29 fevereiro 2012

Peregrinações - Capela do Santíssimo Sacramento (Assares)

Bem que gostaria de visitar Assares mais vezes, mas, dada a localização da aldeia, é dos locais do concelho que menos conheço. Não estou a falar nas dificuldades em chegar à aldeia de carro, nisso até está bem servida, mas estou a falar sobretudo a pé ou de bicicleta (sem ser pela estrada). Por isso foi com bastante entusiasmo que no início de janeiro parti para uma "Peregrinação" até Assares.
As dificuldades seriam, mais uma vez, as zonas com arame farpado em território de Vale Frechoso e ... o nevoeiro. Este espreitava lá do vale, subindo de vez em quando até aos pontos mais altos, quer assomando-se vindo do Cachão, quer estendendo-se por Sampaio ameaçando inundar todo o vale.
Subimos às capelinhas (eu e o colega de caminhadas Helder Magueta). Os caminhos por detrás da serra já são bem nossos conhecidos e fazemos os possíveis por variar o percurso. Curiosamente, os cogumelos que procurei sem sucesso em novembro e dezembro, vim a encontrá-los em janeiro e fevereiro! A falta de chuva atrasou o seu desenvolvimento, mas havia grande quantidade.
Depois de passarmos Roios decidimos seguir um pouco mais para norte do que o habitual. A ideia era fazer todo o caminho que vai da aldeia  até à Quinta do Galego quase junto da estrada que segue para a Trindade. É um caminho que já fiz muitas vezes sozinho, mas que nunca foi feito desde que começaram as "Peregrinações". Estávamos a mais de 600 metros de altitude, quando queríamos descer perto dos 200, em Assares.
Pouco depois de deixar-mos a referida quinta, havia duas hipótese de percurso: seguir por um dos caminhos habitais até Vale Frechoso e depois seguir para Assares; tentar descobrir um caminho mais em linha reta passando pela Quinta de Sto  Estêvão e pela Quinta do Prado. Este último tinha muito mais lógica (e aventura) e acabámos por optar por ele. A questão que nos preocupava era se conseguiríamos contornar a o arame farpado da Quinta de Sto Estêvão, porque os caminhos por aqui não abundam. O caminho que seguimos era muito bom e estava e mostrava ser muito utilizado, mas, de repente, acabou junto a uma cerca. O que temíamos vei-o a acontecer.
As alternativas aram voltar para trás e ir até Vale Frechoso ou tentar contornar a cerca pelo sul, junto à pequena Barragem da Laça. É um local de má memória, e, mais uma vez revelou-se uma zona difícil. A única coisa favorável foi o facto do nevoeiro não nos ocultar a paisagem, permitindo-nos alguma orientação, caso contrário nunca teríamos podido seguir em frente.
Respirámos de alivio quando nos encontrámos junto à Ribeira das Duas Quintas, já em terrenos da Quinta do Prado. Para não cometermos o mesmo erro que me levou a Lodões na caminhada que fiz no dia 26 de novembro, quando pretendia chegar a Santa Comba, aventurámo-nos mais para o interior da quinta. A certa altura foi quase impossível evitar passar pelas habitações no centro da quinta. ´Foi uma coisa que não nos agradou, porque não é bonito invadir propriedade privada e também pode ser perigoso. A nossa sorte foi que fomos avistados a grande distância por um responsável pela quinta, que foi ter connosco. Havia quase meia dúzia de enormes cães que não sei o que nos teriam feito se nos aproximássemos sem a presença do responsável. Até assim nos arrepiámos.
Um pouco mais à frente, nos limites da Quinta do Prado decorria uma batida ao javali. Esta era outra situação que não contávamos encontrar. Começámos a fazer as caminhadas ao sábado precisamente para evitar a caça ao tordo, que acontece ao domingo! Felizmente que não tivemos que passar onde decorria a batida, limitando-nos a contornar um dos caçadores que estava numa das portas mais a sul.
Neste ponto encontram-se os caminhos que vêm da quinta e o que vem de Vale Frechoso, pelo Alto da Vinha, seguindo juntos até Assares. De repente o vale abriu-se a nossos pés!
O caminho era bom  (e sem barreiras!). Em poucos minutos chegámos à aldeia depois de passarmos sobre uma ponte que atravessa o IP2.
Estava na hora de almoço e não se via ninguém na rua. Constatei, mais uma vez que as rolas turcas gostam muito de Asares. Voam aos bando de um edifício para outro, mesmo no centro da aldeia, onde um enigmático edifício chama à atenção. É um edifício novo, que foi construido penso que para museu! Está terminado e ... vazio, há vários anos. Assares é uma das mais pequenas aldeias do concelho, mas ainda terá gente capaz de dar vida a este edifício, sendo museu ou outra coisa qualquer. Entretanto, espera-se não sei pelo quê.
A capela que era o nosso destino está mesmo no centro da aldeia e não foi difícil dar com ela. Esta capela tem funcionado como matriz. Segundo Cristiano Morais o altar é do Séc. XVII e pertencia a uma antiga matriz que caiu. Esta capela foi reconstruida em meados do Séc. XVIII. O exterior é muito simples chamando apenas à atenção a  data escrita em numeração romana na padieira da porta MDCCLXXVII, um pequeno óculo em granito, encimado por uma cruz e a torre sineira, central, pequena, e muito elegante (com dois pináculos e uma cruz). Já houve por cima da padieira uma pedra saliente com o ano 1777 gravado, mas curiosamente já não está lá!
É no interior da capela que está a sua riqueza. As imagens são quase todas muito antigas. Uma das mais recentes tem lugar de destaque no único altar lateral (de 1905) que existe, o Sagrado Coração de Jesus. O altar central é uma bela peça em talha. O dourado já não brilha, mas adivinha-se que seria esplêndido. É possível que alguns elementos possam ter sido acrescentados ao altar original. como uma pomba dourada e um quadro representando o Sagrado Coração de Jesus. Na porta do sacrário está representado um cordeiro. Tratando-se de uma capela dedicada o culto do Santíssimo Sacramento esperava encontrar símbolos identificativos desse culto, mas não são evidentes. Possivelmente por cima do sacrário, onde agora está uma cruz com Cristo Crucificado devia ser colocada a custódia ou ostensório, com a hóstia consagrada. O próprio desenho envolvente, em estrela, fazendo lembrar uma custódia, vem reforçar esta minha ideia.
A poucos metros da frente da capela, orientada a nascente,  há um cruzeiro em granito, num patamar elevado em relação ao largo onde há um fontanário e tanques para lavar. Ainda estavam no centro do largo os restos da fogueira do Natal.
A nossa caminhada terminou perto da antiga Escola Primária, onde há umas alminhas que gosto sempre de visitar, porque são um caso único de conservação no concelho.
Regressámos a Vila Flor de carro.

28 fevereiro 2012

Amendoeiras em Flor 2012

Chegou uma das épocas mais bonitas no concelho de Vila Flor e nos concelhos limítrofes. As amendoeiras floridas proporcionam um espetáculo pouco frequente noutras regiões do pais e de rara beleza, para quem tem tempo e espírito para se aventurar a percorrer as estradas do sul do distrito de Bragança.
Este ano é um ano atípico. Como tenho registo fotográfico de anos anteriores, não necessito dos dados meteorológicos para saber que o que se passa não é normal. De qualquer forma, mesmo com mais de uma semana de atraso, quase duas, as amendoeiras começam a mostrar um ar da sua graça. No fim de semana passado fotografei as primeiras flores em Torre de Moncorvo e neste fim de semana apareceram as primeiras florem em Vila Flor.
Se os primeiros turistas que vieram este fim de semana se sentiram um pouco defraudados, no próximo fim de semana o espetáculo já vai valer a pena, com as encostas cobertas de amendoeiras floridas proporcionando uma visão paradisíaca deste canto agreste de Portugal. A par das amendoeiras em flor, há muito para ver na região. Todas as autarquias, incluindo a de Vila Flor, prepararam um conjunto de iniciativas que vão desde a animação musical, aos espetáculos de de folclore, exposições de artesanato, feiras de produtos locais etc. Acima do Douro (não contando Foz Côa, que se assume como capital da amendoeira em flor), todos os concelhos têm algo a mostrar. Visitar Freixo de Espada à Cinta, Mogadouro, Torre de Moncorvo, Alfândega da Fé, Vila Flor ou Carrazeda de Ansiães é uma boa oportunidade para apreciar a paisagem mas também visitar o património histórico, apreciar a gastronomia e comprar os produtos da região, que são algo de extraordinário. Podemos falar do vinho, do azeite, do fumeiro, da doçaria tradicional, mas também do artesanato. Não esquecer que os municípios situados na zonas mais frias, como parte de Vila Flor, Alfândega da Fé e Carrazeda de Ansiães terão uma época de floração da amendoeira mais tardia, prolongando-se talvez até aos finais de março, dependendo de se a chuva vai aparecer ou não.
Em Vila Flor haverá animação todos os fins de semana. O programa é variado e promete. Também os concelhos limítrofes de Alfândega da Fé, Carrazeda de Ansiães e Torre de Moncorvo têm as suas próprias propostas. Além das atividades do programa, em Vila Flor, não é de dispensar um passeio pela parte antiga da vila, uma visita ao Museu Berta Cabral, um passeio pela complexo natural envolvente à Barragem Camilo Mendonça e uma subida ao Cabeço do santuário de Nossa Senhora da Assunção, em Vilas Boas, a 6 km de distância de Vila Flor.

Atenção aos mapas das estradas que poderão estar desatualizados, não mostrando o recente traçado do IC5 e IP2, já em funcionamento nalguns troços. Usar os IP's e IC's pode não ser a melhor solução para apreciar as amendoeiras em flor, mas pode ser uma boa alternativa para atingir as sedes de concelho e partir daí por estradas nacionais ou municipais onde o espetáculo é mais maior e onde se pode parar a qualquer altura.
Não deixo sugestões de percursos, porque já fiz isso em anos anteriores e os amendoais são os mesmos. Ficam algumas ligações de coisas que já publiquei em anos anteriores sobre as Amendoeiras em Flor.

    2011
    2010
    2009

    2008Espero ter tempo para conseguir algumas fotografias interessantes para mostrar aqui.

    27 fevereiro 2012

    João Baptista de Sá

    João Baptista de Sá, nasceu em Vila Flor, a 7 de Novembro de 1928, filho de D.ª Maria Vicentina de Sá Correia, natural de Vila Flor, e de João Baptista Lopes Monteiro, natural de Carrazeda de Ansiães.
    Partiu da sua terra natal, levando-a no coração, a 18 de Novembro de 1950, rumo à Capital, onde foi desempenhar funções no Ministério da Saúde e Assistência, chegando ao cargo de Chefe de Divisão no Hospital Miguel Bombarda. O seu desempenho foi objecto de louvor "pela competência, zelo e dedicação demonstradas no exercício das suas funções" (Diário do Governo, II série, de 28.6.1986).
    Em Julho de 1963 licenciou.se em Filosofia pela Faculdade de Letras de Lisboa, dedicando-se ao ensino durante vários anos. Desde cedo abraçou a escrita, colaborando em diversas revistas e jornais diários de Lisboa e Porto, assim como em periódicos Regionais, onde marcou presença com a poesia e os contos, vindo posteriormente a publicar alguns trabalhos em livro. Cultivou o teatro, tendo uma boa parte sido objecto de adaptação radiofónica.
    Como orador de alto nível, proferiu palestras em diversos actos de natureza cultural, salientando a realizada em 8 de Maio de 1955, por ocasião da homenagem prestada à grande Poetisa Florbela Espanca, intitulada "Evocação"; em 19 de Maio de 1957, "O Tejo na Poesia Portuguesa"; em 5 de Outubro de 1958, "O Poeta que Encontrou a Estrada de Damasco", sobre Bocage; em 1 de Fevereiro de 1972, foi orador nas "Conversas sobre Arte", com o tema "Dos Séculos XV e XVI, ao Barroco e ao Rococó"; em 30 de Abril de 1984, em homenagem ao Dr. Cabral Adão e a 12 Agosto de 1994, aquando da apresentação do livro "O Passado e o Presente" da autoria do Dr. Artur Guilherme Trigo Vaz.
    Tomou parte, com os seus escritos, em vários certames literários pelo que recebeu prémios e menções honrosas como, por exemplo:
    - 1°. Prémio em Soneto nos II Jogos Florais da Costa do Sol - 196l
    - 1°, Prémio em Poesia Lírica nos Jogos Florais Transmontanos - 1962, do Clube de Vila Real, com o poema "Louvor à Terra e à Gente Transmontana".
    - Prémio de Revelação Prosa, em 1973, na colectânea de contos "Concerto para a Vida e Esperança" atribuído pela Secretaria de Estado da Informação e Turismo.
    Entre as diversas obras teatrais merece especial relevo, porque é um presente à terra que o viu nascer, a peça em 3 actos, um quadro e um epílogo "A Alma de Vila Frol".
    Nos seus livros está em permanência a sua Vila Flor. Em 1996, publica "Flores para Vila Flor". No prefácio, Joaquim Cerqueira Gonçalves, afirma que "os poemas de João de Sá são uma incomparável incursão pela memória cultural de Vila Flor"; em 1997 um maravilhoso livro de contos, "Um caminho entre as oliveiras" é oferecido a todos os que amam o seu torrão natal; em 2003 vem a lume "Mãe - D'Água - Ficção e Memórias" uma viagem à Vila Flor dos anos 40; em 2006 "Assalto a Uma Cidade Feliz" assinala "a urgência de um regresso ao seu burgo nordestino, através de reminiscências da infância e juventude do autor".
    Num permanente abraço à cultura foi, curiosamente, o primeiro visitante do Museu de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian.
    Actualmente, João de Sá vive em Lisboa, continuando a escrever, quinzenalmente, as "Memórias de Vila Flor", no jornal regional "Terra Quente".

    Transcrito da Agenda Cultural  de Vila Flor (Jan., Fev., Mar.e Abr. de 2008)
    João de Sá, aquando da representação da sua peça "A Alma de Vila Frol", pelo Grupo de Teatro Amador de Valtorno/Alagoa

    Nota: João Baptista de Sá morreu no dia 23 de Fevereiro de 2012, em Lisboa.

    25 fevereiro 2012

    Morreu o Dr João de Sá


    XLIX
    Andei perdido por caminhos ínvios,
    procurando a palavra justa de espuma
    para aplacar o ímpeto das torrentes.
    Agora, aqui, meu débil discurso engrandece-se
    amedrontado de tanta transparência,
    próximo da divina perfeição emergindo
    do luzente mar do fim dos nossos corpos.
    Já não volto a perder-me, nem tu,
    seguramente o sei, ninguém se
    estrangula numa laranjeira,
    ao romper do dia.
    Em nenhum tempo regressaremos
    animais a merecerem distinções e penas
    em artificiosos firmamentos.
    Nossos nomes irão deflagrar até se dissiparem
    em incisões de névoa.
    Ficaremos idênticos ao que éramos
    antes de transpormos o pórtico da vida.

    Poemas de Dr. João de Sá, do livro "E de repente é noite", 2008.
    Fotografia: João de Sá (30-11-2008)

    24 fevereiro 2012

    Centro Cultural de Vila Flor

    Inaugurado em Agosto de 2000, esta estrutura polivalente localizada no centro da vila de Vila Flor, é composta por várias salas de apoio ao Município, também cedidas às Associações/Instituições do Concelho, sempre que solicitadas. As Exposições têm lugar na Galeria criada para o efeito e no foyer. Neste espaço localiza-se o Espaço Público Internet e o Gabinete de Inserção Profissional. Um bar de apoio, concedido a particulares, integra o complexo.
    Para além de um auditório pequeno, com capacidade para cerca de 60 pessoas, um outro maior, com capacidade para 300 pessoas, acolhe aos fins de semana as sessões de cinema e atividades culturais. O Auditório Adelina Campos, assim denominado em jeito de homenagem a uma grande atriz Vilaflorense, recebe também, ao longo do ano, Jornadas Técnicas e Congressos, debates e conferências, mas sobretudo espetáculos de música e teatro.

    Fonte do texto: Município de Vila Flor

    23 fevereiro 2012

    Folgares - Grandras

    Recordação da última caminhada a Folgares, quase prestes a atingir a aldeia. Ao longe vê-se Freixiel e um sem fim de montes e fraguedos já percorridos.

    18 fevereiro 2012

    Flores sem medo

    Apesar da vaga de frio que assola a região e grande parte da Europa, a natureza consegue surpreendermos com sinais de sobrevivência verdadeiramente fascinantes. Na caminhada que realizei em novembro entre Vila Flor e Lodões fotografei estas flores num olival jovem.

    16 fevereiro 2012

    Por caminhos pouco definidos

    Depois de mais de ano em "Peregrinações" ficaram para o fim aquelas não as mais distantes, mas aquelas em que o percurso a fazer era mais difícil de planear. Não é muito evidente, mas a zona mais difícil do concelho para percorrer a pé (e em BTT) fica na freguesia de Vale Frechoso. Isso deve-se ao facto de haver extensas áreas vedadas com arame farpado. Para piorar as coisas, os caminhos terminam abruptamente, ou então de encontro ao arame farpado, sendo difícil planear um percurso a fazer. Foi devido a este facto que Assares e Santa Comba da Vilariça foram ficando adiadas na rota das caminhadas.
    Mesmo assim, no dia 26 de novembro saí de Vila Flor em com destino a Santa Comba. O percurso estava minimamente planeado, uma vez que não uso qualquer dispositivo de GPS que me durante a caminhada. O estudo é feito no computador, mas nem sequer uso uma folha impressa, confiando na minha memória no meu sentido de orientação.
    O percurso incluía uma passagem por Roios, seguir até à Quinta do Prado, passar a montante de Assares e, com sorte, atingir Santa Comba da Vilariça. Vistas as coisas assim, até parece fácil, visto que é quase como traçar uma linha reta entre Vila Flor e Santa Comba.
    O dia estava bonito, com o céu limpo e azul, a convidar à fotografia. Atravessar a serra a caminho de Roios é sempre um momento fascinante. No meio do silêncio as formas ganham mistério e as cores vida. As cores outonais ainda estavam bastante presentes e os medronhos pendiam maduros dos arbustos. Já na aldeia de Roios eram os crisântemos espalhados por vários espaços da aldeia que emprestaram beleza à paisagem. Nos campos apanhava-se a azeitona. Grupos de azeitoneiros trabalhavam afincadamente na apanha dos parcos frutos que as oliveiras deram. Mesmo assim, não regateavam um sorriso para a câmara, porque o À Descoberta já tem fama.
    E foi quando percorria os caminhos de Roios que chegou o nevoeiro. A principio achei piada, aproveitei-o par dar um ar misterioso às fotografias, mas não demorei a ver os seus inconvenientes. Perdi-me no meio do nada e rapidamente fiquei encharcado. Caminhar no meio da vegetação toda molhada é muito desagradável. Já por vezes "saboreei" a agressividade das estevas nesta zona do concelho. Pretendia atravessar a ribeira de Laça mas a nas poucas vezes que por aí passei sempre tive dificuldade e agora, no meio do nevoeiro, ainda pior. Procurei não me aventurar pelas zonas mais escarpadas, que por ali abundam.
    Quase sem dar conta esbarrei com o IC5!  Na altura ainda não estava aberta ao trânsito, mas já tinha rede, o que me impediu de a atravessar. A solução foi caminhar ao longo dela até encontrar uma passagem. Lembrei-me das anedotas que alguns contam sobre as passagens sobre IP e autoestradas para lobos e outros animais selvagens. Só quem não conhece o meio natural é que se pode rir com uma coisa dessas. Estas estradas são um verdadeiro problema para a deslocação dos animais, embora aqui, região montanhosa, tenha necessariamente de haver mais pontes sobre os cursos de água facilitando, a passagem dos animais por debaixo delas. Foi o que eu fiz. Senti-me um animal selvagem.
    Ao atingir a ribeira da Laça a o IC5 passa a muitos metros de altitude, suportado em enormes pilares de cimento! Consegui finalmente localizar-me. Estava muito mais a jusante da ribeira do que o que pretendia, não me restando outra alternativa senão iniciar de novo a subida em direção ao Alto da Fenanqueira e à ribeira das Quintas. Há aqui uma pequena albufeira que visitei na já longínqua data - maio de 2007. Quanto a encontrei senti-me de novo orientado.
    O nevoeiro ia e vinha ora cobrindo o alto dos montes, ora espalhando-se por áreas mais extensas e limitando a visibilidade. Segui diretamente para a Quinta do Prado. Com o objetivo de passar o mais longe possível das casas da quinta, desviei-me o mais cedo que pude para sul. Este espaço é algo de extraordinário! Na última vez que por aqui passei esta quinta estava cheia de eucaliptos e agora deparei com uma área gigantesca cheia de jovens oliveiras. A surpresa foi grande porque quando vista à distância fiquei com a impressão que estava a ser repovoada de eucaliptos. São mais de 300 ha de olival, cerca de 80 mil(!) oliveiras que produzem um azeite biológico de elevada qualidade, a maior parte do qual vendido para Itália. A marca comercializada é Acushla. Claro que estas coisas só vim a sabe-las mais tarde!
    Pretendia atingir o marco geodésico do Fiolho, a mais de 500 m de altitude próximo de Assares. Perdido de novo do meio do nevoeiro e sem um caminho definido para seguir, calculo que andei às voltas quase sem sair do sítio. Encontrei o declive para o vale da Vilariça e decidi segui-lo. Mais tarde ou mais cedo encontraria a estrada N-102 (E802), algures entre Assares e Santa Comba. As contas saíram-me furadas. Não encontrei a estrada esperada, mas sim a novíssima IP2 que está situada a uma cota superior à da que esperava encontrar.
    Não me foi difícil encontrar uma passagem inferior e estava no coração do vale. Do meio do nevoeiro apareceu uma placa que dizia - Ponto de Encontro - Lodões! Tratava-se de uma placa das obras nas estradas IP2 e C5, mas serviu perfeitamente para perceber que estava em Lodões, muito distante do local onde pensava estar e para onde pretendia ir. As duas da tarde já há muito que tinham acontecido e pouco havia a fazer. Dirigi-me para o centro da aldeia e telefonei para casa para me irem buscar.
    Enquanto esperava, refleti na minha aventura com final tão improvável. Não consegui atingir o meu objetivo, mas sentia-me muito satisfeito com o percurso que tinha feito. Houve momentos de pura magia, com paisagens dignas de serem fotografadas e eu até estava munido de um equipamento razoável (coisa pouca habitual nas "Peregrinações"). Estava absorto nos meus pensamento enquanto saboreava uma apetecida maçã quando parou uma carrinha. Tratava-se de um senhor de Assares que ia para Vila Flor e ofereceu-me boleia, também coisa pouco habitual nas minhas andanças. Aproveitei.
    Não considerei o tempo desperdiçado. Além das fotografias, a experiência acumulada veio a ser útil nas caminhadas seguintes, que tiveram como destino Assares, Santa Comba da Vilariça e Lodões.

    14 fevereiro 2012

    Freguesia Misterio n.56

    Durante o mês de janeiro decorreu o desfio Freguesia Mistério número 55! Ao contrário do que seria de esperar, dado tratar-se de um desafio relativamente fácil de acertar, os participantes foram poucos. Compreendo que, face à facilidade com que se escreve (ou algo parecido) no Facebook, é bastante aborrecido estar a participar em Blogues, ou semelhantes, que saltitam por aí.
    Participaram 6 pessoas que fizeram os seguintes palpites:
    Candoso (1) 17%
    Trindade (3) 50%
    Vilas Boas (2) 33%
    Um olhar atento permite descobrir pistas que podem dar uma ajuda na identificação da aldeia em questão. Pela posição elevada de onde foi tirada a fotografia só pode estar num vale, e as possibilidades de escolha já ficam mais reduzidas. Depois, há o olival circundante, que é bastante e talvez apontasse para uma aldeia do vale da Vilariça, ou Freixiel. Certo é que a aldeia em questão é Meireles. Quem sobe ao santuário de Nossa Senhora da Assunção, em Vilas Boas, e se debruça sobre o varandim em direção ao Cachão, ou Mirandela,  pode admirar mesmo ali no sopé a montanha a aldeia de Meireles, freguesia de Vilas Boas. A pequena albufeira junto do concentrado urbano não ajudará muito na identificação, uma vez que penso que pouca gente reparará nela. Na fotografia está o núcleo mais antigo da aldeia. As casas mais recentes estende-se mais para norte, perto da estrada nacional.
    A resposta certa, era, portanto, Vilas Boas.
    O desafio para fevereiro já está "no ar" há vários dias. É mais uma fonte arcada, de mergulho, mas, ao contrário de outras, esta não se encontra em nenhum povoado, estando situada na berma de uma estrada com alguma importância e embutida numa parede. A seca é muita ainda há poucos dias que passei por ela e estava praticamente sem água. A sua posição baixa e a sua localização fazem com que poucas pessoas reparem nela (penso eu).
    A questão é: Em que freguesia podemos encontrar esta fonte? O palpite pode ser dado, como sempre, na margem direita do Blogue.

    13 fevereiro 2012

    Para lá do que se vê

    "Para lá do que se vê" é uma expressão usada pelo Timon no filme da Disney Rei Leão. É um filme animado, muito divertido e que me faz lembrar determinado período do crescimento do meu filho mais velho. Esta expressão vem-me à memória quando subo aos locais mais elevados de onde se avista um grande espaço de horizonte. Para lá do que se vê, está o imaginável, o mistério, o desconhecido. Mas, para um bom caminheiro, o que não se vê pode ficar visível, depois de algumas horas de caminhada.
    Terminou o ciclo de "Peregrinações" embora ainda me falte mostrar fotografias daquelas que já foram feitas este ano. Entretanto, para não se perder o entusiasmo, penso em iniciativas que incentivem À Descoberta, percorrendo algo que ainda falte percorrer, ou visitando algum ponto do concelho que ainda não foi desvendado. Já há algumas ideias, e no sábado passado já foram dados os primeiros passos.
    Deixo duas fotografias. Uma do vale do Cachão, tirada na Fonte do Seixo, em direção a Meireles, freguesia de Vale Frechoso. A outra, também na mesma freguesia, foi tirada da estrada que desce para Santa Comba da Vilariça. Conseguem distinguir-se alguns terrenos da Quinta do Prado e imaginar-se, para lá do que se vê, o vale da Vilariça.

    07 fevereiro 2012

    Os caminhos do Cabeço


    Se todos os caminhos do mundo vão dar a Roma e os da Europa a São Tiago, todos os caminhos de Trás-os-Montes vão dar ao Santuário de Nossa Senhora da Assunção. Fica a seis quilómetros de Vila Flor na ponta leste do planalto da Carrazeda. Mas há caminhos e caminhos. Ao longo dos tempos, os romeiros privilegiaram alguns. Um deles passava pela minha terra. Toda aquela gente que vinha dos concelhos de Mogadouro, de Vimioso e de Alfândega da Fé descia, nas vésperas do 15 de Agosto, ao Vale da Vilariça para pernoitar connosco.
    Chegavam sempre com ar de quem ia para a festa. À noitinha, acomodavam as bestas no olival da igreja e no do castelo. Depois, vinham os romeiros acomodar-se no Terreiro da Fonte para se refrescarem e cearem. E logo que surgia no céu a primeira estrela, saía do bolso o primeiro realejo, depois outro e outro… E começava o animadíssimo baile dos realejos ao luar de Agosto.

    Não há amor como o primeiro
    Nem luar como o de Janeiro
    Mas lá vem o de Agosto
    Que lhe dá no rosto.
    Era ali o primeiro arraial do Cabeço: dançavam novos e velhos; os de fora com os da terra; jogos de roda e agarradinhos. Também vinham os fadistas cantar fado ao desafio que é o fado típico na Vilariça. Bebia vinho quem gostava, com tremoços e azeitonas, e água da fonte romana, quem queria. Era o arraial mais lindo daquelas redondezas com inveja dos vizinhos.

    Mas nunca a inveja medrou
    Nem quem ao pé dela morou.

    Depois da meia-noite, esmorecia o baile. Era preciso descansar as pernas para, na madrugada do dia seguinte, palmilhar as poucas léguas que ainda faltavam para chegar ao Cabeço.
    Nós, os da terra, sempre partíamos lá para o meio da manhã. Só ficavam os tolos, os velhos e os aleijados com a obrigação de guardarem as casas e acomodarem as crias. Mas ficavam com a parte da merenda a que tinham direito.
    Algumas mães dificultavam a ida às filhas. Mas bastava elas dizerem que tinham promessas a cumprir e logo as dificuldades se esvaneciam…

    Ó minha mãe, deixe, deixe
    Ó minha mãe deixe-m’ ir
    Ó arraial do Cabeço.
    Bou lá e torno a bir.
    Bou lá e torno a bir,
    Num sei se birei ó não…
    Ó minha mãe deixe-m’ ir
    À Senhora d’Assenção.

    As filhas aldrabavam. Mas as mães já tinham feito o mesmo às suas… E por aí fora até à Idade Média. Assim rezam as Cantigas de Romaria em que as filhas se iam encontrar com os namorados garantindo às mães que iam pôr velas aos santos ou “candeas queimar”. As mães bem o sabiam como o revela um dos nossos Cancioneiros:

    Pois nossas madres vam a Sam Simon
    De Val de Prados candeas queimar,
    nós, as meninhas, punhemos d’ andar
    Com nossas madres, e elas enton
    Queimen candeas por nós e por si
    E nós, meninhas, bailaremos i.

    Nossos amigos todos lá iran
    por nos veer, e andaremos nós
    bailando ant’eles, fremosas (en) cós,
    e nossas madres, pois que alá van,
    queimen candeas por nós e por si
    e nós, meninhas, bailaremos i.

    Nesse tempo, Portugal e a Galiza, unidos como unha e carne, falavam e escreviam a mesma língua. Curiosamente Carolina Michaelis situa este santuário de San Simon em Trás-os-Montes. Já vem de longe este nosso gostinho pelas romarias.

    Excerto do livro "A Romaria do Cabeço" da autoria do Sr. P.e. Joaquim Leite. Pode ser adquirido no Santuário de Nossa Senhora da Assunção, em Vilas Boas.

    02 fevereiro 2012

    Em Novembro

    Durante o mês e novembro fiz algumas caminhadas pela serra, tendo como principal objetivo a procura de cogumelos. Tinha prometido a mim mesmo fazer algumas reportagens sobre esta iguaria, mas o ano não correu de feição. As chuvas que teimaram em não cair, foram adiando, adiando, aquela que seria a altura propícia para o desenvolvimento dos cogumelos (o que não significa que não se tenham desenvolvido mais tarde, uma vez que os tenho encontrado durante todo o mês de janeiro!).
    Se a busca dos cogumelos foi, em parte infrutífera, limitando a pouco mais do que os exemplares que aparecem nas fotografias, as caminhadas serviram sobretudo para proporcionarem bons momentos fotográficos. Estávamos na altura ideal para fotografar o outono, com bonitas folhas de castanheiros e carvalhos, com os medronheiros carregados de frutos, bem como as oliveiras.
    Nem sempre o que se encontra é inspirador e belo. Desde que a lixeira foi encerrada surgem cada vez mais montes de lixo, monstros e entulho espalhados pelos caminhos. Numa das vezes encontrei muito, muito lixo, que incluía muitas matrículas de automóveis e documentos, faturas e  documentos fiscais que permitiam facilmente identificar a sua proveniência. Caso estranho, numa das caminhadas de janeiro verifiquei que esse lixo tinha sido removido! O que se terá passado? Gostava de ver mais fiscalização e punição dos infratores.
    Dá a impressão que o desenvolvimento não se está a manifestar em civismo, pelo menos por parte de um bom grupo de pessoas, entre os quais empresários de várias áreas, umas vez que os lixos, na maior parte das vezes, não são de origem doméstica.
    Descer a serra até perto de Roios permite encontrar uma espécie de microclima que se estende ao longo de vários cursos se água que passam junto da povoação. Neles crescem cogumelos e fetos de várias espécies, protegidos por tojos e silvas que até os animais selvagens têm dificuldades em ultrapassar.
    No regresso a casa ainda é o colorido das folhas das videiras que existem em volta de Vila Flor, que desperta à atenção.

    01 fevereiro 2012

    Fonte da Almoinha (Valbom)

    Valbom é uma aldeia anexa à freguesia de Trindade que faz fronteira já com Vilares da Vilariça já de Alfândega da Fé, tendo a barragem de permeio.
    Fica à direita da via que vem da Ponte do Sabor e segue para Macedo, perto da Ribeira da Vilariça.
    Não sendo uma povoação muito grande, torna se aconchegada com o casario à volta da Capela de S. Gregório, numa leve encosta sobre o vale.
    Valbom tem duas tabernas, um negociante e dois pastores com outros tantos rebanhos de ovelhas. Têm ainda um forno de cozer o pão. Moinhos havia dois, mas a construção da Barragem de Vilares da Vilariça fê los desaparecer.
    O local mais frequentado pelos seus habitantes é o Largo da Cruz, ou então junto à Taberna.
    Em Valbom existe uma Fraga que chamam dos Namorados e que tem várias letras e sinais cruciformes. Nos Arrodeios aparecem sepulturas antigas. E na povoação pode se visitar também o Solar, antiga Casa Paroquial dos vigários que residiam naquela aldeia, bem como a Fonte da Almoinha (que é medieval e tem arcada).
    Fonte do texto: Virgílio Tavares, Conheça a Nossa Terra -Vila Flor, Editora Cidade Berço, 2001.