio).
O dia estava muito desagradável. Muito frio, muito nevoeiro e com ameaças de piorar ainda mais.
Saí a meio da manhã, carregando também algumas sandes e fruta para combater a fome, num percurso que se adivinhava mais longo. Ao chegar perto de Vilas Boas o nevoeiro diminuiu e comecei a ganhar esperança. Depois, já na estrada de Vilarinho das Azenhas, o nevoeiro desapareceu da estrada apesar de, durante todo o dia, ter ficado a rondar o Cabeço da S. da Assunção, o Cabeço de S. Cristóvão e a Serra do Faro.
Cedo pude ver a aldeia lá ao fundo, junto do Rio Tua, meia adormecida no manto de nuvens que não deixava o sol secar os toldes e sacos da azeitona estendidos, despedindo-se da faina. A descida foi rápida e a temperatura ambiente subiu um pouco. Ao longo da descida foi tomando forma o monte onde se ergue o Santuário da Senhora dos Remédios. O caminho para o santuário tem início nas primeiras casas da aldeia. Vacilei um pouco, a subida ia requerer muito esforço. Depois de uma luta interior comecei a subida, controlando as forças que ainda seriam muito necessárias. O esforço valeu a pena. Apesar do dia não estar como eu o desejava, a paisagem que se avista enquanto se sobe, ou depois de chegar ao santuário, é algo de muito belo.
Parei várias vezes, passando os olhos pela paisagem mais próxima ou mais afastada e deixei arrastá-los pelas águas do Rio Tua que correm fartas mas tranquilas, não fora alguma açude das antigas azenhas que deram o nome à povoação.
O santuário tem um largo bastante grande que imaginei repleto de gente, música, cor e alegria, na festa a Nossa Senhora dos Remédios, no primeiro domingo de Setembro. Quanto se deve agradecer uns goles de água depois de percorrer toda a subida em procissão!
No santuário há um coreto, uma casa dos milagres e a capela que apenas pude admirar no exterior (não resisti a puxar a corda e dar duas badaladas no sineta). O campanário é em granito, com desenhos gravados e encimado por uma cruz (já incompleta) com Cristo pregado. Pareceu-me estar em alto relevo nele o ano de 1715.
Junto ao coreto, muito rudimentar, há umas escadinhas que descem para uma zona de mato onde há um grande aglomerado de pedras soltas. Não sei se trata de algumas ruínas ou de paredes de terrenos agrícolas. A povoação é muito antiga talvez anterior ao século XII.
Desci calmamente e entrei na aldeia pela Rua das Alminhas. Passei por uma fonte onde três grandes peixes vermelhos e alguns escuros, passeavam meios adormecidos pela água fria. Ao lado havia dois tanques públicos para lavar a roupa. Seguia questionando-me do nome da rua quando encontrei umas alminhas muito singelas com os dizeres: “Ó vós que ides passando, olhai para nós e ide rezando”. Encontrei também uma casa com um bonito arranjo de antiguidades.
Virei à esquerda e subi um pouco a Rua Cimo do Povo. Depois de uma rápida visita desci em direcção à igreja. Pelo caminho passei na Casa das Azenhas, onde se faz Turismo Rural. Continuei e entrei na igreja. Era Domingo e a chave estava na porta, coisa pouco habitual nas localidades que tenho visitado. A igreja, dedicada a Santa Justa, é pequena mas muito bonita. Como em todas as igrejas, S. Bárbara tem lugar de destaque. S. Justa ocupa o lado direito do altar mor. Numa parede lateral, a meio da igreja está, Nossa Senhora dos Remédios. Há também imagens de Nossa Senhora de Fátima, S. José e o Menino, Cristo na Cruz, uma outra que não consegui identificar (será outra imagem de Nossa Senhora dos Remédios?) e mais duas pequenas imagens. Debaixo do altar estava um bonito presépio recordando as celebrações do Natal.
Continuei a descer a aldeia. Encontrei bonitas casas tradicionais, em ruínas, a cair aos bocados. Na Rua da Capela encontrei a capela do Espírito Santo, pequena, num largo bem cuidado.
À direita havia um café e à esquerda um nicho com a Sagrada Família. Apeteceu-me um café mas continuei. Desci até ao rio. Tem um grande caudal e deliciei-me a observar a açude de uma antiga azenha. À procura da ângulos favoráveis deparei com um curso de água que desaguava no Rio Tua. Foi a primeira tristeza da tarde. A água estava muito porca, muito poluída, apresentando mesmo grandes quantidades de gordura. Não vi em volta nenhum lagar de azeite, mas o aspecto da água revoltou-me. Decidi continuar até à estação dos comboios. O panorama também não era o melhor. Lixo, pinturas nas paredes, degradação e tristeza. Avancei até à ponte que permite a ligação a várias freguesias do concelho de Mirandela. O lugar é aprazível e aproveitei para comer o meu “almoço” ao som genuíno da orquestra do rio.
Ouvia os carros a passar mais acima mas não há nenhuma ligação a essa estrada, tinha que voltar à aldeia. Ali perto descobri um carreiro pelo monte que permitiu subir até à estrada N604 que me levou ao Cachão.
Esta estrada tem locais com lindas vistas sobre o rio com as escarpas rochosas à volta e a linha do comboio a acompanhar. Infelizmente também parece atrair muita gente sem respeito que despeja grandes quantidades de toda a espécie de lixos, incluindo muitos pneus e electrodomésticos. É incompreensível que pessoas que gostem da sua terra a cubram de lixo!
Chegado ao Cachão, no concelho de Mirandela, estava na hora de regressar. Ainda fiz algumas paragens para admirar Meireles, algumas rochas, medronheiros e a Quinta da Veiguinha. Cheguei a casa perto das cinco da tarde. Foi um grande passeio sempre rodeando aquele conjunto de montanhas que continuam a provocar-me para mais umas “descobertas”.

Quilómetros percorridos de bicicleta: 34
Total de quilómetros de bicicleta: 303
Total de fotografias: 5520