13 maio 2012

Peregrinações - Capelas de Vila Flor

Para terminar o conjunto, que já vai longo, de peregrinações pelos caminhos do concelho, faltava Vila Flor, a sede. As capelas são bastantes, mas quase todas muito próximas, afastando a possibilidade de uma verdadeira peregrinação. Mas, pensei no assunto e encontrei uma solução - porque não percorrer todas as capelas?
Escola e Capela de Santa Luzia
 No dia 5 de maio, desafiando a possibilidade de uma manhã de chuva, saímos à rua para fazer um percurso que levasse a todas as capelas possíveis de visitar, em Vila Flor. Partindo da Av. Marechal Carmona a primeira paragem foi na capela de Santa Luzia. Esta capela está quase sempre aberta e por isso é fácil de visitar. Não consigo entrar nela sem me lembrar das lamentações de alguns que não gostaram das profundas transformações que sofreu. Pode mesmo dizer-se que nada resta da construção original. Dizem que foi mesquita árabe e que substituiu a igreja matriz em determinados períodos em que esta esteve em ruínas (como em 1700 que a matriz ruiu). Ali foram sepultados pobres e pessoas de fora.
No início do séc. XX a capela fazia companhia a uma escola do sexo masculino do tipo Conde Ferreira. Foi demolida em 1954 para dar lugar à construção existente atualmente. A nova capela deve ter sido inaugurada em em 1957.
Praça da República e Ermida do Senhor Santo Cristo da Agonia
Alguns dezenas de metros mais abaixo, já na Praça da República, fica a Ermida do Senhor Santo Cristo da Agonia. Não sei quando foi construída, mas aparece nas primeiras fotografias que existem da praça. Eu relaciono a designação de ermida com a existência de um ermitão, mas, não é obrigatório que assim seja. As ermidas são pequenos templos, a maior parte das vezes localizados fora das povoações. Talvez já ali estivesse quando Vila Flor tinha muralha, estando este templo situado no exterior. Foi restaurada em 1995.
Altar da capela de Nossa Senhora da Piedade  (Igreja Matriz)
Em direção à Igreja da Misericórdia não podia faltar uma visita à Igreja Mariz. Esta designação - matriz - tem normalmente o significado de principal, mas também pode ser mãe, aquela onde se encontrava o Santíssimo. Na Matriz de Vila Flor o Santíssimo  não se encontra no sacrário do altar-mor mas sim numa capela lateral, a capela de Nossa Senhora da Piedade. Nela foram sepultados alguns dos donatários de Vila Flor com destaque para a família dos Condes de Sampaio.
Descendo ao Rossio, largo que já foi dos mais pitorescos que uma aldeia transmontana pode ter, mas que agora é um espaço arranjado e bonito, destaca-se a Igreja da Misericórdia, elegante, antiga. Substituiu a Igreja Matriz em vários períodos das história da vila. Ao lado existiu o primeiro hospital de Vila Flor. Este largo é um dos espaços encantados da vila, onde vale a pena passar algum tempo em dias de calmaria.
Interior da Igreja da Misericórdia
Esta igreja está muitas vezes fechada, mas aqui se celebram missas com regularidade ou se fazem exéquias fúnebres dos irmãos da Santa Casa da Misericórdia de Vila Flor, uma instituição com muita história e com grande património e obra em Vila Flor.
Antiga capela de Nossa Senhora do Bom Sucesso
 Nas traseira desta igreja está o que resta de uma antiga capela. Nunca lá entrei e tem aspeto de total abandono. Pelo que consegui apurar pertenceria à Casa dos Lemos, construida no Séc. XVII pelo Dr. João de Seixas Caldeira da Fonseca e Lemos. Seria da evocação de Nossa Senhora do Bom Sucesso.
Capela de S. José
Metemos pera Rua de S. José ao encontro da Rua da Portela de onde muita vezes se passeia o cheirinho a pão acabado de fazer. Na esquina das duas ruas há uma pequena capela desconhecida por muitos. Eu próprio demorei algum tempo até reparar nela. É muito humilde e, talvez por isso, não desperta cobiças e está quase sempre de porta aberta. É um espaço de oração e de vida, mesmo biológica porque as plantas preenchem muito do pequeno espaço. A imagem em destaque é a de S. José, que empresta o seu nome à capela, mas há imagens de Cristo Crucificado, Santa Filomena, etc. Em 1661 é referenciada uma capela de S. José em Vila Flor mas é impossível ser esta.
Capela de S. Sebastião
O percurso continuou pela Rua da Portela, onde o passado se encontra com o presente num grande choque de construções urbanas na Rua Dr. Monteiro.
Já à saída de Vila Flor, no final da rua de S. Sebastião encontrámos uma das mais antigas capelas da vila, construida no séc. XVI, por promessa de D. Manuel I. Trata-se da capela de S. Sebastião que foi reconstruida no séc. XIX.
Capela da Senhora da Veiga
O percurso seguiu pela estrada de Roios, admirando a quantidade de flores que salpicam os campos (há por aqui muito linho selvagem!) e pensando o que terá acontecido a outras capelas que aparecem referenciadas como a capela de S. Martinho (1569).
A paragem seguinte aconteceu no cemitério da Vila Flor. Há tempos que andava com vontade de conhecer a capela da Senhora da Veiga, mas isso ainda não iria acontecer porque não conseguimos a chave. Em 1873 os enterros eram feitos no interior desta capela, no entanto, a criação dos cemitérios só veio a acontecer mais tarde, o que confirma a minha suspeição de que é anterior ao cemitério.
Capela de Senhora da Veiga
Esta capela tem alguma imponência. É barroca e esteve vinculada a um morgadio instituído por  Paulo Montes de Madureira. O brasão o frontispício é ilegível.
No cemitério fiz questão de procurar o jazigo do Dr. Cabral Adão, que tanto me comove com a sua escrita.
Regressámos à estrada, com poucos quilómetros percorridos mas quase com a manhã passada! Seguimos para as Portas do Sol onde existem umas alminhas de que falarei noutra altura. Depois das alminhas há um caminho que sobre à serra contornando a Quinta de S, Gonçalo. Subimos por ele e aproveitámos para ir à Fraga do Frade. Além da vistosa paisagem que se alcança, foi uma pequena homenagem ao Dr. João de Sá, que se referia a este lugar como uma das melhores recordações de infância e como rampa para o inatingível.
Capelinhas, ao por do sol.
 Atingimos o alto do monte conhecido como "Capelinhas". Trata-se de um conjunto de 9 capelas de diferentes períodos e tipos de construção. O arranjo do espaço, ajardinamento e parque infantil data do ano 2000.  A mais antiga das capela é dedicada a Santa Marinha, sendo em 1760 construída a capela da Senhora da Lapa e, entre os séculos XIX e XX, foi erguido o santuário. É sempre difícil dizer a qual os vilaforenses têm maior devoção, mas parece-me que a Senhora da Lapa acolhe as preces da maioria.
Santuário das "Capelinhas"
A capela de Nossa Senhora da Lapa está parcialmente construida debaixo de uma fraga (lapa) e a ela está ligada uma lenda, que já transcrevi aqui no blogue e que é sempre bom recordar.
A visita a cada uma das capelas que integram este santuário é uma vontade que já tenho há bastante tempo, para vai ser muito difícil de concretizar. Há muito tempo que não acontece aqui qualquer celebração e cada capelinha tem uma ou mais zeladoras.
Vegetação colorida de Maio
Junto à ermida de Nossa Senhora da Lapa terminámos o nosso percurso pelas capelas de Vila Flor. Foi um percurso curto (pouco mais de 7 km), mas cheio de locais de interesse, que apetecia Descobrir ao pormenor.
Com este percurso são dadas por concluídas as Peregrinações (por acaso hoje é 13 de Maio!). Farei um balanço logo que haja tempo e haverá que preparar outras caminhadas, mas agora com outro tipo de destinos.

GPSies - Capelas_VilaFlor

3 comentários:

Transmontana disse...

Bom dia, Aníbal!

Vou só fazer referência à antiga escola de santa Luzia: Foi ali que eu fiz o meu exame da 4ª classe, no ano de 1952 sendo classificada com "distinção". Ainda se usava, naquele tempo...
No ano lectivo de 67/68 lecionei no mesmo local, mas num salão que ali existia, e que não fazia parte da antiga escola, porque já tinha sido demolida.
Se me permite, vou copiar esta foto porque me traz recordações muito gratas.
Um abraço, extensivo a toda a família.
Anita

Reis Quarteu disse...

Excelente artigo! Vou partilhá-lo! :-)

Anónimo disse...

Olá Aníbal.

Onde existe hoje uma capela com a imagem de S.José, na portela, foi em tempos uma pequena "casa", de rés do chão, piso térreo, com uma lareira aberta do lado esquerdo, quem entra, e telhado sem forro, já que se viam as telhas antigas.E nesse local ensinava-nos catequese a D.Glórinha, uma senhora já de idade e invisual, que de bengala na mão,circulava no meio de duas filas de crianças, ensinando e mantendo-nos em respeito.
Era muito jovem ainda(6 anos??), mas recordo bem esses dias.
Abraço