26 abril 2012

e de repente é noite (XXXI)



Basta um caminho.
As vezes, nele, o respirar
do sol.
O acaso de um corpo
a passar por outro corpo.
Um riso leve. Um aceno.
Desabrochar de flor
abreviando as horas.

Poemas de João de Sá, do livro "E de repente é noite", 2008.
Fotografia: Vila Flor, alto do Facho.

24 abril 2012

VI Rota da Liberdade

O Clube de Ciclismo de Vila Flor (CCVF) realizou no dia 15 de Abril a 6.ª edição da Rota da Liberdade em BTT, depois de um ano de interregno. A prova contou com a presença de 73 participantes da modalidade e 9 pessoas que fizeram um interessante percurso pedestre. A meia-maratona recebeu a preferência da maioria dos participantes.
 A prova teve início no complexo do Peneireiro, junto às piscinas municipais e Estádio Municipal, e percorreu alguns dos caminhos e trilhos mais bonitos do concelho, sem descurar a exigência física e técnica. O percurso desenvolveu-se pelo termo das freguesias de Vila Flor, Seixo de Manhoses, Valtorno, Candoso, Carvalho de Egas e Samões, desenvolvendo-se entre os 450 e os 750 metros de altitude. Os caminhos tradicionais fizeram as delícias dos praticantes das duas rodas que apreciaram com destaque para o single track do ribeiro dos Moinhos.
A maratona foi ganha por Leonardo Lico, da aacr-bikemania; a meia maratona por Diogo Tomé, da CC Torre Dona Chama-Rodas de Fogo e a mini maratona por Leando Silva.  
O passeio pedestre visitou a aldeia abandonada do Gavião, local também incluído no percurso traçado para as duas rodas.
O reforço foi servido na Junta de Freguesia de Valtorno e o almoço no edifício do Turismo de Vila Flor.
A direção do CCVF ficou satisfeita com a forma como decorreu a prova, mas gostava de ter tido um maior número de participantes. O ano de interregno foi justificado pelo trabalho que dá organizar um evento do género, onde todo o trabalho é voluntariado e não pode prejudicar a vida familiar e profissional dos envolvidos. "O importante não é fazer todos os anos, o importante é fazer bem" diz Nuno Palmeirão, presidente da direção. A crise em que o país se encontra mergulhado também não facilita as coisas, sendo cada vez mais difícil conseguir os apoios necessários das entidades e comércio local. No entanto, há um bom leque de patrocinadores que continua a apoiar a prova.
A 7.ª edição ainda não tem data marcada. Está dependente de um conjunto de fatores que podem fazer com que ela se realize já em 2013, ou então, em 214. Até lá o CCVF vai continuar a proporcionar aos seus sócios a prática do ciclismo e a realizar eventos, mas de menores dimensões.
Nesta edição participei nas duas rodas por não me encontrar minimamente preparado para dar algumas pedaladas. No entanto, não quis que evento se realizasse sem a minha presença e desta forma também contribuir com alguma coisa para o Clube de Ciclismo de que sou sócio.
Estive presente na partida e depois desloquei-me de carro para diferentes locais onde sabia que os atletas iriam passar. Procurei locais interessantes mas como não tinha qualquer contacto com a organização nunca sabia quem iria passar, nem quando, mas até acho que correu bem e que consegui algumas fotografias interessantes. Algumas delas estão desde o dia da priva visíveis no blogue do Clube.
Como aspeto menos positivos, e que nada têm a ver com a organização da prova, aponto o frio que se fez sentir e o lixo que os atletas puderam presenciar em vários locais. O dia esteve gelado e fez um vento difícil de suportar. Ainda estive algum tempo em Candoso, junto à Fraga do Ovo mas tive de abandonar o local porque não suportava o frio.
Quanto ao lixo, não me tenho cansado de dizer que é muito desagradável, mas estou quase a concluir que quanto mais civilizadas são as pessoas, mais poluem e menos respeito têm pela natureza. É uma vergonha o que se passa.
Ainda não perdi as esperanças de voltar a percorrer os caminhos do concelho em duas rodas. Enquanto isso não acontece, vou continuar a fazê-lo a pé.
Parabéns à organização da VI Rota da Liberdade. São eventos como este que dão vida e visibilidade ao concelho.

23 abril 2012

Monumento a D. Dinis


Povoada desde tempos remotos, em Vila Flor existem provas de habitação desde a época do bronze. A proximidade do fértil Vale da Vilariça influenciou a presença humana em terras de Vila Flor. Por aqui passaram Celtas e Romanos, deixando, um pouco por todo o território do Concelho, testemunhos de ruínas castrejas ou restos de pequenas aldeias romanizadas. Na alta Idade Média foi cristianizada sendo mais tarde invadida pelos Mouros e colonizada por estes até à reconquista cristã. No século XIII estava representada por uma pequena povoação chamada de “Póvoa de Além Sabor”, até que, em 1286, por meio do Foral, D. Dinis muda-lhe o nome para “Vila Flor” e manda erguer, em seu redor, como jeito de proteção contra as invasões vindas de Castela e seus consequentes ataques, uma cinta de muralhas com 5 portas ou arcos: o Arco de D. Dinis, classificado monumento de interesse público. A Idade Média deste “ramalhete de cravelinas e bem-me-queres”, como lhe chamou Cabral Adão, é florescente, recebendo especial impulso com o acolhimento de famílias judaicas fugidas às perseguições europeias e que aqui foram desenvolvendo a agricultura, o comércio e as indústrias de curtumes e ourivesaria. D. Manuel I viria mais tarde a atribuir novo Foral a Vila Flor, reformulando o anterior, em Maio de 1512, o qual pode ser apreciado no Museu Municipal D.ra Berta Cabral. Em jeito de homenagem ao monarca que lhe deu nome, Vila Flor ergue, atualmente, a imponente estátua de D. Dinis, na Praça com o mesmo nome, de forma a receber e dar as boas vindas a todos os seus visitantes.

22 abril 2012

Quadros de Abril (I)

Um curto passeio pela serra, ao fim da tarde de Sábado, permitiu captar mais alguns quadros de paisagens características desta época do ano.

19 abril 2012

Aqui há javali!

Em tantas caminhadas realizadas, nunca aconteceu um encontro com um javali, mas os sinais da sua presença são inequívocos na maior parte do território do concelho. O local fotografado está bem próximo da Vila e quase jurava que "os bichos" vêm aqui todas a noites tomar banhos de lama.
Os encontros com coelhos, perdizes e raposas (e até doninhas) são frequentes.

18 abril 2012

Dia Internacional dos Monumentos e Sítios - 18 de Abril

No dia 18 de Abril comemora-se o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios. Criado pelo Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios, em 1982, e aprovado no ano seguinte pela UNESCO, este dia pretende sensibilizar o público para a diversidade e vulnerabilidade do património e para o esforço envolvido e desenvolvido na sua proteção.
Este ano o tema é "Do Património Mundial ao Património Local: proteger e gerir a mudança".
Assinalando o 40º aniversário da Convenção do Património Mundial da UNESCO – a partir da qual se instituiu a lista do Património Mundial – o tema deste ano pretende chamar a atenção para o complexo desafio que hoje se coloca à proteção e gestão do património, numa época de marcada globalização económica e cultural, de profundas transformações sociais e de mudança de paradigmas.
Parece-me que o património ainda não tem a importância que merece e, quando há dificuldades, as questões do património e da cultura tendem a ser relegadas para segundo plano, mas talvez tenham sido este tipo de procedimentos que ajudam a que tenhamos este ano um dos piores resultados económicos do mundo!
A zona antiga de Vila Flor é uma boa amostra do património que é necessário recuperar e preservar. Por isso, se não puder apreciar outro sítios e/ou monumentos, dê um passeio pela zona antiga da vila, livre de obras.

17 abril 2012

Pontos Altos - Introdução

 Estou prestes a terminar o conjunto de caminhadas a que chamei Peregrinações. Foram algumas dezenas, distribuídas pelos quatro cantos do concelho. Mas, como parar é morrer, já penso em algo que me motive a não ficar parado.
Penha do Abutre (567 m de altitude)
Como resultado do contacto com a natureza,  aumentou a profunda admiração que sinto pelos espaços abertos que se avistam de muitos dos caminhos, cada vez menos percorridos e que se espalham pelos sítios mais recônditos e improváveis do termo.
O próximo conjunto de caminhadas vai chamar-se Pontos Altos. Não se trata de nenhuma modalidade de bordado, mas sim de marcos geodésicos, também conhecidos por talefes ou pinocros. A ideia não é nova, como o prova o mapa que comecei a compor já em 2007.
Faro (822 m de altitude)
Ao longo dos anos tenho percorrido a maior parte destes pontos e tenho mostrado o concelho a partir da maior altitude possível, mas não o tenho feito de forma organizada nem tendo-os como objetivo final da caminhada. Há mais alguns além dos representados e é possível que outros se tenham perdido, à medida que foram ficando esquecidos pelos serviços de cartografia que os utilizavam. Será um reviver as emoções. O peito enche-se de ar e o olhar perde-se até à linha do horizonte mais longínquo. tão longínquo que pode ultrapassar as fronteiras do distrito e até do país.
Mapa que comecei a construir em 2007 com os marcos geodésicos
que conhecia na altura.
Vou chamar-lhe Pontos Altos porque, para além de serem os pontos de maior altitude em termos geográficos, proporcionam também experiência únicas, físicas e emocionais. Desde criança que estes talefes despertaram a minha atenção e, sempre que subi ao alto da Senhora da Graça (freguesia de Carrazeda de Ansiães) me senti mais leve, não sei se pela proximidade com os deuses, se pela vontade de me lançar no espaço, de braços abertos e concretizar o sonho que muitas vezes tinha: voar. Agora sei que voar é impossível, mas só com o corpo.
Não há nenhum marco geodésico aqui.
Fonte do Seixo (684m de altitude)
Fazer estes percursos vai ser uma oportunidade para captar novas imagens das paisagens do concelho de Vila Flor, conhecer melhor a flora e a fauna e, quem sabe, encontrar amigos que também sentem que há melhores alternativas do que o sofá e a televisão, ou a mesa do café. Não é só o balsamo para o espírito que me move, é também o bem estar físico. A vida sedentária que levamos a par do prazer de saborear a boa comida que se faz em Trás-dos-Montes precisa de exercício físico para manter o equílibrio, sob pena da saúde ficar em risco.
Pendão (737 m de altitude)
Está, portanto, marcado o encontro. Os Pontos Altos vão ser uma presença assídua no Blogue, retratando uma caminhada, mostrando a paisagem, a vida que se encontra pelo caminho, sempre numa atitude de Descoberta.

Notas: Não deixa de ser curioso, agora que a possível junção das freguesias começa a estar na ordem do dia verificar que os limites oficiais das freguesias não são bem como pensamos.Eis alguns exemplos, segundo o IGP (Instituto Geográfico de Português): o santuário de Santa Cecília está situado em território de Valtorno!; Algumas casas de Carvalhos de Egas pertencem à freguesia de Valtorno!; O termo de Vale Frechoso e Roios estende-se até à Ribeira da Fragada (perto da Quinta da Veiguinha); a Zona Industrial de Vila Flor pertence a Samões!; o termo de Vilarinho das Azenhas incluiu todo o Faro, Cabeço de S. Cristóvão e algumas casas de Meireles!a freguesia de Vila Flor prolonga-se quase até à discoteca Vício da Noite (Quinta da Terrincha)!. Estarão estes dados errados?!

16 abril 2012

Ah porque não estou eu com os meus pastores?

Qualquer dia, contudo, estarei entre vós. Talvez recupere a singeleza do presépio e os rostos peregrinos que perdi. Espantai a coruja que insiste num ofício de trevas sobre o galho de um castanheiro. Abomino a noite e estou sedento de madrugadas. Anseio por assistir à indefinição das primeiras cores - laranja, ocre e pérola entre névoas de um cinza ténue. Depois esmeraldas, ametistas, rubis e ouro a dilatarem a linha do horizonte. Pouco depois uma labareda intensa, ofuscante, elevando o dia aos confins do espaço, até tudo se tomar cântico de luz, sem se distinguir a orquestra donde promanam os divinos sons.

João de Sá - Excerto do um texto publicado no jornal Terra Quente de 01 de Outubro de 2011, sob o título Memórias de Vila Flor - Ah porque não estou eu com os meus pastores?

Fotografia: Albufeira do Peneireiro, Vila Flor.

15 abril 2012

A confissão da Amélia

"Estava uma noite encantadora de Agosto. A lua cheia, já bastante elevada na cúpula sideral, muito redondinha, muito branca de prata, talvez risonha, a arbitrar-lhe uma face bonacheirona, como a imaginação dos pintores humorísticos a fantasia, derramava sobre as terras, as árvores e os casais, uma luz mortiça e fina, que tornava lúgubres os tons escuros e berrantes os tons claros.
Semelhava, este luar, um manto de melancolia, ténue, duma translucidez de neblinas, que se desdobrasse, profuso, dos ombros duma moira encantada, a tonalizar a paisagem, de mimos e sonolências.
Já poucos ruídos de vida se percebiam pela extensão da planície, além da camada de sons miúdos da bicharada noctâmbula. E o rio, que ia alquebrado e rarefeito, gemia brandamente a sua impotência nos pedregulhos da represa do moinho, que há algumas semanas jazia parado, por falta de corrente capaz de o mover.
As latadas dos caminhos faziam-lhes sombras caprichosas, de o luar penetrar os intervalos das folhas e dos cachos, desenhando-lhes os contornos rendilhados.
Não corria aragem. Não se via nenhuma luz, além das que se projectavam do firmamento. Seria, talvez, esta visão de sonho, uma expressão, na Natureza, daquela sensação que a nossa alma experimenta, sem a saber explicar: a saudade! Choupos e ulmeiros, videiras e árvores de fruto, flores e ervas pobrezinhas, saudosas do sol que lhes dá vida, mas que também as queima e resseca, por vezes! Águas do rio, orvalho das flores e até a ligeira neblina dos baixios, saudosos do mesmo astro-rei, que os torna resplendentes, os purifica, os irisa, mas que, ao mesmo tempo, os evapora e os dispersa! Os muros alvinitentes e a voluptuosidade das quebradas, a recordarem, saudosos, os gritos fortes dos boieiros e carreiros, os cantares das cachopas, as tagarelices das crianças, características das fainas do dia, para os reproduzirem em ecos sonoros, entorpecidos na doce ilusão de falas naturais, que não possuem!
Saudade nos pomares, nos pinhais, dolentes, nos povoados tristes, nas ermidas altivas, a perfurar o céu! Um manto de luz mortiça... um manto de sons tristonhos... um manto de espíritos de fadas...
Na curva dum caminho entre-muros, encoberto com a sombra duma cerejeira graúda, um homem aparecera. Àquela hora, com os receios com que se movia, o olhar estranho que as coisas dirigia, dir-se-ia que tentava qualquer marosca ou temia qualquer perigo. Nem uma coisa nem outra.
Ao fundo do caminho, que era todo coberto de ramadas e orlado por olmos, amieiros e fruteiras, destacava-se, no seu aspecto de mancha cinzenta, do porpianho de granito antigo, uma casa de lavradores, comprida, de bastantes janelas, com currais e quintal anexos. À porta principal, larga, com almofadas já esfoladas do roçar dos eixos dos carros, que às vezes calhava, estava preso pela rédea a uma mó, já gasta, um cavalo branco.
Quando o espião (chamemos-lhe assim) se apercebeu dessa presença, estacou em frente da casa e o coração bateu-lhe com mais força. Não era um bater de crime, de rancor, de maldição: era um misto de paixão e ressentimento, de orgulho que não esquece e de sensibilidade que perdoa; era uma bater de saudade, naquela noite já tão infiltrada de saudosos fluidos!!!
E ali ficou colado ao muro velho, olhando o cavalo branco e a casa, sem perceber o que lá dentro se estaria a passar. No entanto, a sua agitação íntima crescia. Súbito, abre-se a porta e aparece no vão a figura dum homem novo, muito alto, muito forte, bem trajado, que ajeitou o chapéu e se curvou sobre os joelhos para enfiar as esporas nas botas grossas. Neste homem hercúleo, logo o espião reconheceu o médico, o doutor Casimiro Teixeira. Tendo um pressentimento horrível, adiantou-se com passos lentos e disse, sossegando o clínico:
- Muito boa noite, senhor doutor Casimiro! Não me fazia agora aqui, pois não? Realmente, nem eu supunha, há dias, que tão depressa regressaria.
- Quem és tu? - perguntou o médico, pondo-se a jeito com as sombras da ramada para reconhecer o interpelador.
- Ai, tu és o Maximino? Então já te passaram os vapores? Eu bem sei por que andas a rondar esta casa, rapaz! Mas olha que se tens raiva à Amélia, desfá-la quanto antes, para depois não teres remorsos. Olha que ela está mais para morrer que para viver!"

O resto da história pode ser lida no livro O Homem da Terra, da autoria de Luís Cabral Adão, publicado em 1986.

13 abril 2012

Amanhecer

Um amanhecer em Vila Flor, dedicado à Transmontana, que sempre visita o blogue aos primeiros raios de luz.

11 abril 2012

Vila Flor - Av Marechal Carmona

Aspeto pouco habitual da Av. Marechal Carmona, em Vila Flor. A avenida esteve em obras mas já foi reaberta ao trânsito de cara lavada. O estacionamento continua algo desordenado!

10 abril 2012

Equilíbrios difíceis

A Natureza encontra sempre um equilíbrio (quando o Homem não está por perto).
Uma das muitas curiosidades naturais que existem no termo de Samões.

09 abril 2012

Cartas (João de Sá - Cabral Adão)

Quanta beleza se esconde em certas cartas, trocadas entre parentes, entre amigos, modestos correspondentes! É um género literário como qualquer outro. O género epistolar que se perde, as mais das vezes, num cesto de papéis depois da necessária leitura do destinatário, deixando nele apenas uma recordação, relembrada em certas frases mais modelares, de acento mais fundo e expressivo.
Eu não quero essa responsabilidade - e estou a pensar numa carta escrita corrente calamo que recebi do meu amigo, conterrâneo e prestimoso beneficente Dr. João de Sá, morador em Lisboa, onde é professor liceal de reconhecido valor. Prefiro correr o risco duma indiscrição, do que silenciar tão bela peça de paisagística viva, bem assim portadora duma saudade que só os que vivem pelo coração e pelo espírito sabem sentir:
“Prezado amigo
Em Agosto findo, quando o calor abrandou, ainda estivemos uns dias em Vila Flor. Foram poucos mas tiveram o gosto incomparável dos reencontros apetecidos. De quando em vez é preciso demandarmos a terra-mãe para desfazermos o torniquete da nostalgia e acertarmos o relógio efémero pela sábia exactidão das ampulhetas dos pinheiros…
De facto, nunca serei um homem da beira-mar. A sua mobilidade perturba-me. Por lá, não, tudo tão vivo e interpelante é ao mesmo tempo seguro, estável, fundamental. Uma funda conversão à autenticidade.
Trouxe a mais bela impressão de um passeio matinal à Serra. Percorria-a sob um sol de ouro e mel, do Frade à Senhora da Lapa, onde já não ia há anos. Quanta saudade remoí num dentro inlocalizável, ao ver de novo a caverna do Frade onde, em outros Invernos idos aos Domingos dava lições de História Universal e sobre “Os Lusíadas” a dois companheiros da jornada incolor, julgando, por esse meio, transformar o mundo!
Por lá andei até ao almoço, fundido na mestria do essencial, nesse reino do imutável. E a luz que explodia na solidão dos montes penetrou até às mais remotas camadas do meu ser. E ainda hoje ao lembrá-la, neste Inverno frio, me concede uma serena solidez que me pacifica”.
Eu tinha o mesmo sentir quando me deslocava à minha querida Vila Flor, esse telurismo sereno dos pinhais e dos pomares, das searas dos chãos e das urzes das ravinas. E até poetei dum jeito que terminava assim:

Cantem os outros o Mar
Que eu canto a terra bravia.
Foi ela que me ensinou
A cantar lá longe… um dia!

Está conforme com o original a que me reporto, arquivado com um lacre de azul-saudade.
Cabral Adão

Nota: Publicado no jornal por Cabral Adão, a respeito de uma carta que recebeu de João de Sá. Não consegui identificar o jornal, que seria quase de certeza da zona de Setúbal, nem a data, possivelmente nos anos 50.

08 abril 2012

Súplica


Manda-me um grão, um só, da terra querida
Tatuada de voos de narcejas.
Meneios de pinheiros e carquejas.
Algo que tenha ritmos de vida.

Não esqueças o bálsamo da ferida
Que ainda me lacera. E as cerejas,
Em folhas de videira, em que tu estejas
Mesmo em cor e aroma resumida...

E um copo de resina e os dedos
- Os mais hábeis no jogo das sementes -
Afeitos à tormenta, à dor, aos medos.

Manda-me o que puderes e me desperte
Para um novo incêndio de poentes
Que com a minha terra me concerte!

Soneto de João de Sá, do livro Vila À Flor dos Montes (2008).
Fotografia: Pinhal, Traz da Serra.

03 abril 2012

Freguesia Misterio n.57

O desafio Freguesia Mistério n.º56 decorreu durante o mês de fevereiro. Consistia em identificar uma fonte, antiga, de mergulho, um pouco como outras que já fui mostrando, espalhadas pelo concelho.
Responderam ao desafio 7 pessoas que distribuíram os seus palpites desta forma:
Seixos de Manhoses (1) 14%
Vale Frechoso (1) 14%
Valtorno (1) 14%
Vila Flor (3) 43%
Vilas Boas (1) 14%
Como se pode ver, apesar da pouca participação, quase 50% inclinou-se para Vila Flor, que é a resposta certa. Esta fonte está na na berma da estrada que sai de Vila Flor para Roios, a curta distância da vila. Encontra-se antes das alminhas, onde se vira para o cemitério.
Tentei saber que a fonte tem algum nome pelo qual seja conhecida, mas ninguém me deu essa informação.
Trata-se de uma fonte de mergulho, quase completamente escondida. Este ano está seca, mas também não é local onde a água seja muito abundante. É possível, que em tempos a estrada estivesse a uma quota mais baixa e que o acesso à fonte fosse mais fácil.
Quando o espaço envolvente está limpo é relativamente fácil apercebermo-nos da sua presença, mas quando há muita vegetação espontânea é possível que as pessoas passem por ela sem a verem (quando se deslocam de automóvel).
A grade de proteção destina a evitar que alguém ou algum animal caia para dentro da fonte. A água, quando a tem, deve ser imprópria, porque os adubos e herbicidas não devem andar longe.
O desafio que decorreu durante o mês de março foi bastante fácil. Tratava-se de saber em que freguesia existe a construção que a fotografia mostra. Brevemente divulgarei os resultados.
Entretanto, já está colocado o desafio para o mês de abril.
Em que freguesia do concelho de Vila Flor pode ser encontrado o cruzeiro da fotografia?
Responda na margem direita do Blogue.