25 abril 2008

Entre a delicadeza das flores e a dureza das rochas


Depois de algumas semanas com dias sombrios, nuvens negras e chuva, foi com alegria que vi chegar de novo o céu azul a Vila Flor. Quando saio de casa, olho o alto do Facho e vejo um céu azul salpicado por nuvens brancas como o algodão, desperta em mim a vontade de percorrer montes e vales, saboreando a Primavera, saciando-me das cores, bebendo o canto das aves.
Saí em direcção a Samões por caminhos já bem conhecidos. Nas bermas explodem flores de todas as cores. A manhã mal tinha despertado! As folhas ainda decoradas com gotas de orvalho, disparavam raios de luz, ofuscando a câmara.

Parei em Samões para um café, mas os bares ainda estavam fechados. Segui pela Rua do Corniteiro n.º2, atravessei a estrada nacional, continuei pelo Carvalhal e comecei a descer para o vale onde corre a Ribeira do Vimieiro. Era a primeira vez que fazia este percurso, não sabia muito bem o que ia encontrar. A paisagem à minha frente estava magnifica! Giestas, sobreiros e enormes pedras combinavam-se num extenso jardim. O amarelo das maias, alternava com o branco, com o violeta do rosmaninho, tudo suportado num manto verde. As rochas, ainda que enormes, apresentavam aqui e além regularidades que demonstravam a intervenção do homem. Todas estas encostas, hoje completamente selvagens, foram no passado cultivadas. Pouco antes de chegar à ribeira avistei uma pega azul (Cyanopica cyanus), ave que nunca tinha visto no concelho.

No fundo do vale corre a Ribeira do Vimieiro, agora com bastante água, em direcção a Freixiel e depois ao Tua. Ao longo da ribeira há verdes lameiros rodeados de freixos. O som da água saltando de pedra em pedra, combinava na perfeição com o cantar dos rouxinóis e felosas. De longe chegava o cantar do cuco, que ecoava nas encostas como se saísse das próprias fragas.

Deliciei-me a fotografar a água, os lameiros, as giestas cheias de flores. Quando cheguei às Olgas, avaliei o tempo que me restava. Já não tinha tempo suficiente para seguir até Freixiel, pelo que decidi começar a subida em direcção a Samões. Um agricultor tinha-me falado de algumas rochas com cavidades naturais que existiriam num monte ali próximo. Chamam-lhe as fragas das janelas! Deixei o caminho e segui em direcção a um local que aparece sinalizado nos mapas como Borralho. Atravessei com dificuldade uma ribeira que junta água desde o Barracão e que vai morrer um pouco mais abaixo juntando-se a mais duas ou três. Este local é conhecido pelo nome de Borrega. Estava bastante desanimado, o caminho terminou! Felizmente avistei um enxertador numa vinha próxima. Fui ter com ele. Surpreendeu-se com o meu interesse pelas fragas, mas indicou-me num monte ali próximo o local que poderia corresponder ao que procurava.

Deixei a bicicleta. O caminho tinha mesmo terminado. Segui a pé, com dificuldade pela muita vegetação existente, até ao local que me indicou. Encontrei realmente fragas escavadas no seu interior. Havia infinitas formas escavadas. Umas pequenas, onde cabia apenas um bugalho, outras muito grandes. Numa delas encontrei um ninho de melro azul (Monticola solitarius), com seis ovos. Foi a primeira vez na minha vida que vi um ninho desta ave. Habitam nestas encostas rochosas, já os tinha encontrado quando subi a Linha do Tua.

Voltei à pressa para a bicicleta. O tempo voou e tinha que regressar rapidamente a Vila Flor. Entrei em Samões pela Rua da Lameira e segui pela estrada até casa.
Quilómetros percorridos em BTT: 15

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