25 dezembro 2012

Prece de Natal

Presépio em Candoso
 Senhor, falo-te da tua noite
desta noite maior
- rumores de instantes efémeros e vários
a tomarem o tangível
a abstrata  noção do infinito.

Desta noite solene e fria.
Longa de mais a tua noite, Senhor!
Longa de mais
para a nossa mística sede
de ser dia!

Do negrume do espaço. Mais distante,
sempre, o sentido de Sagrado.
E as perguntas decisivas que fazemos,
sem respostas que nos pacifiquem.

Mas, nesta noite,
uma gota de grandeza do invisível
escorre
na candeia do barro do visível.

Presépio no Jardim de Infância de Samões
Não quero importunar-Te, sobretudo no instante
em que estás tão próximo de nós
que divinos sinais se anunciam
na nossa humana imperfeição.

Venho pedir-Te pelas crianças
que o tempo tornou homens,
sem terem aconchegado ao peito
a forma colorida de um brinquedo
que não passou do sonho de uma vida inteira.
Presépio em minha casa

Pelos que se rebelam
contra a tirania e a opressão,
e, mesmo ofendidos e humilhados,
quebram as algemas e sabem dizer "Não!"

Pelos que erguem palácios
com o supremo esforço da alma e carne em sangue
e, uma vez depostos
o escopro e o cinzel,
acabam por dormir sempre ao relento.

Misericórdia para os loucos,
os famintos, os assolados
de infindável solidão,
a quem voltámos as costas
porque falam uma língua
que fizemos por não compreender.

Presépio em Carvalho de Egas
para os que perderam tudo
e continuam a jogar
na roleta da vida,
à espera de ganharem madrugadas
ou, simplesmente, um sopro de vento
que imite o mar.

Para os que nada sabem de amor
e fazem da existência
uma ardósia preenchida
com contas de multiplicar,
Sim, clemência também para estes,
Senhor,
porque estão desatentos
e desconhecem as nobres operações de
dividir.

Presépio no quartel dos Bombeiros Voluntários de Vila Flor
Para os que não têm luz, água, lar, alegria e
paz
sem dinheiro sequer
para o bilhete do autocarro,
percorrendo distâncias
que lhes deixam os pés em ferida.


Para os artistas falhados
que passaram o tempo
a contorcer a imaginação criadora,
na vã perseguição
do sulco luminoso de um cometa.

Presépio em Vila Flor
Para os corações
que muito quiseram,
fechados para se abrasarem
no mesmo feixe de luz,
e dos quais só ficou
uma lágrima pungente
pousada numa fímbria de aurora
que nunca chegou a ser dia!

Um pedido mais. O último Senhor!
Só tu podes alterar
o ritmo cósmico das estações.
Faz com que o Natal seja em Maio
(jamais em Dezembro!)
para que, em consonância com a terra,
o milagre possa acontecer:
as crianças deixem de ter frio
e as suas mãos solares se elevem
no futuro gesto de colher um fruto!
Presépio em Valtorno (com mensagem de Natal do Dr. João de Sá (2011)).

Natal 2011, João de Sá

Poema que o Dr. João de Sá me enviou para o Natal de 2011.

22 dezembro 2012

Vila Flor - Tradição de linho

Localizada no sul do distrito de Bragança - «o meu distrito pobre», como lhe chamou o imortal Trindade Coelho, (pobre, sinónimo de abandonado).
Vila pequena. Airosa, concordo. Sempre uma brisa perpassa, um ciciar de aragem, qual leque misterioso que refresca benfazejo.
Tradicionalmente  foi centro de industria judaica, nos ramos de ourivesaria e curtumes - características cinzeladas em vestígios da sua etnia, com vielas apertadas na parte velha, casario concentrado, e, quanto a curtumes, lá está o sítio do pelame, quem vai para Róios.
 Arqueològicamente, lá tem a sua Porta de Entrada e muralhas mortas, a Fonte Romana, a valorosa Matriz restaurada, os arcos esculpidos em casas e fachadas, os brasões heráldicos, além do que se encontra no concelho. No cimo do morro que a culmina, as Capelinhas, pombas brancas a saudar quem anda naqueles caminhos, numa bênção que nos deitaram de geração em geração...
Já óleo bastante aplicaram na sua tela, ao longo da história, filhos e amigos que a conheceram. Já se ergueram muitas casas modernas, surgiu a Avenida, abriram-se outras artérias. A Praça,
estabelecimentos de ensino, urbanização geral de muito agrado, tudo isto constitui a parte jovem desta vila transmontana. Já homens se fizeram e cresceram, filhos honrosos que a distinguem. Dirigentes administrativos esculpiram em «pedras que falam» o valor e o interesse carinhoso que lhe devotaram.
E é com admiração  e orgulho que vejo subir um Museu-Biblioteca Municipal, de acesso público, bem recheados. Sendo dos melhores de vilas nortenhas , aumenta dia-a-dia a sua preciosidade - doação de beneméritos  inesquecíveis, merecedores de reparo elogioso.
Com satisfação vejo nascer o Externato de Santa Luzia, moderníssimo no corpo, fonte de plasma educativo a emanar para a juventude local e concelhia, sedenta de cultivar-se!
Eu, hoje, vou falar mais de Vila Flor. Vou contar um sonho que tive («sonhar é fácil»), numa noite próxima, lá longe, muito distante em terras portuguesíssimas do Ultramar, onde ali sentimos melhor o bafo do berço que nos embalou, e nos aquece mais o calor das plumas do ninho onde nascemos - algures no concelho de Vila Flor.
Passaram muitos anos de ausência. Regressava... aquela Vila que eu pisei a vez primeira, guiado por mão materna.
De boné na cabecita, os olhos giravam mais, ao ver mais cor, mais gente, ruas grandes e casas novinhas bem caiadas, muitos brinquedos no soto da Emilinha, e na feira, homens bem vestidos a falar muito alto, mulheres que guardavam cebolas, batatas e mais coisas nos sacos das criadas, ou pesavam com a mão uma galinha presa com baraços nas patas e nas asas. Na minha aldeia não se fazia assim. Os homens falavam menos e não havia multidões como aqueles formigueiros. Batatas havia muitas na tulha, e galinhas pelas ruas, eram de toda a gente...
Puxava pela mão de minha mãe para não perdê-la. Diziam que era feira, a feira dos 28. E palavras como a praça, farmácia, cambra, soto, registo cebil, e demais, eram guardadas por mim num sentido parabólico.
Na vinda, todo egoísta por levar um carrinho, admirava a estrada larga e lisinha que dava à minha aldeia e apetecia-me correr e fugir. Mas tinha receio de a estrada acabar nas curvas, o que surpreendido verificava não ser.
Fui crescendo. Recordo o exame da quarta, na Vila, que via de outra maneira. A vida desabrochava a meus olhos, entrando no coração toda a natureza que me tocava.
Um dia, porém, parti. Para longe...
 «... Ai, ah quantos anos eu parti chorando
Desse meu velho ... carinhoso lar...»

Como dissera, sonhara com Vila Flor...
«Vi aquela Avenida limpa, bem limpinha. Junto à Avenida, à parte esquerda de quem sobre da Praça à Domus Municipalis, um jardim enorme. Que jardim! Dantes era a cortinha grande e estéril de não sei de quem. Agora, era a sala de visitas, tapete de ouro a quem batesse à porta. Um escadario duplo e simétrico descia da Avenida para esse jardim, o qual se ligava à Praça e à rua da Casa Sil por um muro de granito rendado.
Nesse jardim, havia canteiros de flores garridas. Sebes enormes de roseiras, com rosas que mais despertavam a luxúria de beijá-las por tão formosas. Havia um lago, onde vi peixes em concursos de natação. Árvores gigantescas deixavam pender os seus braços em amplexos paternais a quem desejasse repousar nos bancos de pedra muito aparada, em extase de frescura. Carreiros de areia fina faziam de estrada naquele mundo. E, passeando, vi um velho ciumento da juventude, estudantes conversando entusiasmados, miúdos de fisgas em punho em mira de pardais, borboletas volitando aqui, parando além. E, nas copas frondosas, o gorgeio da passarada num hino à Primavera.
Subi as escadas para a Avenida. Vi a Casa do Povo, com duas palmeiras lutando pela subsistência no meio da relva desenhada. Ali estava o busto de benemérito, vila-florense ilustre. Soube que nessa casa havia reuniões sãs de formação geral do povo, cujo contacto notei de melhorado nível.
Depois continuei em frente.
Junto à Casa Verde, um grande casario modernista. Lí: «Cine-Lis». Perguntei e responderam-me ser uma casa de espectáculos «bem preparada», com duas sessões semanais de cinema.
Mais uma volta. Um hospital de construção recente tendo à frente uma bacia jorrando água em repuxo. Perto, uma figura de bronze escurecido. Tez de homem austero a pronunciar distinto: «Caridade - límpida fonte onde muitos desprotegidos da sorte vêm matar a sua sede de amor e justiça». Por ali vi a abundância de Vila Flor, negando a míngua de outrora da linfa cristalina tão necessária a todo o mundo...
Após relancear a vista pela nova artéria, vim embora. Nisto, meus olhos deslumbram: um campo de futebol. Mais abaixo, em direcção quase rectilínea à Fonte Romana, máquinas barulhentas rasgavam o seio da terra sem piedade, pisando e destruindo leiras férteis. Indaguei: «...é uma auto-avenida, com jardim pelo meio, bancos e muitas flores, que se vai fazer. Ao fundo, naquela eira, perto da Fonte, diz que vão fazer o Palácio da Justiça...». Havia tabuletas semeadas «vende-se», «terreno, vende-se». Para construção de casas novas, novinhas mesmo, com o estilo do nosso século.
E imaginei ao longo dessa Avenida majestosa a minha casa, essa casa que todos sonham fazer construir quando puderem.
Apeteceu-me, então, antevisionar a vila do futuro. Para isso subi às Capelinhas, respirando o hálito do rosmaninho e o sabor campestre, enchendo a alma com a beleza de Vila Flor - estendida em mantos de púrpura com dobras de verdura.
Em primeiro plano, um pinheiro manso coava a luz do sol marinheiro.
Eram vinhedos, de um verde carregado prometendo-se fecundos, olivais cinzentos, searas louras brincando com o vento que as gingava, amendoeiras e figueiras a sorrir de onde em onde, parte do vale extenso da Vilariça, serras e serras... puras como quando virgens foram...
O Astro amigo chamou-me com um adeus, cheio de pena por deixar aquela imagem viva do seu dia. Levava na boca o suco dos beijos húmidos que dera com sua luz terna.
Desci. Os grilos encetavam sua cantiga monótona. Singela sinfonia de tão grande espírito! Era tão sentida que tive medo de mim próprio por ouvi-la.
As luzes da vila acenderam-se. Altivos candeeiros modernos, por toda a parte, vitrinas luminosas, alguns reclamos que me pareciam pirilampos gigantes bulilando as trevas.
Mas..., um ruído... um sobressalto... e acordei.»
- Estou na realidade em Vila Flor? Custa-me a crer! Não posso estar!
Vila Flor não era, agora, como eu a vira. Já fora bela, mais linda! Já fora! Eu não cria...
Mas... Vamos querer que o sonho seja realidade, com uma vontade indómita de arrancar montanhas. Homens são os que se realizam nesta vida humanitàriamente e preparam o Futuro.
«Homo est voluntas» - disse um filósofo! Quero - uma palavra mágica , raio que fulmina a indolência e a anorexia. Digamos todos em uníssono: - «quero», porque até para os mais pobres existe a divisa «querer é poder».

Texto de Nascimento Fonseca, publicada no jornal Notícia de Mirandela, a 11-06-1967.

20 dezembro 2012

Presépios 2011 - Carvalho de Egas

Carvalho de Egas também tem surpreendido com os bonitos presépios que faz, ano após ano. Esta fotografia representa parte do presépio feito em 2011.

18 dezembro 2012

Presépios 2011 - Valtorno

  Já vem sendo habitual a concurso de Montras e Presépios levado a cabo pelo Município de Vila Flor. Ainda não tive tempo para dedicar a um pouco de atenção às realizações de este ano, mas ainda sobraram muitas fotografias do ano passado que não foram mostradas.
 A ladeia de Valtorno costuma montar presépios dignos de serem admirados em 2011 não houve excepção, antes pelo contrário. O preseépio ocupou um espaço novo, à entrada da aldeia e espalhou-se por uma extensa área, acima do que é normal neste tipo de realizações.
Visitei este presépio várias vezes, algumas vezes sozinho outras acompanhado, porque valia a pena mostrá-lo.
Sobre este presépio só lamento duas coisas: a primeira foi que os materiais em excesso, ou avariado, não fosse retirado do local, dando ideia que o presépio estava inacabado. A segunda coisa foi que o espaço ficasse bastante abandonado durante o resto do ano. Grande parte das plantas secaram.
Estou curioso quanto ao presépio deste ano.

16 dezembro 2012

Mostra/Feira de Artesanato

Animação do espaço da Mostra/Feira de Artesanato no Centro Cultural de Vila Flor. Domingo, dia 16 haverá também animação musical.

13 dezembro 2012

02 dezembro 2012

26º Aniversário do Cube do Clube de Ciclismo

O Clube de Ciclismo de Vila Flor celebrou no passado dia 25 de Novembro o seu 26.º aniversário. Para o fazer, nada como sair para o termo do concelho, percorrer alguns caminhos, conjugando o desporto com o prazer de pedalar. Ao mesmo tempo descobrem-se as particularidades desta terra de montanha, com dois cavados vales, onde as estações do ano têm um carácter bem vincado.
O passeio de aniversário contou com a presença de dois ciclistas profissionais:  Manuel Cardoso, da equipa Caja Rural e Edgar Pinto da equipa L. A. Alumínios – Antarte.
As condições atmosféricas não foram as melhores, o que demoveu muitos daqueles que tinham manifestado a intenção de participarem no passeio, no entanto, foi feito e ninguém protestou contra a chuva ou contra o nevoeiro, porque depois de a bicicleta estar a rolar todos os elementos negativos são esquecidos.

  O passeio desenvolveu-se nos arredores da vila, com passagem pelo miradouro. O nevoeiro esteve cerrado, não permitindo apreciar a paisagem, mas, mesmo assim, todos os participantes chegaram ao fim satisfeitos e com vontade ao almoço.
O almoço teve lugar no edifício do Turismo de Vila Flor e contou com a presença, além dos participantes do passeio, dos familiares dos ciclistas profissionais, do sr. Presidente da Junta de Vila Flor, José Almeida e dos senhores vereadores do Município Gracinda Peixoto e Fernando Barros, representando as instituições que mais têm apoiado o clube no desenvolvimento do seu plano de atividades.
A refeição serviu também para recordar um pouco do que tem sido a atividade do Clube de Ciclismo, que, ao longo dos seus 26 anos, já passou por diversos altos e baixos. Atualmente, em termos de instalações e de organização está muito bem, falta apenas juventude que queira praticar ciclismo, quer em estrada, quer em BTT. Os elementos do clube puderam conversar com os ciclistas profissionais e beneficiar da sua experiência profissional e de vida.
Com o bolo de aniversário, cheio de calorias, terminou a festa do 26.º aniversário. A vontade da Direção é que celebrações destas se repitam por muitos anos e que o clube consiga mobilizar cada vez mais participantes das duas rodas no concelho, a saúde dos mesmos sai beneficiada e o nome de Vila Flor é conhecido nas muitas provas em que o Clube organiza e participa.
O evento teve o apoio da Junta de Freguesia de Vila Flor e do Município de Vila Flor. O patrocínio foi do Ponto Clínico.

30 novembro 2012

É quase noite

É quase noite. Para os lados de S. Domingos, onde o sol insiste em permanecer, um céu pregueado de finos laivos de ametísta e rubi. Bem quero evadir-me, mas, onde quer que me oculte dou conta de um não sei quê que me persegue e invade a ponto de me anular um abraço. Sei que não me esgoto no que sou. Há cintilações e cicios que também me constituem, que em mim falam mais alto do que o troar do presente, e aos quais é preciso estar atento. Das horas ficam sempre as cinzas, onde as metáforas regressam sem que nenhum vento as arraste para as vastidões do nada.
E não sei porquê (ou talvez saiba) olhando para os lados do Peneireiro, ouço, de novo, a voz ferida da incontida tristeza de Marina Tsvietaieva* afagando as pedras em jeito de arco da Fonte do Olmo, a aconchegarem o fiozinho de água quase a extinguir-se, a desmaterializar-se, quase a revelar-nos o profundo segredo da terra.
Extrato de um artigo escrito por João de Sá, no semanário Terra Quente, em 2005.
Terminou a  exposição patente no Foyer do Centro Cultural de Vila Flor dedicada ao escritor vilafrorense João de Sá. Passei por lá durante a tarde, a jeito de despedida, e na melancolia da tarde dei comigo a imaginar o que pensaria o próprio autor sobre a homenagem que lhe foi feita. Bastou passear os olhos por um dos textos expostos para encontrar nele a alma do autor e compreender que ela não cabe numa exposição, por maior que ela seja. A melhor homenagem que se pode fazer a um autor é ler os seus livros. Acredito que o Dr. João de Sá aconselharia um espaço aberto, dos muitos  que tinham especial significado, como o Largo da Igreja, o jardim de Santa Luzia, o Rossio ou Nossa Senhora da Lapa (ou o Frade). Só num lugar assim as palavras ganham asas, tomam forma e transmutam-se na própria vila, nos sons e cheiros dos campos em redor, refletindo-se nas nuvens ou nas fragas, regressando à origem, acalentando o peito, fazendo germinar os sentimentos que nos fazem diferentes.
A Câmara Municipal cede os livros gratuitamente, só não lê, quem não quer. Entretanto, eu continuarei a divulgar pequenos excertos, aqueles que me tocarem mais. As "Letras" não é uma área onde me sinta propriamente à vontade, mas, quando elas ganham cor e se convertem em emoções, até um completo analfabeto pode gostar.

*Marina Tsvetaeva (1892-1941) - Poetisa russa, que começou a escrever muito jovem e que teve uma vida muito triste e atribulada, vindo a suicidar-se aos 48 anos, em plena II Guerra Mundial, no Tartaristão.

As cores do Novembro

 Prestes a chegarmos ao fim do mês de novembro vale a pena "olhar para trás" e recordar algumas das imagens com que vivemos o dia-a-dia. às "portas" da Vila as vinhas pintaram-se de uma paleta de cores admiráveis. E não foram só as vinhas, tivemos também as cerejeiras, o sumagre e temos ainda com bastante cor, os castanheiros, mas estes últimos nas zonas mais frias do concelho.
Não faltarão as fotografias do colorida das folhas dos castanheiros, mas hoje ficamos com as vinhas.
Não é fácil captar a subtileza das cores que os nossos olhos observam. Ainda mais difícil é quando no pouco tempo livre que tive o estado do tempo piorou e não me deixou fotografar como/quando eu queria, mas, mesmo assim, vale a pena recordar.

26 novembro 2012

Maragoto - Roios

Tenho andado um pouco "afastado" do blogue, por várias razões mas uma tem a ver com um azar que tive com o computador. Comprei uma máquina nova, com um disco de maior capacidade... e não é que se avariou ao fim de mês de uso!... O disco não teve recuperação possível, foi substituído por outro, mas as fotografias de Setembro e Outubro (e algumas de Agosto) perderam-se. Nunca me tinha acontecido nada semelhante e fiquei um pouco abalado e triste.
Uma das reportagens que se perdeu, foi a de uma caminhada que fiz ao marco geodésico do Maragôto, no dia 21 de Outubro. Escaparam duas ou três que tinha postado no Facebook. Não foi a primeira vez que estive no local, creio que foi a terceira, por isso, fotografias do marco geodésico é o que não falta.
Este marco está situado a norte da aldeia de Roios, perto do separação do termo com o de Vale Frechoso. É um dos locais de passagem da maior parte das caminhadas em direção a Benhevai, Trindade, Vale Frechoso e Santa Comba, não propriamente nos rochedos onde está o marco, mas nos caminhos que contornam o  morro.
O acesso não é difícil, um carro ligeiro pode ir até muito próximo, partindo da estrada N214 para a Quinta do Galego. Daí até ao cume dos rochedos não é muita distância, mas não há propriamente um caminho.
Saí de Vila Flor pela rua do Carriço. Atravessar a Serra é sempre uma emoção. As cores outonais estavam por todo o lado e os sabores também, porque uma uva rebuscada na vinha tem um sabor muito superior ao que tinham em tempos de abundância. Este ano há poucos medronhos, mas os medronheiros são abundantes no Facho.
Onde me entusiasmei mais foi no percurso que sobe de Roios até à Quinta do Galego, acompanhando de perto o curso de um ribeiro. Milhares de flores (crocus) despontavam nos lameiros. Também procurei alguns rocos, mas a busca foi infrutífera.
No alto dos rochedos há vestígios de uma atalaia. Nas minhas primeiras visitas ao local fiquei desconfiado, mas agora tenho a certeza. No Portal de Arqueologia pode ler-se o seguinte: "Possível atalaia, localizada no topo de um cabeço isolado e dominante na paisagem. O topo do cabeço estende-se de Noroeste para Sudeste. A extremidade Sudeste é uma pequena plataforma elevada, com dois afloramentos quartzíticos destacados, num dos quais se encontra um marco geodésico. Existem duas zonas de acesso para esta plataforma, e em ambas se encontra o derrube de uma estrutura, presumivelmente uma muralha. Não se encontraram materiais de superfície, e não parece haver evidências da existência de um povoado. Tendo em conta a exiguidade do espaço da plataforma muralhada e a implantação estratégica do local, supomos que este sítio se trate de uma pequena atalaia fortificada, provavelmente medieval."
O marco geodésico está parcialmente destruído. Há muito que deve ter sido abandonado, porque muitos foram recuperados e este não. A paisagem que se avista em direção ao vale da Vilariça, passando por Alfândega da Fé, até Mogadouro, já vale a pena escalar o local. Para Norte apenas se vislumbra o aponta do cabeços da Senhora da Assunção e outros circundantes. Também é o melhor local para ver Vale Frechoso.
Alguém limpou um zimbro e colocou nele a bandeira nacional! Deve ter sido há algum tempo porque o tecido da bandeira já se desfez.
Foi já quando me dirigia para a estrada, onde me foram buscar, que encontrei uma "vaquinha" no tronco de um castanheiro! Foi a primeira que encontrei e fiquei bastante contente.
O percurso, linear, desde Vila Flor, passando por Roios, pelo marco geodésico e terminando na estrada nacional, tem aproximadamente 8 km. Será para repetir mais tarde, fiquei com muita pena das fotografias que perdi.

07 novembro 2012

João de Sá

 Faz hoje 84 anos que nasceu, em Vila Flor, João Baptista de Sá. Com pouco mais de 20 anos mudou a sua vida para a capital, onde ficou até à sua morte, ocorrida a 23 de Fevereiro de corrente ano. Ausente fisicamente da sua terra, o seu coração sempre aqui esteve e as suas mais sentidas palavras, em prosa ou em verso, foram dedicados ao seu torrão natal. A sua escrita é apaixonada, cheia de emoção, doce, atenta às coisas simples, dedicada a pessoas comuns, reinventando uma época e uma Vila repleta de sentimentos, lugares, cores e sons, que mesmo quem não a conheceu consegue sentir e viver aos desfolhar cada um dos seus livros.
Em 1989 numa das cartas que escreveu a seu tio Raul de Sá Coreia manifestava a vontade em adquirir um espaço no cemitério de Vila Flor, para aqui repousar após a sua morte. "Por aqui há muito barulho, não se "dorme" descansado", dizia ele. Nós últimos anos da sua vida houve algumas mudanças a este respeito, mas a vontade de regressar manteve-se. Isto porque há um lugar onde a "luz agita a manhã incendiando estevas e carquejas, urzes e arçãs, bela-luz e alfazemas". Um lugar onde é difícil "estabelecer uma linha demarcatória entre a matéria e o espírito, como se de repente se rasgassem campos magnéticos de infindáveis surpresas e tudo se fundisse numa liga de extrema perfeição".
Ao aproximar-se o aniversário do seu nascimento a Câmara Municipal decidiu homenageá-lo com um conjunto de atividades que se iniciaram no dia 1 de Novembro.
Às 15 horas foi aberta a Exposição sobre a Vida e Obra do Autor, exposição que se vai manter no  foyer do Centro Cultural até ao dia 30 de Novembro. Durante a tarde aconteceram alguns momentos musicais protagonizados por jovens músicos locais. Às dezasseis horas o grupo Filandorra - Teatro Nordeste apresentou a Elegia a João de Sá, onde foram dramatizados contos, declamados poemas e apresentada uma foto-biografia do autor.
Além do grupo de atores participaram também nesta Elegia o Sr. Rogério Fernandes, a Sr. Isabel Machado, a Dr.ª Gracinda Peixoto e a atriz Cecília Guimarães.
Para terminar, e após usarem da palavra uma neta de João de Sá e o Sr. Presidente da Câmara de Vila Flor, amigo pessoal do escritor, foi lançada a segunda edição do livro "Flores para Vila Flor", que teve a primeira edição da pela Câmara Municipal em 1996.
Se o escritor João de Sá estivesse presente certamente diria que não merecia tal homenagem. Quase garantidamente diria que não fez mais do que a sua obrigação, que Vila Flor merece muito mais e que a sua escrita não é assim tão bela e importante. O que tenho mesmo a certeza é que ficaria imensamente contente com a reedição do seu livro, porque ele sabia que a sua escrita quando lida ganha forma, prolongando a sua própria vida.
Fiz questão de estar presente, até com algum sacrifício. Quando foi lançado o livro Cantos da Montanha não pude estar presente. Passados poucos dias fui surpreendido com um embrulho na caixa do correio, lá estava o livro! Na dedicatória lê-se "não experimentei o júbilo de o ver no lançamento dos meus livros"! Percebi o quanto os livros eram importantes para João de Sá.
O livro Flores para Vila Flor é um livro de poemas, todos sonetos (dois quartetos e dois tercetos). Embora esta forma, muito estruturada, não seja do agrado de toda a gente, é, talvez pela altura em que foi escrito, mais acessível, com linguagem mais clara, transparente e concreta. Nas suas últimas obras, o próprio autor o reconhecia, a escrita era mais elaborada, complexa e por vezes sombria.
Já publiquei vários dos sonetos que integram o livro e outros serão publicados com algum intervalo de tempo entre eles. Deixo no final deste texto uma ligação direta para cada um deles. Também criei, na margem direita do Blogue uma etiqueta própria - João de Sá - que faz uma listagem automática de todos os textos e poemas deste autor que fui publicando ao longo de 6 anos (ainda não está 100% funcional).
Livros publicados:
- Flores para Vila Flor (1996);
- Um caminho entre as oliveiras (1997);
- Mãe-d’Água. Ficções e memórias (2003);
- Assalto a uma cidade feliz (2006);
- Vila à flor dos montes (2008);
- Vozes além da fala (2008, edição do autor);
- E de repente é noite (2009, edição do autor);
- Pelo sinal da terra (2010, edição do autor);
- Cantos da montanha (2010).

Sonetos do livro Flores para Vila Flor já publicados no Blogue: