24 abril 2011

Domingo de Páscoa

O dia da Ressurreição surgiu radioso. Se é aceitável achar-se colaboração do sol nas festas sagradas da cristandade, eu direi que o sol é diferente em certos dias festivos, o ar mais compassivo, a temperatura mais acariciadora. Como que se nota perplexidade nos elementos, o ar suspende a respiração, a Natureza pasma-se, recolhendo-se em quietudes de seivas para dar sua oração a Quem na cria. Há Páscoas com tempestades de chuva, de manhã à noite. Mas isso não conta.
Diz-se apenas que o sol quando vem à festa, fá-lo integrado conscientemente na solenidade. Só assim se compreende a bênção do céu sobre os estandartes encarnados da procissão que sai da igreja matriz após a missa, e desce a Rua da Igreja, sobe a Praça com garbo e impecável organização; depois, vai a Santa Luzia, e regressa pela Rua de S. Martinho, Estrada e Largo do Município. A bênção era lançada pelas pombas, que eu via sempre, ébrias de alegria, rodopiando no fluido azul da cúpula, a alvejar inocências ao olhar risonho do astro da vida, cioso da prodigalidade com que distribui a luz em que plantas e animais satisfazem a ânsia de alegria e cor!
As festas de igreja correram como se desejava. Os rapazes do Grupo trabalharam exaustivamente, dia e noite. Emagreceram, perderam interesses. Mas cumpriram brilhantemente a tarefa que se propuseram.
À porta traseira da sacristia, estavam eles, pela tarde, empenhados numa partilha difícil: a divisão do círio pascal em partes iguais, troféus bentos para guardar nos cantos dos oratórios ou sobre as peanhas dos santos caseiros. E à noite, no monumental teatro, lá se apresentaram, frescos como alfacers, desempenhando com a graça mais subtil os papéis de «O Cabo d'Ordes», que arrancavam trovoadas de riso na plateia.
O Aureliano lá estava; e como se falara em cena das «Danças do Príncipe Igor», tomou nota e nessa mesma noite escrevia para o Porto a pedir os discos.

Excerto do livro Paisagens do Norte, de Cabral Adão.
Fotografias: Vila Flor

22 abril 2011

Quarta, quinta e sexta-feira santa

Quarta-feira de trevas. Era a perdição do rapazio por causa das matracas. Não havia bicho careto que não fizesse umas matracas. Com três tábuas, seis furos e um fio, era um aparelho feito, pronto a matracar! Dumas me lembra, que o meu sapateiro apresentou numa ocasião, com perto dum metro de comprido. E o Henriqueto, assim lhe chamavam, era marau! Metias-as debaixo do capote, lá mesmo ao fundo da igreja. E durante os ofícios, sacava delas... tracla tracla tracla... Quem sabia lá que era o Henriqueto que assim prevaricava?! Fartava-se de gozar, com um risinho amariolado. O pior foi quando o Padre António descobriu! Se o sapateiro apanhou ou não com elas, já me não lembra. Mas não mais se tomaram a ouvir!
Quando chegava o fim dos ofícios e os padres batiam palmadas nos livros, oh barulho ensurdecedor! E quem é que acabava com aquela música!? Um desaforo, as tais matracas.
As solenidades religiosas de quinta e sexta-feira santa decorriam com o máximo relevo que a liturgia prescreve, não faltando um único preceito ao desenrolar das cerimónias, mais rigorosas e luzi das que as congéneres das grandes cidades, saiba-se.
Ninguém se eximia ao uso dum sinal de luto, por pequeno que fosse, fato, gravata ou singelo peitilho negro. O ar de todos era compungido ou simplesmente respeitoso. A
igreja enchia-se de chales e fatos pretos, os dois dias eram guardados, a vida inteira vivia o drama da Paixão, como desgosto que pertencesse a cada família habitante, quer de jornaleiros quer de ricaços. As ruas eram juncadas de alecrins e arreçãs, nome nortenho do rosmaninho.
Após uma gestação de tanto rigor, não admira que as aleluias saíssem esfuziantes, atingindo o delírio, mesmo, nas ruas, onde os Judas estoiravam, casacas esventradas vertendo palhuço e cinza pelo rombo. Os sinos tocam até lhes cair o badalo ou racharem, como por vezes aconteceu. O rapazio vai em bando pelas portas dos abastados a pedir rebatinha, que as meninas de casa lançam em tabuleiros: nozes, figos secos, amêndoas ou moedas de tostão, gozando o teatro dos atropelos, com a fúria de cada um apanhar a maior parte. E os fomos pejavam-se de empadas (folares) e bolos doces, obrigatórios na ementa do domingo de Páscoa.

Excerto do livro Paisagens do Norte, de Cabral Adão.
Fotografias: Cerimónias da Semana Santa 2011, em Vila Flor.

21 abril 2011

Domingo de Ramos

 "Em minha casa, os ramos eram feitos de oliveira com três camélias e uma peneirinha de alecrim a enfeitar, atadas com laço de seda. E da palmeira do jardim, fazia-se larga distribuição de palmas enormes pelos obreiros. A missa, meia igreja estava repleta de ramos, a mór parte muitos altos, fachoqueiros de dois e três metros, num agitar constante como floresta basta fustigada de sueste. Primeiro, ondulação,branda; depois, brandir nervoso, como chap chap era tão notório que o Padre António, santo velho! vinha de lá, da lá, da sacristia e desatava às noladas com o breviário na cabeça dos que apanhava à mão. «Para que tivessem respeito, que se lembrassem do lugar onde estavam. Depois, na rua, que brincassem à vontade. Ali, não!».
A missa decorria numa unção de beleza e simplicidade, de que o véu espesso das minhas saudades não me deixa já conceber qualquer descrição. Sei que nesses dias tinha o coração em festa, sentia-me inteiramente feliz, o meu pensamento era de azul, o mais garrido azul que o céu da minha terra mostrava naquelas manhãs de Primavera pascal. Os cânticos das Filhas de Maria, o órgão, os tapetes «ricos», um dos quais já quiseram roubar para o Museu Abade de Baçal, as opas de seda «moirée» dos Irmãos do Santíssimo, o incenso, as fatiotas esticadinhas... onde, mais encanto e singeleza?!...
Às noites, ensaiava-se o espectáculo que o Grupo levava à cena no domingo de Páscoa: duas comédias, orquestra, variedades, monólogos e cançonetas. O teatro era em primeiro andar, por baixo um lagar de azeite e por cima telha vã. A iluminação era de acetilene, assentando o gasómetro gerador num cantinho do andadouro dos bois. O páleco, como lhe chamava um carola daquelas festas, lá estava, regular, vamos andando. Ribalta, caixa do ponto, gambiarras, bambinelas, cortinas, dois cenários, camarim, pano de boca, de enrolar, enfim... um palcozinho! A plateia enchia-se na véspera com cadeiras pedidas ao Club, ao tribunal, e casas particulares de mobílias mais abonadas. Ao todo, quê? trezentos lugares, talvez."

Excerto do livro Paisagens do Norte, de Cabral Adão.
Fotografias: Domingo de Ramos em Zedes (Carrazeda de Ansiães) e em Samões.

Prece


Ergue bem alto a Tua Mão direita,
A que perdoa, afaga e anuncia.
A que apartou as trevas e o dia,
Com o gesto breve duma luz perfeita.
Não a suspendas sobre a fronte estreita.

O Infinito nunca se adia.
Venha meu espaço a ser, se espaço havia,
O fecho de capela imperfeita.
Senhor, na hora exacta o golpe certo!

E não pressinta nem perceba o fim
No raio, oculto, cada vez mais perto.

Que o pano desça a encerrar o drama.
E Tua Voz se faça ouvir em mim
E ao dizer o meu nome, apague a chama!

Poema de João de Sá do livro Vila À Flor dos Montes (2008).
Fotografias: Celebrações da Semana Santa 2011, em Vila Flor.

17 abril 2011

Semana Santa (Vila Flor)

Realizou-se hoje, em Vila Flor a via sacra, integrada nas celebrações da Semana Santa. Os quadros vivos representando partes da final da vida de Jesus Cristo são momentos de grande emoção e também alguma espetacularidade, sendo muitos os que se deslocam a Vila Flor, para integrarem a procissão ou somente para assistirem às representações.
Este ano houve algumas diferenças em relação ao ano passado da qual destaco com enorme mérito o grupo coral que abrilhantou os pontos mais altos da Via Sacra em frente aos Paços do Concelho.
As fotografias não registam o som, mas fiquei positivamente surpreendido com a qualidade do grupo coral. Os figurantes também estivem muito bem e ouve momentos de muita emoção.
Mais tarde mostrarei mais fotografias.

Peregrinações – Igreja da Santíssima Trindade (Trindade)

A primeira peregrinação de 2011 aconteceu no dia 9 de Janeiro passado. Além de ser a primeira do ano, houve outras características que a tornaram bastante singular.
A escolha pela igreja da Santíssima Trindade deve-se a vários factores: nunca visitei esta igreja; a Trindade é uma das freguesias mais distantes da sede de concelho e ir até lá a pé era um desafio interessante.
Parti um pouco mais cedo do que o habitual, sabia que seria um percurso difícil e todo o tempo seria pouco. Quando Vila Flor acordou já eu seguia Facho acima, cheio de energia. Ao longe estouravam tiros por todos os lados. Era Domingo, dia de caça ao tordo. Embora já me tivesse aventurado noutras caminhadas aos Domingos, esta pareceu-me particularmente perigosa, principalmente quando me aproximava das aldeias. Apanhei enormes sustos em Roios, em Vale Frechoso e em Benlhevai. Em Vale Frechoso, perto do campo de futebol, senti mesmo os chumbos caírem à minha volta o que me levou a prometer não voltar a sair em dia de caça.

O tempo estava chuvoso e havia muito nevoeiro. Por trás da serra, a caminho de Roios, a paisagem estava cheia de manchas de nevoeiro e os caminhos ganhavam contornos únicos.
Apesar de estar seguro do caminho a seguir até Benlhevai, já percorrido numa caminhada no mês de Dezembro, o nevoeiro não me deixava orientar convenientemente. Conheço praticamente todos os montes e marcos geodésicos. Esses pontos mais elevados são referências que sempre me servem de orientação, qualquer que seja o percurso que faça. Com o nevoeiro, não me podia orientar por eles. Por outro lado, o nevoeiro funcionou como elemento chave em quase todas as fotografias que fiz nesta caminhada. Como sempre o equipamento fotográfico que levava era mínimo e, com a chuva, nem esse podia usar à vontade.
 Para me proteger da chuva vesti um impermeável que funcionou às mil maravilhas contra a chuva mas provoca imenso calor. O percurso feito está cheio de subidas e descidas. Quanto ao calçado, não havia nada a fazer senão sentir a água e a lama e esperar que os pés aguentassem os maus tratos até ao fim do trajecto.  Também tive dificuldade para ultrapassar alguns ribeiros.
 Sentia-me quase um militar num cenário de guerra, a que não faltavam os tiros por todo o lado. A situação mais assustadora vivi-a antes e depois de Vale Frechoso. Mesmo na aldeia, não sei como as pessoas aguentam tanta disparo em redor.
Antes de chegar a Benlhevai, no meio do nevoeiro realizei algumas fotografias interessantes nos pinhais ou com sobreiros. A partir desse local a bateria da máquina fotográfica começou a fraquejar e tive de a economizar no resto do percurso.
 Em Benlhevai tive que pedir ajuda sobre o caminho a seguir. Entrei demasiado na aldeia, quando a solução era muito simples. Basta contornar pelas traseiras as instalações dos cogumelos e seguir sempre em frente. O caminho, que até nem é mau em condições normais, estava completamente enlameado, mas já pouco me afectava. Segue quase paralelamente à estrada nacional e é um bom recurso para fazer também em BTT. Espero utilizá-lo mais vezes.
A certa altura cruzei-me com o que será o IP2. A passagem superior ainda estava a ser construída e tive que descer ao traçado da estrada para seguir em frente.
 Já perto das duas da tarde entrei na aldeia da Trindade. Os restos da fogueira de Natal ainda ocupavam o largo em frente à igreja. Chovia copiosamente e cheguei em tão mau estado que achei melhor não entrar na igreja. Estava a decorrer a Eucaristia dominical que terminou pouco depois.
Estava terrivelmente cansado e encharcado, pelo que me limitei a esperar que me fossem buscar para regressar a Vila Flor de automóvel.
 Foi uma caminhada extenuante, quer pela chuva, quer pelo nevoeiro, quer pelo perigos dos caçadores. Gostei do percurso que segui e espero voltar a fazer essa caminhada. São 18 quilómetros só por caminhos, que, apesar de tudo, me proporcionaram momentos e fotografias interessantes.

16 abril 2011

Peregrinações – Ruínas da Nossa Senhora da Esperança (Benlhevai)

Com o calor que se faz sentir nestes dias é um pouco arrepiante falar das peregrinações realizadas no mês de Dezembro e seguintes, mas foram momentos que merecem a pena ser recordados.
No dia 19 de Dezembro de 2010, Domingo a caminhada foi a Benlhevai, mais concretamente à capela de Nossa Senhora da Esperança. É um lugar onde gosto de ir e que já visitei por várias vezes desde 2007.
O dia estava gélido e no alto da serra do Facho havia muito gente nas árvores. Aliás foi na neste lugar vi durante muitas vezes sinseno, coisa rara de observar na vila. Infelizmente uma das coisas que se pode encontrar também atrás da serra é lixo, espalhado no meio do pinhal, ao longo dos caminhos.
À passagem por Roios foi o encontro com um rebanho de ovelhas e com o seu pastor. Procurar qual o melhor caminho a seguir é uma boa desculpa para meter conversa. É quase certo que quando perguntarmos qual é o melhor caminho, nos vão indicar a estrada. Nos dias de hoje todos procuram o caminho mais rápido porque vivemos numa época em que tudo é vivido à pressa, que não é o que se pretende nestas peregrinações pelo concelho.
Subi perto do marco geodésico do Maragato, sem grande tempo para paragens. Dali avistei Vale Frechoso, mas Benlhevai não se vislumbra. Os ribeiros levavam um caudal considerável e não foi fácil ultrapassa-los nos caminhos, sendo necessário procurar locais mais apropriados, mas com mais silvas.
Chaguei a Vale Frechoso quase a horas da Eucaristia dominical. Depois de um café quentinho num bar, foi surpreendido pelo trabalho realizado na fonte junto à igreja. Conhecia essa fonte de anteriores percursos mas nunca a tinha visto coberta com azulejos. A fonte tem gravado o ano de 1933 mas não tinha grandes atractivos. Foi completamente coberta de azulejos (em azul e branco) que representam cenas rurais. Parece-me que foi beneficiada e é mais um ponto de interesse na aldeia. Pode ser que daqui a 50 anos outros peregrinos venham a falar dela como património histórico...
Chamou-me a atenção a árvore de Natal feita com garrafas plásticas pelas crianças do jardim-de-infância da aldeia. Quando apreciava a obra, apercebi-me que havia movimento no interior da antiga escola primária. Tratava-se de um grupo de jovens, com o seu mestre, que ultimavam algumas peças musicais para apresentação num espectáculo que iria acontecer dali a poucos dias em Vila Flor. Fomos presenteados com uma actuação em primeira mão e ficámos bastante impressionados. Os jovens manejavam as violas e os restantes instrumentos com muita confiança. As vozes também eram agradáveis.
Impelido pelo relógio reiniciei a caminhada em direcção a Benlhevai. Foi a primeira vez que fiz este percurso por caminhos. Mesmo das muitas vezes que por aqui passei em BTT nunca me tinha aventurado nesta direcção. Não segui o caminho planeado mas levou-me na direcção certa. Mais uma vez, ao atingir um ponto mais alto, o gelo e o frio me atormentou com mais intensidade. Benlhevai não estava longe.
Depois de alguns quilómetros por entre pinheiros, sobreiros e castanheiros atingi Benlhevai junto à estrada nacional. Desci ao centro da aldeia por um caminho paralelo ao acesso principal. A capela, destino final da peregrinação, encontra-se fora da aldeia, num pequeno promontório de onde se tem uma bela vista em direcção às casas, mas também em direcção ao vale. Quando saí da aldeia em direcção à capela fiquei espantado! Não se tratava mais de uma capela em ruínas!
Quando estive no local, em Setembro de 2007, tive de romper caminho por entre montes de silvas para fazer algumas fotografias no interior da capela. Quando aí voltei, algum tempo mais tarde, o interior tinha sido limpo e as paredes arranjadas. Agora a capela já tinha telhado, porta e até uma bonita cruz símbolo do sagrado. Está muito bonita.
Fiquei muito satisfeito por verificar que nem tudo se perde. A Junta de Freguesia e a comissão fabriqueira tiveram a sensibilidade para recuperar a capela e foram mais longe: tiveram o bom gosto de não se deixarem levar pela tentação de fazerem bonito descaracterizando o antigo. Fizeram um bom trabalho.
Ao que julgo saber, a capela ainda não foi utilizada depois de realizadas as obras. Estou certo que vai voltar a ser um local de culto e será também um local de muitas recordações para todos os que nela assistiram a muitas celebrações.
O regresso a Vila Flor foi de automóvel. A tarde já se tinha iniciado Há bastante tempo e a vontade ao almoço era enorme.
Foi uma aventura que abriu horizontes e mostrou que é possível fazer caminhadas mais longas e, assim, atingir qualquer ponto do concelho.

GPSies - Vula_Flor_Benlhevai

14 abril 2011

Freguesia Mistério 46

A Freguesia Mistério n.º45 foi bastante participada! Sei que a resposta não era fácil e muitas pessoas responderam à sorte ou pelo conhecimento da distribuição das rochas no concelho. As 37 pessoas que participaram distribuíram os seus palpites da seguinte forma:
Assares (2) 5%
Benlhevai (1) 3%
Candoso (18) 49%
Carvalho de Egas (5) 14%
Freixiel (2) 5%
Mourão (2) 5%
Sampaio (1) 3%
Seixos de Manhoses (2) 5%
Trindade (1) 3%
Vale Frechoso (2) 5%
Vila Flor (1) 3%
Quando se fala em fragas em forma de ovo vem logo à ideia a famosa Fraga do Ovo em Candoso. Ela é realmente colossal, e, acima de tudo, está bem situada, junto de uma estrada nacional. Muitas outras igualmente interessantes estão em locais de mais difícil acesso e são, por norma, mais pequenas. A que aparece na fotografia da Freguesia Mistério fotografei-a no dia 12 de Dezembro entre Samões e Carvalho de Egas. Orientando-me pela Carta Militar, devo dizer que se encontra no termo de Samões, embora mais próxima de Carvalho de Egas. Como podemos ver pelas respostas, ninguém indicou Samões como localização da fraga em questão!
O novo desafio são mais umas alminhas. Comecei já há algum tempo a falar deste património religioso que existe espalhado por várias aldeias do concelho. Mostrei algumas fotografias, outras estão guardadas à espera de uma oportunidade. Estas alminhas que mostro agora estão junto a uma das mais importantes estradas nacionais que atravessam o concelho. Talvez porque os carros passam com alguma velocidade, estou certo que poucos reparam nelas, mas já aí devem estar há bastantes décadas.
Em que freguesia podemos admirar estas alminhas?
Participe, dando o seu palpite (na margem direita do Blogue).

13 abril 2011

Peregrinações – Igreja Matriz de Santa Catarina (Carvalho de Egas)

Carvalho de Egas é aqui tão perto que não há percurso de BTT ou caminhada que parta na direcção poente do concelho que não passe por esta aldeia. No entanto, desde 2007 que tento visitar a sua igreja matriz, orago de Santa Catarina, mas nunca tive sucesso. No dia 12 de Dezembro de 2010 tentei a minha sorte mais uma vez.
O percurso até Santa Cecília, passando por Carvalho de Egas, é o meu preferido quando quero partilhar com alguém as emoções de descobrir o concelho, seja de bicicleta, seja a pé. Já o fiz inúmeras vezes com crianças, jovens e adultos, é muito agradável.
No dia 12 parti sozinho, mais uma vez, em direcção a Carvalho de Egas. Pelo facto de estar sozinho, decidi dar um pouco mais de adrenalina ao percurso, desviando-me de todos os caminhos e estradas que normalmente utilizo. Segui uma rota normal até Samões, mas depois percurri os poucos quilómetros que separam esta aldeia da de Carvalho de Egas, pelos montes, ao estilo de um caçador (mas de imagens).
Sempre que passo na estrada nacional, entre Samões e Carvalho de Egas, o meu olhar foge em direcção a Norte perdendo-se entre rochas, pinheiros e carvalhos sem fim. Mesmo junto à estrada começa um vale cheio de esculturas em granito, daquelas que a própria natureza esculpiu, que perduram e assim hão-de ficar até ao final dos tempos (quem sabe?). É uma zona de giestas e arçãs rasteiras, bem mais fácil de percorrer do que as que se existem em zonas xistosas do concelho, onde as estevas crescem e rasgam a roupa (e a carne) a quem se aventura no seu reino.
Depois de Samões são algumas cristas de quartzitos que afloram nos pontos mais altos e que chamam a atenção. Depois, é o granito que domina, quase até ao Douro, já no concelho de Carrazeda de Ansiães.
É algures nesta zona onde apenas resistem alguns castanheiros e amendoeiras que encontrei inspiração para fotografar algumas rochas curiosas. Este lugar assume nomes como Carvalhal, Barreiro e Chã. Não encontrei nem uma, nem duas mas mais de meia dúzia de rochas dignas de serem mostradas.
Pouco tempo depois cheguei a Carvalho de Egas. O meu destino era a pequena igreja matriz que tem o mais melodioso relógio do concelho. Mais uma vez, estava fechada.
Esta igreja tem gravado na ombreira da porta do frontispício "FESCE ESTA OBRA NO ANNO 1772 SENDO VIGARIO LVIS ESTEVES". Esta será o ano da reconstrução, uma vez que a original poderá ser mais antiga.
Apreciei com atenção todo o exterior. O painel de azulejos policromáticos que representam Santa Catarina tem duas curiosidades: inicialmente estava identificado como sendo Santa Filomena; os quatro azulejos que formam a linha superior estão trocados. Seria preciso rodar o conjunto 180 graus para ficarem certos! Esta curiosidade que se encontram noutros painel de azulejos do concelho!
Este painel é bastante enigmático porque um dos símbolos identificativos de Sta Filomena é uma âncora e o de Sta Catarina é uma roda (onde foi martirizada). Nenhum deles aparece no painel. A palma e a espada são símbolos associados a Sta Catarina.
Para regressar a Vila Flor segui pela Rua da Atafona (seria interessante saber porque se chama assim).
Um pouco mais acima cruzei-me com as obras do IC5. Verifiquei com agrado que está quase concluída uma passagem inferior que irá dar seguimento ao caminho. Por esta via se chega rapidamente ao complexo da albufeira Camilo Mendonça, e tudo em seu redor.

07 abril 2011

Saudade!

A minha terra é uma sede de comarca do distrito de Bragança, chamada, por mercê de vontade real, Vila Flor.
Se «quem o feio ama, bonito lhe parece», que acontecerá com quem ama o bonito? Excede tudo quanto se possa congeminar em alegria íntima, em plenitude de encanto, em sorrisos interiores de aprazimento. Amar a minha terra é amar uma flor, o fulcro da mais bucólica poesia, o molde da beleza, a cor, a graça, a doçura!
Ainda me chegam a cada passo os perfumes da serra, aquela vertente do Facho que se avista logo do Alto de Espinho, no dorso do Marão, divisório e austero.
São estonteantes as emanações do mar amigo, à beira do qual me fiz enteado, por felicidade do destino. Eu já me acostumei a estas paisagens aliciantes, que o mar recorta em quebradas de capricho, cauda verde-clara a brincar permanentemente com os panos verde-escuros da nossa costa arrábida. Mas quando me extasio pelos altos de São Filipe ou de São Luís, gozando a delícia de panoramas duma nobreza sem par; quando me perco, como um ponto num todo, pelo areal imenso e miudinho da Tróia, procurando nos conchais as peças mais bizarras; quando me embriago na alegria picante dos laranjais da beira-Sado, outros mares espumados de folhagem escura, onde as bolas de oiro sorriem aos olhos, pontuando a fortuna do apetite em haustos de cor e fragância; quando os crepúsculos de Outono me prostam numa adoração de hossanas, embebendo-me a alma com melancolias de ametista e oiro... - ah! então a voz do berço vem-me bater aos ouvidos, como um ressaibo de quem sofre ciumes! E que faço eu, meu Deus? Que faço?
Abro o coração e releio as colecções das minhas lembranças. É então que eu julgo sentir as tais nevralgias da alma que nós somos atreitos. É então que eu julgo sentir - saudades!!!

Excerto do livro Paisagens do Norte, do Dr. Cabral Adão, publicado em 1954 e reeditado em 1998 pela Câmara Municipal de Vila Flor.
A fotografia foi-me oferecida por um dos filhos do autor do livro, a quem muito agradeço.