01 junho 2011

Às crianças da minha terra

Todas as vezes que vos vejo
E me espelho em vós
Sinto cá dentro o desejo
De vos estreitar a sós!

Sinto saudades imensas
Apertar-se-me o coração
Dos tempos de inocências
E doutros que já lá vão!

Sinto lágrimas bailarem-me
De tantos dias felizes
Os embargos a sufocarem-me
Nestes meigos deslizes!

Vós sois na inocência
Madrigais em flor
Eu já sou a plangência
Cantando no Mundo a dor!

Há bem pouco, eu era então,
Miudinho como vós
Sentindo já no coração
Pesares, carpires e dós!...

Era assim criança imbele
Não sei bem... como dizer
Uma pombinha sem fel
Caída do Céu ao nascer!

Era assim gentil criança
Como vós o sois ainda
Uma saudade na lembrança
Dessa idade tão linda!


Brincava como vós brincais
Em doce paz e harmonia
Sem jamais soltar ais
Do romper ao fim do dia!

Ressaltava e pulava
Nesta Terra sem igual
Eu ainda mal falava...
Tinha o tamanho dum pardal!...

Era assim como vós
Uma florinha d'açucena
Um fiozinho de retrós
A bordar esta cena!...

Vinha p'la mão de meus Pais
A caminho da escola
Soltando longos ais
Ou brincando com a bola!...

As vezes p'la tardinha,
De penumbra doce ou fria
Seguia com minha Mãezinha
Rezar a Jesus e a Maria!

E depois, na brincadeira.
Como vós ainda brincais
A vida era tão fagueira
Como não encontrei mais!...

Poema do vilaflorense Cristiano de Morais, do livro Riquezas e Encantos de Trás-os-Montes, publicado em 1950.
As fotografias foram tiradas no dia 01-06-2009, na Escola EB2,3/S de Vila Flor.

3 comentários:

Transmontana disse...

Bom dia, Aníbal!

Parabéns pela escolha do poema para celebrar o "Dia da Criança"!
Gostei muito, mas, ou eu me engano com o autor Cristiano Morais, de Freixiel, pois na data que menciona como a da publicação do livro ele, se calhar, ainda não era nascido, ou será outro homónimo que eu não conheço?
Se calhar foi lapso, não sei. Mas que é lindo, ai isso é!!!

Um abraço amigo
Anita

AG disse...

Olá dona Anita,
Agradeço a sua visita assídua e os seus comentários.
O autor do poema é mesmo Cristiano de Morais, nascido em 1895 e falecido em 1956. A sua biografia pode ser vista aqui:
Cristiano Augusto de Morais Carvalho
Tenho grande carinho pelo livro de onde tirei o poema, porque foi oferecido ao Dr. Cabral Adão em 1963 e que depois me foi oferecido por um dos seus filhos.
Nota-se pela escrita que eram tempos diferentes, mas os sentimentos são os mesmos.

Cumprimentos
Aníbal (Transmontano)

Transmontana disse...

Olá, Aníbal!

Muito obrigada pelo esclarecimento do que eu julgava um lapso da sua parte. Desculpe, mas, nós estamos sempre a pensar que os outros é que se enganam, e não na nossa ignorância, como foi este caso.
Desconhecia, em absoluto, que tivesse existido em Vila Flor, pessoa tão importante, mas agradeço a possibilidade que me deu de poder ler a sua biografia, muito rica, por sinal!
Mais uma vez, obrigada pelo contributo que tem dado para o conhecimento da nossa terra!!!

Tenha um dia feliz!

Anita