Tudo começou quando recebi um email a anunciar uma caminhada para os dias 9 e 10 de março, proposta por um grupo de pessoas dos arredores de Lisboa. Dois dias?! Lisboetas em Vila Flor?! O grupo chama-se CAOS (Círculo de Atividades Oxigénio&Sol) e organizam-se através de uma plataforma on line que dá pelo nome Caminhar em Portugal.
Inscrevi-me na plataforma e mostrei a minha disponibilidade em integrar as atividades do dia 9, uma vez que já tinha destinado o dia 10 para fazer uma visita a Foz Côa que se encontra a festejar as Amendoeiras em Flor. A inscrição é meramente informativa, uma vez que o grupo é "desorganizado" tanto quanto possível.
No sábado de manhã estava em frente à Câmara Municipal para conhecer os colegas da jornada. A maior parte deles viajou na véspera, pernoitando em Vila Flor (e também em Carrazeda de Ansiães). Tal como eu, havia um pequeno grupo que se estreava nas caminhadas do CAOS, mas a maior parte já se conheciam. Havia muitos transmontanos na diáspora mas também de Lisboa, do Porto, das Beiras e do Alentejo. Curiosamente todos falavam a "mesma linguagem" e não foram precisas muitas explicações para se formar um verdadeiro grupo.
Viajámos até Santa Cecília (Seixo de Manhoses) onde se desenvolveriam as atividades de sábado. Dadas algumas explicações o grupo preparou-se para uma caminhada com cerca de 17 quilómetros. A liderança estava a cargo de Gil Pacheco, com raízes em Seixo de Manhoses, mas o meu estatuto de caminheiro residente deu-me a possibilidade de introduzir pequenas alterações no percurso de forma a torná-lo mais interessante.
O tempo esteva mau, era mesmo desaconselhável a prática de atividades ao ar livre e mal saímos do santuário começou a chover. As previsões de mau tempo afastaram muito participantes de comparecerem em Vila Flor.
Perto da igreja de Nossa Senhora do Castanheiro encontrámos um grande amendoal em plena floração. Foi um momento de entusiasmo. Mas descer ao longo do ribeiro dos moinhos arrancou verdadeiras expressões de espanto.. A água abundante, as espécies vegetais interessantes, os moinhos as nuvens escuras que a espaços deixavam destapado um céu azul intenso tornaram o caminhar interessante e ameno. Escusado será dizer que os caminheiros são pessoas com uma forma de ser e de estar especial, só assim de justifica que fizessem centenas de quilómetros para caminhar numa terra "desconhecida", debaixo de uma chuva que teimava em não arredar pé e com ventos que por vezes se tornaram assustadores.
Subimos à Aldeia de Seixo de Manhoses. Visitámos a Fonte Sangrinho e seguimos por um estreito trilho que começa no final da Rua da Fraga. Acabámos por almoçar por ali, perto da rua da Atafona. O almoço carregado na mochila tem que ser prático e rápido, mas a minha "bota espanhola" cheia de vinho tinto da terra fez algum sucesso. Partimos em direção à igreja e depois ao Gavião. Não seguimos o caminho normal, que passa junto ao cemitério, mas contornámos o alto da Cheira por sul, com uma vista fantástica para o Ribeiro Grande e para o Nabo. Entrámos no Gavião por oeste, depois de termos enfrentado o pior momento da nossa jornada, com ventos fortes e bastante chuva.
Voltámos ao Seixo por um caminho rural ali perto da Quinta de Valtorinho. Mal posemos um pé na aldeia, subimos em direção ao marco geodésico do Concieiro. A subida prolongada, os quilómetros acumulados e a chuva intensa começaram a fazer mossa, e o grupo foi-se alongando. A fotografia de grupo no ponto mais elevado do percurso acabou por não acontecer, mas, para compensar, avistámos os tão raros narcisos selvagens que eu desconhecia existirem naquele local.
Chegámos ao final do percurso, Santuário de Santa Cecília perto das 17 horas. Enquanto esperávamos que o jantar ficasse pronto aproveitámos para petiscar alguma coisa e para nos conhecermos melhor. A "bota espanhola" com vinho tinto voltou a fazer sucesso, desafiando a destreza dos que tentaram beber.
O jantar teve como prato principal borrego. A boa disposição foi o ingrediente principal e já ninguém mostrava o mais leve sinal de cansaço.
No dia seguinte houve um passeio pelas Capelinhas, visita à Quinta de S. Gonçalo, passeio pela Barragem do Peneireiro e visita à parte antiga de Vila Flor. Já não tive o prazer de acompanhar os participantes, mas, pelo que pude ver nas fotografias, foi um belo passeio, que encantou quem nos visitou.
Pela minha parte também fiquei encantado com o espírito jovem e ecológico dos participantes. Não vejo a hora de puder repetir a experiência num local próximo ou distante, porque existem núcleos de caminheiros espalhados pelo país inteiro. Aprendi bastante, abrigado a todos.
Ligações:
Plataforma - Caminhar em Portugal
Rede Social - CAOS
Sem comentários:
Enviar um comentário