29 maio 2007

Valtorno 4


Ontem a "viagem" foi a Valtorno. Esta simpática aldeia não se esgota numa só visita. Quanto mais ruas e becos percorro, mais me convenço, que há muito mais para descobrir. O dia esteve luminoso, com algumas nuvens, mesmo a convidar à fotografia. Foi uma delícia.

28 maio 2007

Mês de Maio ... águas mil


Nas últimas semanas o clima em Vila Flor tem estado muito incerto. Grandes trovoadas, muita chuva, alguns dias de sol e se transformam em nuvens negras...
Tenho saído, às vezes de carro, registando a flora, antes que os dias de sol agressivo acabem com ela. Na Vilariça, os montes já apresentam os tons da erva seca, mas na terra fria (Valtorno, Alagoa, e outras) os montes estão lindíssimos, cheios de giesta floridas.

25 maio 2007

Festa das Maias em Folgares


No dia 5 e 6 de Junho vai acontecer, em Folgares, a Festa das Maias. A localidade encontra-se vestida de amarelo, rodeada por um bonito manto de giestas floridas. Um bonito passeio pode ser dado subindo a estreita estrada de Freixiel até Folgares, continuar até à Anta de Zedes, em Zedes, e voltar a Vila Flor passando por Mogo de Ansiães, Alagoa e Valtorno. As zonas mais altas do concelho apresentam um lindo manto de maias amarelas.

24 maio 2007

Deixem-me andar até ao fim da tarde


Serra

Deixem-me andar até ao fim da tarde,
Ébrio de longes, percorrendo os cimos.
Que ninguém me imponha os seus destinos.
Possa beber no gricho que me agrade.

Minha sede só em meu peito arde,
Não se compraz com o afastar dos limos.
Há fontes que a nós compete abrirmos,
Antes que a água tolde ou se retarde.

Podem tirar-me tudo, menos isto:
Subir a cumes de granito e xisto,
Na ânsia ardente de me ultrapassar.

A Serra, em mim, a difundir vertigem.
E esta dor que os outros não atingem,
De avistar Deus sem Lhe poder falar!

Poema de João de Sá. "Flores para Vila Flor", 1996.
A fotografia foi tirada dia 13 de Maio, perto de Vale Frechoso.

22 maio 2007

Trovoadas - Cristiano de Morais

Depois de ter publicado ontem o soneto Trovoada, de Cabral Adão, pensei que não haveria melhor poema para descrever o ambiente e os sentimentos que envolviam estes acontecimentos há alguns anos atrás (e em parte, ainda hoje). Descobri, entretanto, estes versos de Cristiano de Morais (outro vilaflorense). Vale a pena lê-los até ao fim. Transportam-nos, momento a momento, chegamos a sentir o vento, o trovão, a respiração temerosa.

Que dia sufocante, d'abafadiço calor!
Pesa no ar parado, um suplício de dor
Que nos oprime, tortura e alanceia
Como se fora feito, de fogueira alheia!
E lançasse no ar, do brazido espaço
Chispas invisíveis, da cor do aço!
Caldeando gamas e tons auriluzentes
D'efeitos lucinantes, assás surpreendentes!
A atmosfera, está brunida de linda e loura luz
Refulge e cintila, como deadema na Cruz!
E é tal a combustão das partículas no ar
Que o oxigénio é pouco, para a gente respirar!
Vendo-se no espaço grandes fumaradas
Como s'ali estivesse, o fumo de queimadas!
Não se mexe uma folha, escaldam as pedras o ar
É um ar de forno, que nos está a escaldar!
Há um zunido infinito, n'aquele sossego silente
Como se fora latejo, na própria alma da gente!
A natureza está suspensa, as plantas a murchar
O coração adivinha, que algo se vai passar!
Desesperam os animais, mordem fundo as moscas
Abrem o bico as aves, em suas visagens toscas!
O calor, é infernal, já se não pode suportar
E de repente, negras nuvens vêm toldar
O céu escaldante, feito de cor de aço!
Tornando num estante, aquele ambiente baço!
Que se dilui e resfria, como um banho salutar
E que só se respira, na proximidade do mar!
E vai ficando negro o céu e sem luz e sol
Como se fora crepúsculo, ou névoa d'arrebol!
Sentindo-se já a brisa, a encrespar as árvores
Como se foram leques, d'aquelas abafadas tardes!
Balouçando-se no ar, n'aquele estranho rumor
Que só têm os regatos de intenso estridor!
E o céu é mais escuro, e maior a cerração
Rola já ao longe, o roncar do trovão!
E nisto salta o raio, e ilumina-se o céu
Ficando logo em seguida, tudo da cor do breu!
Caindo grandes pingas, com cheiro a ozone
Como presságios funestos, d'ir começar a fome!
E novo deslumbramento, num dilúvio de luar
Um alustre fulgurante, perto de nós a riscar!
Unindo de ponta a ponta, duas serras altaneiras
Como s'ambas se beijassem, num clarão de fogueiras!
Enquanto os corações, estremecem a soluçar
Orando, à Virgem, a Deus que nos venha salvar!
Santa Bárbara! S. Jerónimo! Toda a corte celestial!
Vinde em nosso socorro, nesta hora final!
Ruge de novo o trovão e açouta a ventania
A noite procelosa e escura, substitui o dia!
E sente-se novo esterrinco, a seguir novo luzeiro
Supondo todos, que o seu momento é derradeiro!
Caem, vindas do céu, grandes cordas de chuva
E com ela granizos, como bagos d'uva!
Descem do alto das serras, cascatas em fragor
Em enxurradas e turbação, como no peito a dor!
Pelos caminhos, vêm crianças encharcadas de lodo
Tremendo e soluçando, no seu corpinho todo!
Nos montes, os pastores, ajoelham junto ao gado
Pedindo a Deus que leve, este tempo irado!
Nas povoações salvam-se pessoas e animais aos gritos
Da enchente colossal, em esgares aflitos!
Enquanto que na montanha, debaixo d'árvores copadas
Ficam em negros carvões, almas electrocutadas!
Ao procurarem abrigo, para tão grande ansiedade
Que vai deixar a miséria e gerar a orfandade!
......................................................................................
E volta de novo o estampido, de rugidos medonhos
Já estão bentos às janelas e ramos, em sonhos!
Reza-se alto, em fervor e está a alma aos ais
Repetindo-se os estrondos, como de monstros infernais!
E naquele tétrico ambiente, de corações assustados
Vagueiam de lado a lado, olhares espantados!
Como à espera que os ilumine, ou assombre o raio
Nesta horrenda tempestade, do mês de Maio!
Mas graças ao Criador, este inferno está a passar
E a procela vai seguindo para os lados do mar!
Desoprimindo os corações, trazendo de novo o alento
Como o fresco e a brisa, são trazidos pelo vento!
E agora os alustes, os raios e os coriscos
Não são mais do que desmaios verdes, como troviscos!
E com a atmosfera aligeirada, e o espaço a clarear
Torna-se de novo alegre e confiante, o nosso olhar!
Regressando à vida, lançando a vista pelos campos
Cobertos d'água e lodo, como se foram mantos!
Num cemitério de culturas, árvores e produtos
Como o melhor do nossa trabalho e doces frutos!
Vendo-se as terras, abertas e regateadas
Como se por monstros, fossem lancetadas!
E mostrassem, nas suas chagas em sangue
A miséria, a dor, o pus da terra, em ponto grande!
Da humanidade toda, feita de barro vil
Embora às vezes pareça ser, uma manhã d'Abril!...

Cristiano de Morais, Riquezas e Encantos de Trás-os-Montes, 1950.
A fotografia foi tirada no Santuário da Senhora da Lapa, numa trovoada, ao fim da tarde.

20 maio 2007

Trovoada - Cabral Adão


Mês de Maio, das giestas e das rosas.
Ainda há pouco brilhava um sol ardente.
O ar fez-se pesado e as próprias coisas
Um sinistro auguravam, iminente.

Surgem nuvens escuras, pavorosas.
Salta o primeiro raio, e toda a gente
Se recolheu em rezas fervorosas,
Que, o perigo, Santa Bárbara afugente.

Cai a potes, a chuva. A trovoada
Aterroriza os ares. Tombam granizos.
A torrente é roldão devastador.

Uma pobre mulher cai fulminada.
Em toda a parte há grandes prejuízos…
E o que era vida e riso, é luto e dor!

Cabral Adão

Soneto retirado do livro “Versos – Vila Flor”, impresso em Novembro de 1966 da autoria do Dr. Luís Manuel Cabral Adão.
O livro é uma compilação de poemas (sonetos), quase na totalidade dedicados a Vila Flor, sua terra natal, de onde partiu em 1937. Os poemas foram publicados no jornal Notícias de Mirandela, a quem o poeta vilaflorense dedica o seu livro.
Do mesmo autor, já publiquei "Carícia Real", a 04 de Outubro de 2006.

A fotografia foi tirada no dia 30 de Abril, na Trindade. Protegi a câmara da chuva. Com o calor do corpo, a objectiva embaciou e a fotografia ganhou um inesperado efeito soft.
(Alterei a grafia de algumas palavras no soneto).

19 maio 2007

Segundo passeio ao Vieiro

No dia 16 de Maio fui de bicicleta até ao Vieiro. Desde Janeiro que não visitava esta localidade e não deixa de ser surpreendente a quantidade de pessoas que votam no Vieiro como próximo destino fotográfico, ultrapassando em votos grandes freguesias, como Vilas Boas!
Saí bastante tarde, mas queria mesmo assim experimentar um percurso alternativo. Dirigi-me a Vilas Boas. Questionei um senhor sobre o caminho que devia seguir para chegar ao Vieiro. Tentou de todas as formas convencer-me de que o melhor percurso seria voltar perto do Barracão e seguir pela estrada. Pelo caminho teria que ir a maior parte do tempo com a bicicleta à mão. Ou o senhor não conhecia o caminho, ou não sabia do potencial da bicicleta, ou não fazia grande segurança no ciclista. Convenci-o de que queria mesmo ir pelo caminho, desci Vilas Boas e apanharei um caminho à esquerda. Segui completamente pelo instinto, o espaço é aberto e o horizonte largo. Encontram-se alguns afloramentos de granito, com rochas de formas arredondadas. A vista mais bonita estende-se em direcção ao Rio Tua. Consegui mesmo distinguir alguns montes onde andei no meu recente passeio à Ribeirinha.
Felizmente o caminho é muito bom e sempre a descer, cheguei ao Vieiro rapidamente. A aldeia é pequena, tinha percorrido quase tudo na minha primeira visita. Entrei pela parte alta mas desci a Rua da Portela até ao centro da aldeia. Senti curiosidade em ver o ribeiro. Ainda corre, e, desta vez, a água está muito mais apresentável. Nos Nabais as hortas estão viçosas, as batatas com muita folhagem e as cebolas acabadas de plantar.
Voltei ao centro, procurei a Capela de S. Tomé, como habitualmente estava fechada. Continuei pela Rua de Baixo até à saída da aldeia. Não tinha tempo para ir mais longe, dirigi-me à antiga escola de 1.ºCiclo do Ensino Básico. O recinto ainda está cheio de roseiras, dobradas pelo peso das rosas. Daqui se tem uma diferente perspectiva da aldeia. Curioso é o facto de em poucas dezenas de metros existirem três cafés, numa aldeia tão pequena!
Dirigi-me à entrada da aldeia mas voltei atrás. Logo à entrada da Rua do Olival, cortei à esquerda, atravessei o ribeiro e subi por um caminho que dá acesso a duas habitações, na encosta a Poente. Procurei uma boa posição para uma panorâmica.
Voltei à estrada e comecei a subida, calmamente, recordando o sr. Pedro. Quase no mesmo local, lá estava, orientando a vinha, cortando alguns bravos. Parei e troquei algumas palavras com ele. Falou com saudade da sua esposa falecida, Escovar, talvez com raízes em Zedes, e com orgulho no seu filho, distante, em Macau. Falou com a mesma calma com que amanha a vinha. Despedi-me. O Sol estava tão baixo que não me deixava ver o Vieiro, um pouco mais abaixo.
Pedalei com força, queria ainda visitar a Capela de S. Domingos, ou o que resta dela. Esta capela, em granito, com elementos barrocos, como estava sempre aberta e tinha um alpendre coberto era muito utilizada pelos viajantes e almocreves que se deslocavam pela estrada real que ligava Moncorvo ao Porto. Foi reconstruída entre 1744 e 1766 mas está completamente em ruínas.
Quando cheguei à capela já o Sol se tinha escondido. Fiz os ajustes técnicos necessários para conseguir algumas recordações fotográficas e fotografei-a de todos os ângulos, embora com muitas limitações.
Quando voltei à estrada, começava a anoitecer. A minha preocupação era chegar a casa sem um furo (já me tinha acontecido uma vez, ali pela Palhona). Felizmente tudo correu bem, cheguei a casa pouco depois das 21 horas.

Quilómetros percorridos neste percurso: 27
Total de quilómetros de bicicleta: 1120
Total de fotografias: 23 696

18 maio 2007

Descobrir Vila Flor no Museu Drª Berta Cabral

Há infinitas alternativas para se partir à descoberta do concelho de Vila Flor. Uma, a que eu escolhi, sair por aí percorrendo estradas e caminhos, visitando aldeias, subindo às serras, percorrendo os vales, ouvindo as histórias e descobrindo as cores. Outras, alternativas, vou-as descobrindo à medida que de espectador me torno actor.
É possível descobrir Vila Flor nos livros, nos sonetos dos poetas, nos quadros dos pintores, nos feitos de homens e mulheres que construíram esta terra.
Hoje, Dia Internacional dos Museus, aponto mais uma alternativa: o museu. Longe da conotação estática e de passado que por vezes se lhes atribui, os museus são locais de arte, de inspiração (templo das nove musas que cresceram perto do Monte Olimpo).
O Museu Dr.ª Berta Cabral foi fundado em 1957, ocupando um antigo solar, onde tinham estado instalados os Paços do Concelho. A adaptação do edifício fez-se também à custa de algum dinheiro disponibilizado por Eduardo Costa Cabral, marido de Berta Cabral, contribuindo também (ambos) para o enriquecimento do acervo, quer da biblioteca, quer do museu, com livros, quadros a óleo e outros objectos.
O museu cresceu, tornou-se mais rico, graças à boa vontade de muitos vilaflorenses e ao esforço de Raul de Sá Correia, fundador e seu director até à data da sua morte, em 1993.
Vamos então partir À Descoberta do Museu.
Não querendo alongar a visita com considerações sobre o edifício e área envolvente, que são bem dignos de reparo, entramos a porta e estamos na Sala de Arte Sacra. Centenas de peças, algumas com séculos de história, baralham o nosso olhar. Depois de uns segundos de adaptação, começamos a olhá-las, a descobrir a sua beleza, os seus segredos e a sua história. São centenas de histórias para ler e ouvir. Desde o Oratório-Secretária de 1739, com pintura original e cinco compartimentos secretos, até ao painel em madeira de castanho representando S. Bartolomeu, Padroeiro de Vila Flor, que se pensa tenha sido utilizado como tampo de mesa, até que alguém reconheceu o seu valor e o ofereceu ao museu (José Lourenço Ochoa, de Santa Comba da Vilariça). Deliciamo-nos com uma custódia em madeira de castanho (séc. XVI), com crucifixos e outras representações de santos.
Passamos à Sala Dr. Alexandre de Matos. Aqui, casam a tecnologia e etnografia com amostras de outras áreas. Depois de admirar-mos os quadros a óleo do Dr. Eduardo Cabral e da Drª Berta Cabral, somos obrigados a reparar nas relíquias tecnológicas que ali nos esperam. Uma máquina de escrever datada de 1870, poucos anos depois de ter sido construída a primeira máquina de escrever! Seguem-se mais algumas dezenas de outras máquinas, rivalizando todas elas no design e fazendo pensar aqueles que reclamam da velocidade dos microprocessadores da última geração. Podem também ser admiradas calculadoras, máquinas fotográficas, máquinas de costura, moldes de sapateiro etc.
Destaca-se nesta sala uma frente de sacrário, de estilo renascentista, feita de uma só peça de castanho, com 1,33 metros de altura e 0,72 metros de largura, que pertenceu à capela do Solar dos Lemos.
Seguimos para a Sala Pintor Manuel de Moura. Chamam-nos à atenção quadros, fotografias e bustos, de personalidades nacionais e ilustres vilaflorenses: Artur Trigo Vaz, Dr. Maximino Correia, Eng. Camilo de Mendonça, entre outros. Perdemo-nos depois, olhando os quadros, que vão desde a singela representação do barracão no lugar do Barracão, em Samões, continuando com pinturas dos monumentos mais representativos da Vila e terminando com uma fresta na cortina azul num quadro de Graça Morais. Depois de saciados os olhos com a cor, passamos sem demora aos relógios de bolso, para descobrirmos que afinal, noutros tempos, Roskopf era marca de prestígio. Admiramos também uma bonita colecção de notas e moedas terminando em ouro, numa moeda de ouro Visigoda.
Dirigímo-nos à pequena Sala de Vila Flor. Aqui encontramos os rostos e a história de Vila Flor. Os forais: o primeiro, de D. Dinis em 1286 e o segundo, de D. Manuel I, de 1512. Este último é original, assinado pelas próprias mãos do Rei.
Também podemos encontrar aqui muitos livros escritos por vilaflorenses.
Saímos à rua e descemos à Galeria, no rés-do-chão. Entre estrelas funerárias, tégulas e marcos da Ordem dos Hospitalários destaca-se um enorme Berrão, encontrado 1967 no sopé do Santuário de Nossa Senhora da Assunção, em Vilas Boas, que o Sr. Prof. Dr. Santos Júnior classificou de “maravilha”.
Também aqui está o primeiro telefone instalado em Vila Flor (e na província de Trás-os-montes), em 1890, com o qual Belmiro de Mattos falava de Vila Flor para e as águas de Bem Saúde (em Sampaio).
Seguimos para a Sala das Louças. Lampiões, candeeiros, candeias, açucareiros, pratos, galheteiros… de tudo que na cozinha havia, podemos encontrar nesta sala, mas também rádios, televisões, grafonolas e instrumentos musicais vários. Também aqui há poesia, gravada em bonitos pratos de fina porcelana:
“Esta formosa terra, nossa amada,
Que Povoa se chamava, do Sabor,
A qual sendo outrora visitada,
Pelo Rei D. Dinis, o lavrador,
De rosas a viu tão adornada,
Que o nome lhe deu de Vila Flor.”
Terminamos a visita na Sala Africana. Estão expostas cerca de 400 peças, a maior parte delas trazidas das ex-colónias e posteriormente oferecidas ao museu. Podemos admirar peles de animais, marfim, armas e esculturas. Também aqui se encontra uma bonita e enorme gaiola, feita em madeira de embondeiro, que parece pesar muitos quilos mas que se levanta com dois dedos, como se fosse de esferovite.
E quando se pensa que não é possível assimilar mais nada, tratamos de subir de novo ao primeiro andar e entrar na Sala da Biblioteca. Há entrada espera-nos um dos maiores livros manuscritos, existentes em Portugal. Trata-se do “Tombo dos Condes de Sampaio” com 1225 folhas e 20 quilogramas de peso.
Está na hora de nos sentarmos um pouco. Olhando à volta, há cerca de 20 mil volumes que podem ser consultados. Se quisermos compreender muitas das coisas que vimos, há mais de 600 pastas com informação sobre personalidades nacionais, famílias notáveis, património do concelho, notícias envolvendo as aldeias, etc.
Se estivermos cansados, podemos relaxar, navegar um pouco na Internet, nos computadores disponíveis para o efeito, ou então, aproveitar o tempo e descrevermos a nossa própria descoberta ou aquilo que mais nos impressionou no Museu Drª Berta Cabral, em Vila Flor.

Morada do Museu:
Largo Dr. Alexandre Matos
5360-325 Vila Flor

Contactos:
Telefone: 278512 373
eMail: museu.berta.cabral@mail.telepac.pt

Horário de funcionamento:
Todos os dias excepto feriados
Manhã - 09:30h às 12:30h
Tarde - 14:00h às 17:30
Entrada gratuita


O meu muito obrigada ao sr. Rogério e a toda a equipa que ali trabalha, pela disponibilidade e paciência com que me têm tratado nos últimos meses.

16 maio 2007

A pergunta


Interrogam-se as pedras alinhadas
Da montanha que alterna com o céu.
Tudo se esvai em alvacento véu,
Só ficam as perguntas derramadas

Dos recantos do dia, concertadas
Em conhecer o fruto que nasceu
Do peito da criança que o perdeu
Entre uma teia de árvores destroçadas...

Só o silêncio largo do horizonte.
Um dedal de mistério na recolha
Do que se alberga entre alma e monte.

A vida inteira pra não responder
À pequena pergunta de uma folha
Tremendo à brisa do amanhecer!

Poema de João de Sá*, do livro"Flores para Vila Flor", 1996.
A fotografia foi tirada dia 7 de Maio, perto de Roios. Uma oferta especial para alguém que gosta de flores amarelas.

*João Baptista de Sá nasceu em Vila Flor, em 7 de Novembro de 1928, e licenciou-se em Filosofia pela Faculdade de Letras de Lisboa.
Colaborou em inúmeros jornais e revistas, escreveu peças de teatro radiofónico, proferiu palestras sobre assuntos culturais e obteve vários galardões em certames literários.
Em 1973 foi atribuído o Prémio de Revelação - Prosa, da S.E.I.T., à sua colectânea de contos "Concerto para Vida e Esperança".

15 maio 2007

Castanheiro-da-india (Aesculus hippocastanum)


As bonitas árvores que se encontram ao longo da Avenida Marechal Carmona são na grande maioria Castanheiros-da-india. É possível nesta altura admirar em plenituda a floração das duas espécies existentes, o Aesculus hippocastanum, de flores brancas, e o híbrido Aesculus x carnea, de flores cor-de-rosa.
Os frutos, castanhas-da-índia, são usadas entre nós contra a traça, colocando-as nos roupeiros, entre as peças de roupa. Nalguns países do Medio Oriente eram utilizadas como alimento para o gado.

14 maio 2007

Das aldeias, Santa Comba...


No dia 12 de Maio pedalei até Santa Comba da Vilariça. Decidi descer de Roios até Lodões, seguir até Santa Comba. O caminho de regresso seria via Trindade, sem grandes voltas ou aventuras.
Quando se visita uma aldeia, ainda mais Santa Comba, não se consegue ver tudo em pouco tempo.
Em 1967, Raul de Sá Correia, enviou para ao Chefe dos Serviços Culturais dos CTT em Lisboa, a seguinte descrição de Santa Comba a fim de ser elaborada a pagela comemorativa da inauguração dos correios na freguesia: “Situada na margem direita da Ribeira da Vilariça, privilegiada por um dom da Natureza, que a situa no afamado Vale da Vilariça, de quem alguém escreveu um dia: “Aldeia tão airosa e bonita, que mais parece um pormenor de um presépio de Machado de Castro” e que o cancioneiro Trasmontano dedicou a popular quadra que correu mundo e reza assim:
Das cidades, o Porto;
Das Vilas Vila Real;
Das aldeias, Santa Comba;
Das quintas a do Carrascal.
Santa Comba da Vilariça, porque pertence ao Concelho de Vila Flor é, também, uma Flor e quem uma vez calcorreou e observou a sua vida, a sua maneira de ser tão particular e simples, jamais a esqueceu.”
Depois de ler palavras tão apaixonadas sobre Santa Comba é impossível abeirarmo-nos dela sem expectativas de uma tarde bem passada.
Como não se trata da minha primeira visita à aldeia, os meus “alvos” preferenciais estavam mais ou menos definidos, mas há sempre coisas que nos surpreendem. A igreja, os cruzeiros medievais e a chaminé da antiga Casa Ochoa são os pontos turísticos mais conhecidos e também aqueles entre os quais me iria movimentar.
Curiosamente Santa Comba tem um Pelourinho classificado como Imóvel de Interesse Público (Dec. nº 23 122, DG 231 de 11 Outubro 1933)! A este respeito, quando o Sr Presidente da Câmara foi questionado em 1968, responde o seu Chefe de Secretaria “ … não existe qualquer Pelourinho, pois, aqueles símbolos de autonomia Municipal, neste concelho, só existem: em Vila Flor, Freixiel, e Vilas Boas…”. Pela a informação a que consegui aceder, sou levado a pensar que o Pelourinho em causa é o Cruzeiro se encontra no entroncamento entre a Avenida Lucinda Oliveira e a continuação da estrada N603 para Vale Frechoso. Não vi outra referência que não aponte nesta possibilidade.
Depois de deixar este cruzeiro para trás, dei comigo no Largo das Eiras. A aldeia tem um conjunto de locais espaçosos, arejados e arranjados, que contrastam com ruas estreitas de casas em rijo granito, entrecruzadas com outras de pedra mais miúda, de origem mais modesta.

O “centro” actual, situa-se um pouco mais adiante. Num espaço agradável, que combina xisto e granito, olhando à volta, encontramos; um banco, o posto do turismo (e GAC), um restaurante, um café, um supermercado e um talho. No centro do espaço uma fonte. Esta singela fonte que me saciou a sede, foi motivo de festa em 1939. “Festa das melhores, festa de que compartilham alegremente, jubilosamente, pobres e ricos – novos e velhos”, escreveu o enviado especial, encarregado de cobrir a inauguração do abastecimento de água à aldeia. O Dr Francisco Guerra acompanhou o Sr Governador Civil, que cavalgando, visitaram a captação situada no Rego do Souto, regressando a tempo para ouvir a Banda de Vila Flor, a Tuna da Casa do Povo de Vale Frechoso e assistirem a uma missa na Igreja Matriz, onde os aguardava uma guarda de honra constituída pelos alunos das escolas feminina e masculina.
Continuei o meu passeio até à igreja. Já conhecia o bonito frontespício com as suas duas colunas, uma de cada lado da porta. Trata-se de uma igreja barroca, datada de 1719.
No seu interior fui surpreendido com esplêndidos altares em talha dourada do século XVIII, recentemente recuperada. Do lado direito do Altar Mor está S. Pedro, padroeiro da freguesia. Perto dele, a imagem de Santa Comba, ligeiramente rodada para o público. Segura o livro na mão esquerda, mas falta-lha a palma na mão direita. Também chamou a minha atenção o brasão que se encontra por cima do Altar Mor.
Demorei-me na igreja, mas ainda tive tempo de subir ao Calvário, ver a chaminé dos Ochoas, visitar a Casa das Rendas e fotografar o último cruzeiro quando saí da aldeia em direcção à Trindade.
O tempo passou sem eu dar por isso! Já era muito tarde. Calculei como hora provável de chegada a Vila Flor, as 21 horas, não me enganei muito.
Não me cansei de Santa Comba. No dia seguinte voltei, de carro, com a família, à descoberta de outros atractivos que aldeia oferece. Deles falarei noutra oportunidade.
Quilómetros percorridos neste percurso: 43
Total de quilómetros de bicicleta: 1093
Total de fotografias: 22 925
Nota: a fotografia VilaFlor496 não é de minha autoria. Trata-se da reprodução de uma existente no Museu Municipal Berta Cabral.

Exposição de Artesanato e Pintura

Na Galeria de Exposições do Centro Cultural de Vila Flor está patente, desde o dia 11 de Maio e até ao dia 4 de Junho de 2007, uma Exposição de Artesanato e Pintura, de Freixiel. A variedade é muita, sendo possível apreciar trabalhos em madeira (imagens de santos, presépios, máscaras, miniatura de alfaias), em ponto de Arraiolos (tapetes, painéis e almofadas), em ponto cruz e rendas. Estão também expostas algumas pinturas.

A maioria dos trabalhos foram executados nos ateliers do Projecto Aldeias Vivas que tem sido desenvolvido na aldeia.

A variedade, o gosto, mas também o facto de se tratar de artesanato do nosso concelho, merece uma com certeza uma visita.

13 maio 2007

Freguesia Mistério 4

Há um mês que se vota na Freguesia Mistério 3. Houve 33 votos e, desta vez, com uma acentuada tendência para a resposta correcta que é Vilas Boas. Na minha opinião, esta tendência, deve-se ao facto de haver bastantes pessoas de Vilas Boas a votar (obrigada).
Curiosamente há votos bastante dispersos. Noutras freguesias também conheço Relógios de Sol, mas poucos. Pode ser que numa outra fotografia Mistério, estes voltem a aparecer.
Os votos distribuíram-se da seguinte forma:
Assares (4) 12%
Benlhevai (1) 3%
Candoso (1) 3%
Frexiel (2) 6%
Lodões (3) 9%
Mourão (1) 3%
Nabo (1) 3%
Samões (1) 3%
Sampaio (2) 6%
Trindade (2) 6%
Vale Frechoso (1) 3%
Vila Flor (1) 3%
Vilarinho das Azenhas (1) 3%
Vilas Boas (12) 36%

A nova Freguesia Mistério está representada numa fotografia tirada na igreja. A fotografia foi tirada já durante o mês de Maio numa bonita igreja do séc. XVIII. Por detrás desta imagens, o Altar Mor é muito belo, dos mais bonitos que já vi pelo concelho. Não se trata de miniaturas, é difícil não reparar nelas. O Cristo na cruz tem mais de 2 metros de altura.
Em que freguesia podemos encontrar a igreja onde estão estas imagens?


Participem votando...
(Na margem direita do Blog)

12 maio 2007

em Santa Comba da Vilariça


Hoje a “viagem” foi a Santa Comba da Vilariça. Pelo caminho aproveitei para fotografar Roios, Lodões e Assares. Também não esqueci os insectos e as pequenas flores que crescem nas valetas e que, pouco a pouco, se despedem de nós, até à próxima Primavera.
O dia esteve bastante nublado e ventoso, mas teve algumas abertas, que deram mais brilho às belezas naturais que encontrei.
Em Santa Comba, visitei a igreja. Preparava-se o andor de Nossa Senhora de Fátima para a procissão das velas do 13 de Maio.

11 maio 2007

Assares

Assares é uma pequena aldeia quer em número de habitantes quer na área que ocupa. A sua pequena dimensão contrasta com a sua antiguidade havendo evidências da presença do homem nestas paragens há milhares de anos. As insculturas na rocha da Cova da Moura ou o Santuário Calcolítico do Cabeço da Mina são evidências conhecidas e importantes até no panorama pré-histórico português.
Situando-se no fértil Vale da Vilariça, somos levados a considerar que este local sempre tenha sido apetecível para a actividade humana.
Da estrada N102 sai a Avenida 25 de Abril, que em linha recta, nos conduz ao centro da aldeia. É perto de um quilómetro, sempre a subir, tendo que se sair da aldeia pelo mesmo caminho. Essa foi talvez uma das razões para eu ainda não ter visitado Assares como ele merece. A minha ideia sempre foi entrar na aldeia, por Oeste, descendo as montanhas em direcção ao vale, à Ribeira da Vilariça. Consultando vários mapas on-line não consegui vislumbrar um trajecto completo. Havia duas alternativas: partir de Roios em direcção a Norte, atravessar algumas quintas e descer depois a Assares, ou partir de Vale Frechoso em direcção a Assares. Optei pela primeira hipótese.
Cheguei a Roios, segui em direcção à igreja e depois cortei à direita um pouco ao acaso. O dia estava agradável, quente, luminoso, com algumas nuvens. É muito agradável passear por estes caminhos nesta altura do ano!
Os meus pontos de referência eram uma pequena barragem perto da Quinta de Santo Estêvão, a Quinta do Prado e o marco geodésico do Fiolho. Parecia-me que poderiam existir algumas quedas de água na ribeira, por cima da Quinta do Prado de Baixo.
Tudo correu bem até atingir a Fraga do Castelo. Atrás de mim, Roios ia ficando pequeno e à minha frente apareceram algumas ravinas agrestes, rochosas. Quando avistei a pequena barragem as coisas complicaram-se. Foi difícil seguir um caminho que me levou à Quinta do Prado e a uma grande mata de eucaliptos. Aqui caminhos não faltam, o difícil é tomar as opções certas. Depois de andar algum tempo aos esses, subi uma íngreme encosta que me levou ao marco geodésico, que se eleva a 503 metros de altitude. Já tinha bebido toda a água que transportava, mas a beleza do vale fez-me esquecer a sede.
Fiquei ali, no alto, fotografando Lodões, Assares, a Trindade e todo o vale em redor, desde a Serra de Bornes, até à Foz.Comecei a descida para o vale em direcção a Assares. O declive é muito acentuado, ainda bem que era a descer. Entrei em Assares pela Rua da Peneda. A primeira coisa que me surpreendeu foi a quantidade de rolas (Streptopelia decaocto) que havia a cantar por toda a aldeia. Contavam-se às dezenas! Procurei uma fonte. Depois de saciar a sede procurei a capela. É muito sóbria e estava fechada. Por cima da porta tem gravado o ano de 1977. Esta capela foi utilizada durante muito tempo como igreja porque esta ultima se encontrava em mau estado de conservação. Actualmente a igreja parece estar recuperada. Pelo menos o espaço circundante está todo calcetado, arranjado e com candeeiros. Não é necessário muito tempo para percorrer todas as ruas de aldeia, voltando sempre à Rua da Praça. O cruzeiro tem a data de 1943. Perto encontra-se também um fontanário e os tanques públicos, no Largo do Fontanário.
Poucas pessoas encontrei pelas ruas com quem pudesse meter conversa. A tarde estava no fim, o sol só já iluminava o outro lado do vale, havia que regressar a casa.
Desci à N102 (IP2) e pedalei rapidamente até Lodões. Aqui todos os cachorros parecem ter raiva de mim! Enquanto subia até Roios, foram descendo as trevas e as raposas já rondavam a aldeia.
Cheguei a casa muito tarde, foi um longo passeio. No essencial cumpri o percurso desejado. Conheci novos caminhos, subi a mais um marco geodésico e visitei Assares. Só faltava um bom banho, o jantar e muita água.

Quilómetros percorridos neste percurso: 34
Total de quilómetros de bicicleta: 1050
Total de fotografias: 22 270

09 maio 2007

Volta completa, com Assares


Hoje a viagem foi até Assares. Apesar de já te passado várias vezes junto Assares, ter subido um pouco em direcção à aldeia, a verdade é que nunca (na minha vida) tinha estado no centro de Assares.
Com esta visita completa-se uma volta ao concelho. Nalguns locais já estive três ou quatro vezes, noutros (poucos) só ainda estive uma vez.
Já somei mais de 1000 quilómetros (só em bicicleta) e mais de 20 mil fotografias.
Escolhi um percurso muito pouco convencional, para não repetir, sempre por caminhos desde Roios até Assares, aproveitando as cores da Primavera de uma tarde algo nublada.
O resultado foi bom, em breve mostrarei mais fotografias.

Benção

Bendito
o sol que beija
o rosto de crianças
nuas em busca do que não tiveram.

Benditas
as montanhas
que fazem cópula com a noite,
e ficam virgens mais belas
que as estrelas quando amanhece...

Benditas
as cumeadas
que dormem
em berços de névoa mansa
com lençóis de neve.

Benditos
os rios, que levam
as serras e os vales,
e benditas as árvores,
a toalha do seu banho...

Bendito
o mar,
fonte de reserva
quando a água na terra se acabar.

Benditas
as florestas
que escondem a liberdade
dos animais...

Bendita
a Natureza
Espelho de beleza
do Criador!

Bendita
a Dor
quando nela há o prazer de um tormento
maior que o Amor...
Benditos...

José Nascimento Fonseca*
Notícias de Mirandela, 25-02-1961

*José do Nascimento Fonseca nasceu no Nabo a 22-12-1940 e morreu a 27-07-1983.
Encontrei alguns poemas seus, que foram publicados em jornais, no museu. Gostei deles. Senti que as suas palavras podem completar(-se com) as minhas fotografias. Será com prazer que os transcreverei para este fórum, também como uma riqueza de Vila Flor.
A fotografia foi tirada em Samões, dia 28 de Abril de 2007.