30 setembro 2007

Melhores acessos a Roios

Hoje fiz um pequeno passeio, passando por Roios. Verifiquei com satisfação que na estrada entre Vila Flor e Roios está a ser colocada uma nova camada de asfalto. Já tinha falado dessa estrada aqui no Blog. Era uma vergonha existir uma estrada no estado em que aquela se encontrava.
Os meus parabéns também à Junta de Freguesia de Roios pela sua preocupação em manter a aldeia com bom aspecto, repleta de pequenos vasos com flores, a par dos recipientes para o lixo. Algumas freguesias maiores deviam aprender com estes bons exemplos.

28 setembro 2007

Estar aqui


Não é simples estar aqui
querendo mostrar
não sei o quê do que senti

Que o senti de triste vo-lo digo
é que chorar não sei
para orar não pequei
se é que se possa pecar
ou por isso me valha rezar

Pelo umbigo
sou prisioneiro desta verdade
sou o desejo de umas rasas
ou mesmo que sejam umas quartas de felicidade

É comigo
eu sei
desde que sou ser de umbigo
sem penas
sem asas
com penas
com asas

com dezenas e dúzias
de alqueires de gorgulho e trigo
com penas e veios
e gorgulho

É comigo
eu sei
sei só
triste sei
escrever o que não digo
e dizer que sinto ainda
a dor com que nasci


Poema de Manuel M. Escovar Triggo, natural do Vieiro, do livro "Acidentais", publicado em 1987 em Coimbra.

Fotografia tirada dia 22 de Setembro de 2007, a caminho de Freixiel.

26 setembro 2007

Maravilhamento


Eis-nos no sítio exacto do prodígio.
A Divindade afaga-nos as faces.
Despem as oliveiras seus disfarces.
Move-se um anjo sem deixar vestígio.

E a Flor não fenece no litígio
Da forma e ser, (que nada a ultrapasse!).
Não há régua e compasso com que trace
Os confins rigorosos do prestígio.

Do Facho ao Frade, o céu pousa na serra.
E tudo o que é simples, pedra e terra,
Ascende à grimpa estelar dum templo.

Só eu me enredo em tudo quanto abraço.
Percorro o infinito, e sobra espaço.
Habito a eternidade, e resta tempo.

Poema de João de Sá. "Flores para Vila Flor", 1996.
A fotografia foi tirada dia 18 de Setembro de 2007, perto do Barracão, Vila Flor.

22 setembro 2007

Em Freixiel, entre uvas e vestígios arqueológicos


Hoje desci até Freixiel. Já não visitava esta simpática aldeia, cheia de razões arqueológicas e naturais para ser visitada, há bastante tempo. Uma das razões que hoje orientou a bicicleta pelos caminhos de Freixiel foi a época das vindimas. A cooperativa já começou a produzir vinho, e, sendo hoje Sábado, muita gente aproveitaria para vindimar.
Decidi descer de novo o caminho de Samões a Freixiel. Passei por aqui no dia 18 de Maio, com a paisagem repleta de cores e as ribeiras cheias de água. Hoje iria ser diferente.
Deixei, Samões para trás. Os lameiros estão secos, só os freixos e algumas giestas emprestam alguma frescura. A descida até à Ribeira das Olgas (completamente seca) foi rápida. A partir daqui o caminho parecia muito pouco utilizado, compreendi porquê: há muita areia, muita terra, por vezes tão fina que parece cinza, espalhada pelo caminho. Nalguns pontos é muito difícil (e perigoso) andar de bicicleta. Encontrei uma ou outra vinha já vindimada, mas a grande maioria ainda estava por vindimar. Fui surpreendido pela grande quantidade de uvas que têm as videiras. Brancas, negras, de bagos gordos e apetitosos, provocando a uma pausa.
Até chegar à igreja de Freixiel, as vinhas intercalam com sobreiros e algumas oliveiras. Fui descendo calmamente. A Ribeira do Pelão também está completamente seca, por isso só me restavam as uvas para fotografar. Foi o que fiz.
Entrei na aldeia por detrás da igreja e dirigi-me ao Largo do Pelourinho, pela Rua do Conde. O meu objectivo “arqueológico” era a Necrópole do Salgueiral. Segui pela bonita e recente rua que encontra a estrada de Folgares junto às alminhas. Parecia-me que teria acesso ao Salgueiral pela estrada de Folgares, mas estava enganado. Valeu-me um grupo de vindimadores que me deu uma localização mais precisa. Voltei à aldeia, passei a Ponte do Vieiro e virei à esquerda. Segui o caminho até chegar de novo à ribeira, num pontão recente. Deixei aí a bicicleta e comecei a subir pelo leito da ribeira que está completamente seca. Na frescura das margens florescem algumas plantas e as borboletas aproveitam, o seu ciclo está a chegar ao fim. Achei que já tinha passado o local, por isso subi a ribeira até encontrar uma elevação de rochas perto da margem. Devia ser ali próximo. Procurei, procurei, mas nem sinal de sepulturas escavadas na rocha.

Na minha busca pelas sepulturas fui encontrando algumas rochas no mínimo curiosas. Existem neste local muitas rochas graníticas de forma côncava. Por momentos pensei encontrar vestígios de coberturas de várias sepulturas, mas devem ser formações naturais. O mais curioso, foi encontrar enormes rochas, com forma de menir, que estariam envolvidos por essas rochas côncavas. Encontrei também uma rocha que me intrigou, com pelo menos seis covinhas escavadas. O tempo passava e não conseguia encontrar as ditas sepulturas. Procurei um agricultor ali perto. Mesmo com a ajuda da sua idosa mãe, não conseguiram dar-me nenhuma indicação. Mais a Norte andava um grupo de vindimadores, fui ao seu encontro. Pelo menos dois deles (um bastante jovem) conheciam a localização exacta das mesmas. Desci de novo para perto da ribeira e, com as indicações preciosas dadas, consegui encontrar duas sepulturas escavadas no granito. Cristiano Morais situa as sepulturas no séc. V d.C. e fala em três, não em duas. Também a última localização feita pela Extensão do IPA - Macedo de Cavaleiros apenas conseguiu localizar duas descrevendo-as desta forma: “São ambas muito semelhantes, rectangulares, de lados abaulados, com orientação Norte-Sul. A primeira fica no princípio e no ponto mais elevado do afloramento, enquanto a segunda fica a meio do afloramento, cerca de 10 metros a Sul da primeira.”
O Sol já estava baixo, não me permitiu grande margem de manobra nas fotografias. Saí do Salgueiral e “corri” até à aldeia. Pretendia acompanhar a entrada das uvas no lagar. Cheguei ligeiramente atrasado, mas ainda pude testemunhar um grupo de pessoas pisando as uvas com os pés, como nos velhos tempos.


Já era tarde. Parti em direcção a Vila Flor, seguindo a estrada e olhando muitas vezes para trás. É sempre bonito o pôr-do-sol, enquanto se sobe a estrada N314.
Quilómetros do percurso: 25
Total de quilómetros em bicicleta: 1506

21 setembro 2007

Alto do Maragato, em Roios


No dia 10 de Setembro fiz mais uma visita ao monte a Norte de Roios conhecido por Maragato. Na primeira vez que lá estive, a 24 de Fevereiro de 2007, estava um dia assustador: frio, vento, nuvens e alguma chuva. Desta vez o tempo estava excelente, mas, acabei por chegar um pouco mais tarde, assistindo ao pôr-do-sol. A escolha do percurso teve em atenção o mau tempo da primeira visita, a proximidade, pois necessitava pouco tempo, a minha curiosidade pelo local e a beleza da paisagem que se avista.
Este local, a 655 metros de altitude, fica na separação das freguesias de Roios e Vale Frechoso. Na minha primeira visita, detectei sinais da presença humana, há muitos anos atrás. Agora, depois de mais alguma experiência e leitura, compreendo que o local não tem as condições ideais para a instalação de castro, mas não tenho a mínima dúvida que ali existiu uma estrutura. Possivelmente terá sido uma atalaia, da Idade Média. Estas atalaias, tinham por missão vigiar uma grande extensão de terreno em redor e integravam-se numa organização de vigia mais complexa, recorrendo à comunicação através de sinais para uma estrutura mais segura, por exemplo um castelo.

Neste local há uma plataforma elevada com dois afloramentos quartzíticos, não muito extensa, insuficiente para um povoado. Nos pontos de acesso é visível uma grande quantidade de pedras soltas que resultaram do derrube da estrutura defensiva da atalaia.
Apesar de atento a potenciais pormenores arqueológicos, não fiquei indiferente à paisagem, à vegetação e ao pôr-do-sol. Há uma urze rasteira que está agora a florir. Encontrei a mesma variedade de planta florida que tinha encontrado alguns dias antes em Samões!
Os momentos que antecedem o recolher do sol são mágicos. Os sons propagam-se de forma diferente, tudo ganha uma nova dimensão. O marco geodésico foi-se pintando de laranja, entendendo-se um manto escuro do Facho, passando pelo Serra do Reboredo até à Serra de Figueira, perto de Mogadouro. A Serra de Bornes, altiva, conservou durante mais uns minutos os últimos raios de sol. Por fim, rendeu-se. Deixou-se invadir pela melancolia das sombras.
Ver a reportagem da 1.ª visita

19 setembro 2007

Quadros de Setembro

10-09-2007 - O Verão deixou-nos os tons pastel da terra, cheia de restolho, desejando a chuva. Ao fim da tarde respira-se calma, enquanto não chega a azáfama da vindima e o cheiro a mosto.
Algures, a caminho de Vale Frechoso, olhei em direcção ao Norte. Exposto estava um dos quadros que mais admiro e fotografo. Desta vez, as cores lavadas e frias do horizonte, contrastavam com a cor da palha aquecida pelos últimos raios de Sol.
Era a hora de introspecção. Era o local certo.

18 setembro 2007

De Samões a Vilas Boas


Neste início de ano lectivo, tenho vivido um pouco na expectativa. Numa família em que os dois cônjuges são professores e os dois filhos são alunos, a escola é importante nas nossas vidas e fonte dos nossos problemas. Infelizmente, tem sido um centro muito sujeito a monções de mau tempo, muita turbulência, que provoca muitas incertezas.
No dia 17 de Setembro reiniciei a minha actividade lectiva na EB2,3/S de Vila Flor. O horário que me foi distribuído não é tão propício para "a descoberta" como o que tive o ano passado, mas, sempre arranjarei uns espaços temporais para continuar nesta aventura de descobrir e conhecer cantos e recantos deste pequeno concelho.

Neste compasso de espera e de incerteza que antecedeu o início do ano escolar fiz alguns passeios à volta de Vila Flor dos quais ainda não falei.
No dia 5 de Setembro, decidi alongar o passeio que tinha feito no dia 4. Saí em direcção à Barragem; segui em direcção a Samões; virei à esquerda em direcção a Carvalho de Egas mas rapidamente cortei por uma caminho à direita, pelo Carvalhal, que depois desce em direcção a Freixiel. Passei belos momentos por aqui, na altura das amendoeiras em flor!
Antes de chegar à Ribeira do Vimieiro, cortei à direita e subi um pouco. As uvas, por aqui estão quase maduras. Há também por aqui algumas colmeias. Não perdi muito tempo, porque o meu objectivo era ir até Vilas Boas. Em pouco tempo alcancei a estrada de Freixiel. Aqui encontrei, como noutras vezes, o jovem ciclista Hélder Magalhães em mais uma sessão de treino, numa cadência acelerada, não fosse ele um bom trepador. Trocámos algumas palavras e depois procurei um caminho que me permitisse chegar a Vilas Boas. A facilidade apontada por um pastor, pouco por cima da pedreira, não se veio a verificar no terreno e tive alguns contratempos. Depois de saltar algumas paredes e de encher os pneus de picos de silva, consegui encontrar a Quinta do Reboredo, onde se pratica agroturismo. A partir daqui já foi mais fácil. Cheguei a Vilas Boas com os últimos raios de Sol.

Passei por algumas ruas onde nunca tinha estado. Encontrei à entrada da aldeia uma fonte, com água canalizada e já dentro dela um cruzeiro em granito, com aspecto de ser bastante antigo. Não tive tempo de muitas demoras, a subida é grande e em breve seria noite.

Quilómetros do percurso: 24
Total de quilómetros em bicicleta: 1481

16 setembro 2007

Um dia morreu


Maravilha por uns dias
é triste
magoa chamar-lhe destino
ter de dize-lo a cada criança
deixar-lhe verter uma lágrima que lave a sua esperança

A natureza Terra mãe criou-a bela
fê-la sedução
deu-lhe um coração
e tão pouco tempo para ser amada
Deu-lhe uns dias poucos
insuficientes para espalhar a sua ternura
para acariciar todas as flores
para ouvir falar de amores
para desejar fosse sonho
fosse loucura

Em redopio
vive a borboleta
vive o tempo - todo seu
o que sobra das gentes - um dia morreu

Poema de Manuel M. Escovar Triggo, natural do Vieiro, do livro "Acidentais", publicado em 1987 em Coimbra.
Fotografia tirada no Santuário de Nossa Senhora da Lapa a 02-09-2007.

14 setembro 2007

Depois aquele homem vem para a rua...


Toca o burro pela rédea. Chega-o ao tanque (mal acabado e duas torneiras amarelas com pouca água).
Encosta-se à pedra grande, abre as pernas, monta.
O jerico preto tem o pelo liso. Dá-lhe às pernas (é preciso saber...) e pica-o com a vara curta. Já ele mexe as patas e dá ao rabo. Não lhe ficam mal os atafais.
Chega do campo. Mete um copo, parte uma côdea, vem para o largo a comer o resto.
Descalço, o dia foi quente. As calças arregaçadas e os pés tresandam.
Que importa. O ar é comum, não acham?
Senta-se à esquina onde se apagou o ti Zé Borregas, sentado na cadeira, a rir-se como um perdido.
Os grilos cantam. A Lua vem vermelha. Grande. Grande... Hoje não dorme.
Tem que se levantar logo... É tempo de muita luta, é um moiro a trabalhar.

José Nascimento Fonseca*
Publicado no jornal ENIÉ, a 30-07-1975

*José do Nascimento Fonseca nasceu no Nabo a 22-12-1940 e faleceu a 27-07-1983.

Fotografia tirada no Nabo, a 01-09-2007.

12 setembro 2007

Cores de fim de Verão


Pode parecer pelas últimas reportagens que me tornei um “repórter” social, de festas e espectáculos, abandonando os caminhos da natureza, a máquina fotográfica, a bicicleta e a tranquilidade, mas não é verdade.
No dia 4 de Setembro fiz um pequeno percurso de bicicleta. Saí por um caminho em direcção à Barragem do Peneireiro, passei por trás da Quinta de S. Domingos e cheguei a Samões por um caminho que conduz directamente às traseiras da igreja. Este deve ter sido um caminho com grande importância há alguns anos atrás. Pouco tempo depois da saída de Vila Flor, ali perto da Quinta da Conceição, encontrei na borda do caminho umas pequenas flores azuis que chamaram a minha atenção. Não eram mais do que 4 ou 5 de um azul intenso, difícil de fotografar no sol quente do fim da tarde. Não consegui até ao momento identificar a espécie, mas não deixa de ser curioso encontrar flores como estas já no fim do Verão.
Em Samões, optei por descer a aldeia até perto da Capela de Nossa Senhora do Rosário. Tinha que haver um caminho que descesse em direcção a Freixiel. Não foi difícil encontrar o caminho, é praticamente uma estrada! Esta deve mesmo ter sido a principal via de ligação entre Freixiel e Samões. Lembro que Freixiel quis mesmo pertencer a Carrazeda pelo facto de não serem bem recebidos em Samões quando por ali eram obrigados a passar.

Seguia eu absorto nestes pensamentos, quando encontrei as ruínas de uma pequena quinta. As ruínas são robustas, praticamente todas as paredes estão em pé. Além de um forno e um lagar de vinho, já havia uma pia na cozinha, talhada em granito, com um ralo que deixava correr a água para o exterior. Do lado de baixo seguia o antigo caminho. Na parede que o ladeia, cresce um grupo de pilriteiros (ou espinheiros - Crataegus monogyna). Nesta altura do ano estão muito bonitos, cheios de frutos carnudos (pomos) fortemente coloridos de vermelho. Estes frutos dão para fazer vinho! Um dia destes vou falar sobre esta curiosa planta. Encontrava-me à procura do ângulo mais bonito dos pilriteiros quando chamaram a minha atenção umas pequenas flores sobre uma rocha. Saídas directamente da terra ressequida, um cacho de pequenas flores resistiam ao Verão. Espantado procurei outros exemplares. Havia pelo menos uma meia dúzia de plantas destacando-se sobre a erva seca. Apresentavam uma inflorescência em espiga, mas nem sinal de folhas. Tinha que registar uma terceira “raridade” botânica na mesma tarde!
O Sol estava cada vez mais baixo. Continuei a descer o caminho até ao ribeiro no lugar das Olgas. Um pouco por intuição, segui um caminho tentando alcançar a estrada de Freixiel. Tive sorte. Mesmo com o Sol a brilhar de ouro sobre Folgares, encontrei a estrada de Freixiel um pouco abaixo da pedreira. Não tinha tempo para outras divagações, tentei chegar a casa o mais rapidamente possível.

Museu - Tombo dos Condes de Sampaio

Uma das peças que podemos encontrar no Museu Drª Berta Cabral, em Vila Flor, é o Tombo dos Condes de Sampaio (São Payo). Este registo de propriedades da família Sampaio, feita pelo juiz de fora Francisco de Paula e Carvalho, a pedido do Conde de São Payo, António de São Payo, foi começado em Março de 1764 e foi terminado a 15 de Junho de 1766. Encadernado em pasta, coberta de carneira com molduras douradas por folhas, tem 1225 folhas e pesa 19,5 quilogramas. A escrita é lindíssima e regista pormenores por exemplo, da Casa do Paço, comprada por João Pedro Miller, Quinta de S. Gonçalo, Quinta do Prado, Quinta do Carrascal, Casas Amarelas da Rua do Saco, ou a Capela do Espírito Santo que já não existe mas se pensa ter sido localizada atrás da igreja, entre outras propriedades no termo da Vila, pertencentes à família Sampaio.
Junto deste Tombo, podem ser admiradas algumas pinturas e ilustrações sobre esta família, de importância impar no concelho de Vila Flor.

11 setembro 2007

Verde seco


Sente-se
geme mesmo quando se não julga sentir
ruge mudo
quando torce - antes que partir

Ramo giesta esgarçado
torcido embancelhado
Bancelho
Chamiça
de tudo apertado
escolhido
murchou o verde
secou - ausência
não falou
decepado da giesta
ao torcer
torceu

À sombra ao sol secou
secou o verde sentido
e o esforço de não sentir

De torcido o bancelho
o bancelho resiste
no molho - no cerco

No alto do monte
xisto granito pinhos carquejas - a giesta assiste
ao dorir do verde seco
esgarçado antes de florir

Poema de Manuel M. Escovar Triggo, natural do Vieiro, do livro "Acidentais", publicado em 1987 em Coimbra.

Fotografia tirada a 20 de Fevereiro de 2007, na Serra do Vieiro.

10 setembro 2007

Vieiro - Festas em honra de Stª Bárbara


No dia 9 de Setembro terminaram as festas em honra de Santa Bárbara, no Vieiro. O último dia das festas foi o principal, realizando-se também uma Majestosa Procissão.
Eu cheguei ao Vieiro pouco depois das 16 horas e tenho pena de já não ter assistido à animação feita pelos Zingaros de Carrazeda de Ansiães que demonstram agora ter recuperado a pujança de alguns anos atrás.
A Banda de Musica de Vila Flor fez a habitual arruada pela aldeia, que, pouco a pouco se foi enchendo de gente. As ruas encontravam-se enfeitadas, grande parte delas com as tradicionais bandeiras de todas as cores, recortadas em papel e coladas em fio de sisal. As colchas coloridas e de renda também foram aparecendo nas janelas engalanando as ruas para a procissão.

Em frente da igreja já se encontravam preparados sete andores ricamente decorados por um armador, entre os quais o de Santa Bárbara, muito venerada no Vieiro (e em todo o Trás-dos-Montes).
Depois de celebrada a Eucaristia, preparou-se a procissão que desceu a estrada nacional, para depois subir de novo ao cimo do povo, antes de regressar à igreja.
Algum tempo mais tarde acompanhei a colocação da imagem de Santa Bárbara na pequena capela onde se encontra habitualmente, que aproveitei para visitar. Noutra altura falarei um pouco desta capela.
Quando abandonei o Vieiro, o grupo Arcádia já se encontrava a afinar os instrumentos para aquela que prometia ser uma animada noite de arraial.
Registo também o grande impacto que a Internet está a ter nesta pequena aldeia, onde já há vários Blogues. Aqui ficam eles:

O Som das Musas - Masterclass com os elementos do Quarteto de Clarinetes de Lisboa

Tal como consta no programa do ciclo de concertos "O Som das Musas", realizou-se dia 9 de Setembro, às 15 horas, no auditório do Centro Cultural de Vila Flor um encontro entre jovens interpretes da Banda de Musica de Vila Flor e os elementos do Quarteto de Clarinetes de Lisboa.
Duas dezenas a de jovens assistiu num ambiente de descontracção à execução de peças musicais e a explicações de quem sabe manobrar os instrumentos mas também sabe ensinar. Nas explicações preciosas que os elementos do Quarteto foram dando, notava-se muito saber mas também um grande à vontade para falar com os jovens num registo totalmente ao seu nível. A importância da respiração, o funcionamento do diafragma, a postura correcta do corpo e mãos, a intensidade e o controlo do sopro, foram alguns dos temas abordados.
Mostraram aos jovens como é possível utilizar os clarinetes para produzir sons completamente "estranhos" a este instrumento e como se conseguem músicas agradáveis recorrendo a eles. A certa altura, sentímo-nos a viajar no fundo do mar, visitando as estrelas ou assistindo a uma luta entre dois animais selvagens, tudo isto com os clarinetistas a correrem pelo palco (e até saindo dele) na mais completa improvisação.
Senti pena de não ter estado dia 8, no concerto que o Quarteto de Clarinetes de Lisboa deu na Igreja de Vilas Boas.
Nota: Na fotografia podemos ver os elementos que integram o Quarteto de Clarinetes de Lisboa e Pedro Caldeira Cabral, mentor deste ciclo de concertos "O Som das Musas".
Visitar o Website do Quarteto

09 setembro 2007

Festa a Nossa Senhora do Castanheiro, em Valtorno


No dia 8 de Setembro comemorou-se em Valtorno o dia da Natividade da Nossa Senhora do Castanheiro. A bonita igreja da aldeia, abriu as suas portas para receber as celebrações e as orações de quantos se quiseram deslocar a Valtorno. Também o espaço circundante se encontrava engalanado para a festa. Bandeiras, lâmpadas de várias cores e, como noutros tempos, uma vendedora de tremoços e bolos económicos à porta da igreja.
Numa visita ao velho castanheiro, um idoso da terra aproximou-se de mim e contou-me que aquele não era um vulgar castanheiro. Produzia ultimamente 9 castanhas, mas se uma delas fosse colocada numa fogueira para ser assada, a fogueira apagava-se. Também as folhas verdes eram usadas nas malas de roupa para evitar a o bicho da traça. Mostrou-me o lugar onde apareceu a imagem comentando que, com o tempo, o tronco foi-se desfazendo perdendo alguma da imponência de outrora. Apresenta ainda algumas folhas verdes, mas poucas. Ao lado cresce já um outro castanheiro.
Toda a área envolvente foi usada como cemitério. Eram ali enterradas pessoas de aldeias longínquas, de uma área que se estendia até Torre de Moncorvo. Os caixões vinham em cima de animais de carga que saiam bem cedo das aldeias em direcção a Valtorno.
Às 10:30 partiu da aldeia a pequena procissão com o andor de Nossa Senhora do Castanheiro. Os mais idosos já se tinham adiantado, muitos já se encontravam no santuário. Depois de uma volta à igreja e de lançados os foguetes da praxe que anunciam a chagada da procissão, celebrou-se a Eucaristia.

À noite o grupo musical J.F. fez de tudo para animar os presentes. As músicas eram bem convidativas mas o largo é grande e as pessoas poucas. Os emigrantes já regressaram aos países de trabalho mas o jogo de futebol da Selecção Nacional também deve ter afastado do recinto alguns adeptos mais ferrenhos. A noite estava muito agradável.

08 setembro 2007

Tempus - Quarteto de Cordas, em Santa Comba da Vilariça

A música invadiu a bonita igreja de Santa Comba da Vilariça! Perto de uma centena de pessoa assistiu no dia 7 de Setembro, às 21:30 a um concerto do Tempus - Quarteto de Cordas, nesta igreja. No grupo de pessoas que assistiram ao concerto, havia aquelas que se deslocaram a Santa Comba propositadamente e aqueles que foram tomados pela curiosidade de saber o que de novo se estava a passar na sua igreja. Gente de todas as idades e estratos sociais, mas na hora de aplaudir todos se renderam aos encantos da mesma música.
O concerto teve uma primeira parte dedicada a a um reportório mais clássico e uma segunda mais arrojada navegando nos mares do jazz. Na primeira parte os dois violinos, a viola de arco e o violoncelo encheram plenamente a igreja encantando toda a gente. Na segunda parte, sobressairam as capacidades individuais, arrancando os diferentes elementos do quarteto sons e ritmos encantadores, levando as capacidades dos instrumentos ao limite. Compreende-se porque é que Pedro Caldeira Cabral atribui a este grupo o eixo da juventude, no conjunto dos concertos, e os apelida de "jovens virtuosos".
Embora a primeira parte me parecesse mais melodiosa e fácil para o público (eu gostei mais), os aplausos não mostraram isso, subindo de intensidade a cada novo arranjo tocado.
Foi um bom início para este ciclo d "O Som das Musas"! Não percam os próximos espectáculos.

07 setembro 2007

Para descobrir, hoje e nos próximos dias...

Neste fim de Verão, enquanto se colocam alguns excessos de lado, há sempre lugar para a cultura e não se devem desperdiçar as oportunidades.
Até ao dia 15 de Setembro pode ser admirada na Galeria de Exposições do Centro Cultural em Vila Flor, a exposição de pintura "Viagens" de Teresa Mendanha.
As propostas musicais vão da música clássica ao jazz. O ciclo de concertos "O Som das Musas" vai ter lugar durante dois fins-de-semana (7 e 8, 14 e 15), em vários cenários de eleição. O mentor do evento, Pedro Caldeira Cabral, pretende também que os músicos locais, das bandas filarmónicas ou de escolas de música, possam contactar com músicos profissionais, o que irá acontecer dia 9 de Setembro.
No dia 7 às 21:30, na Igreja de Santa Comba da Vilariça, actuará o Quarteto de Cordas - Tempus. Promete o cruzamento de música clássica com jazz (Pat Matheny!).
No dia 8, na Igreja de Vilas Boas, actuará o Quarteto de Clarinetes de Lisboa, também às 21:30.
É com expectativa que pretendo estar presente nalguns destes concertos. Expectativa quanto aos géneros musicas, que ouço mas não se enquadram muito na corrente que tenho escutado ultimamente, Power Metal, mas também quanto à adesão das pessoas. Os concertos vão realizar-se em três das mais bonitas igrejas do concelho (e no Centro Cultural de Vila Flor). Espero que o público adira e goste para justificar a realização futura de mais eventos do género. Podemos beber água com arsénio, mas escutamos música clássica e jazz.

05 setembro 2007

Parabéns! Um ano À Descoberta...


O Blog “À Descoberta de Vila Flor” completa um ano de existência. Foi no dia 5 de Setembro de 2006 que coloquei a primeira entrada. Este Blog “À Descoberta…” surgiu no seguimento de uma página web que mantinha já alguns anos, em Miranda do Douro, com o nome “À Descoberta de Miranda do Douro”. Embora recorrendo à tecnologia dos Blogues, o ponto de partida era o mesmo - fazer a reportagem dos percursos de bicicleta - que faria nos meus tempos livres, mostrando algumas das fotografias.
Estive vários anos praticamente afastado da fotografia por prazer, fruto de uma vida cheia de responsabilidades e de stress. As mudanças nível da política educativa que me levaram a abandonar o mestrado em Administração Escolar a meio e a necessidade de me libertar de todo o “ruido” que se vive na escola, foram alguns dos factores que fizeram com que este ano fosse diferente dos anteriores.

As alternâncias de montes e vales, as variações dos tons das estações, a calma que se vive pelas aldeias, estradas e caminhos, contribuíram para que eu me entregasse de forma mais apaixonada a percorrer cada recanto do concelho. O primeiro incentivo veio do meio natural, mas muitos outros se seguiram. Os primeiros visitantes do Blog, que felizmente ainda se mantêm assíduos, encorajaram-me. Falaram-me de tal forma que me senti na “obrigação” de não os defraudar, tentando melhorar cada vez mais. Estão neste grupo alguns colegas de trabalho, mas também o Rui Guerra, Esmeralda, Li, Cristiano Morais, entre outros. Também recebi apoio de vários grupos de pessoas, quer em grupo, quer de forma individual, do Clube de Ciclismo de Vila Flor, do Museu Dr.ª Berta Cabral, do site Ansiães Aventura e da Câmara Municipal (na altura da TerraFlor).
Apesar de sentir que as pessoas não são muito abertas ao primeiro contacto, as coisas foram melhorando e tenho que agradecer a muitos agricultores e pastores que, em muitos momentos, me mostraram o melhor caminho.

O número de visitas a cada freguesia ultrapassou largamente as minhas previsões, beneficiando algumas da sua localização estratégica, como ponto de passagem. Tanto quanto pude registar, recorrendo às fotografias, foram estas as visitas: Alagoa (4 visitas), Arco (3), Assares (7), Benlhevai (3), Candoso (3), Carvalho de Egas (11), Folgares (3), Freixiel (8), Gavião (2), Lodões (7), Macedinho (3), Meireles (4), Mourão (3), Nabo (4), Ribeirinha (2), Roios (8), S. Comba da Vilariça (7), Sampaio (5), Samões (9), Seixo de Manhoses (6), Trindade (5), Valbom (5), Vale Frechoso (7), Valtorno (9), Vieiro (4), Vila Flor e arredores (90), Vilarinho das Azenhas (3), Vilas Boas e Cabeço (16). Tentei respeitar a votação que está presente no Blog, mas também fui sensível ao feedback que recebia das pessoas. Estabeleci com Freixiel uma ligação especial, porque já tinha amigos nesta freguesia, mas também porque me receberam de forma excepcional. Também as pessoas do pequenino Macedinho têm sido muito agradecidas pelas minhas fotografias.
Por falar em fotografias, somei a bonita quantia de 31 445 fotografias sobre o concelho de Vila Flor, tiradas de 1 de Setembro de 2006 a 5 de Setembro de 2007. Felizmente existe a fotografia digital, caso contrário, ao preço de 100 escudos cada, daria mais de 3 mil contos de despesa. Foram colocadas no Blog, 723 fotografias (2,3%). Quase todas foram reduzidas para poderem ser colocadas, mas também para ser mais rápida a sua visualização. As maiores, muitas panorâmicas, foram colocadas noutro site e ligadas ao Blog, porque o Blogger iria reduzi-las automaticamente.
216 entradas e 300 comentários. O número de visitantes foi crescendo, totalizando 16 193 visitantes ( e 50 208 Page View), sendo o mês de Junho aquele em que se verificou mais afluência. Os picos de visitantes foram sempre às segundas-feiras. Durante Julho e Agosto houve uma ligeira quebra nas visitas.
Dediquei uma atenção especial à paisagem, à flora e aos monumentos. Com o tempo, foram aparecendo novas coisas a descobrir, como os poetas de Vila Flor, as festas e romarias, as feiras, etc. Quanto mais tempo dediquei ao Blog mais aspectos interessantes me foram tentando para a “Descoberta”. Mesmo durante o mês de Agosto, não tive coragem de parar, continuei à descoberta, com prazer.

Em termos de distância percorrida, somei 1457 quilómetros em BTT. Também fiz alguns percursos de carro, embora sejam uma minoria. Desloquei-me a todas as aldeias, mais de que uma vez, procurando faze-lo por caminhos diferentes. Subi a aos pontos mais altos do concelho (a quase todos os marcos geodésicos). Por várias vezes saí do concelho de Vila Flor, percorrendo algumas terras dos concelhos de Alfândega, Carrazeda e Mirandela.
Depois de este olhar para trás, o que nos espera para a frente? Há tanto para descobrir!
Apenas posso prometer a vontade de continuar a mostrar, em palavras e fotografias, as particularidades que vou descobrindo no concelho. Para além de tudo que pode ser descoberto nas aldeias, há também muitos motivos de interesse na Vila. Parecem estar criadas as condições para iniciar mais um ano com boas perspectivas. Reitero o que já disse: Quem quiser pode vir comigo...

Não podia terminar este balanço de um ano “À Descoberta” sem falar nos que me estão mais próximos, os meus filhos e a minha esposa. Apesar dos muitos momentos em que estou ausente, sempre foram (e serão) os fãs número um do Blog e os primeiros apreciadores das fotografias, quando chego a casa suado, mas eufórico. São de uma paciência impar.

03 setembro 2007

Iniciação à descoberta


Hoje parti à descoberta com o meu filho mais velho. Ele está na origem dos meus passeios de bicicleta, há poucos anos atrás, mas parece-me que ainda não descobriu o verdadeiro prazer da BTT, deixando-se ultrapassar aqui pelo velho. Como não é todos os dias que tenho companhia, optei por um percurso diversificado sempre próximo de Vila Flor.
Saímos por caminhos em direcção à Barragem do Peneireiro. A piscina continua aberta (até ao dia 9 de Setembro), mas, talvez pelo adiantado da hora, já não havia ninguém nela.
Depois de uma volta à barragem, partimos em direcção a Samões. Antes de chegar à aldeia, junto ao campo de futebol, deixámos a estrada e entrámos num novo caminho que nos conduziu junto às bombas da gasolina, já perto do Barracão.

O mais novo não demonstrava cansaço, decidi arriscar um pouco mais. No Barracão cortámos à direita, subimos junto à Quintas das Carvas, em direcção à Serra do Facho. As coisas começaram a aquecer. Este é um bom percurso mas bastante exigente para quem tem pouca prática. Rodeámos a serra por trás e subimos ao Miradouro de Vila Flor. O Sol já se tinha escondido nalguma serra longínqua.
Tirámos uma fotografia para recordar e regressámos a casa pela estrada (seria arriscado seguir por qualquer outro caminho). O estreante parece ter gostado, espero que me acompanhe noutras descobertas.
Quilómetros do percurso: 15
Total de quilómetros de bicicleta: 1422
Total de fotografias: Perdi a conta