29 novembro 2010

Cogumelos - Canários (Tricholoma equestre)

Na sequência de um artigo postado há alguns dias sobre outro cogumelo, as sanchas ou pinheiras, hoje venho falar de uma espécie bem mais polémica: o canário, tortulho, miscaro, etc.
Sinónimos: Agaricus equestris, Tricholoma flavovirens, T. auratum.
Características: o chapéu convexo, passa depois a alargado e recurvado, tem um diâmetro de 5 a 10 cm, vai do amarelo-azeitona ao verde-azeitona e chega a ser avermelhado ou castanho no centro. A
carne branca, que pode ser um pouco amarelada por baixo da cutícula do Chapéu, tem um cheiro a farinha; as lâminas apertadas e amarelo-enxofre estão ligadas ao pé de forma abaulada. Os esporos elíptícos medem 6 a 8 x 3 a 3,5 µm a esporada é branca. O pé cilíndrico, que no estado jovem é frequentemente abaulado, tem 3 a 7 cm de comprimento e 1 a 2 cm de espessura; é amarelo-enxofre (podendo ser esbranquiçado perto do chapéu) e por vezes coberto de escamas isoladas castanhas.
Habitat: Espécie que se encontra sobretudo em florestas coníferas com solo arenoso e nestas, especialmente sob pinheiros; os esporóforos surgem de Outubro até ao Inverno.
Valor: Cogumelo comestível de elevada qualidade, cuja cutícula deve ser esfolada antes de ser preparado.

Fonte: adaptado do Guia dos Cogumelos (Dinalivro)

Durante muitos anos esta espécie foi muito apreciada e até vendida em grandes quantidades e a bom preço. A partir de certa altura verificaram-se algumas intoxicações, vindo a ser considerado tóxico.  O livro que cito acima, publicado em 2006, não sendo nenhuma obra de referência na matéria, considera esta espécie "Cogumelo comestível de elevada qualidade, cuja cutícula deve ser esfolada entes de preparado".
Há muita informação na Internet sobre os problemas causados por esta espécie. Ao que parece foi em 2001 que passou a ser considerado tóxico causando uma doença denominada rabdomiólise.
É uma espécie com alguma abundância no concelho, nos pinhais, preferindo solos ácidos e arenosos.
Devem estar a perguntar-se se eu realmente como este cogumelo. Sim. Desde criança que sempre o comi. No corrente ano já o comi várias vezes.
Dado que nunca se sabe qual vai ser a reacção de determinado organismo, ou mesmo quando ingeridas quantidades consideráveis, o mais seguro é NÃO COMER ESTA ESPÉCIE. Embora seja saborosa, há coisas em que arriscar uma vez já é demais.

27 novembro 2010

Peregrinações – Nossa Senhora de Lurdes (Vale Frechoso)

No dia 7 de Novembro levantei-me cedo. Objectivo: mais uma Peregrinação, desta vez a Vale Frechoso, mais concretamente à capela de Nossa Senhora de Lurdes.
Não foi necessário programar muito o trajecto, é um percurso que, com algumas variantes, já fiz várias vezes em BTT. São pouco mais de 18 quilómetros, por montes e vales, apenas pisando alguns metros de estrada alcatroada na passagem por Roios.
O primeiro desafio é muito custoso, mas o fresco da manhã ajudou. Trata-se de subir à serra através da Rua do Caniço. Até para um veículo de todo o terreno é complicado, tal é o declive.
Ainda não tinha perdido o casario da vila de vista e já avistava bonitos medronheiros carregados de frutos maduros. O medronheiro é uma espécie arbustiva bastante curiosa, e nesta época tem frutos coloridos mas também está repleto de flores pequenas e brancas.
Com a extensão que tinha para percorrer, sabia que não me podia descuidar muito, e não desperdiçar tempo foi uma das minhas preocupações nesta caminhada.
Descer para Roios, atrás da Serra, além de ser a descer é um percurso agradável pelo colorido do Outono que já se notava nas cerejeiras, nos castanheiros e até nas videiras, parte delas já podadas. Os arroios, a montante de Roios, já levavam alguma água, mas pouca.
Depois de seguir durante o caminho que sobe a encosta em direcção ao monte onde se encontra o marco geodésico do Maragoto, onde já estive por diversas vezes, larguei-o e segui à direita. Esta é uma das zonas mais agrestes e que conheço no concelho. Há poucos campos agrícolas e as estevas de mais de metro e meio de altura, ocupam uma grande extensão. Alguns dos montes foram limpos para a plantação de floresta. No borda do caminho vi a maior concentração de cogumelos venenosos que já vi na minha vida. Eram imensos e gigantescos. Quase todos eram da espécie Amanita mata-moscas (Amanita moscaria). Embora sem o seu vermelho vivo característico são bastante fáceis de identificar.
Existem nesta zona alguns pinheiros e enormes sobreiros. Talvez por isso, vi o maior bando de pombos bravos que já alguma vez vi na minha vida. Tinha mais de 30 aves! Trata-se do pombo torcaz (Columba palumbus L.), uma vez que o pombo (Columba livia) apenas o vejo com alguma frequência nas rochas ao longo da linha do Tua. Ainda me cruzei com alguns caçadores, mas, parece que eles não tiveram a mesma sorte que eu.
O caminho levou-me ao campo de futebol de onze de Vale Frechoso. Fazia muito frio e, talvez por isso, atravessei toda a aldeia sem encontrar uma pessoa sequer.
Um dos lugares que nunca dispenso de visitar nesta aldeia, até porque tinha de por lá passar, é antiquíssima fonte de mergulho, situada, como é natural, no Largo da Fonte.
A capela de Nossa Senhora de Lurdes está situada à entrada da aldeia, num pequeno promontório, orientada para poente. É uma construção esbelta, recortada no céu, com uma configuração única no concelho. O acesso faz-se directamente da estrada, subindo alguns degraus e plataformas. Nestas plataformas há bonitos desenhos feitos em calçada com seixos, pretos e brancos.
A capela é muito iluminada e tem vidraças que permitem admirar o bonito altar onde se destaca uma imagem de Nossa Senhora de Lurdes.
Em volta da capela há um pequeno adro que, juntamente com o escadório, os jardins laterais e a posição elevada da capela fazem dela um bom miradouro e um local a visitar em qualquer passagem por Vale Frechoso.
Com metade do percurso feito, havia que regressar a Vila Flor. Escolhi um percurso diferente daquele que segui à ida. Junto do ribeiro, mais uma vez o vermelho das folhas do sumagre despertaram a minha atenção. Nesta época do ano a sua cor destaca-se na paisagem em volta de praticamente todos os povoados do concelho, incluindo a vila. Ainda estou para perceber a razão da sua existência tão próximo das populações. Estou em crer que a tinturaria do cabedal não seria a única utilização dada a esta planta.
O tempo refrescou e caíram algumas pingas de água. Na mochila trago um impermeável.
Já próximo de Vila Flor, atrás da serra, vi na borda do caminho uma sancha. Hesitei em a apanhar, mas atrás daquele vi outra e mais outra. Quase sem querer, dei comigo a apanhar duas ou três variedades de cogumelos sem grande trabalho de os procurar. Entusiasmei-me com a recolha e só uma chamada de telemóvel lembrando que já estava atrasado para o almoço que fez fazer rapidamente o resto do caminho até Vila Flor.
Foi uma longa caminhada. O tempo fresco ajudou e os cogumelos que apanhei na parte terminal do percurso, foi um extra que não estava previsto.
GPSies - VFlor_VFrechoso_VFlor

25 novembro 2010

Resíduos do Nordeste avança com limpeza de depósitos de resíduos


Não tem sido um hábito meu divulgar notícias no Blogue, mas gostei tanto desta que me deu vontade de a partilhar. Espero que seja um projecto sério, com reflexos na saúde e na paisagem do concelho e não daquelas iniciativas para comunicação social mostrar, como as que anda a fazer por aí a EDP.

A empresa intermunicipal Resíduos do Nordeste vai arrancar com um projecto de perto de um milhão de euros para a remoção de depósitos ilegais de resíduos e a requalificação de zonas ribeirinhas. O contrato de financiamento do projecto Valor Douro é assinado amanhã.

O Valor Douro está direccionado para intervenções que visem a recuperação de depósitos clandestinos de resíduos sólidos, nomeadamente urbanos, indiferenciados, de construção, de demolição e utensílios domésticos fora de uso; a remoção e desmantelamento de embarcações e veículos abandonados e a recuperação das margens do rio Douro.

Ler o resto da notícia...
Fonte: Portal Ambiente online

Fotografia: terreno com oliveiras a caminho de Roios.

Flashes do Outono (02)

Este ano ainda mal tive tempo para me concentrar nas cores do Outono. Quando olho as árvores em meu redor, vejo que muitas delas já perderam as belas tonalidades amareladas, alaranjadas ou vermelhas.
Rebuscando no meu arquivo encontrei algumas fotografias, do ano passado, mais ou menos desta época.
São as cores do Outono no centro de Vila Flor.

23 novembro 2010

Cogumelos - Sanchas (Lactarius deleciosus)

Este ano parece estar a ser um excelente ano para os tradicionais cogumelos muito apreciados na região. Tenho tropeçado neles em todas as caminhadas que tenho feito, e, mesmo sem nunca ter saído expressamente para os procurar, tenho apanhado bastantes.
Os rocos (Macrolepiota procera) apareceram cedo e muitos secaram rapidamente por falta de chuva. Ainda é possível encontrá-los. No domingo passado vi dois e um deles ainda era bastante jovem.
A apanha de cogumelos é uma tarefa delicada. Come-los sem os ter apanhado é ainda mais complicado. Eu fico muito mais tranquilo quando como cogumelos que eu próprio apanho do que quando os como apanhados por outras pessoas.
Não tenho formação nenhuma sobre cogumelos. Alguns conhecimentos que tenho, adquiri-os em criança. Desde que me conheço, que apanho cogumelos. Penso que entre os 6 e os 12 anos tenha sido os anos em que mais apanhei. Aprendi a distingui-los com a minha família e com os meus amigos, uma vez que cresci no campo e todos os meus amigos apanhavam cogumelos.
Em jovem apanhava perto de 10 espécies, mas, com o passar dos anos, fui perdendo a confiança e agora fico-me pelas 5 mais fáceis de identificar. É uma actividade que não admite erros. Há duas famílias em perigo de vida (uma das quais no distrito de Bragança).
Tudo o que eu disser aqui sobre algumas espécies, não pode ser entendido como instruções para a sua apanha, mas apenas como mais uma amostra da riqueza natural da nossa região e do nosso concelho.

Sanchas, Pinheiras, setas (Lactarius deliciosus)
Características: o chapéu, inicialmente convexo, toma-se posterionnente plano e espalmado ou obcónico e ligeiramente recurvado, com um diâmetro de 5 a 15 cm. É cor de laranja, vemelho-claro ou vemelho-tijolo e com frequência ligeiramente acastanhado; a cutícula do chapéu apresenta zonas anelares concêntricas e com a humidade toma-se um pouco viscosa. A carne quebradiça vai de esbranquiçada a rosa-pálido ou amarelada; quando danificada segrega uma seiva alaranjada ou cor de cenoura. As lâminas apertadas e decorrentes têm comprimentos diferentes; a sua cor vai do laranja-claro ao laranja-avemelhado, mudando sobretudo para esverdeado
quando velhas ou quando tocadas.

Habitat: Espécie por vezes frequente que se encontra sobretudo em florestas coníferas e, nestas, de preferência debaixo dos pinheiros bravos, preferindo solos calcários; aparecem entre Novembro e Dezembro.

Fonte: adaptado do Guia dos Cogumelos (Dinalivro)

As sanchas são seguramente os cogumelos mais apanhados em Portugal e uma das espécies em que as pessoas têm mais confiança. Há muitas pessoas que apenas apanham esta espécie. Mesmo assim, há que ter cuidado. Tenho encontrado um cogumelo muito semelhante sob os sobreiros. Desconheço se é comestível ou não.
As sanchas crescem nos pinhais idosos. Eu prefiro procurá-las nas bordas dos pinhais, principalmente nos locais mais húmidos.
Apesar do seu nome deliciosus (delicioso), não é dos meus cogumelos preferidos. Tem um sabor muito característico e intenso.
Já apanhei esta espécie em Benlhevai, Vale Frechoso, Roios, Vila Flor, Freixiel, Seixo de Manoses, Candoso e Vila Flor.

Nota: o Município de Vila Flor e o Fundo Florestal Permanente editaram há alguns anos um "Mini-manual dos cogumelos". É possível que ainda haja alguns a circular por aí.

16 novembro 2010

Freguesia Mistério 41

A Freguesia Mistério n.º40 já lá vai há alguns dias. A pergunta não mereceu muitos adeptos, uma vez que só 10 arriscaram uma resposta. Isso leva-me a questionar: Os visitantes do Blogue não conhecem o concelho ou não têm pachorra para votarem? Tanto faz. O importante é que a Freguesia Mistério sirva de estímulo (quanto mais não seja, para mim) para mais algumas Descobertas pelo concelho.
O cruzeiro em questão está na freguesia de Seixo de Manhoses. Perto da capela de Nossa Senhora do Rosário, mesmo no centro do povo, segue-se para o Largo da Capela e, um pouco mais adiante está o Largo do Senhor dos Aflitos. É também este o nome do cruzeiro. Trata-se de uma cruz em granito, com cerca de dois metros e meio de altura, com aplicação de uma cruz mais pequena, em madeira, onde está Cristo crucificado (em metal).

 Está muito bem implantado, encostado a uma casa, na extremidade mais elevada do largo. Tem uma cobertura em telha, suportada por uma estrutura bastante grosseira, em cimento. Por trás do cruzeiro há azulejos. Não faltam flores frescas no local, e lateralmente do cruzeiro há pequenos espaços com jardim. Não falta o azeite para manter a chama acesa, certamente para iluminar as almas dos que andam perdidas em busca do seu Caminho.
Também se tem acesso a este cruzeiro pela Rua da Moreirinha. Só não entendo a designação de Rua Principal para a rua que começa no cruzeiro e se dirige para os terrenos agrícolas.
A votação ficou assim distribuída:
Carvalho de Egas (1) 10%
Lodões (1) 10%
Nabo (1) 10%
Sampaio (1) 10%
Seixos de Manhoses (2) 20%
Valtorno (3) 30%
Vila Flor (1) 10%
A Freguesia Mistério nº41 é, de novo, uma igreja, ou antes, uma pedra cravada no alçado lateral de uma bonita igreja. Não é uma igreja qualquer, mas sim uma igreja românica, bastante antiga, talvez anterior ao Séc. XVI. Foi um dos locais já visitados numa das minhas "Peregrinações".

Se ainda não votou, pode faze-lo aqui:


Freguesia Mistério 41

Em que freguesia podemos encontrar esta pedra na Igreja Matriz?

15 novembro 2010

O Som das Musas - Encerramento



Encerramento do ciclo de concertos Som das Musas
Fonte: Localvisão

Peregrinações – Nossa Senhora da Assunção (Vilas Boas)

Quando pensamos em Peregrinações, no concelho de Vila Flor, o que nos vem imediatamente à cabeça é o cabeço de Nossa Senhora da Assunção, em Vilas Boas. Não foi por acaso que escolhi uma fotografia do santuário para encabeçar este conjunto de caminhadas.
Desde o princípio que esteve prevista uma “Peregrinação” ao cabeço, mas, por ser um percurso curto foi ficando para trás à espera de uma oportunidade. Veio a acontecer a no dia 24 de Outubro.
O percurso escolhido previa um trajecto de Vila Flor ao Santuário praticamente sempre por caminhos rurais e o regresso por estrada. Todo o percurso é já muito conhecido de caminhadas anteriores (também o segui na “Peregrinação” a Vilarinho das Azenhas.
A caminhada começou cerca das nove horas da manhã. O caminho, tantas vezes seguido, em direcção à zona industrial surpreendeu-me por se encontrar limpo. Mas a surpresa durou pouco porque apenas cortaram as silvas numa centena de metros, partindo das traseiras do Ecomarché. Gosto muito de percorrer estes caminhos de bicicleta mas, as silvas que crescem sem cessar, são um perigo para as câmaras-de-ar.
Depois do Barracão a direcção é a Cooperativa de Olivicultores. Seguindo em frente rapidamente se encontra a estrada de Abreiro, mas, virando à esquerda em frente à cooperativa, segue-se um percurso bem mais interessante, já por mim seguido nalgumas provas de BTT do CCVF. Junto à aldeia de Samões vi, pela primeira vez(!), um enorme viveiro de faisões. Sou um apaixonado por aves e tentarei no futuro visitar o local (com a devida autorização). Ainda seguida surpreendido com o viveiro quando “esbarrei” com um roço na berma do caminho. Fiquei meio dividido se o devia colher, ou não. Optei por o levar comigo, correndo o risco de se machucar todo na mochila que sempre levo comigo.
Já perto da Quinta do Reboredo, a caminho de Vilas Boas, encontrei mais alguns cogumelos comestíveis. Foi também ao passar pela quinta que tive uma “visão” do paraíso: dois lindos cavalos brancos a pastar. Mesmo a grande distância arrisquei algumas fotografias.
Na continuação do caminho, aproveitei para subir a um morro e explorar de perto alguns rochedos que já me intrigaram há algum tempo. São formas naturais muito curiosas, que abundam um pouco por toda a zona granítica do concelho.
Já na aldeia, fiz um pequeno desvio para subir à igreja. Vilas Boas é uma aldeia que tem muito para admirar e percorrer as suas ruas é sempre um prazer. No entanto, o meu objectivo estava mais acima, no cabeço.
O percurso de Vilas Boas à capelinha de Nossa Senhora da Assunção é para ser feito devagar, não pelo esforço que requer, mas pela grande quantidade de pontos de interesse que se vão encontrando pelo caminho. Apesar de muitas pessoas se deslocarem com frequência ao Santuário, há muita coisa que desconhecem.
Um dos locais mais interessantes é a fonte de Nossa Senhora, quase junto à aldeia. Estava um sol brilhante quando lá chaguei. As folhas douradas dos plátanos criavam um ambiente acolhedor e apeteceu-me ficar ali sentado. Na fonte, a pequena imagem, no seu nicho, tinha sido presenteada com um ramo de flores frescas.
Depois de percorrer bonita e única alameda de eucaliptos entra-se no primeiro troço de escadas, onde podem ser apreciadas estátuas em granito, representando os doze apóstolos. Ali perto é um cruzeiro, simples, mas que marca o lugar da aparição de nossa senhora.
Quando se atinge o topo do cabeço, fica-se sem palavras (e sem fôlego). A paisagem que se avista deste santuário é única. A capela estava fechada. Normalmente está aqui um zelador, mas estava na hora de almoço e ele deve ter-se ausentado para almoçar.
Tal como tinha previsto, a manhã já estava adiantada e já passava do meio dia. O percurso de regresso a Vila Flor foi feito pela estrada em passo bastante acelerado.
Foi uma passeio muito agradável, num dia que se anunciava cinzento, mas que esteve bastante luminoso proporcionando mais uma caminhada memorável.
GPSies - VilaFlor_Cabeco_VilaFlor

11 novembro 2010

O valor das coisas

Esta postagem não serve para ilustrar caminhadas é mais uma desabafo de algumas preocupações que me perseguem já algum tempo.
O vilaflorence, por todos conhecido e por alguns admirado, Modesto Navarro, publicou recentemente no Diário de Notícias uma artigo intitulado Os desastres anunciados do IP2 e do IC5.
Entre outras coisas, chama a atenção para o traçado do IC5, nomeadamente no concelho de Vila Flor, onde vai causar estragos irreparáveis na paisagens e mesmo na economia.
Quem acompanha as minhas deambulações pelo concelho já se apercebeu de que, quando falo no IC5, não o faço com muito entusiasmo.
 Infelizmente não tenho a capacidade visionária de muitas pessoas (principalmente autarcas e outros ligados à política), que vêem progresso em tudo o que leva muito betão. Estou a falar das barragens do Sabor e do Tua, no IP2 e no IC5. Se no que toca às barragens a minha posição é totalmente contra, uma vez que penso que elas vão apenas servir para tornar mais arrogante uma empresa dominadora do mercado chamada EDP, que nos explora até não poder mais e que serve de refúgio a muitos políticos, no que toca às estradas tenho uma posição mais moderada. Reconheço a sua importância e a sua necessidade, não posso é deixar de questionar algumas opções, porque como cidadão contribuinte (e mais ou menos inteligente) a isso tenho direito.
Conheço todo o traçado do IC5. Atravessa concelhos onde vivo há mais de 40 anos e onde me movimento constantemente. Em nenhum concelho o estrago causado pelas opções no traçado é tão importante como no concelho de Vila Flor.
São muitas quintas, terrenos muito bons para a produção de vinho e azeite, que são devastados sem dó nem piedade, por enormes máquinas, que, do grandes que são, intimidam os automobilistas e nos (residentes) fazem sentir pequeninos e insignificantes. Além dos terrenos agrícolas, há dois empreendimentos turísticos de Vila Flor que serão bastante afectados: A Quinta da Pereira e a Valonquinta. Esta última, que se encontra inserida num meio rústico e rural, vai ver a sua propriedade rasgada a meio ficando com a estrada a cerca de 100 metros do edifício destinado ao turismo rural. A orientação do edifício, para sul, que regalava a vista de verde dos pinhos e medronheiros, onde as pombas se lançavam do seu pombal altaneiro, vai, de futuro, oferecer como vista principal uma estrada, quem sabe se entaipada por barreiras sonoras.
A questão não é que a estrada é boa ou má. Eu interrogo-me é se não havia alternativas de traçado que poupassem estes empreendimentos turísticos (um deles que está em actividade há menos de dois anos e foi feito com apoio do estado) e outras quintas, com alguns dos melhores terrenos que existem no concelho. Será que, mais uma vez, os mais fracos é que pagam a factura?

10 novembro 2010

Cavalos

Parece uma cena retirada de um filme de fantasia, mas trata-se de uma fotografia (editada) tirada numa das caminhadas que fiz durante o mês de Outubro, e que ainda não partilhei.
Os cavalos pertencem à Quinta do Reboredo, espaço destinado ao Turismo Rural, situada na freguesia de Vilas Boas.

09 novembro 2010

Frutos do bosque

A minha caminhada de domingo, em mais uma "peregrinação", culminou com uma entusiasmante recolha de cogumelos. Do caminho avistei uma pequena sancha. Entusiasmado com o achado fui-me aventurando no bosque descobrindo mais e mais, até juntar vários quilos de cogumelos de várias espécies.
Foi interessante a apanha, foi interessante fotografá-los, prepará-los e melhor ainda come-los. Sei que a apanha de cogumelos é uma actividade arriscada. No entanto, cresci a faze-lo e tenho total confiança nas espécies que aprendi a conhecer ao longo dos anos. Fora do meu meio e com novas espécies, não arrisco.
Espero arranjar algum tempo para mostrar em pormenor as espécies que colhi: sanchas (Lactarius deliciosus), canários (Tricholoma flavovirens), moncosos (Boletus edulis) e rocos (Macrolepiota procera).

08 novembro 2010

Cantos da Montanha ( IV - 6)


Oliveiras, minhas árvores serenas
em jeito de prece aprisionada
onde o tempo esfriou
esquecido do nome dos lugares,
até se tornar fio invisível de luz,
possível aceno de uma brisa
que passou longe
e nem sequer nos bafejou a fronte.

Árvores firmes na terra ardente
da cor da minha infância,
ansiando gotas de água
de uma nuvem distante.
Tuas mãos líquidas deslizando
na ardência do meu corpo,
devagar, tão devagar
como a aragem da tarde
tocando o silêncio dos nossos lábios,
sem interrogarem
o sentido dos caminhos percorridos.

Clarões extintos, porque nenhum olhar
foi digno de reter o brilho intenso.
Rostos do avesso da terra.
Poemas do indizível.
Concedei-me a vossa intimidade,
esse sacro mutismo de séculos.
Tornai-me vizinho dos deuses!

Em vossos troncos me reclino.
Rugosos mapas onde os meus sentimentos
circulam como rios.
Eis-me a caminho do que fui,
a ouvir-me numa estranha língua
que não me lembro de ter aprendido.
Ramos vergados de tanto retesarem
a linha dolente, quase triste
(e tudo se apaga e deixa de existir)
entre o amor e a morte.

Poema do mais recente livro do Dr. João de Sá, Cantos da Montanha (Canto IV, 6).

Fotografia: Oliveira entre a Ribeirinha e Vilarinho das Azenhas.

02 novembro 2010

Peregrinações – Nossa Senhora da Rosa (Sampaio)

Na continuação das caminhadas “Peregrinações”, no dia 10 de Outubro aconteceu mais uma, desta vez a capelinha de Nossa Senhora da Rosa, em Sampaio.
Mesmo inconscientemente, as aldeias situadas a quotas bastante inferiores às de Vila Flor são muito menos visitadas. Embora ir a Sampaio, ao Nabo ou à Ribeirinha é, sem dúvida muito agradável, mas, a dificuldade está em voltar a Vila Flor. Não podemos esquecer que estou a falar em deslocações em BTT ou a pé, uma vez que de automóvel este problema não se coloca.
A ideia para esta caminhada era que seria só de ida, uma vez que não haveria tempo suficiente para regressar a tempo fazer o almoço de Domingo em família.
Esta caminhada, com saída de Vila Flor pela estrada de Roios, proporcionou a oportunidade de percorrer grande parte da Vila, ao Domingo, de manhã cedo. É impressionante a calma que se respira! A vila tem muita frescura, de manhã cedo! Os primeiros raios de sol a beijarem os Paços do Concelho ou a igreja de Misericórdia, no Rossio, transportam o calor necessário para um acordar tranquilo.
Aproveitei também para fotografar o Solar dos Lemos. Foi das poucas vezes que não tinha uma camioneta estacionada à frente. A luz lateral realçava o rendilhado em granito. Desejei ter uma máquina fotográfica melhor, mas prometi a mim mesmo que estas caminhadas seriam feitas acompanhado somente pelo material fotográfico mais básico que se pode imaginar, correndo por vezes o risco de se perderem oportunidades de fazer registos com qualidade de momentos únicos.
O percurso continua com passagem por várias fontes (entre as quais a Fonte das Bestas) e também pela pequena capela de S. Sebastião, com a sua porta sempre enfeitada com flores.
Junto ao cemitério de Vila Flor, no local onde existiam umas Alminhas, que foram roubadas, foi colocada uma pequena cruz em granito. Gostaria de ver repostas as alminhas, ou as mesmas (coisa difícil) ou outras, as alminhas têm um simbolismo e uma história que não deve ser esquecido ou apagado.
Continuei pela estrada até ao complexo turístico Valonquinta. Mesmo pela estrada, a luz rasante por entre as oliveiras cintilava no orvalho da manhã. As paragens foram constantes e corri o risco de esgotar a bateria da máquina fotográfica no início da caminhada.
Contornei a Quinta do Valongo e meti por uma caminho, à direita, já meu conhecido do BTT. Pouco mais à frente atravessei aquilo que vai ser o IC5. Não me parece que este acesso se vá manter depois do IC5 feito. Infelizmente muitos caminhos vão deixar de ter seguimento.
Pouco depois os pinheiros dão lugar aos eucaliptos e todo o percurso até Sampaio, junto ao cemitério é feito pelo meio do eucaliptal. São caminhos abertos pela próprio explorador da floresta, que funcionam como quebra fogos, mas também para retirarem a madeira quando a mesma é cortada. Também a EDP procede à limpeza da vegetação sob as suas linhas de media a alta tensão. Neste local cruzam-se algumas linhas com alguma importância.
Em termos de paisagem, avista-se um grande espaço em direcção a Roios e Vale Frechoso. O que se destaca da paisagem é, mais uma vez, as obras que decorrem no traçado do IC5. Estão a ser construídos vários viadutos e pontes, para vencer o desnível do Vale da Vilariça, até às Portas do Sol, às portas de Vila Flor.
Deixei o eucaliptal a poucos metros do cemitério de Sampaio. Apesar de já por várias vezes ter descido o ribeiro de Roios em direcção a Sampaio, nunca tinha estado neste local.
Rapidamente se atinge a aldeia. As pessoas abandonavam a igreja, depois da missa dominical. Devia ter pedido a alguém que me facilitasse o acesso á capela de Nossa Senhora da Rosa, mas só mais tarde é que me lembrei disso.
O colorido das romãs chamou a minha atenção em vários locais, mas junto à capela (privada) de Nossa Senhora da Conceição.
O caminho para a capela de Nossa Senhora da Rosa, partindo dos armazéns das águas Frise é plano e sem possibilidades de engano. No entanto, não o segui, fazendo antes um desvio para passar junto ao que resta de uma das antas ou dólmen  referenciadas em Sampaio. A erva alta não permitiu fotografar o local com qualidade. Já falei com várias pessoas na aldeia e todos são de opinião que não é correcto assinar a anta junto à estrada nacional e depois não haver mais nenhuma indicação da sua localização. Quem pretende visitar a anta acaba por andar perdido pelos caminhos e raramente a encontra. Outro problema é a facilidade com que um alguém maldoso pode destruir o que pouco que resta de milhares de anos de história. A Junta de Freguesia e a Câmara Municipal deviam preocupar-se em identificar, proteger e mostrar este património. Não deve ser esquecida também a protecção legal.
A capela de Nossa Senhora da Rosa não tem grandes elementos arquitectónicos dignos de realce. Trata-se de uma construção recente, ou de uma reconstrução. É bastante grande, com uma porta larga no frontispício voltado a poente. O elemento mais característico é o pequeno campanário, com algumas semelhanças ao existente na capela de Nossa Senhora do Rosário, em Vilarinho das Azenhas, embora mais pobre. Não há nada que faça lembrar a importância desta capela como local de culto desde a idade média. Na verdade era um dos mais importantes de todo o Vale da Vilariça. Também aqui se realizava uma feira franca nos três primeiros dias de Maio. Havia um ermitério próximo da capela. Seria interessante ver este espaço cheio de gente. S e sonhar com uma feira, ou um arraial, é sonhar demais, o mesmo já não acontece com uma celebração religiosa e uma simples procissão. Estou convencido que o povo de Sampaio ficaria muito feliz, mas o pároco da freguesia não seja muito apologista da ideia.
Depois de fotografar uma interessante haste florida junto à capela, segui, caminho abaixo, paralelamente à Ribeira da Vilariça. Esta zona é incrivelmente fértil. É servida por um sistema de rega que permite uma produção hortícola intensiva e de qualidade. As couves são os vegetais mais abundantes, nesta época do ano.
Depois de ter percorrido alguns quilómetros em direcção a Sul, o caminho terminou no leito da ribeira. Tinha obrigatoriamente que atravessar a ribeira em direcção à Junqueira, ou então voltar para trás. Optei pela segunda alternativa.
Voltei atrás algumas centenas de metros até encontrar um caminho em direcção ao poente, que me levou à estrada nacional depois do Cabeço da Maria da Malta. Há, depois um interessante percurso que contorna todo o monte de Santa Marinha e vai reencontrar a estrada junto à Quinta do Caniço, já a meia encosta para Vila Flor. Foi aí que terminei a minha caminhada.
Seria fácil e interessante seguir da Quinta do Caniço, por entre os eucaliptos e chagar a Vila Flor junto à Quinta do Valongo, onde praticamente comecei a caminhada, mas a hora já estava adiantada e não queria almoçar muito tarde.
Fiz o resto de percurso (da Quinta do Caniço a Vila Flor) de automóvel.

GPSies - VilaFlor_NSRosa