07 novembro 2012

João de Sá

 Faz hoje 84 anos que nasceu, em Vila Flor, João Baptista de Sá. Com pouco mais de 20 anos mudou a sua vida para a capital, onde ficou até à sua morte, ocorrida a 23 de Fevereiro de corrente ano. Ausente fisicamente da sua terra, o seu coração sempre aqui esteve e as suas mais sentidas palavras, em prosa ou em verso, foram dedicados ao seu torrão natal. A sua escrita é apaixonada, cheia de emoção, doce, atenta às coisas simples, dedicada a pessoas comuns, reinventando uma época e uma Vila repleta de sentimentos, lugares, cores e sons, que mesmo quem não a conheceu consegue sentir e viver aos desfolhar cada um dos seus livros.
Em 1989 numa das cartas que escreveu a seu tio Raul de Sá Coreia manifestava a vontade em adquirir um espaço no cemitério de Vila Flor, para aqui repousar após a sua morte. "Por aqui há muito barulho, não se "dorme" descansado", dizia ele. Nós últimos anos da sua vida houve algumas mudanças a este respeito, mas a vontade de regressar manteve-se. Isto porque há um lugar onde a "luz agita a manhã incendiando estevas e carquejas, urzes e arçãs, bela-luz e alfazemas". Um lugar onde é difícil "estabelecer uma linha demarcatória entre a matéria e o espírito, como se de repente se rasgassem campos magnéticos de infindáveis surpresas e tudo se fundisse numa liga de extrema perfeição".
Ao aproximar-se o aniversário do seu nascimento a Câmara Municipal decidiu homenageá-lo com um conjunto de atividades que se iniciaram no dia 1 de Novembro.
Às 15 horas foi aberta a Exposição sobre a Vida e Obra do Autor, exposição que se vai manter no  foyer do Centro Cultural até ao dia 30 de Novembro. Durante a tarde aconteceram alguns momentos musicais protagonizados por jovens músicos locais. Às dezasseis horas o grupo Filandorra - Teatro Nordeste apresentou a Elegia a João de Sá, onde foram dramatizados contos, declamados poemas e apresentada uma foto-biografia do autor.
Além do grupo de atores participaram também nesta Elegia o Sr. Rogério Fernandes, a Sr. Isabel Machado, a Dr.ª Gracinda Peixoto e a atriz Cecília Guimarães.
Para terminar, e após usarem da palavra uma neta de João de Sá e o Sr. Presidente da Câmara de Vila Flor, amigo pessoal do escritor, foi lançada a segunda edição do livro "Flores para Vila Flor", que teve a primeira edição da pela Câmara Municipal em 1996.
Se o escritor João de Sá estivesse presente certamente diria que não merecia tal homenagem. Quase garantidamente diria que não fez mais do que a sua obrigação, que Vila Flor merece muito mais e que a sua escrita não é assim tão bela e importante. O que tenho mesmo a certeza é que ficaria imensamente contente com a reedição do seu livro, porque ele sabia que a sua escrita quando lida ganha forma, prolongando a sua própria vida.
Fiz questão de estar presente, até com algum sacrifício. Quando foi lançado o livro Cantos da Montanha não pude estar presente. Passados poucos dias fui surpreendido com um embrulho na caixa do correio, lá estava o livro! Na dedicatória lê-se "não experimentei o júbilo de o ver no lançamento dos meus livros"! Percebi o quanto os livros eram importantes para João de Sá.
O livro Flores para Vila Flor é um livro de poemas, todos sonetos (dois quartetos e dois tercetos). Embora esta forma, muito estruturada, não seja do agrado de toda a gente, é, talvez pela altura em que foi escrito, mais acessível, com linguagem mais clara, transparente e concreta. Nas suas últimas obras, o próprio autor o reconhecia, a escrita era mais elaborada, complexa e por vezes sombria.
Já publiquei vários dos sonetos que integram o livro e outros serão publicados com algum intervalo de tempo entre eles. Deixo no final deste texto uma ligação direta para cada um deles. Também criei, na margem direita do Blogue uma etiqueta própria - João de Sá - que faz uma listagem automática de todos os textos e poemas deste autor que fui publicando ao longo de 6 anos (ainda não está 100% funcional).
Livros publicados:
- Flores para Vila Flor (1996);
- Um caminho entre as oliveiras (1997);
- Mãe-d’Água. Ficções e memórias (2003);
- Assalto a uma cidade feliz (2006);
- Vila à flor dos montes (2008);
- Vozes além da fala (2008, edição do autor);
- E de repente é noite (2009, edição do autor);
- Pelo sinal da terra (2010, edição do autor);
- Cantos da montanha (2010).

Sonetos do livro Flores para Vila Flor já publicados no Blogue:

1 comentário:

Transmontana disse...

Gostei de saber que Vila Flor não esqueceu o poeta que tanto a amou e cantou na sua poesia!
Parabéns aos vilaflorenses que promoveram o evento e ao autor deste relato que partilhou connosco!
Muito obrigada a todos!