21 março 2014

Chamada

Algarve não é só no baixo Sul,
Com a graça da flor de amendoeiras:
Cá nos montes também há céu azul
E sedas, linhas, cor's e bordadeiras...

Fev'reiro vai comprar o caracule
Para enfeitar d'encantos as fruteiras.
Corta agulhas nos juncas do paul
E veste de noivado estas ladeiras.

Oh viajantes! Vinde à minha terra,
Vinde descer ao vale, subir à serra,
Encher os olhos deste estranho amor.

Vede, gentes! que lindo que isto é,
Seja em redor de Alfândega da Fé,
Moncorvo, Mirandela ou Vila Flor!!!
Soneto retirado do livro “Versos – Vila Flor”, impresso em Novembro de 1966, da autoria do Dr. Luís Manuel Cabral Adão.

18 março 2014

Perspetivas

O tamanho das coisas depende do ponto de onde as olhamos.

e de repente é noite (XXXIX)


Nunca me disseste que virias
pelo cansaço de uma outra boca.
A carne e o sangue acesos
esperam que qualquer tempo chegue
para a vindima aguardada
pela candura de inquietas imperfeições.
Rasgam-se-me acessos,
no saibro húmido da retina,
à decifração das árvores de outono.
Continuam a ferir-me os espinhos da chuva
no odor dos outeiros ao cair da noite.
Não dês novas de ti.
Será um sinal de benquerença.
Nada é definitivo.
Quando uma ave emudece
talvez pense na melhor maneira
de nos emprestar as asas.

Poema de João de Sá, do livro "E de repente é noite", 2008.
Fotografia: Pôr do sol - Candoso.

16 março 2014

Amendoeiras em Flor 2014 (2)

As amendoeiras em flor vão-se despedindo do concelho, mantendo-se ainda por mais alguns dias nas zonas mais frias, nas proximidades com o concelho de Carrazeda de Ansiães.
Apesar de não ter falado muito sobre a floração deste ano, foi um dos anos em que tirei mais fotografias, embora quase todas nas proximidades da vila.
Conheço já algumas amendoeiras e todos os anos visito as mesmas. É que, ao contrário do que muitos pensam, as flores variam muito em cor, em tamanho e mesmo na forma. Tive mesmo a ideia de fazer uma espécie de catálogo de flores de amendoeira, mas seria uma curiosidade que não teria qualquer interesse para além do fotográfico.
Para matar as saudades a quem não conseguiu ver esta beleza ao vivo, partilho algumas fotografias, de pormenor, que ilustram bem o que disse sobre as cores e formas do flor. Todas as fotografias foram tiradas no raio de 500 metros, entre Vila Flor e Arco.
Tenho mais fotografias, mas ficam na "gaveta" para outro dia.

10 março 2014

Talefe Fiolho - Lodões

Durante quase dois anos o À Descoberta de Vila Flor andou pelos Pontos Altos, percorrendo caminhos que conduziam a marcos geodésicos, espalhados um pouco por todo o concelho. A altitude, ser ou não um ponto alto, é tudo uma questão de referência e há marcos geodésicos no meio do Vale da Vilariça, bem longe da altitude de um Faro, ou Freixiel.
 Na senda destes pontos, havia um que foi ficando para trás. Situa-se entre os termos de Lodões  e Vale Frechoso, nos limites da Quinta do Prado e conhecido como o marco geodésico do Fiolho. Nunca foram agradáveis as caminhadas entre Roios e Vale Frechoso, ali para os lados da Quinta de S. Estevão e a Quinta do Prado. O terreno é difícil, as estevas são altíssimas, há áreas vedadas por arame farpado e caminhos sem saída. Por isso, a solução foi fazer uma volta maior, mas contornar os obstáculos, seguindo, se necessário, pela estrada.
 Essa caminhada teve lugar no início de novembro, portanto com um clima e uma vegetação bem diferente da que temos agora. Em novembro estávamos em plena época dos cogumelos e foi um dos atrativos da caminhada.
O percurso planeado foi: sair de Vila Flor em direção a Roios, pelas capelinhas; seguir até Vale Frechoso passando junto do marco geodésico do Maragôto;  seguir pela estrada até à Quinta do Prado; contornar a quinta até ao marco geodésico.  Como tínhamos que deslocar-nos para um ponto em que pudéssemos ser “apanhados” pelo “carro de apoio”, optámos por descer até à aldeia de Lodões. Contas feitas por alto… esperavam-nos 16 quilómetros.
 
Apesar do sol que invadia a vila logo pela manhã, o nevoeiro espreitava junto à Quinta da Conceição, a oportunidade de tomar de a tomar de frio. Este cenário é muito habitual, com o nevoeiro junto às primeiras casas de Vila Flor, vindo do vale da Vilariça, hesitando se deve a deve cobrir até ao Barracão ou se deve regressar à sua cama habitual, os vales mais profundos.
O nevoeiro decidiu avançar, mas foi desintegrado mal atingiu a Quinta de S. Domingos, deixando no ar gotículas da sua passagem. Quando começámos a descer atrás da serra ainda se viam alguns “farrapos” que subiam de Vilares de Vilariça em direção ao topo de Bornes. Encontrámos cogumelos, castanhas, medronheiros em flor e uma raposa morta vencida pelos cães de algum pastor.
Em Roios as chaminés ainda fumegavam. Certamente aquecia-se o café da manhã, quem sabe se acompanhado por boas torradas! Mas não havia tempo para grandes paragens. Nos cantos da aldeia cresciam crisântemos. Flores tão belas, que na maior parte das vezes alegram de cor os cemitérios, nesta época do ano.
No que toca a folhagem, as cores do outono estavam bem patentes na vinha virgem que sempre decora a casa dos Barosos, em Roios, nas folhas das videiras, dos diospireiros e nos ouriços dos castanheiros, que ainda apresentavam algumas línguas-de-vaca.
O caminho para atingir Vale Frechoso passa entre o monte do Maragôto e o Monte Pelado.
Chegámos próximo do cemitério de Vale Frechoso ao meio dia! Havia ainda muito caminho para andar, quase outro tanto como o que já tínhamos feito! Ainda parámos para nos refrescarmos na fonte e admirarmos um monumento com Nossa Senhora de Fátima e os Pastorinhos. Ainda “cheirava” a novo!
Seguimos pela estrada, sem paragem na Quinta da Preguiça, em direção a Assares. Passámos muito próximo de uns dos mais antigos marco geodésicos do concelho, Penha dos Abutres, mas com o atraso que levávamos não nos aventurámos a subir ao sítio onde se encontra. Também ali alguns caminhos estão barrados.
Encontrámos a placa indicadora da Quinta do Prado, mas não seguimos o caminho da quinta. Continuámos pela estrada no intuito de contornarmos a quinta, seguindo pela mata de eucaliptos. Nesta mata encontrámos muito lixo, uma verdadeira vergonha. Alguém devia tomar alguma posição.
Entrámos nos limites da quinta e contornámo-la até atingirmos o marco geodésico, o que só aconteceu perto das duas da tarde.
O cansaço já era muito, mas este é mais um dos excelentes miradouros do vale da Vilariça. É pena é que seja tão difícil chegar aqui. Também o cenário da Quinta do Prado, repleta de oliveiras, é algo de extraordinário. As árvores ainda são muito jovens, mas quando crescerem vai ser belo de se ver.
Junto do marco geodésico comemos as já tão desejosas maçãs que levávamos na mochila.  A fome também já apertava.
Já cheios de dores nos pés, o terreno é muito inclinado e perigoso, descemos até à aldeia de Lodões, passando por debaixo do IC5.
Foi uma longa caminhada, só possível porque o tempo estava fresco. Foram muitas as fotografias tiradas a motivos interessantes e outros deplorais, como os depósitos de lixo.
 Esta foi a última caminhada do conjunto Pontos Altos. Haverá que encontrar um motivo (ou uma desculpa) para continuar a percorrer os caminhos do concelho, sempre os mesmos, mas sempre diferentes.
GPSies - VilaFlor_Fiolho

07 março 2014

Amendoeiras em Flor

O ano 2014 não tem sido simpático, principalmente para mim, amigo do espaços amplos, dos caminhos de terra batida e das estradas onde poucos gostam de circular. A luz, essa tem sido escassa e sem luz não há foto+grafia, essa arte mágica de captar a luz e mete-la dentro de uma caixa, num espaço de poucos centímetros quadrados.
 Mas... quando o céu azul se mostra, tudo muda. As aves que estiveram caladas, expectantes, sobem aos pontos mais vistosos das árvores  e começam a marcar território com os suas notas mais altas, nas suas sinfonias mais exuberantes. Dá gosto ouvir os melros, os tentelhões, mesmo a mais humilde milheirinha se mostra e se faz ouvir, agradecendo a luz, o calor, a pujança de vida que já faz florir os narcisos e jacintos.
Nos campos.. ouvem-se tractores que esventram a terra e até é possível ver um macho, ou um cavalo, atrelado a uma charrua mostrando um quadro rural já pouco visto, mas que nos faz recuar no tempo, sentir o cheiro da terra revirada.
E as encostas estão repletas de brancura. As amendoeiras mostram toda a sua beleza, tão imaculada que parece não ter havido frio, nem chuva, nem nevoeiro, nem vento. Cada árvore é um poema de palavras claras, de deleite para olhar, de energia que faz esquecer tudo, virar a cara para o sol... e sorrir.
 As amendoeiras, no concelho de Vila Flor, estão no ponto máximo de floração. Este fim de semana (e os próximos dias) serão os melhores para visitar o concelho e apreciar este espectáculo magnífico. As amendoeiras não se confinam a nenhuma área específica do concelho. Estão espalhadas um pouco por todas as aldeias e, mesmo no coração de Vila Flor, se podem observar belos exemplares de amendoeiras em flor.
Muitos me perguntam - quais os melhores percursos? Todos aqueles onde se anda devagar, sem hora marcada, com espaço e tempo para paragens frequentes. O IC5 está fora de questão, serve apenas para chegar aos limites do concelho.
Hoje andei pelas aldeias do Arco e Seixo de Manhoses e fiquei impressionado. Há várias estradas que sobem do Vale da Vilariça para Vila Flor. Qualquer uma delas (sem ser o IC5) pode oferecer belas paisagens com amendoeiras em Flor. Mas também no vale do Tua há muitas amendoeiras. A zona de maior altitude, Samões, Candoso, Valtorno, Mourão e Alagoa é aquela onde a floração é mais tardia e será uma espécie de presente para aqueles que não puderem vira agora, porque agora é que é o momento.
 Nos dias 8 e 9 de março haverá animação musical no centro da vila, mostra de artesanato e de produtos da terra (Mostra TerraFlor) onde se poder apreciar, saborear e comprar o que de melhor este concelho tem para oferecer. É uma boa "desculpa" para uma paragem na vila, que oferece também um centro histórico e um museu muito interessantes e cheios de magia, para um fim-de-semana inesquecível.
De que é que está à espera?

02 março 2014

Mostra TerraFlor 2014

Somos Portugal - José Malhoa
 O Programa das Amendoeiras em Flor 2014, em Vila Flor, iniciou-se no dia 22 de Fevereiro. Com muito poucas amendoeiras em flor, a minha atenção, bem como a de muitos dos visitantes que estiveram em Vila Flor durante o fim-de-semana, centrou-se na Mostra TerraFlor, uma mostra de produtos do concelho e artesanato.
Somos Portugal - Nuno Eiró e Mónica Jardim
Não foi a primeira vez que se fizeram mostras de produtos da terra e de artesanato, mas, desta feita, vai-se lá saber porquê, tudo teve outra dimensão. Certamente que esta aposta se deve também à reformulação do edil, que gere o concelho, que, não sendo propriamente novo nas funções, sofreu algumas reformulações, surgindo com mais frescura, coragem e até emoção.
Vinhos Quinta do Granjal
 A dimensão que esta mostra alcançou é também fruto da transmissão em direto do Somos Portugal, pela TVI, durante toda a tarde de domingo (dia 23). Já estive presente noutras localidades onde aconteceu a mesma transmissão, ou idêntica, por outro canal e verifiquei que a quantidade de gente que comparece nestes eventos é surpreendente, vá-se lá saber porquê! Talvez seja para ver os seus ídolos musicais, ou para ser "apanhada" por uma das câmaras, para apreciar as bailarinas que não temem o frio do inverno... sei lá.
Alheiras Fumeiro da Glória
A presença da televisão, e o esforço da autarquia, conseguiu uma presença de produtos do concelho superior àquele que vi em alguns eventos da verdadeira TerraFlor. Foram muitos os expositores, esmeraram-se na apresentação e acho que isso se reflectiu nas vendas. Pode ter faltado dinheiro, devido à crise, mas potenciais compradores não faltaram.
A organização dos espaços também foi nova, estando tudo em redor ou dentro do Centro Cultural, com a presença do palco em frente ao edifício da Câmara Municipal.
Durante a manhã do dia 23 tive oportunidade de visitar toda a área de exposição com bastante calma, porque os visitantes ainda eram poucos. Alguns expositores ainda davam os últimos retoques, o que reforça a ideia de que a televisão foi um factor importante.
Restaurante Fumeiro da Brasa
A galeria do centro Cultural estava cheia dos principais produtos da terra. Havia produtores de azeite, de vinho, de cogumelos, mas também de outros produtos menos representativos mas também importantes na economia local. Estão neste leque de produtos, o pão, o fumeiro, o mel, compotas, queijos, frutos secos e azeitonas.
O foyer do Centro Cultural estava repleto do artesanato, uma área que está em franca expansão no concelho. Pelo menos está a ter cada vez mais visibilidade com a organização de mostras mensais, que ocorreram durante o ano de 2013.
Cesto de cogumelos e legumes
No exterior havia um conjunto de barraquinhas que albergaram algumas instituições do concelho, ligados ao turismo, produção de pão, cogumelos, fumeiro, queijo e venda de fruta.
Foi levanta uma enorme tenda, a Tenda Gourmet e pela primeira vez vi uma aposta no gastronomia, com showcooking utilizando produtos de Vila Flor e apresentação de pratos regionais por restaurantes do concelho aderentes.
Artesanato Luísa Correia
 Confesso que fiquei com água na boca, mas não foi com os pratos dos chefes do cartaz, mas sim com os excelentes pratos que os restaurantes apresentaram. Quando vou a um restaurante, ou quando me pedem uma opinião sobre onde comer no concelho, não tenho grande segurança em indicar um bom local. Não é só a qualidade dos pratos e os preços, é também o horário de atendimento e o próprio atendimento que, por vezes, deixa a desejar. Cada um mostrou os seus melhores pratos. Não provei (não sei se alguém provou, havia muita gente) mas já me dei por satisfeito por poder fotografa-los. Fiquei muito bem impressionado.
Vinhos Alto da Caroça
Com o feedback que me chegou, e tenho bastantes fontes, o concelho de Vila Flor ficou muito bem visto, dentro e fora do país.
Penso que as vendas, pelo menos de alguns produtos, foram consideráveis. Eu vi (e fotografei) alguns stands completamente vazios, porque esgotaram os seus produtos!
Fumeiro da Glória
Neste fim-de-semana a Mostra TerraFlor e a animação musical vai continuar. Quase de certeza que não vai haver o enchente de visitantes registados no primeiro fim-de-semana, mas, por outro lado, as amendoeiras estão mais bonitas, oferecendo o seu espectáculo maravilhoso a quem nos queira visitar.
Eu vou estar por cá, e, se o tempo permitir, não vou deixar escapar a possibilidade de apreciar os montes e vales do concelho decorados com bonitas amendoeiras floridas.