22 setembro 2015

e de repente é noite (XXXVII)

XXXVII
Não aceites a morte, mãe,
recusa-a em consonância
com o coração da terra.
sê a firmeza
daquela rocha lilás
onde o vento inutilmente
se esfacela.

XXXVIII
Outra vez o serão.
O piano perfurando
a densidade do tédio.
Estilhaços do temporal
da tarde
perseguindo o voltear
dos zilros.
Ah o perfume da serra
roendo-nos os zincos da alma.
É urgente uma jaula
de esquecimento
para este grito.

Poema de João de Sá, do livro "E de repente é noite", 2008.
Fotografia: Trabalho com base num jovem sobreiro fotografado em Benlhevai.

18 setembro 2015

e de repente é noite (XLVIII)

O tempo pousa-me nos dedos,
sugerindo aquele esbelto pássaro,
à tarde, hirto em tuas espáduas nuas.
Uma maré de crisântemos ritma
a tua impaciência em desejares
que seja no teu peito
que os braços se encontrem com o mar.
Em Março, no adro da capela, minhas tristezas
florescem acácias amarelas
e perpetuam-se na vibração dos sinos.
Um estranho toque
vem despertar setembros
de cachos de uvas suspensos do tecto,
na frescura das salas,
listando o espaço de tons mansos
como quem tece casulos de calor
para vencer o inverno.

Poema de João de Sá, do livro "E de repente é noite", 2008.
Fotografia: Cume do Facho, após um incêndio.

15 setembro 2015

Reencontro com os caminhos

A análise das distâncias percorridas no ano anterior mostram que caminhei muito pouco, pelo menos no  concelho de Vila Flor. Por isso, nada como recomeçar com mais força, testando o físico. O trajecto escolhido foi um já muitas vezes percorrido: Vila Flor - Santa Cecília, com ida e volta por caminhos distintos. São cerca de 15 km, com algumas paragens para apreciar a paisagem, é percurso para uma manhã inteira.
 Por sorte o dia estava bastante bom para caminhar. A manhã fresca mostrou um céu com algumas nuvens que se foram pintando de negro. Por várias vezes caíram pequenas gotas de chuva, refrescando o ar e fazendo-me recordar emoções de outras caminhadas.
Houve duas coisas que marcaram o passeio, uma boa e outra má. A boa foi a quantidade de frutos da época que permitiram algumas fotografias interessantes, a má foi o reencontro com bastante lixo espalhado pelos montes, que mostra que muito mudou na vida das pessoas, mas o civismo ainda está muito longe do desejável.
Os campos estão bastante despidos de verdura. O calor do verão matou todas as ervas e só as giestas e pinheiros se mantêm "vivos". Já nos terrenos agrícolas há muito para ver e fotografar: são as amêndoas prontas para serem apanhadas (muitas já o foram); as uvas estão maduras e este ano parece haver grande quantidade; há muitas pêras, maçãs, alguns pêssegos e figos a sustentarem bandos de estorninhos que parecem muito satisfeitos com a abundância. As silvas das bermas dos caminhos estão carregadas de amoras e nos castanheiros os ouriços começam a ganhar forma.
Apesar das ameaças de chuva, a paisagem estava muito bonita. O Cabeço, visível ao longo de metade da caminhada, por vezes iluminava-se parecendo um farol. De Samões avistava-se o vale de Freixiel, permitindo admirar a paisagem até mais longe, pelo concelho de Murça, Alijó, quem sabe até de Valpaços ou Vila Pouca de Aguiar.
 Acompanhei de perto o traçado do IC5. Os carros passavam rápido, apressados, fazendo-me sentir feliz, por poder andar devagar, saborear o vento e a chuva, sentir o chão, ouvir os sinos da igreja de Carvalho de Egas, sem mais preocupações do que a de chegar a casa entre o meio-dia e a uma, para não fazer a família esperar por mim para o almoço.
Fiz uma visita aos "mal casados". Para quem não sabe, são duas rochas de "costas" voltadas uma para a outra. Não sei se uma música romântica ajudaria a "quebrar o gelo", mas como ainda ninguém teve essa "brilhante" ideia, as rochas vão continuar de "costas" voltadas, merecendo plenamente o nome de "mal casados".
Num dos parques de estacionamento do santuário de Santa Cecília há uma pequena macieira, bravo de esmolfe, que costumo visitar nesta época do ano. Estava carregada de frutos, maduros, sumarentos, bastante maiores do que em anos anteriores. Não tive muito tempo para pausas, mas colhi algumas maçãs que fui mordendo ao longo do caminho.
Foi após deixar Santa Cecília para que encontrei  montes de lixo. Infelizmente o lixo vai aparecendo um pouco por todo lado. Um sofá, aqui, um televisor mais além, há um pouco de tudo e onde menos se espera. Mas havia carradas de lixo, muito vidro, coisas que não dignificam as pessoas e as instituições.
 Cheguei à barragem do Peneireiro perto do meio-dia. Algumas pessoas faziam os seus exercícios de manutenção. O Parque de Campismo já tem poucos campistas. A barragem tem um nível incrivelmente baixo de água. No local já se sente a calmaria típica da maior parte do ano. O verão é muito bom, e necessário, até economicamente, mas nós temos o privilégio de poder gozar estes espaços durante o resto do ano.
Caminhei sem parar até Vila Flor. Senti-me muito bem fisicamente. A pausa de verão e o aumento de peso não afetaram o meu gosto por caminhar. Senti-me livre, relaxado, satisfeito por fotografar de novo os montes que tão bem conheço.
A caminhada teve perto de 15 km, uma distância aceitável  para início de temporada.

11 setembro 2015

e de repente é noite (XLVII)

Não reduzas tudo a esquadria e pedra.
Há sempre uma criança
em nosso horizonte de altas velocidades,
um ninho vazio nas mãos,
delgado corpo de aldeia à hora da sesta.
E o carvão de uma imensa noite
subindo pelas fontes onde correm
nossos terrores de caudaloso magma,
ávidos do centro
de um círculo perdido.

Poema de João de Sá, do livro "E de repente é noite", 2008.
Fotografia: Miradouro, em Vila Flor.

10 setembro 2015

Já passaram 9 anos!

Vindima perto do Gavião - Seixo de Manhoses
Foi há 9 anos que começou a aventura À Descoberta de Vila Flor. Tratou-se de muito mais de que a abertura de um Blogue, foi o início de uma nova etapa na vida de várias pessoas.  Muita coisa aconteceu em nove anos, alguns contratempos, mas, no global, foram 9 anos de muitas aventuras, muitas fotografias e momentos memoráveis, uns reportados, outros não.
Cesta de cogumelos silvestres  
O ano que agora termina (de setembro a setembro) foi aquele em que o blogue teve menos vida. As postagens foram muito poucas, menos de uma por mês e isso repercutiu-se no número de visitantes. Esta tem sido a tendência dos últimos anos, quer pela falta de novidades, quer pela migração para outras plataformas que se mostram mais atractivas e com maior numero de pessoas.
Fumeiro de Vila Flor numa das mostras TerraFlor
Os percursos pedestres foram poucos. Com alguma frequência fiz um passeio à barragem do Peneireiro, por caminhos diferentes, ao cair da tarde. Poucas vezes levei a máquina fotográfica. Os locais a visitar, pela primeira vez, no concelho são poucos. Os sítios arqueológicos, fontes, igrejas, capelas, marcos geodésicos, alminhas, etc. foram todos visitados e a maior parte deles mais de que uma vez. As festas e romarias também proporcionam alguns bons momentos fotográficos, mas começo a sentir algum cansaço. Têm muito pouco de genuíno e, por vezes, acho que deveria haver mais respeito, mesmo da parte de quem não é praticante.
Amendoeiras em Flor, uma das maiores atracções turísticas do nordeste transmontano
 Sem dúvida que os melhores momentos foram os iniciais, quando tudo era novo. Eu era totalmente anónimo e podia deslocar-me e escrever de forma completamente livre, sem receios do que outros pudessem pensar. Com o tempo a espontaneidade foi diminuindo e começaram a "requisitar" a minha presença. As coisas são mais saborosas quando são feitas por puro prazer e não por qualquer outra razão.
Festa do foral manuelino em Freixiel
Gostaria de ter mais contacto com a terra, acompanhar os trabalhos do campo, as sementeiras, as colheitas, o crescimento das culturas, saber os nomes das plantas, as histórias das aldeias, as tradições que se perdem, mas  tenho pouco tempo e não quero perder a minha liberdade de caminheiro, no concelho de Vila Flor, ou em qualquer outro. As saídas em BTT praticamente desapareceram.
Fruta da Vilariça - Feira TerraFlor
Mesmo sendo muito crítico em relação ao Facebook, acabo por dedicar muito tempo a administrar Páginas e Grupos dos quais dois dedicados ao concelho de Vila Flor: Página "Vila Flor, Concelho" e Grupo"Vila Flor - Portugal". Ambos têm tido um crescimento bastante bom, apesar de existirem alguns grupos e muitas Páginas sobre Vila Flor.
Rua de Santa Luzia, ao fim do dia
O que os torna diferentes são o rigor, o respeito pelos direitos de autor e os conteúdos interessantes (muitas vezes próprios). No fundo tento usar a Página e o Grupo com a mesma filosofia do Blogue. Chego a mais pessoas, mas faltam as palavras. As palavras são importantes assim como é importante para mim, investigar e fazer esforço para as escrever o melhor que sei e posso.
Vinho fino - Feira TerraFlor
Apesar de poucas actualizações no Blogue ao longo deste ano tirei mais fotografias do que o ano anterior. Foram mais de 17 mil. São mesmo muitas! Pode parecer um exagero, não há tanto assim para fotografar, mas por vezes faço uma dezena ou duas de fotografias sobre o mesmo assunto. Acredito muito pouco na sorte fotográfica, aposto mais no trabalho, na repetição  alterando os parâmetros da fotografia até conseguir um resultado satisfatório.
Festa de S. Bartolomeu 
A câmara Cyber-shot DSC-W610 que usava nas caminhadas "morreu". Por duas ou três vezes que embateu violentamente contra as fragas, até que a objectiva deixou de me obedecer. Comprei uma PowerShot SX700 HS. É uma câmara cheia de recursos, dos quais se destacam o funcionamento manual, semi-automático  à velocidade e ao diafragma, wireless e um zoom óptico 30X. Contudo, muitas das fotografias que faço, são feitas com um tablet iPad. A qualidade não é comparável ao de uma máquina fotográfica mas a facilidade de edição e de partilha na Internet são argumentos de peso.
Imagem de S. Bartolomeu 
O décimo ano já teve início. Tal como nos anos anteriores não há planos. Manter um Blogue "vivo" dá muito trabalho e não sei se há visitantes que justifiquem o esforço. Também é verdade que não criei e mantive o blogue para agradar a terceiros, mas sim pelo prazer de descobrir, conhecer e divulgar. Tentarei gerir o tempo o melhor possível, procurando novos motivos de interesse, quer para o blogue, quer para divulgação noutras plataformas.
Para já, desejo um bom ano a todos.

Bolo do 9.º  aniversário, partilhado com amigos

Números do 9.ºano:

Páginas vistas - 25.771
Visitantes - 16.292
Comentários - 10
Postagens - 8
Km percorridos em BTT - 15
Km percorridos a pé -  59
Fotografias tiradas - 17.225
Fotografias publicadas -  45
Alguns dados estatísticos da evolução do Blogue

Números totais (9 anos):

Páginas vistas - 751.379
Visitantes - 352.090
Comentários - 1 884
Postagens - 1 167
Km percorridos em BTT(9 anos) -  4.580
Km percorridos a pé (9 anos) -  1.748
Fotografias tiradas - 161.320