31 janeiro 2008

Flor-poema



Misto de terra e céu, raiz e asa,
Arco de hera em curva de caminho;
A luz na noite, a quem anda sozinho;
Auréola de fumo sobre a casa...

A paz, o aconchego de uma brasa
Perfumada de lenha de azevinho;
A renda da toalha em puro linho
Sobre uma mesa etérea que extravasa

Do seu olhar dorido mas sereno.
Breves gotas de orvalho sobre o feno
As letras do seu nome: um diadema

Numa fronte em forma de perdão.
O encontro, a voz do coração,
Presença eterna, Vila, Flor-Poema!


Poema de João de Sá., do livro "Flores para Vila Flor", 1996.
A fotografia foi tirada dia 29 de Janeiro de 2008, na Praça da República, em Vila Flor.

30 janeiro 2008

Palavras


Não digo
Nem poema
Nem sequer que digo

São palavras
estes rasgos e estas lavras

Não são palavras forçadas
Bem o sabeis
São sombras rosadas
Os rostos
E os mostos
Que bebeis

É pouco é com gosto
Nem começo nem acabo
Seja
Em Nome de Deus e do Diabo

Poema de Manuel M. Escovar Triggo, natural do Vieiro, do livro "Acidentais", publicado em 1987 em Coimbra.
Fotografia: Vila Flor 29 de Janeiro de 2008.

29 janeiro 2008

Do Gavião ao Nabo


No dia 26, o passeio estendeu-se até ao Nabo, passando pelo Gavião. O nevoeiro já nos martiriza há alguns dias e, quando tive um tempinho livre e alguma luminosidade no horizonte, agarrei-me à bicicleta que começa a ganhar ferrugem e saí disparado em direcção à Barragem do Peneireiro. Por incrível que pareça, mesmo depois de ter passado dezenas de vezes no local, nunca tinha visto a Fonte do Olmo. Agora que a obra ao lado começou a ganhar volume, lá consegui encontrar mais este ponto da história. Um dia destes falarei desta fonte.
O panorama na barragem é bastante desolador. Tem pouquíssima água. Não sei como ninguém se lembra de encaminhar a pouca água que já corre pelos terrenos, em direcção à barragem. Em tempo de seca, todas as gotas são importantes e devem ser aproveitadas.
Havia uma pequena mancha no meio da barragem. Aproximei-me o máximo que pude, não tenho dúvidas, era mesmo um Mergulhão-de-crista (Podiceps cristatus).
Pode ser que este ano tenha chegado mais cedo, pode ser que já esteja para ficar. Já noto nas aves algumas alterações em relação ao Inverno, mesmo sem este ter terminado. Os tentilhões abundam, os pintassilgos voam em bando, os tordos, esses nem em mim confiam. Há um melro negro que se empoleira numa das árvores mais altas da minha escola, intercalando as minhas expressões matemáticas com melodiosas assobiadelas. Eu é que me sinto na gaiola!

Voltemos ao caminho. Desde Março de 2007 que não ia ao Gavião. Agora que está prestes a virar cenário de novela, tinha curiosidade em ver o que tinha mudado. O caminho está bom, foi espalhada alguma gravilha, mas, para a bicicleta, pouca diferença faz. Os campos fervilhavam de gente. Havia homens e mulheres a podarem as videiras e subiam colunas de fumo distribuídas pelos montes e vales, espalhando o aroma de folha de oliveira queimada, restos da limpa das oliveiras. Junto à antiga aldeia ainda ouvi o som característico da vara a bater nos ramos de oliveira! Ainda se apanhava azeitona!
Junto das casas, tudo está igual. A pequena capela luta por se manter em pé mas a maioria das casas já caiu. Espreitei de novo nos lugares já meus conhecidos. Lá estava o lagar do vinho e o forno do pão, tudo coberto de silvas e mato. Lá estava o poço, inspirador de histórias, também a eira e as mós de alguns moinhos. Estava também o caminho, desafiador, que descia encosta abaixo. Neste ponto vieram-me à memória algumas palavras de Nascimento da Fonseca:*
"…descia do Gavião bolsa atravessada. No alto do povoado, com a corneta de bocal delido, juntava pelo eiró, os interessados em notícias.
O acto rotineiro acertava a aldeia sem relógio de campanário.
- Co…rrrei…o…o!
A penúltima sílaba era sempre longa, atirada com o fôlego de alegria cheia. Quer em dias de casa, aborrecido; quer em manhãs de Primavera; ou na ventania agreste do Outono esvaecido, ou pelo Inverno triste com palmos de nevoeiro”.
Segui saboreando estas palavras e admirando a vinha e olival cravados na encosta com as unhas dos homens e regados com o seu suor. Lá baixo, em Godeiros, a barragem ganha forma, mas o vale ainda está muito descolorido. Aproximei-me do Nabo pelo Poente, numa posição elevada, onde nunca tinha estado. Parei e sentei-me uns minutos. A aldeia parecia espreguiçar-se, sorvendo os raios de sol, para se defender da sombra escura e gélida que já chegava à Ribeira do Arco. No extremo Sul, Nossa Senhora do Carrasco descansava em eterna tranquilidade. As acácias que lhe fazem companhia e sombra, ainda não floriram, mas falta pouco.

O caminho em que seguía levou-me quase a Sul da aldeia, mas, numa curva mais apertada, conduziu-me paralelamente à ribeira, até à Rua de Cima do Povo. Espreitei junto à paragem dos autocarros, uma pequena imagem de Nossa Senhora de Fátima, com menos de 10 cm. Continua lá! Também a Santa Bárbara me saúda do frontispício da igreja, a cada vez que ali passo . Subi a rua até à Nossa Senhora do Carrasco. Em mais um momento de tranquilidade pensei na designação Nabo. Se para uns se trata da raiz da tão apreciada nabiça, a origem do nome da aldeia pode ter uma explicação menos simplista. No livro de Pinho Leal, Portugal antigo e moderno, editado em 1875, é dito que o nome da aldeia pode derivar de Nábulo que era um antigo tributo pago nas barcas para atravessar o rio. Esta explicação pode ser bem antiga e estar relacionada até com a Ribeira da Vilariça e a história de locais circundantes com vestígios arqueológicos em Godeiros e na Pala do Conde.
Desci de novo até junto da igreja. Ainda não tive o prazer de aí entrar, mas também ainda não foi nesta visita. Não me restavam nem tempo, nem alternativas. Parti pela Rua do Cabo do Lugar em direcção a Vila Flor. A subida pela N610 e depois pela N215 até chegar a Vila flor é lenta, dá tempo para apreciar a paisagem. As amendoeiras da berma da estrada estão prestes a explodir em beleza. Quando estiverem floridas, vale bem a pena um passeio pelo Nabo, Arco e Seixo de Manhoses, Carvalho de Egas e Samões. Cá estaremos para registar o espectáculo, de novo.
Quilómetros deste percurso, em BTT: 22
Total de quilómetros em bicicleta: 1710
* excerto de um artigo publicado no jornal Enié a 15-10-1975.

28 janeiro 2008

Esmolas de S. Sebastião, em Freixiel


Cumprindo a tradição, realizou-se no domingo dia 27 de Janeiro, o ritual das Esmolas de S. Sebastião em Freixiel (o dia de S. Sebastião foi a 20 de Janeiro).
A origem deste ritual perde-se nos séculos. O culto a S. Sebastião remonta pelo menos ao séc. XVI, data provável da construção da capela dedicada a este santo, com um elegante arco gótico, no local chamado Portela da Forca. A arrematação de produtos oferecidos pelas pessoas, à porta das igrejas, é uma tradição muito comum em todas as aldeias do nordeste trasmontano, mas, em Freixiel, vamos encontrar pormenores que fazem deste ritual uma situação singular no nordeste e não sei se no país.
Pelas catorze horas, quando cheguei ao largo da igreja, fiquei surpreendido com a quantidade e variedade de esmolas recolhidas durante a manhã. Mesmo depois de começar a arrematação, ainda chegaram mais oferendas. Havia grande variedade de bolos e pudins (dizem que mais de 40!), vinho do porto, champanhe, whisky, ovos, feijão seco, frutos secos, frutos, fumeiro, vinho, azeite, cebolas, batatas, etc. Havia também um grande número de pequenas caixas, enfeitadas com fitas e papéis coloridos, eram os “segredos”. A designação de segredo deriva precisamente do facto de não se saber o que contêm, o que dá uma grande incerteza na hora de licitar. Estava montado o cenário. As pessoas enchiam todo o espaço à frente da igreja, muitas delas sentadas, preparadas para uma arrematação que iria durar mais de três horas.
Três homens ocuparam o espaço central, rodeados pelas oferendas, em círculo, por sua vez rodeadas pelas pessoas. Começaram por colocar em arrematação as coloridas caixas, que, diga-se, não renderam muito dinheiro. Quase todos os “segredos” escondiam coisas doces, que foram distribuídas pelas crianças mais gulosas que corriam pelo adro. Quando a arrematação se estendeu aos numerosos bolos, quase todos acompanhados por garrafas com bebida, aproveitei para circular por entre a população, à descoberta.

Os produtos tradicionalmente oferecidos como esmola ao S. Sebastião eram o azeite, vinho, batatas, cebolas, feijão, abóboras, fruta e fumeiro. Curiosamente, destes, só as abóboras estavam ausentes e o vinho (da terra) também havia pouco. No passado eram oferecidos muitos “segredos”. As pessoas ocupavam bastante tempo só a fazê-los, cestos deles, com o objectivo que rendessem algum dinheiro, com pouca despesa. Contrariamente às guloseimas dos dias de hoje, alguns “segredos” escondiam ratos mortos ou aves que saiam voando logo que a caixa fosse aberta.
A certa altura alguém se queixou que faltava a engoreta. Quê?! Engoreta é a alcunha de uma pessoas que conheço em Areias! Afinal a engoreta era um objecto importante na arrematação dos “segredos”. A engoreta é um pequeno barril de madeira, com forma abaulada, usado para transportar vinho. Quem licitava recebia a engoreta podendo beber, mas se outra pessoa licitasse rapidamente, a engoreta mudava de mão, sem dar tempo aos licitadores para se saciarem com vinho. Olhei em volta, nada de ver a engoreta, mas havia uma bota, daquelas feitas com pele (e com pelo!) de cabra e revestida internamente a pez. Entregaram-me a bota e aproveitei para mostrar a minha destreza (treinei durante a campanha da azeitona).
Também as línguas de porco, ofertas tradicionais para serem leiloadas, estavam praticamente ausentes. Apenas me lembro de ver uma, apimentada, acompanhada por azeitonas pretas, coisa de fazer crescer água na boca. Habitualmente as línguas de porco eram arrematadas depois da missa, ao longo de vários domingos e não só neste dia.

Ementes eu dava a volta pelo círculo, foram arrematados, os bolos (um chegou a 30€), o azeite (em grupos de 20 litros que chegaram aos 65€), sacos de batatas, mel, doce, feijão seco, fruta e frutos secos, etc., muitas das coisas compradas pelos que as tinham oferecido. Saíram ainda das caixas três coelhos e um pato. Reinou sempre a boa disposição, acompanhada por alguma disputa na tentativa de fazer subir os lances, o que raramente aconteceu. Curiosamente o dinheiro arrecadado com esta iniciativa (que no ano passado totalizou os dois mil euros), não reverte a favor de S. Sebastião, sendo entregue à paróquia.
Para o final ficou um cesto cheio de fumeiro. Antes de ser posto em licitação já tinha despertado o apetite em várias pessoas. Até eu já tinha verificado se tinha a minha “palaçoula” comigo. A “luta” desenvolveu-se entre o Seixo de Manhoses e o Vieiro, acabando os salpicões, pés-de-porco, alheiras e afins por ir parar ao Vieiro por perto de 100€. O despique foi rematado com a expressão “nem por 100 ouros o lebabas…”. A forma tradicional de apresentar o fumeiro era pendurando-o num ramo que era exibido na altura da arrematação. Seria muito difícil pendurarem todo o fumeiro do cesto, num só ramo!
Depois dos agradecimentos aos presentes feitos pelo Presidente da Junta de Freguesia, o grupo “Os Pelões” cantaram os Reis e as Janeiras com a sua alegria contagiante.
Vamos dar a despedida
Termina o nosso cantar,
A oferta que nos derem
Muito nos vai alegrar.
Era um fim de festa em alegria, contava-se a receita, carregavam-se as batatas e as cebolas, provavam-se os bolos. Aproveitei para trocar algumas palavras com a professora (já na reforma) Olímpia Coelho, dinamizadora desta tradição já há cerca de 30 anos. Pegou nesta iniciativa quando estava em actividade, recolhendo as esmolas com a ajuda dos alunos da escola primária. Felizmente as coisas estão melhores e não faltam voluntários a colaborar na recolha de tantas ofertas, que têm mesmo que ser transportadas numa carrinha ou no atrelado de um tractor.
Contas feitas, as esmolas renderam um pouco mais de 1900€ que serão utilizados no pagamento de obras, feitas ou a realizar pela igreja.
Por último acrescento que também participei nalgumas licitações! Os dois “segredos” com que fiquei tinham um, um saco de rebuçados, outro, um saco de fruta cristalizada. Comprei ainda um grande bolo de amêndoa (delicioso, já comi), uma garrafa de vinho espumoso e uns bons quilos de cebolas.

Nota: No dia 28, possivelmente durante a manhã, vai passar na Radio Ansiães (98.1 FM), a reportagem feita no local.

27 janeiro 2008

De novo no Nabo

Hoje (dia 26) fiz mais um curto passeio até ao Nabo. Segui um caminho que nunca tinha traçado, descendo da aldeia abandonada do Gavião até ao Nabo. Deixo apenas uma fotografia a acompanhar uma das celebres canções cantadas num dos Cortejos das Oferendas realizados entre 1949-1951.

Chegamos agora ao Nabo
Não é Nabo nem Nabiça
Somos rosas somos cravos
Criados na Vilariça.

Ó mocidade rir e formar
A nossa récita à frente ficou
O Nabo é terra garrida
Pois é para todos nós
A povoação mais querida.

Viemos agora do Nabo
Alegre só ele em selo
Não há ninguém que não goste
Do nabo, nabiça e grelo.

25 janeiro 2008

Maravilhas de Inverno

Cansado do nevoeiro, desloquei-me ao Santuário de Nossa Senhora da Assunção. Apesar do ar frio, saboreei alguns momentos com um sol esplêndido, admirando outros cumes que despontavam como mastros de navios, acima da bruma de um imenso mar de nevoeiro. De volta a Vila Flor, foi o orvalho da beira da estrada que me chamou à atenção. A vegetação rasteira estava enfeitada com colares de pérolas a que só faltavam alguns raios de sol para ofuscarem a objectiva com tanta beleza.

24 janeiro 2008

A matança do porco

Está um ar gelado, um nevoeiro que não deixa ver os horizontes largos que se avistam normalmente nestas paragens. Está um ambiente “de cortar à faca” e não é só na rua!
Estes dias em que só apetece estar à lareira, trazem-me recordações de outros Invernos, até do tempo da minha meninice, em que as estações tinham significado e as datas valor. Uma das recordações que deixei para trás há alguns anos, recuperei-a este ano, trata-se da matança do porco.

Eu sei que (também) este assunto não é pacífico. Já recebi algumas mensagens de pessoas escandalizadas com algumas coisas que escrevi noutros sites web sobre este assunto. Compreendo, eu próprio me afastei desse ritual pelas emoções que me provocava, apesar de a “matança” continuar a ser feita. Curiosamente já assisti este ano a mais do que uma. Apesar de todas as transformações que ocorreram, a tradicional matança do porco ainda se mantém um pouco por todas as aldeias do Nordeste. Isso leva-me a pensar que tudo o que estava a ela associado também ainda se mantém. Estando nós na terra fria (dentro da Terra Quente), não posso deixar de me lembrar da importância que o porco e o fumeiro têm em locais como Vinhais e Montalegre ou Valpaços. Também em Miranda do Douro houve uma forte campanha na adaptação e certificação de cozinhas para a produção de fumeiro com qualidade. Assim se entende que exista uma Feira de Sabores Mirandeses (2,3 e 4 de Fevereiro, que espero visitar).
Mesmo sem pretensões de rivalizar com o azeite e com o vinho, o fumeiro pode ter um papel importante e não só para consumo próprio. Como com alguma frequência alheiras de muito boa qualidade feitas em Vila Flor. Será um bom assunto para uma próxima reportagem.

22 janeiro 2008

Vila Flor virou A Outra

Não sou muito dado a telenovelas, também não sou totalmente alérgico. Gosto principalmente daquelas que me fazem rir, que me põem bem disposto. Das brasileiras, há algumas que segui com algum gozo. É o caso de Kubanacan e Chocolate com Pimenta. Das portuguesas, não vou falar, apenas que, em minha opinião, tem havido grandes progressos. E depois, todos precisamos de ganhar a vida…
Hoje de tarde quando me dirigi ao centro histórico de Vila Flor, sabia que estava fechado ao trânsito. Torturei-me toda a manhã se devia ou não embarcar nesta euforia que é ter uma telenovela a ser rodada nas ruas da vila. Decidi fazer uma passagem pelo local quando me dirigia para uma reunião na escola. Pensei para mim: não vou ficar comprometido, sou só mais um entre muitos outros.
Entrei na igreja, nada! Será que me enganei?! Não, não me enganei. As filmagens decorriam mesmo atrás da igreja, em frente à Casa do Paço. Não sei se alguém se preocupava com isso, mesmo em frente à casa dos Senhores de Sampaio havia um câmara montada sobre um camião. Apesar de alguns holofotes distribuídos em redor, o cenário é belo eu sei, o nevoeiro marcava uma presença efectiva bem como o frio. Alguns actores calçavam luvas, os termómetros marcavam cerca de 3 graus positivos! Não admira que tivessem retirado os aquecedores da escola primária para aquecer o ambiente no Turismo, onde a produção montou o seu “Quartel General”. Também a fotocopiadora, deixou o museu, onde acumulava pó por falta de uso, para servir a produção desta novela que vai elevar Vila Flor a estrela, mais do que fez no passado D. Dinis, que apenas lhe mudou o nome.
Quando cheguei ao local, o meu humor mudou, apesar do nevoeiro. Até eu me surpreendi! Em cena estava Joaquim Nicolau que quase todos conhecemos dos Malucos do Riso. Entre as cenas que se repetiam com uma cadência lenta, fria e carregada de vapor de água, ele brincava alegremente com uma menina que corria, saltava e se atirava nos braços do actor, indiferente ao frio e ao número de pessoas que estavam à volta. Passei a barreira de assistentes e técnicos e cumprimentei o actor que correspondeu com simpatia. Falei ainda com a alegre menina e com a sua mãe que a esperava discretamente atrás das câmaras. Fiz-me distraído e circulei à vontade pelo local da cena, por entre os actores. Exagerei, uma senhora da produção veio ter comigo impondo-me algumas limitações. Como “quem não quer a coisa”, fui fazendo afirmações, prontamente desmentidas. Fiquei com boa impressão. O grupo vai ficar connosco durante vários meses, pelo menos até o nevoeiro deixar ver com clareza toda a beleza da nossa Vila Flor. Ficarão durante as amendoeiras em flor e pelo início da Primavera. As filmagens vão distribuir-se por Vila Flor e por outras localidades da Terra Quente.
Estão prometidos nomes como Rita Pereira, Diogo Amaral, Filomena Cautela, Andreia Dinis, João Perry, Margarida Vila-Nova, Carla Andrino, Pedro Lima, Sónia Brazão, Nuno Silva, Rogério Samoa, Pedro Granger, Marco Delgado, Marcantónio Del Carlo, José Fidalgo, etc. Não reconheci nenhum destes, talvez estivessem protegidos do frio com montes de kispos, mas também não sou muito bom em actores de telenovela.
Vou manter-me atento. O assunto está a mexer com a população de Vila Flor. "A Tentação", de Joaquim Leitão, rodada em 1997, também entusiasmou as pessoas e permitiu a alguns ganharem algumas dezenas de contos. O poder político local esqueceu todos os problemas para se concentrar neste projecto da autoria de Tó Zé Martinho, para a TVI. Espero que o projecto se traduza em algo de positivo que ultrapasse o nevoeiro que marcou os primeiros dias de filmagens.

20 janeiro 2008

Igreja de S. Bartolomeu - Vila Flor


Quem entra em Vila Flor pela primeira vez, depressa se apercebe que a Igreja Matriz de Vila Flor, igreja de S. Bartolomeu, ocupa um lugar central, único na vila. Esta posição central, elevada, entre a Praça da República e o Rossio, situa-a no coração da vila antiga, rodeada por casas centenárias que se alastram a casas solarengas, arrumadas em ruas lageadas a granito, tal como o ferreiro ou o judeu da idade medieval as percorreram.
Esta posição, reza a história, era ocupada por uma torre de menagem do castelo, que cedeu o lugar e as pedras para a construção de uma igreja, logo a seguir ao desmoronamento do castelo. Esta igreja, deu por sua vez lugar à igreja actual. Janeiro é uma data histórica para esta igreja. A antiga terá ardido exactamente em 31 de Janeiro de 1700, vai fazer agora 308 anos. A construção da nova foi um processo demorado e talvez doloroso. Tão demorado e doloroso que levou à circulação da canção:
Vila Flor já não és Vila
Nem vila te chamarão
Porque te caiu a igreja
E tarde a levantarão.

O povo uniu-se, com ele a câmara, e, com a ajuda dos judeus, cristãos novos de Vila Flor, a obra começou a ganhar corpo. Também reza a lenda, não sei se verdadeira, de um benemérito se aproximou da comissão promotora das obras com um chapéu cheio de peças em ouro que entregou para continuação das mesmas!
A sua imponência coloca-a em terceiro lugar a nível do distrito de Bragança, logo depois da Sé de Miranda do Douro e da igreja matriz de Torre de Moncorvo.
O edifício tem uma planta longitudinal com uma nave única e capela mor rectangulares. Tem de comprimento 42, 2 metros, 14 metros de largura e 15,2 metros de altura. A norte tem uma capela lateral e a sacristia. O frontispício é curioso para trás-os-montes, forrado a azulejos de padrão azul e branco, franqueado por duas torres sineiras. O portal, de vão recto é flanqueado por 2 colunelos pseudosalomónicos assentes em pedestal vivamente decorado, enquadra-o decoração exuberante em volutas e rendilhado de ambos os lados. Todo os frontispício está de tal forma decorado com bonitos motivos em granito, que facilmente nos esquecemos dos azulejos em azul e branco. Em termos arquitectónicos trata-se de uma igreja barroca que combina elementos decorativos de tradição maneirista. Nas fachadas laterais também podemos encontrar alguns elementos decorativos dignos de realce.
As duas torres têm 25 metros de altura e a do lado Sul tem um bonito relógio adquirido em 1895 e um sino de 1783. A torre Norte tem um sino de 430 quilos que foi ali colocado em 26-11-1914.
Passemos ao interior onde podemos contar 7 altares. Dois deles merecem um destaque especial dado tratar-se de altares de talha dourada, antiga, que vieram de igreja de Santa Maria Madalena, na Falperra em Braga, excelente exemplar rococó, onde dei largos passeios há alguns anos atrás. Também digno de destaque é o painel pintado a óleo pelo vilafrorense Manuel de Moura em 1978 que se encontra à direita do altar-mor.

A única capela lateral, chamada Capela do Santíssimo, é dedicada a Nossa Senhora das Graças (mas já foi capela de Nossa Senhora da Piedade), tem armas e pedra sepulcral com inscrições. Sobre o arco da capela pode ver-se o brasão dos Condes de Sampaio, donatários de Vila Flor.
Um dos aspectos mais curiosos é o bonito presépio, com mais de meia centena de imagens, embutido no altar do Sagrado Coração de Jesus.
A igreja tem pintado no lado esquerdo do altar-mor o ano de 1787. Já em 1867 houve obras de reparação, o mesmo acontecendo em 1909 e 1916. Uma das intervenção de maior vulto na igreja aconteceu entre Abril de 1944 e e Setembro de 1945. Foram feitos, entre outros, os seguintes melhoramentos: substituição de azulejos em falta, por imitações do séc XVIII; substituição do telhado; substituição das cúpulas das agulhas, as novas com mais 1,8 metros; consolidação das torres; picagem, substituição do revestimento e caiação de todo o exterior e construção de um passeio a toda a volta. No interior: pavimentação do átrio a granito; soalho novo; douramento dos púlpitos; douramento e reparação do altar-mor e dos dois laterais; pintura da capela da Senhora das Graças, com soalho novo e restauro do altar; restauro do tecto da capela-mor; compraram novos bancos, foram colocados vitrais, foi forrada, posto o soalho e caiada a sacristia, etc. Foram obras que mudaram por completo a igreja. As últimas obras realizaram-se no final de 2007 sofrendo intervenção a capela da Senhora das Graças e a sacristia.
Paralelamente a tudo o que pode ser admirado neste belo monumento, há todo um conjunto de arte sacra que não está à vista: um rosário em ouro, uma cruz em madrepérola com contas em ouro, cinco cálices de prata, uma custódia em prata, uma cruz processional em prata, uma cruz em pau preto com raios e cantos em prata com o Cristo em marfim que foi do convento da Falperra em Braga, uma capa de Asperges bordada a ouro, etc.
Para evitar abusos e roubos, a igreja tem instalado um completo sistema de segurança, incluindo detectores de movimento e vídeo vigilância.
Neste meu curto passeio À Descoberta, contei com a colaboração do Sr. Padre Delfim Gomes. A ele o meu muito obrigado.

15 janeiro 2008

do melhor de Vila Flor


Está prestes a terminar mais uma campanha de apanha da azeitona e decidi levar a Descoberta à Cooperativa Agrícola de Olivicultores de Vila Flor e Ansiães. A azeitona e o azeite são de crucial importância para a economia do concelho de Vila Flor e não só. A importância destes produtos é de tal forma reconhecido, que a feira anual TerraFlor tem colocado o azeite como “cabeça de cartaz” ano após ano. Também na eleição das “7 Maravilhas de Vila Flor” levada a cabo por este Blog, o azeite se classificou como uma das “7 Maravilhas” com os votos dos visitantes.
A Cooperativa Agrícola de Olivicultores de Vila Flor e Ansiães, localizada na Zona Industrial de Vila Flor, perto do Barracão, foi criada tendo em vista a dinamização do sector com ênfase em três vertentes: produção, extracção e comercialização.
No sector da produção, a cooperativa presta apoio aos agricultores associados. Trata-se de uma área que necessita de avanços significativos uma vez que a melhoria da qualidade do produto apenas pode ser equacionada se começar na produção. Embora um reduzido número de agricultores mais informados aposte seriamente no olival e na azeitona, a grande maioria apoia-se na tradição e no senso comum, dando pouco crédito à informação especializada. A cooperativa já teve um técnico a tempo inteiro dedicado a esta área, mas neste momento não tem.
A campanha de 2007 iniciou-se em 20 de Novembro e está previsto terminar a 25 de Janeiro de 2008. Isto num ano em que a produção é baixa e a qualidade razoável (mas mesmo assim boa se comparada com outras zonas produtoras de azeite). Na colheita do ano passado foram produzidos mais de 420 mil litros, este ano, talvez se atinjam os 230 mil. Estes valores estão muito longe dos conseguídos em 1991, quando foram produzidos 650 mil litros. A Cooperativa recebe azeitona dos sócios pertencentes aos concelhos de Vila Flor e de Carrazeda de Ansiães, mas também de produtores de aldeias de outros concelhos limítrofes.

A cooperativa garante o emprego permanente a seis pessoas, mas na época de laboração do lagar, tem mais de 10 pessoas em actividade. O lagar é uma unidade moderna, com duas linhas de transformação, capaz de receber a descarga de quatro produtores em simultâneo. Todo o processo é automatizado estando a presença humana limitada à supervisão, operaçãoe manutenção das diferentes máquinas. Depois da descarga, todo o transporte é feito por tapetes rolantes não havendo mais intervenção humana a não ser no acto de retirar uma amostra de azeitona, para ser analisada no laboratório da própria cooperativa. Numa zona exterior efectua-se a lavagem e a pesagem, encaminhando-se depois a azeitona para o interior do edifico onde se vai proceder à moenda, à termobatedura e à separação do bagaço a fim de obter o precioso líquido por centrifugação. A monitorização de todos os procedimentos é feita numa espécie de painel de controlo, onde é possível detectar avarias em qualquer dos momentos da transformação, as temperaturas, as rotações da centrifugadora etc. Depois de produzido o azeite, o mesmo é encaminhado para grandes cubas metálicas onde vai ser armazenado. Mais tarde é retirada uma amostra de cada cuba que é enviada a entidades reconhecidas para análise que ateste a sua qualidade. Paralelamente, as amostras de azeitona retiradas no início do processo, são encaminhadas para um pequeno laboratório, passando por um processo semelhante ao do lagar, mas em miniatura, que vai permitir avaliar as características e produções de cada associado.
Os resíduos produzidos são também, tanto quanto possível, aproveitados. As águas são utilizadas pelos associados para regar olivais e cereais. No que toca ao bagaço, o caroço das azeitonas é separado dos restantes componentes. O caroço esmagado é usado na própria caldeira do lagar ou vendido, como combustível, para habitações particulares ou instituições que o utilizam no aquecimento central. A baga é vendida a uma empresa de extracção de óleos.
Segue-se depois a comercialização do precioso líquido. Infelizmente, a maioria dos produtores ainda vai buscar a sua produção a granel. Opta por levar uma pequena fracção em garrafões de 5 litros, ou para vender, ou para os filhos ou familiares levarem. Desta forma poupa na embalagem. A cooperativa faz a embalagem com dois rótulos diferentes, um da própria cooperativa, outro do associado. A marca propriedade da Cooperativa é a Douro Superior. Embora conseguindo escoar toda a sua produção, o que aliada a uma gestão rigorosa tem permitido equilibrar o estado financeiro da Cooperativa, o futuro passa por apostar cada vez mais na valorização do produto. A venda do azeite em garrafa tem margens muito superiores às conseguidas com embalagens de cinco litros. Não é fácil às cooperativas conquistarem certos mercados, como as lojas gourmet, uma vez que o grau de exigência destes mercados não é compatível com a variedade de procedimentos e de qualidade da matéria-prima de um vasto conjunto de pequenos produtores.
Segundo o Presidente da Direcção, Eng. Hélder Teixeira, há muitos aspectos que podem ser trabalhados no sentido de valorizar o azeite: desde o tratamento fitossanitário das oliveiras, passando pela sua nutrição e muitas vezes pela diminuição das quantidades de azeitona; antecipar a época da apanha, acabar com o armazenamento em casa, sem condições e reformular as condições de transporte da azeitona. As excelentes condições do lagar nada podem fazer se as matérias-primas não estiverem ao melhor nível.
Já existe um pequeno grupo de produtores apostados na qualidade, essencialmente azeite Biológico. Esta produção situa-se próximo dos 2% do total produzido no lagar. Estes produtores comercializam os seus azeites com uma marca própria, muitas vezes associado também ao vinho de produção própria.
Com duas visitas que fiz à cooperativa, fiquei a conhecer um pouco como funciona e algumas questões que envolvem a problemática do azeite. Agradeço ao Eng. Hélder Teixeira a sua disponibilidade e todas as informações dadas. Agradeço também ao meu conterrâneo José Alberto, que me proporcionou uma visita guiada.

14 janeiro 2008

Concursos de Montras e Presépios


Tinha prometido falar sobre o concurso de presépios e concurso de montras, mas os dias foram passando e o assunto já não soa muito bem, mas o prometido é devido. Também porque toda a “publicidade” é pouca, para aqueles que se envolvem na construção e decoração de tão maravilhosos quadros.
A classificação nos concursos foi a seguinte:
Concurso de Montas
1.ºPrémio – Estabelecimento Belinha- Arte e Deco Floral
2.ºPrémio – Gabinete de Contabilidade de Carlos Manuel Fernandes
2.ºPrémio – Perfumaria e Bijutaria Essência Flor
3.ºPrémio – Associação de Pais e Encarregados de Educação
4.ºPrémio – Salão de Cabeleireira Star
5.ºPrémio – Sapataria Anita

Concurso de Presépios
1.ºPrémio – Jardim-de-Infância de Santa Casa da Misericórdia
2.ºPrémio – Junta de Freguesia de Valtorno
3.ºPrémio – Agrupamento de Escuteiros 1055 S. Bartolomeu
4.ºPrémio – Fábrica da Igreja de S. Bárbara – Seixo de Manhoses
5.ºPrémio – Sementinhas da Vilariça - Assares
5.ºPrémio – Associação Cultural e Desportiva de Benlhevai

Nos dois concursos os prémios variaram entre os 200€ e os 50€. Não tive qualquer informação sobre os concorrentes nos concursos. No dia 30 de Dezembro dei uma volta nocturna pela vila fotografando os presépios e desloquei-me também a algumas aldeias. Numas fiquei alegremente surpreendido, noutras não encontrei nada. Não posso, portanto mostrar todos os vencedores mas somente aqueles que pude admirar.
No que toca às montras, posso dizer que vi mesmo pouco, não tendo sequer a informação se aquelas que vi, se tinham inscrito no concurso. Em relação aos presépios, posso dizer que vi alguns. O vencedor já o divulguei no dia 30. Ocupava uma grande área relvada à frente do Jardim-de-infância da Santa Casa da Misericórdia. O presépio do Agrupamento de Escuteiros também o mostrei na altura. O presépio classificado em segundo lugar, em Valtorno, junto à Igreja de Nossa Senhora do Castanheiro, este ano ainda estava mais bonito de que o ano passado. Parece-me que se esmeraram e foi com algum desalento que receberam o segundo prémio.
Não cheguei a ver os presépios em Seixo de Manhoses, Assares e Benlhevai. Há, no entanto, outros presépios que vi e gostei bastante. Não sei se estavam inscritos no concurso. Um pôde ser admirado em Alagoa. As roupas da Sagrada Família e dos Reis Magos em plástico muito colorido dava vida ao presépio. Foi o presépio que mais me surpreendeu.
Em Roios, junto à igreja, também havia um bonito presépio.
No que respeita aos concursos, não sei se alguém me “ouve”, mas gostaria de dar duas ideias: a primeira era que fosse divulgada atempadamente, podia ser no site da Câmara, a lista dos concorrentes. Pode ser que houvesse pessoas que não se importassem de passar uma noite pelas aldeias do concelho admirando esses trabalhos magníficos. Visitar os presépios só valorizava o trabalho das pessoas. A outra ideia, foi-me transmitida por um colega no Auditório do Centro Cultural aquando da entrega dos prémios. Não parece que fosse difícil, à medida que foram anunciados os vencedores, ser projectada uma fotografia das respectivas montras e presépios. Ficam estas ideias, para o futuro.

12 janeiro 2008

Ano novo...a mesma descoberta!


No dia 5 de Janeiro retomei os meus passeios de bicicleta com uma pequena volta, só para “limpar” os poros e começar a consumir os excessos gastronómicos da quadra natalícia. O estado do tempo não era nada convidativo, ameaçava chover. Só por hábito levei a máquina fotográfica. O objectivo é só pedalar um pouco, sem nenhum ponto de especial interesse.
Saí em direcção ao Barracão e continuei pela N214. É impossível passar por esta estrada sem admirar a paisagem que se estende por Meireles, Cachão e até onde a vista é capaz de olhar. No vale havia nevoeiro, no alto do cabeço também! Assistia-se a um bailado entre o nevoeiro do vale e o nevoeiro da serra. Rios brancos subiam pelos vales escavados tentando alcançar as alturas. O nevoeiro do cimo dos montes, empurrado pelo vento frio, tentava descer aos vales abandonando a companhia de algumas nuvens frias que o olhavam de mais acima, com desdém.

De vez em quando, um raio de sol rasgava o emaranhado vapor de água, mostrando o seu poder, a sua superioridade, pintando de alguma cor uma nesga da paisagem pintada de Inverno. Para completar o cenário dos elementos, caíam algumas gotas de chuva fria, incentivando a pedalar mais forte.
A ideia era descer até Roios e voltar a casa, mas, quando me encontrava na Quinta do Galego, perto do Marco Geodésico do Maragato onde já estive várias vezes, a tentação foi maior e segui por caminhos completamente desconhecidos em direcção a Vale Frechoso. Há naquela zona muitos trilhos possíveis e cheguei facilmente à aldeia, entrando pela Rua do Muro. Com o frio que fazia, não se via ninguém pela rua. A Capela de Nossa Senhora de Lurdes domina do alto de uma pequena elevação. A própria construção, pequena mas alta dá-lhe um ar bastante solene. Estive ali em Junho, havia um bonito jardim a completar os patamares de escadas com uma calçada com desenhos feitos com seixos pretos e brancos.
Um dos pontos de interesse de Vale Frechoso, está no Largo da Fonte. Aqui podemos encontrar a Fonte Velha, arcada e medieval. Segui em direcção à Casa Paroquial que é do século XVIII. Curiosamente aquando da minha primeira visita a Vale Frechoso em Novembro de 2006 fotografei aqui um bonito relógio de sol que neste passeio não consegui localizar.
Pretendia conhecer o interior da igreja mas estava encerrada. Ali perto, no Largo da Escola, tentavam escavacar o que restava da Fogueira do Natal. Um enorme tronco de castanheiro desgastado pelo fogo, resistia com galhardia de castanho aos guilhos que uma pesada marra lhe cravava. Com ajuda de uma moto-serra o tronco foi desfeito para alimentar a fogueira que seria acesa no Dia de Reis.
O dia estava cada vez mais cinzento, tinha que voltar o mais rapidamente possível. Pretendia regressar por um trajecto diferente, que não conhecia, mas que me levasse directamente a Roios. Atravessei a aldeia e segui até ao final da Rua da Fonte. A partir deste ponto, segui completamente por instinto. Por momentos acompanhei o percurso de um ribeiro que saí da aldeia. A água era pouca, só de onde em onde se viam pequenas poças. Estes lugares devem ser belos, na Primavera.
Mais uma vez não tive dificuldades em encontrar um caminho que seguia em direcção a Roios. Passei, desta vez, a sul do marco geodésico, numa zona cheia de giestas e carqueijas. A luminosidade começava a diminuir quando avistei Roios do Monte Pelado. Quando cheguei à aldeia, era quase noite cerrada. Junto da igreja estava um bonito presépio, mas o próprio adro estava fechado, pelo que tive que me contentar com fotografias através das grades.
Já em plena noite, pedalei até casa, na agora bem arranjada estrada Roios-Vila Flor.
O que à partida era um pequeno passeio, alongou-se. Quando se parte À Descoberta, é assim mesmo, não podemos prever onde os nossos passos (ou pedaladas) nos podem levar.

Quilómetros do percurso em BTT: 23
Total de quilómetros em bicicleta: 1688