30 julho 2011

Barragem Mourão - Valtorno

Uma passagem pela barragem Mourão- Valtorno proporciona sempre uma bonita paisagem, mas, em Maio, o espetáculo era ainda mais bonito. Começou a encher em 2006, mas tinha algumas fugas o que fez com que em 2008 ainda não estivesse completamente cheia. Depois de algumas reparações o problema está resolvido e quando por lá passei em no dia 1de Maio, era grande o caudal que saía da barragem, porque esta estava cheia.

22 julho 2011

Poemas de Amor Para Vila Flor

Foi lançado no dia 17 deste mês o livro Poemas de Amor Para Vila Flor, da autoria de Abílio Aires. O autor é natural da freguesia do Castedo, em Torre de Moncorvo, mas tem uma estreita ligação, afetiva, e não só a Vila Flor, onde atualmente vive. Lançou, recentemente, outro livro de poemas - À vila das flores Vila Flor Capital do Mundo.
Não compareci no lançamento do primeiro livro, mas estive no do segundo, que decorreu no pequeno auditório do Centro Cultural. Estiverem presentes muito poucas pessoas, não imagino qual seja a razão. Penso que todas as formas de arte devem ser incentivadas e acarinhadas. No caso da escrita, ela só existe para ser lida.
Desconhecia completamente a poesia do senhor Abílio Aires e, desde o dia do lançamento, que tenho andado a ler alguns dos seus poemas. Trata-se de um livro de poesia que fala sobretudo do amor, da adoração da mulher. Também há alguns poemas dedicados a Vila Flor, mas são uma minoria. Como comprei também o primeiro livro verificarei, mais tarde, se nesse a Capital do Mundo é mesmo o enredo central.
Dos poemas que já li, deixo um dos que mais gostei.

Mas colhi seu coração

Trinta e três degraus desci
Para te poder falar
Os mesmos degraus subi
Não a consegui encontrar.

Era uma pena ao descer
Pesado fardo ao subir
Eu fui ali para a ver
Não podia desistir.

Ao bater àquela porta
Porta que não veio abrir
Ela tinha ido à horta
Ver as plantas a florir.

O aroma o perfume
Do cravo da hortelã
Era o mesmo do costume
Naquela linda manhã.

Esperei ao cimo das escadas
Estava ali para a ver
Dizer-lhe duas palavras
Quando a visse descer.

Bela a vi aparecer
Trazia rosas na mão
Rosas que não fui colher
Mas colhi seu coração.

Primeira fotografia: Ameixoeira-dos-jardins (Prunus cerasifera) na Av. Dr. Francisco Guerra, em Vila Flor.
Segunda fotografia: Abílio Aires, autor do livro Poemas de Amor Para Vila Flor no dia do lançamento.

15 julho 2011

Peregrinações – Igreja da Santíssima Trindade (Trindade)

Desde que comecei esta série de Peregrinações ainda não repeti um destino, mas a igreja da Santíssima Trindade, na Trindade, merece bem a insistência. Desde 2005 que tento visitá-la, mas em vão. Quando fiz a primeira caminhada à Trindade (9 de Janeiro de 2011) fez tão mau tempo que acabei por não entrar na igreja de tão mal tratado que estava, encharcado e com as botas cheias de lama. Optei por repetir a caminhada, desta vez acompanhado.
De tantas vezes que já passámos em Roios até tivemos direito a provar algumas framboesas e o vinho da adega. Ao início da manhã não cai lá muito bem, mas poderia parecer indelicado recusar. Também não íamos conduzir...
A passagem por Vale Frechoso e Benlhevai foi rápida. Não queríamos ter que desistir a meio do percurso por falta de tempo.
Estávamos a 18 de Junho e o calor já tinha marcas bem evidentes na paisagem. Os caminhos estavam cheios de erva seca que se colava aos cordões das sapatilhas. As flores silvestres já eram poucas, procuradas pelas borboletas no seu eterno corre, corre. Nos ribeiros, com pouca água, havia agriões em flor.
Nas cerejeiras ainda havia alguns frutos maduros, apesar da força da produção já ter passado.
Chegámos ao traçado do IP2 perto da uma da tarde. O tempo já era escasso mas não havia outra solução senão seguir até à aldeia. Acabámos por nos enganar no caminho e fizemos o último quilómetro pela estrada. À distância o estaleiro da empresa que está a fazer a nova estrada já é quase tão grande como o povoado!
Pouco depois estávamos no centro da Trindade, junto à igreja. No dia seguinte seria a festa da Santíssima Trindade, principal festa da aldeia. O largo já estava engalanado e no interior da igreja a imagem da Santíssima Trindade já estava sobre o andor à espera de ser decorado. Não compreendi a imagem, mas depois de ver o estandarte achei que fazia sentido: a imagem representa o Pai, Deus, o criador, nas mãos segura uma cruz, com Cristo crucificado; no topo da cruz está pousada uma pomba, símbolo do Espírito Santo. Tinha imaginado uma imagem como a que fotografei no ano passado em Fonte da Aldeia, no concelho de Miranda do Douro, onde fazem uma interessante festa à Santíssima trindade.
Os altares não são tão ricos como estava à espera. Talvez pelos anos que levei à espera de entrar nesta igreja criei expectativas que não foram satisfeitas. O facto de não ter ricos altares em talha dourada pode advir das várias reconstruções de que foi alvo. Isso não significa que não gostei da igreja.
Na capela-mor destaca-se na tribuna um painel pintado que me pareceu representar a coroação de Maria. Pelo que me disseram é recente e tapa uma parte do altar que está a precisar de restauro. Nas duas paredes laterais há dois nichos. Penso que originalmente eram sepulturas. Estiveram escondidas durante muitos anos. Ao contrário do que vi por aí escrito em vários sítios, pareceu-me que o arco-cruzeiro é românico e não gótico, mas sei muito pouco de arquitectura.
Os dois altares laterais são desiguais no estilo e talvez na época. As imagens são interessantes.
Não deixa de ser curioso o facto desta igreja monumental, uma das mais importantes do concelho, estar numa aldeia com poucas dezenas de habitantes. Podemos pensar que a aldeia é pequena porque as casas foram queimadas no início do século XIX, mas é provável que nunca tenha sido grande. Uma justificação mais plausível pode ser as ligações ao mosteiro de Santa Maria de Bouro funcionando a igreja como ermitério-estalagem, dando apoio aos peregrinos que por aqui passavam para S. Tiago de Compostela.
No frontispício da igreja há uma pedra gravada com o ano de 1619. A igreja original é muito anterior a esta data.
Depois de um último passeio pelo exterior regressámos a casa satisfeitos. Conseguimos fazer os 18 quilómetros do caminho e, sobretudo, visitámos o interior da igreja.

14 julho 2011

Peregrinações - Capela de S. Antonio (Vilas Boas)

O mês de Maio ficou marcado por um conjunto de caminhadas distribuídas pelos concelhos de Freixo de Espada à Cinta, Mogadouro e Miranda do Douro, ocupando praticamente todos os fins de semana. Por isso, a Peregrinação seguinte só aconteceu no dia 5, já no mês de Junho.
De todas as caminhadas a que chamei Peregrinações, esta foi talvez a única em que a designação faz todo o sentido. No dia 5 de Junho a igreja católica celebrou a Ascensão do Senhor, uma das três grandes festas celebradas no Cabeço de Nossa Senhora da Assunção, em Vilas Boas. As populações de muitas aldeias do concelho e dos concelhos vizinhos, percorrem, há muitas décadas, os caminhos que conduzem ao cabeço, para participarem nesta festa. Foi também a primeira vez que fomos três a fazer a Peregrinação: eu, o meu colega Helder e a minha esposa.
Embora o destino final fosse o Santuário de Nossa Senhora da Assunção, ela foi marcada pela passagem por outros locais de culto, daí a ser chamada Peregrinação à Capela de S. Pedro, para não repetir a da Senhora da Assunção (Peregrinação de 24 de Outubro de 2010).
Podíamos ter esperado por companhia, habitualmente há vários grupos de pessoas a partir de Vila Flor, mas como pretendíamos fazer um percurso passando pela aldeia de Vilas Boas fomos só os três.
O caminho foi o mesmo já seguido noutras caminhadas: Vila Flor - Barracão, Cooperativa de olivicultores - Quinta do Reboredo - Vilas Boas.
Encontrámos os primeiros peregrinos mesmo à chegada a Vilas Boas. Era um grupo de ciclistas que vinham do Vieiro.
Encontrei, há uns tempos, algumas marcações enigmáticas no caminho que liga o Vieiro a Vilas Boas. Nunca cheguei a saber se tinham algo a ver com as peregrinações.
A nossa primeira paragem foi na Igreja Matriz. Eu já a conhecia, mas foi uma boa oportunidade para a mostrar  aos meu colegas de caminhada. Quando saímos para a capela de S. Sebastião já se ouvia a Banda Filarmónica de Vila Flor a tocar pelas ruas da aldeia. A capela, situada perto do Pelourinho, estava fechada e seguimos para a capela de S. António.
A capela de S. António fica numa elevação, num dos pontos mais altos da aldeia. É um excelente miradouro. Foi uma ermida. As caraterísticas dignas de destaque são o púlpito exterior, em granito e várias imagens de arte popular no interior. Todas as imagens parecem ser bastante antigas, à excepção da de S. José. Já visitei esta capela vária vezes, uma delas quase no início deste Blogue, em 2007.
Quando nos dirigíamos para a Fonte dos Milagres encontrámos um segundo grupo de peregrinos, estes de Freixiel. Algumas das pessoas estavam a fazer o percurso descalças!
A Fonte dos Milagres estava inundada. Não sei como conseguiram, mas o pequeno nicho com Nossa Senhora da Assunção tinha um arranjo com flores naturais!
Foi junto à fonte que fizemos uma pequena paragem para descanso e retemperamento das forças para a subida ao Santuário. Este acesso, a partir da aldeia, é o mais bonito de todos, mas é bastante cansativo. Nos dias que correm parece que já poucas pessoas sabem andar a pé...
Quando chegamos ao Pórtico já a banda de música se encontrava ali bem como algumas centenas de peregrinos. Subimos à capela no topo do cabeço, onde havia pouca gente, porque tinha saído o andor com Nosso Senhor para o Largo Central, junto do pórtico, lugar para onde se deslocaram as celebrações depois da sua inauguração, em Agosto de 2007. Foi neste local que se celebrou a Eucaristia.
Fizemos o caminho de regresso a Vila Flor também a pé, desta vez utilizando a estrada, que é o percurso mais directo.
Foi bom este misto de contacto com a natureza e de espiritualidade. Não podemos esquecer que 5 de Julho é também o dia em que se celebra o Dia Mundial do Meio Ambiente.
O céu estava limpo e fazia muito calor. Nada que fizesse adivinhar a tempestade que se havia de abater sobre Vilas Boas ao final de tarde. Foi tanta a chuva que caiu em poucos minutos que provocou estragos consideráveis, com inundações e queda de muros. Foi necessária a interversão dos Bombeiros e da proteção civil.

Percurso: (16,5 km)
GPSies - VilaFlor_Cabeco_VilaFlor

13 julho 2011

Peregrinações - N.Sra. da Assunção (Candoso)

No seguimento das peregrinações do mês de Maio fizemos uma caminhada a Nª. Srª. da Assunção, em Candoso, no dia 14. A zona mais fria do concelho onde predomina o granito é também aquela em que as giestas existem em maior abundância e florescem mais tarde. Foi com o entusiasmo de encontrar bonitos mantos de giestas em flor que optámos pela freguesia de Candoso.
 O procedimento foi um pouco diferente do habitual. Fomos até Carvalho de Egas de carro. A caminhada foi de Carvalho de Egas a Candoso com regresso a Carvalho de Egas. Esta opção destinou-se unicamente a não dependermos de ninguém para voltarmos a casa.
Iniciámos a caminhada junto à antiga Escola Primária, agora transformada em sede da associação Alegre Atitude. Descemos à estrada nacional e metemos por um caminho que conduz aos terrenos e hortas junto da aldeia. Este caminho não se revelou uma boa escolha, por não tinha continuidade, mas permitiu uma boa panorâmica da aldeia. Alguns metros mais abaixo encontrámos o caminho certo.
Candoso está a curta distância de Carvalho de Egas e atravessando a montanha é ainda mais perto do que pela estrada. Até se encontrarem os primeiros terrenos agrícolas de Candoso nada mais de encontra do que pinheiros, giestas e rochas graníticas.
Na aldeia há duas capelas devotas a Nossa Senhora da Assunção, a antiga capela, onde nos dirigíamos, e a do Santuário, destino da peregrinação do dia 19 de Setembro.
A antiga capela está situada no fundo do povo, exactamente no lugar onde entrámos na aldeia. Antes de aí chegarmos ainda passamos por duas Alminhas, umas mais antigas, outras mais recentes, ambas já mostradas no blogue. Foi restaurada recentemente, sendo visíveis novas colunas no cabido exterior e o revestimento do tecto no interior. O telhado também é novo.
Em volta da capela existe um bonito espaço em calçada e canteiros com flores junto à parede. Não resisto a entrar sempre que passo junto à capela.
Não conhecia o interior e, por isso, foi com bastante entusiasmo que via a porta abrir-se. O altar é muito rico, em talha dourada, a necessitar de restauro. A imagem de nossa Senhora da Assunção está dentro de uma caixa que já deve ter tido uma porta de vidro. Esta caixa não se enquadra no resto do altar e estou em crer que é muito posterior ao mesmo. Talvez tenha sido aí colocada para proteger a imagem, mas seria interessante ver o altar sem este acrescento. Estava tudo muito limpo e decorado com flores naturais.
Fizemos um curto passeio pela aldeia, até ao cemitério e Jardim-de-infância. Era sábado e mão havia crianças. Aproveitámos para conversar com algumas pessoas da aldeia. A tragédia que se abateu sobre ela com a morte do jovem Renato ainda paira no ar. Falámos longamente com a sua mãe.
O regresso a Carvalho de Egas foi feito por um caminho novo para mim, mas é o mais fácil e rápido, a Avenida do Barreiro. Este percurso passa junto das instalações onde se faz a perdicultura, e que espero ainda vir a visitar.
Em Carvalho de Egas aproveitámos para percorrer a Rua da Capela, onde também pode ser encontrada uma bonita capela, com cabido exterior, dedicada a Nossa Senhora do Rosário.
Apesar do percurso ter sido mais curto do que o habitual, acabámos por levar toda a manhã para o fazer, uma vez que utilizámos muito tempo a conversar com os habitantes de Candoso.

Percurso realizado (6,2 km):
GPSies - CEgas_Candoso_CEgas

12 julho 2011

Peregrinações - Capela de N. S. do Carrasco (Benlhevai)

Não pode haver época mais bonita para percorrer os montes de Vila Flor (e de Trás-os-Montes em geral) do que o mês de Maio. Por isso, tentei aproveitá-lo ao máximo, fazendo algumas caminhadas.
No dia 07 de Maio partimos de Vila Flor em direcção a Valbom em mais uma caminhada da série "Peregrinações". O percurso revelou-se mais demorado do que o planeado, e, pela primeira vez, não foi possível chegar ao destino previsto. Foram as pessoas que fomos encontrando ao longo do caminho, paisagens estonteantes e até alguma chuva que nos provocaram alguns atrasos. Em vez de Valbom, optámos por fazer um desvio à Capela de Nossa Senhora do Carrasco em Benlhevai.
O mau tempo ainda não se tinha afastado de Vila Flor. Quando atingimos as Capelinhas a caminho de Roios, nuvens negras cobriam o céu. mantiveram-se durante toda a manhã.
 Dentro da povoação de Roios foram as primeiras cerejas maduras que despertaram a nossa atenção. Atravessámos a aldeia e saímos pelo caminho que conduz ao cemitério, já tantas vezes percorrido. Junto ao ribeiro, plantavam-se cebolas. Foi também junto ao ribeiro que encontrámos mais uma raridade: uma dedaleira (Digitalis purpurea) completamente branca! Já tinha encontrado na Linha do Tua, alguns anos atrás, uma planta semelhante, mas fiquei com a desconfiança que a cor se pudesse dever a algum produto químico usado na linha. Junto à ribeira não havia uma, nem duas, mas sim três hastes florais completamente brancas! Por todo o lado abundava a cor: o amarelo das maias, o vermelho das papoilas, até as batateiras estavam em flor! Todos os campos estavam mesmo a pedir ser fotografados.
Em Benlhevai aproveitámos para visitar a fonte de mergulho que fica num dos largos mais importantes da aldeia. Também voltei a ver um bonito relógio de sol que já tinha fotografado mas a que tinha perdido o rasto.
Abandonámos Vale Frechoso a caminho de Benlhevai por um caminho diferente daquela que habitualmente sigo. Esta mudança permitiu-nos encontrar uma espécie de "gruta" muito parecida com as que existem no Santuário de Nossa Senhora da Assunção. Está muito deteriorada, mas deve ter sido muito bonita, rodeada de jardim, de que ainda sobrevivem algumas roseiras.
Seguimos caminho já na presença dos gigantescos castanheiros, característica bem marcante do termo de Benlhevai. Os sobreiros quase nos fizeram sentir no Alentejo, mas a inclinação do terreno desfazia qualquer duvida.
Já foi prestes a chegar a Benlhevai que desistimos de chegar a Valbom. Já era uma da tarde e querer chegar tão longe é esforço a mais. Fizemos um desvio em direcção ao vale da Vilariça, apanhando o caminho que conduz à capela de Nossa Senhora do Carrasco. Entusiasmei-me a fotografar este caminho, mas infelizmente o tempo era escasso e a bateria da câmara Panosonic já tinha terminado à muito. Estava uma luz fantástica mas pouco pude fazer além guardar o entusiasmo para um futura visita ao mesmo local (que haveria de acontecer no dia 13 de Maio).
Foi já quando nos encontrávamos em volta da capela a admirar a paisagem que apanhámos o susto do dia. No meio de restos de madeira uma enorme cobra dormitava. A nossa curiosidade foi tanta que a provocámos por diversas vezes, até que ela, de forma pouco convicta, acedeu à nossa vontade e foi-se embora.
Não foi possível entrar na capela. Está distante da aldeia e é pouco frequentada. Só mesmo os animais selvagens e as ovelhas por aqui andam todos os dias. No entanto, esta capela já foi palco de uma grande fé e destino de muitos devotos. Salienta-se no interior um altar seiscentista em talha dourada. Segundo a lenda, a capela tem este nome porque quando um lenhador com uma picareta andava a arranjar lenha, espetou a picareta num carrasco e ouviu de seguida uns gemidos. Quando indagou a origem dos gemidos encontrou a imagem de Nossa Senhora escondida no carrasco. Fora Ela que gemera para que não a magoasse.
Muitos doentes procuravam esta capela para tentar resolver os seus males. A crença popular levava a que as pessoas colocassem sacos de areia ao pescoço quando havia doenças. Acreditavam que desta forma seriam curados. Quando se curavam os sacos eram trazidos aqui. Dizem que ainda há alguns saquinhos de areia na capela!
Com este misto de fé e de mistério, descemos ao centro da aldeia. Seria mais fácil resgatarem-nos no largo que existe no centro da aldeia.
Passava das duas da tarde quando regressámos a casa. Não foi uma caminhada muito longa, mas foi muito interessante. Certamente que voltaremos a percorrer os mesmos caminhos, mas dificilmente os veremos como naqueles dias do início do mês de Maio.

Percurso (12,5 km):
GPSies - VFlor_Benlhevai_2

11 julho 2011

A Eduarda, doceira

Ali, junto ao quintal do Doutor Azevedo, onde havia lilases, lírios e umas folhas lanceoladas muito aromáticas, que eu colhia para meter na minha Cartilha Maternal e, com elas, o perfume de perceber e desenhar as primeiras vogais; ali, no canto chamado das viúvas, por só viúvas lá morarem, é a casinha da senhora Eduarda, pequenina, de esquina redonda, com uma porta, apenas, e janelas que deitam para os telhados vizinhos, do antigo Tribunal.
Esta humilde saudosa casinha, além de residência da senhora Eduarda, era também fábrica de doces, uma espécie de precursora das grandes fábricas de pastelaria que hoje se vêem nas cidades, com muitos maquinismos e muitas operárias de bata azul e touca branca.
Mal despontava o dia, se eu abria a porta do quinteiro anexo à casa onde eu nasci, para ir aos pintassilgos com estrumalho, ou aos talhões e rabitas com pescoceiras e costelas (formigas d'ala no cabaço), logo via a doceira sair da loja da lenha, com grandes braçados de chamiça para o forno, caminhando às canchadas, para não pisar os pintainhos da galinha que botara.
- Bons dias, senhora Eduarda! Já tão cedo a trabalhar!
Isso é que ela é madrugadora!
- Tenha Vosselência muito bons dias. Há quanto tempo eu estou erguida! Tem que se aproveitar a manhê, que faz mais fresquinho. Logo, pela força do calor, quem podia estar à boca do forno?! Então vai aos pássaros?
- É verdade. Olhe: vou passar o tempo, entretido.
- Veja se quer uma suplicazinha! Dou-lha de boa mente.
- Muito agradecido. Já matei o bicho. Até logo!
- Então, até logo. E oxalá que traga uma boa coleira deis, para a Rita lhe fazer uma arrozada.
...

Excerto do livro Paisagens do Norte, de Cabral Adão.
Fotografia: Quinteiro em Carvalho de Egas.

09 julho 2011

Peregrinações – Capela de S. Plácido (Mourão)

No primeiro dia do mês de Maio teve lugar mais uma longa caminhada, desta vez à freguesia do Mourão, bem nos limites do concelho de Vila Flor.
O dia 1 de Maio é muito simbólico, não só por ser o Dia do Trabalhador, mas também porque a ele estão associados um conjunto de tradições de que não se conhece bem a origem. Na noite de 30 de Abril para um de Maio são colocados ramos de giestas em flor (maias) na entrada das habitações.
Este gesto simbólico, cheio de superstições tem várias origens talvez nenhuma delas verdadeira ou todas verdadeiras no seu conjunto. Há quem aponte esta origem a questões de religião, nomeadamente a passagem bíblica em que Herodes manda matar a criança da casa assinalada com um ramo de giesta, aparecendo de manhã todas as casas enfeitadas com  giesta, impedindo os soldados de cumprirem a cruel tarefa de matarem o menino. Maia era uma deusa grega. Na mitologia romana também existe a deusa Maia. Festejada a 15 de Maio, é considerada a deusa da fecundidade, da Primavera, sendo-lhe dedicados o primeiro e o décimo quinto dias do mês.

A verdade é que no primeiro dia do mês de Maio a maioria das casas das aldeias (e também na vila) aparecem enfeitadas com um ramo de giesta em flor. Este gesto é tido como protecção contra o infortúnio trazendo segurança e fartura às casas. Curiosamente não são só as casas de habitação que são "protegidas" com as maias; é possível ver as cortes dos animais e mesmo as viaturas ostentando o tradicional ramo de giesta em flor.
Caminhar até ao fim do termo do Mourão parece um grande desafio. Apesar de haver aldeias mais distantes geograficamente da sede de concelho, o relevo dita que algumas vivam mais distanciadas de Vila Flor, principalmente fruto das vias de comunicação, que não negam a história, conduzindo a outros locais. Se traçarmos uma linha recta entre Vila Flor e Mourão, ela passará no Seixo de Manhoses seguindo de perto o traçado de caminhos centenários usados em feiras e romarias desde a idade média até ao século XX, quando as deslocações se começaram a fazer de automóvel.
Palmilhar estes caminhos é uma oportunidade de reviver a história, mas também são momentos único de contacto com a Natureza (e com as pessoas) luxuriante nos meses de Primavera.
Contrariamente ao que aconteceu ao longo da semana, no dia 1 o clima não se mostrou nada acolhedor. Muitas nuvens e alguma chuva foram presença constante durante toda a manhã de Domingo.
O traçado não é nenhuma novidade: Vila Flor - Barragem Camilo Mendonça - Seixo de Manhoses - Barragem Mourão-Valtorno - Mourão - Capela de S. Plácido. É um excelente traçado, mesmo para BTT, com o desafio de descer à barragem e subir depois ao Mourão, com alguma dificuldade.
Ao longo dos caminhos era impossível ficar indiferente à explosão de vida e cor. Madres-silvas espalhavam o seu aroma tal como outras plantas aromáticas. O céu escuro ameaçava com chuva, mas a pujante vegetação parecia pedi-la. A passagem pela albufeira Camilo Mendonça foi rápida mas inspiradora.
O meu colega Helder acompanhava-me nesta "Peregrinação", por isso optei pelo caminho que conduz ao Seixo pelo ribeiro do Sangrinho, que tanto me tinha agradado na "Peregrinação" de 14 de Novembro de 2010. Uma novidade nesta caminhada foi a visão de tritões (penso que o tritão-marmoreado - Triturus marmoratus) e outras espécies animais que encontrámos em vários locais ao longo da caminhada. Com a erva molhada rapidamente ficámos com o calçado encharcado, mas isso é só mais um dos elementos que é necessário aprender a suportar.
No Seixo ainda tivemos tempo para um reconfortante café, antes de nos aventurarmos a caminho do barragem Mourão-Valtorno. Este troço do caminho já era nosso conhecido duma das primeiras caminhadas.
Depois do cruzeiro no caminho que desce para a barragem, há muito espinheiros. Contrariamente àquilo que eu previa não estavam em flor. Em volta da barragem sim, havia muitas giestas em flor e a água transbordava com enorme barulho.
Seguiu-se depois a etapa mais penosa da caminhada, até à aldeia do Mourão. Para a subida não ser tão íngreme, acabou por ser mais longa, uma vez que contornámos o cume onde se encontra o cemitério e entrámos pela aldeia quase a sul, onde também há um cruzeiro exposto a sul. Este caminho já o segui em anteriores ocasiões.
Na aldeia encontrámos pouca gente. Depois de pedirmos algumas orientações quanto à localização da capela de S. Plácido posemo-nos a caminho. Não há nada que enganar, basta seguir o caminho. Mas, para complicar as coisas perdemo-nos. Nunca tinha feito o trajecto Mourão - S. Sampainho. Sempre que fui à capela de S. Plácido fazia o percurso pela estrada de Vilarinho da Castanheira, da qual se avista, sendo fácil encontrá-la. Quando nos pareceu que já tínhamos andado demais, desviámo-nos do caminho, tentando encontrar a capela caminhando pelos terrenos. Foi uma grande asneira. Encharcámo-nos quase até à cintura e acabámos por encontrar a capela algumas centenas de metros mais adiante, na borda do caminho que iniciámos e que depois abandonámos.
Os últimos metros já foram bastante angustiantes. A somar ao cansaço havia a fome, porque a tarde já há muito tinha começado. Com o mau tempo existente também não havia disposição para fazer as coisas com calma e discernimento.
Junto à capela existem ruínas daquilo que resta do antigo lugar de S. Sampainho, presentemente abandonado mas que ainda era habitada no Séc. XVIII. A capela de S. Plácido foi recuperada e descaracterizada. A maior curiosidade está nas duas carrancas antropomórficas na fachada. Nas traseiras há uma pedra decorada que já mencionei numa anterior visita.
Quando atingimos a capela já o carro que nos havia de trazer de volta a Vila Flor esperava há muito tempo na estrada do Vilarinho da Castanheira. Depois de entrarmos no carro todos os cansaços passam e só ficam as peripécias interessantes da viagem. Foram mais de 14 km num ambiente completamente adverso, mas o desafio foi superado e já se planeavam outras "Peregrinações".

Percurso:
GPSies - VilaFlor_SPlacido