04 março 2007

Na rota das amendoeiras em flor 3



No dia 1, à tarde, parti sem objectivo definido em direcção ao Barracão. Demorei algum tempo a carregar as baterias e acabei por sair um pouco tarde. Para descer à Ribeirinha ou Vilarinho, ia faltar-me tempo.
Quando seguia pela Avenida Vasco da Gama decidi cortar para o Lugar do Marco. Não fazia ideia onde esse caminho me levava, mas a aventura é mesmo assim.
A primeira ideia era fazer uma fotografia panorâmica de Vila Flor, depois, logo se veria. Passei por alguns troços de caminho com bastante água e lama, não ia desistir logo ali no início! Avistei as primeiras amendoeiras em flor e o entusiasmo começou a subir. Também se avista um enorme depósito de água, numa elevação, de onde se tem uma boa panorâmica de parte de Vila Flor.



Rodando para a esquerda já via Samões, ali abaixo, muito próxima. Hesitei em descer à aldeia, mas optei por continuar a seguir o caminho. Cheguei ao campo de futebol de Samões, cortei a estrada que vai para a barragem e segui em frente. Aqui o espectáculo é fraco. Há por aqui lixo, muito lixo.
Encontrei um amendoal fantástico. O céu emproou-se, vestiu-se de azul e engalanou-se com algumas nuvens bastante brancas. Estava preparado o cenário ideal. Fiquei sem reparar no tempo, esquecido da bicicleta que me olhava de soslaio, enciumada. As pequenas amendoeiras pareciam talhadas e vestidas para a fotografia. Algumas pareciam vergar-se com o peso das flores imitando chorões! Alternavam flores rosa e brancas mas todas muito abertas, provocadoras.



Avistei uma pequena elevação mais à frente, com rochas curiosas. Larguei de novo a bicicleta e subi, na esperança de talvez avistar o complexo da Barragem do Peneireiro. Avista-se Vila Flor, as serras de Vilas Boas, mas mais uma vez a minha atenção centrou-se numa vinha invadida pelo florido das amendoeiras. Também a meus pés havia pequenas flores amarelas que se elevavam a uns míseros dois centímetros do solo. Fotografá-las foi difícil. Isolá-las do chão é um problema técnico bastante comploicado agravado pelo vento que se fazia sentir, abanando mesmo essas frágeis estruturas coladas ao solo.
Passei pela Serra de Candoso (e este nome, aqui?!) e já ouvia a alegre música do relógio da pequena igreja de Carvalho de Egas! É verdade. Uma das igrejas mais pequenas do concelho, tem a mais bonita (no mínimo) música para marcar o ritmo do tempo!
Foi mesmo junto à igreja que entrei na aldeia. Desci à estrada nacional que logo abandonei, seguindo pela Rua do Centro, pela Rua dos Bons Caminhos até à Rua da Estalagem Nova. Subi em direcção ao Santuário de Santa Cecília. Pareceu-me cedo para encetar o regresso, antes de chegar ao santuário, cortei à direita, em direcção a Valtorno. Há um caminho bastante agradável, que segue pelo cume de um monte e que vai terminar mesmo em Valtorno. Segui por ele e só parei quando me encontrava a poucos metros da aldeia, quase na estrada que sobe para o Mourão. Decidi voltar para trás. O sol espreitava-me de frente, mesmo por cima de Valtorno e o céu apresentava já alguns tons laranja. Segui o mesmo caminho, forçando um pouco a pedalada.
A certa altura, quando passei debaixo de uma linha de alta tensão, cortei à direita em direcção ao Seixo de Manhoses. Foi então que vi, com espanto, dois homens pendurados no alto de um daqueles enormes postes metálicos. Procurei fotografá-los, sem alterar a minha rota.



O céu largou o laranja e vestiu-se de vermelho na altura que em que deixei o Seixo para trás. Pedalei com toda a força para chegar à barragem, não queria perder aquele espectáculo. Cheguei ofegante, mas mesmo a tempo de tirar a mochila e fotografar os reflexos do céu vermelho nas águas já negras. Foi a cereja em cima do bolo, que mais eu podia pedir? Segui calmamente em direcção a Vila Flor, já com os fantasmas a tomarem conta dos caminhos.
Deixei a estrada e cortei em direcção à Quinta de S. Domingos que fotografei de perfil já com noite completa.



Ainda tive vontade de experimentar uma nova técnica fotográfica: coloquei a máquina num ramo de amendoeira, virada para Vila Flor, com o obturador aberto (é a posição Bulb ou B); com a lâmpada de presença da bicicleta “pincelei” alguns ramos floridos da amendoeira, como se estivesse a “pintar” com aguarelas. Achei graça a esta experiência. Recuei mais de 20 anos atrás, em Coimbra, quando uni duas objectivas com fita-cola para fotografar miosótis.
O telemóvel tocou, já estavam preocupados comigo. - Estou mesmo aqui na Rua da Pereira! Respondi.



Quilómetros percorridos neste percurso: 21
Mapa do percurso
Total de quilómetros de bicicleta: 622
Total de fotografias: 11720

6 comentários:

Anónimo disse...

Olá!
Que lindo 4º parágrafo!!!
Abraço
EL

Anónimo disse...

Olá,

Descobri o teu blog quando andei à procura de informação de Vila Flor. Depois de ter leccionado nessa linda Vila de Setembro a Dezembro é sempre bom retornar, nem que seja através do teu blog. Gosto muito das fotos e o desejo de voltar para fazer uma visita é grande. Parabéns pelo blog.
Até qualquer dia,
Raquel

AG disse...

Viva Esmeralda
As bonitas paisagens às vezes também me inspiram algumas palavras mais arrojadas.
Cumprimentos
Aníbal

Olá Raquel
Por onde andas? Os rapazes têm saudades tuas...
Espero que estejas a trabalhar, mesmo numa terra que não seja Flor.
Até qualquer dia
Aníbal

Anónimo disse...

Olá,

Estou em Rio Tinto. Estou a gostar muito da escola, dos colegas e alunos; como também aconteceu em Vila Flor, que fui muito bem recebida. Mas Rio Tinto em termos de beleza nada tem haver com Vila Flor. As viagens eram longas mas as paisagens apaixonantes...

At Ento/ViverParambos disse...

Olá Xo_oX.
Então fotografando as Amendoeiras à noite? e não ficaram com os olhos vermelhos, e o vento atrapalha as macro, mas estão lindas no seu amarelo essas flores minúsculas que se agigantam na tua foto. Grande paseio e belos tons que nos deixas para nosso deleite.
Recebemos uma visita no nosso blog que nos deu muita alegria, quatro em cinco são verdes! os nosso cumprimentos e a nossa amizade para Esmeralda,
Saudações.
At Ento

Anónimo disse...

(Aníbal, só isto para o Li Malheiros):
Obrigada ...Pela alegria... Pela amizade...
Do que vocês precisam mesmo é de quem vos visite com alegria, num clima de amizade, com comentários de apreço e um "FORÇA" para continuar!
Abraços
El