30 maio 2012

Freguesia Mistério n.59

No mês de abril decorreu o desafio Freguesia Mistério n.º 58. Em tempo de quaresma escolhi um motivo adequado representado por um cruzeiro, ricamente ilustrado com Cristo crucificado. Até a cor envolvente é pascal com as delicadas flores de glicínia ajudando a dar ambiente.
Participaram neste desafio 11 pessoas. Os seus palpites ficaram distribuídos desta forma:
Carvalho de Egas (1) 9%
Lodões (1) 9%
Samões (5) 45% 
Vale Frechoso (1) 9%
Valtorno (2) 18%
Vilarinho das Azenhas (1) 9%
 Uma obra assim chama à atenção e não há muito semelhantes pelo concelho. Há um igualmente bonito, em Valtorno, que foi o motivo para a Freguesia Mistério n.º 39.  Este que constra na fotografia do desafio de abril pode ser admirado em Samões e é conhecido pelo nome de Cruzeiro do Senhor dos Aflitos. Está situado muito próximo da igreja matriz e também do cemitério, precisamente na Rua do Cruzeiro, nas traseiras da sede da Junta de  Freguesia. É visível e de fácil acesso da EN 21, bastando estar com atenção.
É um cruzeiro em granito, pintado e decorado com vários motivos todos eles relacionados com a morte de Cristo. Na face frontal apresenta o próprio Cristo e a seus pés a imagem de Nossa Senhora das Dores. Espalhados pela cruz há desenhos de objetos relacionados com a crucificação: escadas, martelos, turquês, etc. As pinturas são recentes e bem marcadas.
O desafio para o mês de maio já está a decorrer a algum tempo! O que se pretende é desvendar a freguesia em que podem ser encontradas duas rochas das quais uma é apresentada na fotografia. Não se trata de duas rochas "anónimas" mas rochas com "história", muitas vezes referenciadas em lendas e descrições de curiosidades sobre o concelho. Eu também já falei delas, várias vezes, no blogue. Estou em crer que as fotografias que apresentei na altura não estariam 100% certas, mas esse é o enigma que eu próprio tenho que desvendar.
Não custa nada, apresentem os vossos palpites.

27 maio 2012

Ribeirinha, estação

Edifício da estação da Ribeirinha, um dos poucos espaços da Linha do Tua que ainda se encontra com vida.

26 maio 2012

Igreja Matriz de Vila Flor

Estilo renascentista. Data dos princípios de 1700.
É um dos mais belos Monumentos de Trás-os-Montes, considerada uma das melhores construções do seu género, sumptuosa e de elegante frontaria, sendo classificada como a terceira do Distrito de Bragança.
Em torno do edifício as paredes são apoiadas por fortes gigantes.
Tem duas elegantes torres, de 25 metros cada, a do norte com dois sinos , o maior pesando 25 arrobas (430 kg), colocado em 16-XI-1914 e a do sul possui um belo relógio de horas, adquirido em 1895, pela Câmara, custando 23 205 Reis.
 
Interiormente não desmerece se Sumptuosidade exterior. Tem 42 m de Comprimento, 14 m de largura e 15 m de altura. Tem seis altares, dois deles com belos retábulos, que foram do convento de Falperra, Braga, uma rica capela que era dos Condes de Sampayo (donatários de Vila Flor) com brasão.
Tem rico tecto em castanho apainelado e belas imagens de madeira, assim como paramentos, de muita valia, como se vê da cópia do Cadastro, feito em 1940 existente no Arquivo do Museu Municipal.
O painel do Altar-Mor a óleo, é de autoria do Pintor Vilaflorense Manuel de Moura, feito em 1880.

Texto de Raul de Sá Correia, escrito por solicitação do Presidente da Câmara, para ser enviado à Direcção-Geral de Educação Permanente.

Não consegui saber a data em que foi escrito o texto mas a referida Direcção-Geral apenas existiu com esta designação entre1972 e 1979.

24 maio 2012

Pendão - Valtorno/Mourão

Após alguns passeios de preparação para a série de caminhadas a que decidi chamar Pontos Altos, de que falei no dia 17 de abril foi já no mês de março que foi feita a primeira caminhada a sério, tendo como objetivo o marco geodésico Pendão, situado na fronteira das freguesias de Valtorno e Mourão. Entretanto andei a ler algumas coisas sobre o assunto de forma a aprender alguma coisa e a não cometer muitas calinadas no que disser sobre os marcos. Embora nós lhe chamemos talefes ou marcos, encontrei a designação vértices geodésicos, que decidi adotar, uma vez que me parece mais ligada à função para que foram criados.
Não foi a primeira vez que estive no local, mas procurei traçar um percurso com alguma novidade. Entre Samões e Carvalho de Egas há uma caminho rural que acompanha o IC5. Infelizmente não começa junto à estrada que vai de Samões para a Barragem do Peneireiro, o que dava bastante jeito, começando algumas centenas de metros mais à frente e acompanhando o IC5 durante alguns quilómetros. Está asfaltada e tem um perfil muito engraçado com subidas e descidas constantes, pelo Urreiro e Serra de Candoso, mais parecendo uma montanha russa.
Encontrada a estrada EM609 (Carvalho de Egas - Santa Cecília) virámos à esquerda para depois apanharmos um caminho que vai pela crista da montanha até ao Ribeiro dos Moinhos, em Valtorno, perto da igreja de Nossa Senhora do Castanheiro.

Decorria por essa altura a iniciativa "Let's do It! World Cleanup 2012", semelhante à Limpar Portugal, de 2010, mas agora à escala mundial. Aproveitámos para verificar alguns dos locais que foram limpos em 2010 e verificámos que alguns ainda se mantêm limpos noutros já que acumula uma montanha de monstros. Tenho-me cansado de dizer que é muito feito, mas algumas pessoas só aprenderiam se o lixo fosse carregado e despejado à porta de casa de quem ali o foi deitar. E não era difícil saber a proveniência, acreditem.
Perto da igreja ainda havia algumas amendoeiras em flor! Valtorno e Candoso  são das últimas aldeias a gozarem deste espetáculo.
Contornada a igreja, onde um jovem castanheiro desponta timidamente junto ao seu avô centenário, voltámos à estrada EM626 (Valtorno - Mourão) para nos aproximarmos mais do marco geodésico.
No fundo do vale a barragem Mourão/Valtorno mostrada as suas margem de terra ressequida, saudosa das águas de inverno que não chegaram a vir. Junto do caminho algum podador esqueceu uma garrafa de tinto encostada ao tronco de uma amendoeira. Saberia que nós viríamos?!! Não creio, não nos atrevemos a provar.
A distância da estrada ao marco geodésico é pouca, mas sempre a subir. 
Do alto dos mais de 700 metros de altitude domina-se a paisagem em redor, principalmente em direção ao Vale da Vilariça. è um bom miradouro para Valtorno, mas o Mourão não é visível na totalidade. Para poente eleva-se ainda mais alto o cabeço com a capela de Nossa Senhora de Lurdes, em Alagoa, com 852 metros de altitude, e, mais distante o pinocro de Fontelonga, vértice geodésico de 1.ª Categoria, a uma altitude de 883 metros.
Depois de alguns momentos de repouso, o suficiente para rilharmos uma maçã, descemos a Valtorno onde nos foram buscar de automóvel.

23 maio 2012

Largo da Lamela, Vilas Boas

Largo da Lamela, em Vilas Boas, Vila Flor, aquando da comemoração dos 500 anos do foral atribuído por D. Manuel I. De frente está a capela de S. Sebastião.

19 maio 2012

e de repente é noite (VII)

Nos vasos do coração
depositas o sangue das rosas,
num jardim de apreensivos deuses.
Um acordeão de estrelas
percorre-te a garganta,
menos veloz que a minha dor.
Um sorriso magoado nos fustes do porvir.
Silenciosos, trocamos sinais
para nos encontrarmos na praça deserta,
entre as árvores que povoam as noites
da fulgurante nudez dos seus diálogos.
Não quebremos, com as palavras,
a inocência de nossas idades
levedando
sob as pálpebras da minha nostalgia.
Só tu és a exacta medida do invisível,
a transparência que completa o dia.
Passas e não fazes sombra,
porque és luz atravessando a luz.


Poemas de João de Sá, do livro "E de repente é noite", 2008.
Fotografia: Vila Flor, alto do Facho.

18 maio 2012

18 de Maio - Dia Internacional dos Museus

No dia 18 de Maio - Dia Internacional dos Museus não deixe de fazer uma visita ao Museu Berta Cabral, em Vila Flor fundado em 1957. Espaço museológico instalado no Solar setecentista de Aguillares (primeiros donatários de Vila Flor (esta informação não é unanimemente aceite), um exemplar raro de habitação senhorial que apresenta as Arnas Reais na fachada principal e a Flor de Lis na fachada poente.
Apresenta um valioso espólio, com coleções de pintura, de arqueologia e etnografia, bem como artesanato africano, arte sacra, numismática e medalhística. Tem uma grande coleção de livros pois aqui funcionou a Biblioteca Municipal  e ainda guarda vários manuscritos raros.
A fotografia é de 1910. Este edifício do séc XII/ XIII foi tribunal, cadeia, Paços do Concelho, biblioteca e mantém-se hoje como museu.


17 maio 2012

Capela de Santa Luzia


A Capela de Santa Luzia foi mesquita árabe, serviu de templo quando a Igreja Matriz ruiu. Foi renovada em meados do séc. XX e, mais recentemente foi alvo de nova intervenção, quer na própria capela, quer no bonito jardim que a rodeia. Em tempos, no mesmo local onde se encontra a capela, funcionou uma escola primária.
Fonte do texto: sítio da Junta de Freguesia de Vila Flor

13 maio 2012

Peregrinações - Capelas de Vila Flor

Para terminar o conjunto, que já vai longo, de peregrinações pelos caminhos do concelho, faltava Vila Flor, a sede. As capelas são bastantes, mas quase todas muito próximas, afastando a possibilidade de uma verdadeira peregrinação. Mas, pensei no assunto e encontrei uma solução - porque não percorrer todas as capelas?
Escola e Capela de Santa Luzia
 No dia 5 de maio, desafiando a possibilidade de uma manhã de chuva, saímos à rua para fazer um percurso que levasse a todas as capelas possíveis de visitar, em Vila Flor. Partindo da Av. Marechal Carmona a primeira paragem foi na capela de Santa Luzia. Esta capela está quase sempre aberta e por isso é fácil de visitar. Não consigo entrar nela sem me lembrar das lamentações de alguns que não gostaram das profundas transformações que sofreu. Pode mesmo dizer-se que nada resta da construção original. Dizem que foi mesquita árabe e que substituiu a igreja matriz em determinados períodos em que esta esteve em ruínas (como em 1700 que a matriz ruiu). Ali foram sepultados pobres e pessoas de fora.
No início do séc. XX a capela fazia companhia a uma escola do sexo masculino do tipo Conde Ferreira. Foi demolida em 1954 para dar lugar à construção existente atualmente. A nova capela deve ter sido inaugurada em em 1957.
Praça da República e Ermida do Senhor Santo Cristo da Agonia
Alguns dezenas de metros mais abaixo, já na Praça da República, fica a Ermida do Senhor Santo Cristo da Agonia. Não sei quando foi construída, mas aparece nas primeiras fotografias que existem da praça. Eu relaciono a designação de ermida com a existência de um ermitão, mas, não é obrigatório que assim seja. As ermidas são pequenos templos, a maior parte das vezes localizados fora das povoações. Talvez já ali estivesse quando Vila Flor tinha muralha, estando este templo situado no exterior. Foi restaurada em 1995.
Altar da capela de Nossa Senhora da Piedade  (Igreja Matriz)
Em direção à Igreja da Misericórdia não podia faltar uma visita à Igreja Mariz. Esta designação - matriz - tem normalmente o significado de principal, mas também pode ser mãe, aquela onde se encontrava o Santíssimo. Na Matriz de Vila Flor o Santíssimo  não se encontra no sacrário do altar-mor mas sim numa capela lateral, a capela de Nossa Senhora da Piedade. Nela foram sepultados alguns dos donatários de Vila Flor com destaque para a família dos Condes de Sampaio.
Descendo ao Rossio, largo que já foi dos mais pitorescos que uma aldeia transmontana pode ter, mas que agora é um espaço arranjado e bonito, destaca-se a Igreja da Misericórdia, elegante, antiga. Substituiu a Igreja Matriz em vários períodos das história da vila. Ao lado existiu o primeiro hospital de Vila Flor. Este largo é um dos espaços encantados da vila, onde vale a pena passar algum tempo em dias de calmaria.
Interior da Igreja da Misericórdia
Esta igreja está muitas vezes fechada, mas aqui se celebram missas com regularidade ou se fazem exéquias fúnebres dos irmãos da Santa Casa da Misericórdia de Vila Flor, uma instituição com muita história e com grande património e obra em Vila Flor.
Antiga capela de Nossa Senhora do Bom Sucesso
 Nas traseira desta igreja está o que resta de uma antiga capela. Nunca lá entrei e tem aspeto de total abandono. Pelo que consegui apurar pertenceria à Casa dos Lemos, construida no Séc. XVII pelo Dr. João de Seixas Caldeira da Fonseca e Lemos. Seria da evocação de Nossa Senhora do Bom Sucesso.
Capela de S. José
Metemos pera Rua de S. José ao encontro da Rua da Portela de onde muita vezes se passeia o cheirinho a pão acabado de fazer. Na esquina das duas ruas há uma pequena capela desconhecida por muitos. Eu próprio demorei algum tempo até reparar nela. É muito humilde e, talvez por isso, não desperta cobiças e está quase sempre de porta aberta. É um espaço de oração e de vida, mesmo biológica porque as plantas preenchem muito do pequeno espaço. A imagem em destaque é a de S. José, que empresta o seu nome à capela, mas há imagens de Cristo Crucificado, Santa Filomena, etc. Em 1661 é referenciada uma capela de S. José em Vila Flor mas é impossível ser esta.
Capela de S. Sebastião
O percurso continuou pela Rua da Portela, onde o passado se encontra com o presente num grande choque de construções urbanas na Rua Dr. Monteiro.
Já à saída de Vila Flor, no final da rua de S. Sebastião encontrámos uma das mais antigas capelas da vila, construida no séc. XVI, por promessa de D. Manuel I. Trata-se da capela de S. Sebastião que foi reconstruida no séc. XIX.
Capela da Senhora da Veiga
O percurso seguiu pela estrada de Roios, admirando a quantidade de flores que salpicam os campos (há por aqui muito linho selvagem!) e pensando o que terá acontecido a outras capelas que aparecem referenciadas como a capela de S. Martinho (1569).
A paragem seguinte aconteceu no cemitério da Vila Flor. Há tempos que andava com vontade de conhecer a capela da Senhora da Veiga, mas isso ainda não iria acontecer porque não conseguimos a chave. Em 1873 os enterros eram feitos no interior desta capela, no entanto, a criação dos cemitérios só veio a acontecer mais tarde, o que confirma a minha suspeição de que é anterior ao cemitério.
Capela de Senhora da Veiga
Esta capela tem alguma imponência. É barroca e esteve vinculada a um morgadio instituído por  Paulo Montes de Madureira. O brasão o frontispício é ilegível.
No cemitério fiz questão de procurar o jazigo do Dr. Cabral Adão, que tanto me comove com a sua escrita.
Regressámos à estrada, com poucos quilómetros percorridos mas quase com a manhã passada! Seguimos para as Portas do Sol onde existem umas alminhas de que falarei noutra altura. Depois das alminhas há um caminho que sobre à serra contornando a Quinta de S, Gonçalo. Subimos por ele e aproveitámos para ir à Fraga do Frade. Além da vistosa paisagem que se alcança, foi uma pequena homenagem ao Dr. João de Sá, que se referia a este lugar como uma das melhores recordações de infância e como rampa para o inatingível.
Capelinhas, ao por do sol.
 Atingimos o alto do monte conhecido como "Capelinhas". Trata-se de um conjunto de 9 capelas de diferentes períodos e tipos de construção. O arranjo do espaço, ajardinamento e parque infantil data do ano 2000.  A mais antiga das capela é dedicada a Santa Marinha, sendo em 1760 construída a capela da Senhora da Lapa e, entre os séculos XIX e XX, foi erguido o santuário. É sempre difícil dizer a qual os vilaforenses têm maior devoção, mas parece-me que a Senhora da Lapa acolhe as preces da maioria.
Santuário das "Capelinhas"
A capela de Nossa Senhora da Lapa está parcialmente construida debaixo de uma fraga (lapa) e a ela está ligada uma lenda, que já transcrevi aqui no blogue e que é sempre bom recordar.
A visita a cada uma das capelas que integram este santuário é uma vontade que já tenho há bastante tempo, para vai ser muito difícil de concretizar. Há muito tempo que não acontece aqui qualquer celebração e cada capelinha tem uma ou mais zeladoras.
Vegetação colorida de Maio
Junto à ermida de Nossa Senhora da Lapa terminámos o nosso percurso pelas capelas de Vila Flor. Foi um percurso curto (pouco mais de 7 km), mas cheio de locais de interesse, que apetecia Descobrir ao pormenor.
Com este percurso são dadas por concluídas as Peregrinações (por acaso hoje é 13 de Maio!). Farei um balanço logo que haja tempo e haverá que preparar outras caminhadas, mas agora com outro tipo de destinos.

GPSies - Capelas_VilaFlor

09 maio 2012

Vilas Boas recria 500 anos de foral


Vídeo realizado pela Localvisão - Bragança, em Vilas Boas, na comemoração dos 500 anos de atribuição do foral.

Retratos de Vila Flor - VIII Santa Comba da Vilariça

Parte da chaminé da Casa dos Ochoas
 SITUAÇÃO: A 13 Km. de Vila Flor, à beira da estrada Ponte da  Junqueira - Macedo - Bragança.

ECONOMIA E PROGRESSO: Vive-se da agricultura e do comércio. Produção principal - o azeite (7000 almudes anuais e por média), cinco lagares em funcionamento. Muitíssima cortiça (4000 arrobas). Muito vinho, abundante fruta (laranja, figo, pêssego, etc.). Posto de correios com toda a espécie de operações realizáveis. Telefone, electricidade (Passa de cem o número de instalações particulares), água em abundância, se bem que mal canalizada.

 EDUCAÇÃO: Seis centenas de pessoas ali vivem, já sangradas pela emigração. Ciclo complementar. Instrução Primária garantida.

RELIGIÃO: Cristã, católica. Digno de admiração é o Santo Cristo, cruzeiro famoso, de origem romana. Igreja velhinha, estilo renascentista.

ACESSOS: Maus. As artérias precisam de renovação. A estrada camarária que liga para o Cachão, por Vale Frechoso, é má no piso, nas curvas e nos desfiladeiros agrestes. Pela sua utilidade, merece arranjo conveniente. A estrada do povoado podia estar com outra apresentação.

URGÊNCIA: Saneamento, ruas melhores, estrada arranjada e concessão de transportes, já pedidos há tanto tempo!.
Igreja Matriz de Santa Comba da Vilariça

N. FONSECA*
Texto publicado no Mensageiro de Bragança, a 26-03-1971

*José do Nascimento Fonseca nasceu no Nabo, a 22-12-1940.

08 maio 2012

Uma cátedra na montanha

Contemplado no sentido da linha de cumeada, ou cá de baixo das cercanias do cemitério, é que se compreende o motivo por que lhe chamam o "Frade": perfeitamente se distingue um enorme capuz monástico, de pedra contorcida e chamuscada pelo incêndio dos séculos, um pouco afastado do fraguedo principal onde existia, e penso que ainda existe, de difícil acesso e meio dissimulada por giestas e carquejas, uma gruta capaz de abrigar das intempéries, à vontade, três ou quatro pessoas.
Ganhou o rochedo, por via da fradesca similitude, significado mítico. Conta-se que, em invernoso entardecer, medievo monge ali se radicou a fim de sarar, com as compressas e ungüentos naturais da solidão da serra, as feridas abertas na alma pelo diamante de um amor impossível. Como nem ambiente e renúncia lhe houvessem aquietado a lancinância da paixão, o contristado religioso desapareceu na espessura verde da serrania, tendo deixado o hábito a simular a sua presença, que ainda hoje pode ver-se, mas transformado nas sinuosidades de um barroco.
Não tem esta evocação por objecto reconstituir as passadas imémores do frade rendido a poderoso enlevamento. Vamos esquecê-lo. O meu intento, hoje, é bem mais desambicioso: apenas recordar, cinco décadas volvidas, a caverna do rochedo que se transformou, por tardes de nevoeiro pingoso, em escola de história e literatura...
A coisa passou-se assim. Eu, o Guilhermino Mesquita (há meses, infaustamente, para sempre desaparecido) e o José Augusto tínhamos ficado pela 4.ª classe. Aprendíamos ofícios sem grandeza. Imposições da ordem iníqua estabelecida. Havia que respeitá-Ia. O repasto do saber não era para a totalidade dos indivíduos, apenas para os que podiam pagar o exorbitante bilhete de ingresso. Cinco ou seis privilegiados tinham ido estudar para Bragança, Porto, Coimbra... Quando vinham a férias, presunçosos, esmurravam a nossa ignorância com a autoridade dos seus conhecimentos... E nós, perplexos, aparávamos-lhes os golpes com o vulnerável elmo da impotência, uma vez que não podíamos dar-lhes troco adequado.
Um dia, com o piedoso sentimento de quem se sagra cavaleiro, à luz de um poente de Outono, proclamáramos bem alto, até à contorção das agulhas dos pinheiros, o clamor do nosso protesto: doravante iríamos conquistar, pelo nosso esforço, algo do que os outros iam aprender, longe, à custa da capacidade económica dos pais.
Juntámos, tostão a tostão, os trinta escudos - uma fortuna! - indispensáveis para mandar vir de Lisboa o Compêndio de História Universal, por António Mattoso, então adoptado nos liceus. Eu contribuí, de imediato, com "A Chave de Os Lusíadas" que o Pim me havia oferecido, onde cada estância do poema era claramente interpretada, em notas de rodapé. E lá íamos, serra acima, todos os domingos, chovesse ou ventasse, para a gruta do "Frade", onde nos instalávamos e fazíamos o ponto do que aprendêramos durante a semana.
Alguns supostos eruditos da terra, vendo-nos com "Os Lusíadas" debaixo do braço, não perdoavam a sem-medida do atrevimento: "Melhor fora que lêsseis 'As Pupilas do Sr. Reitor' ou 'O Amor de Perdição'. Camões não é para os vossos dentes!"
Recebíamos a censura como um vexame, porque compreendíamos - e, sobretudo, sentíamos - o que lêramos. E vibrávamos não só com a epopeia, mas também com o musical arrebatamento da lírica. Sabíamos, até, alguns sonetos de cor.
Entretanto, ocorreu acontecimento cultural de inexcedível valor, na passividade da Vila: o emérito Raul Correia instituía uma biblioteca, de leitura domiciliária inteiramente gratuita. Que dia grande, esse, gravado a sol nas nossas almas!
Começámos, já não sei como nem por quê, por Stefan Zweig.Nada sabíamos do seu drama de humanista expatriado pela hediondez nazi, dos seus livros proibidos e incinerados na praça pública, do seu trágico fim, em Petrópolis, próximo do Rio de Janeiro. E o prestante escritor austríaco foi-nos conduzindo para outras esferas: Erasmo, Dickens, Dostoievsky, Tolstoi, Nietzsche... Quanto entusiasmo deposto na leitura de "Maria Antonieta", "Fernão de Magalhães", "O Mundo de Ontem"... Que pena não ter existido um gravador de som, nas paredes do "Frade". Só ele poderia testemunhar do nosso enlevo.
O certo é que, a partir de então, quando os estudantes vinham em gozo de férias, se não sabíamos as leis da Física, nem demonstrar teoremas ou balbuciar Inglês e Francês, como eles, falávamos-lhes dos livros que havíamos lido e dos quais nunca tinham ouvido falar! Era a hora alta do nosso desforço.
Pouco durou esta cátedra na montanha. Em 1950 partia para Lisboa, onde, finalmente, ia poder dar corpo ao sonho de uma vida - estudar!
Muitas vezes me veio à lembrança a aprendizagem na caverna que, ao contrário da de Platão, não era de sombras, mas de inextinguível esplendor, pois nela germinaram algumas ideias básicas acerca do que deve entender-se por Cultura, talvez engrandecidas pelo esvoaçar do espírito do confesso que, vítima de um amor impossível, ali deixou o hábito para sempre esquecido, ou para sempre lembrado na perpetuidade da pedra afeiçoada pelos ventos volúveis da montanha...

João de Sá, do livro Mãe-D'água - Ficções e Memórias, publicado em 2003 pela Câmara Municipal de Vila Flor.

06 maio 2012

Vilas Boas - Comemoração dos 500 anos do foral

A freguesia de Vilas Boas, no concelho de Vila Flor, esteve hoje em festa. A 4 de maio de 1512 Vilas Boas afastou-se do concelho de Mirandela, a que pertencia, assumindo-se como sede de concelho. A autonomia foi instituída com a atribuição de uma carta de foral pelo rei, documento que definia as normas que regiam as relações dos seus habitantes entre si e destes com o rei, além de regular impostos, portagens, direitos de proteção e obrigações militares.
A festa dos 500 anos da atribuição do foral integrou um conjunto de atividades que levaram a esta antiga vila várias centenas de pessoas vindas dos mais variados pontos do concelho e arredores.
As cerimónias iniciaram-de com a a inauguração de uma estátua do rei D. Manuel I no largo da Lamela, foi este monarca que concedeu a Vilas Boas o seu foral, ficando a partir de hoje mais presente no quotidiano da aldeia. A estátua é em granito, num pedestal do mesmo material que ostenta um extrato da carta de foral com grafia atualizada. Este pequeno texto parece, nalguns parágrafos,  talhado à medida para os tempos que correm, nomeadamente ao que toca à cobrança de impostos que ultrapassasse o estabelecido no foral. Concordo completamente que as mesmas medidas fosse aplicadas aos políticos e agentes do estado de hoje.
Às quinze horas realizou-se um desfile medieval. Os figurantes eram muitos integrando o grupo profissional de teatro Filandorra, algumas escolas e grupos de teatro e habitantes de Vilas Floras devidamente trajados.
O Largo da Lamela transformou-se de repente num cenário medieval, com um mercado onde não faltava as artes e os produtos mais característicos da época.
Junto ao Pelourinho foi lida a carta de foral e representadas algumas cenas que levaram os presentas a darem enormes gargalhadas. Houve música da época (pelo grupo Al Medievo), dança e muito vinho, em copos alusivos em barro, com tinto tirado diretamente do tonel.
Às dezassete horas o grupo de teatro Filandorra apresentou o Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente.
Pouco depois das dezoito horas chegou ao recinto Sua Excelência Reverendíssima D. José Cordeiro, Bispo da Diocese de Bragança - Miranda, que depois de uma visita à capela de S. Sebastião, também no Largo da Lamela, conduziu os crentes à igreja matriz onde presidiu à Eucaristia.
Às vinte horas as atenções voltaram-se de novo para o largo envolvente ao Pelourinho onde a animação continuou.
A ceia teve como pratos fortes sopa de pedra e carne assada, tudo regado com o bom vinho que se produz na aldeia. Houve saltimbancos, cuspidores de fogo e musica medieval a completar o ambiente que fez brilhar e fervilhar de vida o largo da Lamela.
Que não sejam necessários outros quinhentos anos para voltarmos a ver uma festa assim...

Igreja da Misedicórdia de Vila Flor


O edifício original foi construído no século XVIII, mas depois de um desabamento, em 1882, foi reconstruida em 1883/1986. Apresenta uma planta longitudinal de nave única, com uma capela-mor retangular e com cobertura em telhado de duas águas na nave e três águas na capela-mor. No exterior, destaque para a torre sineira de coruchéu e para o portal em arco abatido.

Largo do Rossio, 05 de Maio de 2012.

03 maio 2012

Flor do Mês - Abril de 2012

Escolher a Flor para representar o mês de abril não é tarefa fácil, desta vez não é pela escassez de candidatas, mas sim pela existência de muitas e bonitas espécies que mereciam o destaque do mês. Escolhi uma espécie do género cistus, com muitss e interessantes espécies e bastante representativas na nossa região.
As espécies mais conhecidas talvez sejam a esteva, o sargaço ou a roselha mas decidi escolher a Cistus populifolius, que pode adotar os nomes de Esteva-macho ou  Estevão. Ao contrário do sargaço, que existe mas é mais frequente no centro e sul de Portugal, a Esteva-macho estende-se por todo o interior do país até Bragança. A Família das Cistaceae, o Género Cistus (marca de um grande vinho feito ali para os lados de Torre de Moncorvo).
Trata-se de um arbusto que pode atingir mais de um metro de altura. Como se desenvolve em matagais, muitas vezes em associação com outras espécies como a esteva, o tojo, as giestas etc. atinge maior porte pela concorrência pela luz. Em Vila Flor é frequente em montados, contrariamente ao vulgar sargaço que se encontra por toda a parte ao longo dos caminhos. Este último tem um porte mais rasteiro.
As folhas são pegajosas, tal como as das estevas, e as flores têm normalmente cinco pétalas. A floração acontece de abril a junho.
Não conheço nenhuma utilização desta planta mas encontrei referências a estratos de Estevão como relaxante e como analgésico, com efeitos no sistema nervoso central, o que mostra existirem estudos com vista ao seu aproveitamento em fármacos.Algumas espécies do género cistos são exploradas como espécies florais para jardins.
As fotografias que aqui se exibem foram tiradas junto à aldeia de Macedinho.

Outras flores de abril: