05 novembro 2007

À procura de vestígios arqueológicos no Cabeço

Depois da minha tentativa falhada para encontrar vestígios arqueológicos no Santuário de Nossa Senhora da Assunção, no dia 23 de Abril de 2007, voltei ao local no dia 27 de Outubro. Segui as indicações que me foram dadas e, logo depois da Rotunda dos Evangelistas, cortei à direita seguindo por um caminho que rodeia todo o Santuário. A nascente, estacionei a bicicleta e inicia a minha prospecção no terreno. A ideia era tirar algum partido do facto desta área ter ardido no dia 25 de Agosto de 2007, sendo muito mais fácil progredir no terreno.

A quantidade de rochas soltas é grande. Amontoam-se, formam paredes, socalcos mas não consegui ver nenhuma intenção no seu arranjo. Subi a um pequeno cabeço rochoso, à direita do caminho. Via uma grande área em redor. Optei por descer a encosta, nessa direcção havia maior quantidade de rochas, devia haver por ali vestígios de habitações. O desânimo já começava a tomar conta de mim quando encontrei alguns pedaços de cerâmica. Começo a ter já alguma prática, eram uma espécie de tégulas. Foi o primeiro sinal. Procurei mais afincadamente. A certa altura encontrei muros com cerca de um metro de altura, encostados a um rochedo. Era um bom indício, podiam ser mesmo vestígios de alguma casa medieval. Procurei em volta mas não encontrei mais indícios. Perto encontrei as ruínas de uma grande construção. Nela existem alguns blocos de granito aparelhados, não deve ser uma construção antiga, mas sim alguma corte para animais.
Desanimado comecei a subir a encosta de encontro ao caminho, junto aos parques de estacionamento do santuário. À medida que me aproximava aumentava a quantidade de pedaços de cerâmica espalhados. No caminho descobri a razão: alguém despejou entulho na encosta.
Olhei para o alto. Daquele lugar é onde o santuário parece mais inacessível, suspenso no topo dos rochedos, mais perecendo um daqueles castelos medievais que vemos nos filmes. Segui em direcção aos rochedos, queria escalá-los até à capela. Nos buracos do rochedo há muito lixo. Tudo o que era combustível ardeu, mas ainda há muito vidro, ferros, restos de azulejos, telhas, tijolos, etc. Está bom de ver, quando procederam a obras no topo do santuário, o entulho era atirado para os rochedos, espalhando-se por uma grande extensão. Não foi difícil chegar às traseiras da Casa dos Milagres. Já aqui tinha estado. Busquei vestígios do muralha de protecção do cabeço, que dizem existir nesta zona. Esta referenciada a existência de duas fiadas de pedras de xisto que são os únicos vestígios de uma muralha que protegia a acrópole. Há sim vestígios de paredes mas não sei precisar se são os tais vestígios ou se são de alguma antiga estrutura do santuário.
Junto da capela gozava-se aquele ar tranquilo de fim de tarde que eu tanto aprecio neste local. É uma sensação de comunhão com toda a terra que nos rodeia e com o ar, com o céu talvez. Aqui estamos mais próximos e o silêncio ajuda. Curiosamente não senti frio, mas, de manhã, tenho a certeza que o nevoeiro se estendia do Cachão até Mirandela, criando um daqueles cenários que fazem suster a respiração.
Encontrei o guarda do santuário e sentá-mo-nos um pouco ao sol do fim da tarde. Ele lamentando-se do silêncio, da lentidão das horas, da falta de visitantes; eu, elogiando a paisagem, valorizando o silêncio, perguntando sobre as obras de recuperação da capela, após o incêndio.
Acabámos por falar do castro. O pai do zelador tinha uma terra exactamente onde se situa o castro. Recordava-se de, em jovem, encontrarem potes de barro, que partiam por não lhe encontrarem valor nenhum. Foi nessa zona que encontraram o Berrão em granito, peça importante que pode ser admirada no Museu de Vila Flor. Falou-me de que toda aquela zona era cultivada. Algumas áreas com animais, outras, com a força dos braços, à enxada. Vinham pessoas do Seixo, ganhar a jeira para a Quinta da Veiguinha, cavando.

Com o tempo, muitos agricultores foram doando as terras ao santuário, outras foram compradas pelo mesmo, permitindo o alargamento, quer do Santuário propriamente dito, quer dos extensos parques de estacionamento. Foi este crescimento desenfreado que destruiu quase por completo todos os vestígios do povoado fortificado da Idade do Ferro que terá existido no local, bem como os vestígios de romanização que o mesmo sofreu.
Com o sol a ofuscar a vista em direcção a Vilas Boas, chegou a hora de descer do cabeço até à bicicleta, que ficou lá baixo, no parque de estacionamento.
Desci pelo mesmo local, saltando de rochedo em rochedo, com cuidado. Foi uma sorte ter voltado pelo mesmo caminho. Juntamente com os restos de telhas e azulejos azuis de obras recentes comecei a encontrar pedaços de cerâmica que me levava mais longe, ao passado distante. Aquilo que eu tinha andado a procurar mais abaixo, depois dos parques de estacionamento, estava mesmo ali, entre o parque de estacionamento e os rochedos que suportam a capela. Infelizmente tudo parece revolvido por máquinas, destruindo as estruturas até à raiz.
O entusiasmo voltou, mas já era noite. Encontrei algumas rochas interessantes (uma mó?). Não podia ficar mais tempo, estava a escurecer. Pedalei até casa convencido de que é necessário voltar, talvez nem tudo tenha sido destruído.
Quilómetros do percurso, em BTT: 14
Total de quilómetros em bicicleta: 1611

1 comentário:

Ivo Rodrigues disse...

Saudações alentejanas !!!

Muito bom !
Tal como eu acho que descubriu uma boa forma de dar a conhecer a sua zona .
Boas paisagens, fiquei com vontade de conhecer . . . . .

Haja saúde !!!