10 abril 2007

Valtorno 3

No dia 4 fiz um longo passeio por algumas aldeias dos concelhos de Vila Flor e de Carrazeda de Ansiães. São muitas as afinidades entre estes dois concelhos, em todos os aspectos.
O trajecto estava mais ou menos delineado, dependendo da minha resistência e da limitação do tempo. Teria que estar em Zedes à hora de almoço, onde fiquei de almoçar com familiares.
Com vontade de percorrer muitos quilómetros, deixei Vila Flor pelo caminho que passa junto do depósito de água, segue paralelo ao campo de futebol de Samões e sobe ao Concieiro, em Carvalho de Egas. Aqui, prestei mais atenção às rochas na beira da estrada. Procurava as alminhas que estão referenciadas junto à antiga estrada militar Almeida-Chaves. Por fim encontrei um nicho. Apresenta ainda vestígios de pintura sendo bem visível uma cruz, que teria Cristo crucificado. Distinguem-se também o que me parece serem quatro cabeças de outros personagens. Mais à frente encontrei outro nicho, mais pequeno, mais exposto e já sem nenhuma amostra de pintura.
Atravessei a estrada do Seixo (N609) e continuei por um caminho, já meu conhecido, até Valtorno. Aproveitei a posição sobranceira à aldeia para fazer algumas fotografias. O dia estava bonito e Valtorno parecia espreguiçar-se com o calor que se sentia. A aldeia é muito fotogénica e fiquei contente logo nos primeiros disparos. Se tivesse mais folgado no tempo, teria descido um o Ribeiro dos Moinhos, mas, segui até à aldeia passando por debaixo da estrada (N324).
Logo ali encontrei a pequena capela de Santo Cristo. O meu pensamento voou para a Ilha de S. Miguel, nos Açores, onde pude ver a imagem do Senhor Santo Cristo, ao qual a população presta grande culto.
Mais à frente, está um cruzeiro barroco. A protecção metálica que tem não é nada estética, antes pelo contrário. Os mesmos motivos decorativos, cruz, escada, turquês e martelo, encontrei-os, nesse dia, em mais dois ou três cruzeiros.

Subi ao Largo da Capela. Não dispunha de todo o tempo necessário para percorrer toda a aldeia, tinha que fazer opções. Segui pela Rua do Frade até encontrar mais um cruzeiro. Este está muito cuidado, pintado e rodeado de um bonito jardim. Dali vi a Escola Primária, a Ribeira das Olgas, com as ruínas de um moinho, e, algumas hortas. Subi às paredes e senti-me uns séculos atrás. Quantas pessoas já viram passar aquelas paredes? Por instantes imaginei-me numa aldeia medieval.
Valtorno é uma aldeia cheia de história. A prová-lo está o castro com vestígios de muralhas, a imagem gótica de Santa Maria do Castanheiro, do séc. XIII e algumas fontes medievais. Uma fonte medieval vi eu um pouco mais abaixo! Penso que seja a Fonte do Frade. Merecia melhor tratamento. Não me aproximei porque me pareceu tratar-se de terrenos privados, mas não gostei de ver aquela beleza votada ao abandono.
Em muitos recantos há bonitos exemplares de casas em granito, antigas, a merecerem recuperação. Há muros, casas, caminhos, fontes, pombais, bonitos exemplares do passado que me fascinaram e que prometo explorar com mais pormenor.
O relógio da Igreja de Nossa Senhora do Castanheiro alertou-me para o avançado da hora. Desci à estrada nacional e segui até ela. Por detrás da igreja sobrevive um enorme e velhíssimo castanheiro. Não me tinha apercebido que ali estava! A igreja estava fechada. Procurei em seu redor vestígios que atestassem os seus muitos anos de história. Em cima da parede do cemitério está uma cabeceira medieval. No adro existiu uma necrópole. Também nesta igreja se deu apoio aos peregrinos que por aqui passavam a caminho de Santiago de Compostela. Depois de terminar de ler o livro que trago em mãos, “Respingos de Valtorno”, terei outra visão desta igreja que é tratada no livro com alguma profundidade.
Apressado pelo relógio e pela fome, dei o máximo de mim enquanto pedalava até Alagoa. Bem me apeteceu parar e olhar para trás. Valtorno estava pomposo, preparado para a fotografia, deitado qual musa posando para a tela de um artista.

Cheguei a Alagoa. A cereja no cimo do bolo era eu encontrar um dos antigos marcos que sempre fizeram desta terra linha divisória de vários concelhos: Vilarinho da Castanheira, Carrazeda e Vila Flor. Acabei por encontrar as alminhas de Santo António, nas Abessadas, quando me dirigia para Mogo de Ansiães.
O meu trajecto seguiu pelo Mogo de Ansiães e depois Zedes, onde almocei. No regresso a Vila Flor, tive ainda coragem para ir a Samorinha, Carrazeda de Ansiães, Fontelonga, Pena Fria, Alagoa, Valtorno e Carvalho de Egas.
Cheguei a casa bastante cansado. Foi um dia pleno de emoções.


Quilómetros percorridos neste percurso: 70
Total de quilómetros de bicicleta: 819
Total de fotografias: 16 888

1 comentário:

Anónimo disse...

O meu nome é Armandino, natural de Valtorno e por casualidade encontrei o seu blog associado ao nome da minha terra. Fico contente por, tal como eu, ser amante da natureza, da aventura e da fotografia, mas mais ainda porque assim dá a conhecer um mundo diferente para melhor a uma infindavel comunidade cibernauta, que se por curiosidade digitar palavras tao simples como as destas localidades. Parabéns pelo seu trabalho e conte com o meu apoio se for possivel.
Armandino C.