No passado dia 19 Freixiel esteve em festa. Comemoraram-se os
500 anos da atribuição do foral por D. Manuel I com um conjunto de atividades variadas que encheram por completo o dia e que transportaram os locais e os visitantes para outra época, relembrando a importância de Freixiel como vila e sede de concelho.
Ao início da manhã a
Banda Filarmónica de Vila Flor anunciou a festa. As pessoas foram-se concentrando no Largo do Pelourinho para o lançamento do livro "
Forais de Freixiel", da autoria de um filho da terra, Cristiano Morais, com patrocínio da Câmara Municipal.
O salão utilizado foi pequeno para tanta gente, o que mostrou que a cultura também têm procura.
A
mesa integrava o Presidente da Junta, João Garcia, o Presidente da Câmara, Eng. Fernando Barros e o autor, Cristiano Morais. Estiveram também presentes todos os vereadores da Câmara Municipal.
Na apresentação do livro o autor lembrou algumas datas e momentos marcantes na história da aldeia/vila de Freixiel. Em 1055 aldeia foi integrada em Ansiães mas em 1195 subiu a vila, sede de concelho a que pertenciam também
Mogo de Malta, Folgares, Pereiros, Codeçais, Candoso, Vieiro e Sarzeda. A carta de foro foi-lhe atribuída por D. Sancho Fernandes, Prior do Hospital. O segundo foral foi dado por D. Manuel I em 1515. O concelho foi extinto em 1836, por Passos Manuel.
Outro episódio marcante foi o incêndio que consumiu bastantes casas e que deixou algumas famílias na miséria. Não foram as tropas francesas que invadiram Freixiel, queimaram a rua e picaram os brasões do pelourinho (como reza a tradição). A história parece ter sido bastante diferente. Foram soldados castelhanos que desceram a Freixiel, vindos dos arredores de Samões, exigir vinho para os soldados. Como não viram cumpridas as sua exigências usaram a força, saqueando e incendiando.
Na opinião de Cristiano Morais não faz qualquer sentido continuar a designar Freixiel como vila. Só no actual concelho de Vila Flor estão nas mesmas circunstâncias Vilas Boas e Sampaio.
Também foram lembrados acontecimentos mais recentes, como o encerramento da escola de 1.ºCiclo no ano lectivo de 2014-2015. O futuro da aldeia em termos demográficos não é nada animador.
Se o futuro é incerto, o passado é rico e necessita de ser estudado, preservado e mostrado aos visitantes e às gerações futuras.
Cristiano Morais diz ter em seu poder um espólio considerável, com origem no "castelo" de Freixiel, que gostava de ver cuidado e exposto. Lançou à autarquia o desafio para a criação de um espaço,
Casa de Memória, que poderia resultar do aproveitamento da antiga Escola Primária. O repto teve um bom acolhimento, pelo menos no que toca à ideia e ficamos expectantes quanto a desenvolvimentos futuros.
Depois de autografado o livro lançado foi oferecido a todos os presentes.
No edifício da Junta de freguesia foi descerrada uma
placa evocativa da comemoração dos forais de Freixiel.
No programa segui-se uma cerimónia religiosa, com a celebração da missa dominical.
Ao início da tarde a aldeia começou a ganhar ambiente de festa com muitos visitantes a chegarem e a associarem-se às comemorações. Começou a sentir-se o cheiro a comida, com a sopa de pedra a ser confeccionada numa
panela de ferro, na fogueira, destinada a aconchegar o estômago mais ao cair da noite.
As personagens do Desfile Medieval vestiram os seus trajes. O som da gaita de foles e respectiva percussão dos
Gaiteiros das Terras de Miranda alegravam o ar.
A concentração aconteceu junto ao adro da Igreja Matriz. Organizaram-se os diferentes "quadros" representativos das várias classes sociais da época. O grupo
Filandorra - Teatro do Nordeste coordenava o processo e davam um toque de profissionalismo aos grupo de actores improvisados, habitantes de Freixiel que quiseram ter um papel mais activo nas comemorações. Ao cortejo juntaram-se também os elementos do
Rancho Folclórico de S. Domingos (Gravelos -Vila Real), presença surpresa, mas bem-vinda, para dar mais brilho à festa.
A Rua Grande e a Rua do Concelho assistiram, surpresas, à passagem de soldados, nobres, clérigos, bobos e populaça, num cortejo longo e animado.
Depois de uma passagem pela Rua Nossa Senhora do Rosário e Rua do Moinho, o cortejo regressou ao Largo do Pelourinho. O povo queria espectáculo e foi isso que aconteceu. Os espectadores distribuíram-se em redor do largo do Pelourinho e a base deste serviu de palco para a leitura do foral pelo arauto e sua entrega aos homens bons.
O grupo de teatro apresentou alguns quadros medievais que despoletaram espontâneas e prolongadas gargalhadas a novos e a menos novos, a quem o sol quente da tarde não afastou. Tive pena de não ter visto a representação do "caldo de Pedra com pão, vinho e carne assada".
Actuaram, depois, dois ranchos folclóricos: O
Rancho Folclórico de Freixiel teve uma actuação original, com os seus elementos envergando trajes medievais ("inovação" que não foi bem aceite por todos!); o calor não foi entrave para que o rancho folclórico visitante mostrasse as suas danças com muita genica e alegria. As danças terminaram ao fim da tarde com os dois ranchos a dançarem juntos com a população.
A festa mudou-se para o
Largo das Fontes. O local foi bem escolhido. Já estava completamente à sombra, é um espaço verde, bonito, com duas fontes, uma delas muito antiga (fonte de mergulho).
Entradas com chouriço e queijo, seguidas de carne assada no churrasco e a tão famosa sopa de pedra, prato de raízes nada transmontanas mas que é muito apreciada. Mais do que a comida, foi o convívio, a música, a alegria, o encontro de gerações que tornou o momento num dos principais das comemorações.
Mais tarde, já com a barriguinha composta, a refeição foi terminada com belas e doces frutas da época, que só de ver apetece comer.
O programa terminou com mais um momento musical, os
Troika, um grupo jovem que animam arraiais com a sua música mexida bem portuguesa.
Foi um dia em cheio. Além do que aqui lembrei, ainda houve tempo para fazer algumas fotografias da aldeia, uma visita à capela de Nossa Senhora de Rosário, à forca e para apreciar a exposição de artefactos antigos, verdadeira viagem ao passado. Também estiveram expostas peças de artesanato de um artesão local.
Estão de parabéns todos os que se empenharam na planificação e a realização das diferentes atividades. Esta época de calor não é a mais agradável para algumas delas, como cozinhar ou vestir trajes quentes, mas todos deram o seu melhor para fazer uma bela comemoração. Acho que faltou um pouquinho de ambição, porque 500 anos só se festejam uma vez, mas para quem está de fora é muito fácil falar. Freixel e as suas gentes, estão de parabéns.