10 abril 2013

Freixiel - Mogo - Freixiel

Confesso que muitas das caminhadas que já fiz começaram com a curiosidade em visitas virtuais que faço através dos mapas em frente ao computador. É como ver as impressões digitais da superfície da terra e, umas vezes pelo desenho das curvas de nível, outras pela ocupação dos terrenos, ou pelo traçado dos caminhos, apetece-me ir in loco conhecer os locais. Às vezes consigo concretizar esse desejo. Um dos locais que já algum tempo desejava conhecer é um pedaço do termo de Freixiel que se estende desde esta aldeia até Mogo de Malta, acompanhando um pequeno riacho pelo vale Mós.
Há dois grandes vales que partem do termo de Mogo de Malta e que morrem junto à aldeia de Freixiel. Um dá pelo nome de vale Covo, com uma encosta a pertencer a Candoso e outra a Freixiel; o outro é o fantástico vale da Cabreira, dividido entre Mogo, Zedes e Freixiel (e bastante Folgares). Mas, entre estes dois vales, há um terceiro, um vale que se poderia chamar vale de "montanha", a maior altitude e menos escavados que os dois citados (já por mim explorados).
Percorrer o vale das Mós e chegar a Mogo de Malta foi o desafio que me levou a calçar as botas num já longínquo sábado de fevereiro.
A distância a percorrer, Freixiel - Mogo de Malta e Mogo de Malta - Freixiel afastou a hipótese de sair de Vila Flor a pé. Fomos de carro até à Rua Queimada, em Freixiel e daí partimos À Descoberta de uma parte do concelho ainda totalmente desconhecida, mesmo após 6 anos de caminhadas.
A primeira surpresa aconteceu mesmo ao deixar-mos a aldeia: há uma extensão considerável de caminho em lajes, lembrando a calçada do Mogo ou outras do mesmo género. É que no Bairro da Fraga, rochas é o que não falta, e o declive é acentuado. O riacho que percorre o vale das Mós (porque terá este nome?) precipita-se em várias pequenas cascatas num ambiente muito bucólico e a neblina matinal ainda fazia sobressair mais.
Terminado o troço das lajes, que também permite uma bela visão sobre a aldeia de Freixiel, o caminho continua pelo coração do vale, único local onde há alguma terra passível de ser arada ou aproveitada para o pasto. Pouca gente deve passar por ali. O caminho mostrava sinais de ser pouco utilizado, mas felizmente para caminhar, ou mesmo para bicicleta estava perfeito.
Pensava conseguir ver lá do alto o vale da Cabreira, ou o vale Covo, mas não aconteceu. Como seguíamos pela parte mais baixa, não conseguíamos alcançar grandes distância com a vista. Os rochedos, por seu lado, oferecem configurações e tamanhos dignos de ser admirados. O homem construiu abrigos em vários deles e só o medo de perdermos tempo fez com que seguíssemos em frente sem nos aventurarmos a explorar e fotografar algumas formações rochosas de tamanhos abismais.
 Algures a meio do percurso entre Freixiel e Mogo está a linha divisória do concelho de Vila Flor e o de Carrazeda de Ansiães. Poucas vezes as caminhadas abrangem mais do que um concelho, mas as fronteiras não passam de linhas imaginárias muito mal definidas. Então se pensarmos na história de Freixiel e na ligação que Mogo de Malta tinha com esta freguesia, mais convencidos ficamos que as fronteiras muda-as o homem ao sabor dos tempos, reescrevendo a história.
Foi já perto do Mogo que afrouxámos o passo e nos dedicámos a olhar com mais atenção os rochedos. O duro granito oferece muitas vezes construções admiráveis. Ora aparecem grandes "ovos" em delicado equilíbrio, ora são as entranhas das rochas que surgem desgastadas apresentando enormes buracos capazes de albergar variados animais e mesmo várias pessoas. A natureza é surpreendente.
O primeiro ponto de interesse da nossa caminhada era o marco geodésico de Pedrianes, local já meu conhecido. Perto de marco geodésico há um nicho de umas antigas alminhas, sinal da importância que este caminho tinha na ligação entre as duas aldeias. Curioso é o nome do local onde se encontram as alminhas e o marco geodésico, Fragas do Medo! Local de salteadores? De Lobos? Talvez de ambos, mas não parece nada assustador.
 O nosso segundo ponto de interesse era o Santuário de Nossa Senhora da Saúde. A capela está sempre fechada, mas só pela paisagem vale a pena fazer uma visita a este local. Depois,  havia outra coisa que nos interessava no santuário, uma espécie de desporto/hobby conhecido pelo nome de Geocaching, de que um dia falarei no Blogue.
Foi junto à capela que devorámos algumas peças de fruta. Já passava do meio dia e ainda faltavam muitos quilómetros para serem percorridos.

Passámos pelas ruínas do antigo moinho de vento e descemos pela bem conhecida calçada do Mogo. Este património está muito pouco cuidado. Passou por lá uma lagarteira de deixou marcas irreparáveis, há muito lixo espalhado em vários locais e crescem giestas e silvas no meio da calçada.  Numa altura em que a autarquia começa a mostrar algum interesse em apostar no turismo de natureza deve, em parceria com as Juntas de Freguesia, dar mais importância a este património.
O percurso desde o santuário até Freixiel e quase sempre descendente, o que não significa que seja fácil. O declive é muito acentuado e já com algum cansaço (e fome) quase parecia que nunca mais chegávamos. Se não fossem estes incómodos poderíamos ter apreciado mais o pé-de-cabrito, a Quinta do Pobre, os fornos de secar figos, etc. Foi muito bom encontrarmos as primeiras amendoeiras em flor e a ribeira com um bom caudal (mas não tanto quanto deve ter agora).
Na parte final do percurso o caminho já vai em pleno vale com terrenos de cultivo de um lado e do outro. Há muita vinha, mas também oliveiras.
Chegámos a Freixiel já depois das 3 da tarde! A caminhada não foi muito longa, cerca de 15 km, mas sempre com bastante declive. Também os muitos locais de interesse fizeram que que fizéssemos paragens mais demoradas. Felizmente o dia esteve muito quente, o que proporcionou uma excelente caminhada.

1 comentário:

Transmontana disse...

Bom dia, Aníbal!

Sigo, sempre, com muito interesse, o relato das suas caminhadas. Este, em especial, pois sabia que iria falar da terra que me viu nascer e que tanto amo!
Os caminhos do bairro da Fraga, eu conheço bem, pois ia para lá, muitas vezes. Quando se referiu às Mós e suas cascatas, lembrei-me de uma, a do Poço das Pombas, onde ia, no pico do verão, acompanhar as minhas irmãs, que, para lá, iam lavar a roupa, pois a água escasseava em ribeiros, mais perto da aldeia. Quanta saudade!!!

Obrigada por partilhar as suas "aventuras" com quem as aprecia!

Um abraço amigo
Anita