Está situado num ponto alto em relação ao vale da Vilariça, fazendo triangulação com uma série de outros semelhantes, existentes no concelho de Vila Flor ou no de Alfândega da Fé. Nunca foi alvo da minha atenção nos percursos que fiz, embora tenha passado por ali perto em percursos que tiveram Trindade e Valbom como destino.
Deste vez o objetivo final era mesmo o marco geodésico e por isso havia que aproveitar o tempo. Situado a cerca de 15 km de Vila Flor, chegar lá traçando uma linha que passa por Roios, Vale Frechoso e Benlhevai faz um percurso muito irregular e muito interessante. Uma demora inesperada nalgum porto do percurso pode comprometer o objetivo, e já aconteceu em situações semelhantes. A saída aconteceu um pouco mais cedo do que o normal, pelas 8 da manhã.
A caminhada teve lugar no dia a 21 de Abril, um domingo cheio de sol, com a natureza a explodir em flores de muitas cores.
Atravessar a serra é sempre um momento empolgante, no que toca à aceleração do ritmo cardíaco e ao ar puro, com odor a pinho que se espalha pela montanha.
À chegada a Roios fizemos uma pausa para um café, não é habitual nas caminhadas mas o café Caçador tem uma decoração original, quadros pintados pelo Edi.
Subimos ao centro da aldeia onde se situa a igreja matriz. Havia uma tarefa a cumprir mas que não nos demorou muito tempo. Pelo contrário, depois de passarmos o cemitério, passámos algum tempo a visitar algumas hortas, a admirar as hortaliças e ervas aromáticas e a verificar o funcionamento do cegonho ou picota.
Até Vale Frechoso é necessário fazer várias subidas e várias descidas, percorrer espaços onde apenas a urze e as estevas sobrevivem, vigiadas por algum sobreiro atento, posto de vigia de aves de rapina e abrigo dos pombos bravos. A panorâmica altera-se ao atingir os lameiros que antecedem a aldeia. Aí a primavera mostra-se em cores variadas das quais destaco o azul profundo das flores de gala-crista.
A passagem por Vale Frechoso foi rápida. Faltava ainda ultrapassar a maior altitude do percurso, no Alto da Serra, onde existe um dos mais antigos marcos geodésicos que conheço no concelho. É tão antigo que já deve estar abandonado há muito tempo, mas continua ereto, numa posição muito fálica. É um ponto de passagem muito frequente nas minhas caminhadas ali à volta. Está a 690 metros de altitude já no termo de Benlhevai.
Descemos em direção a aldeia mas fizemos um pequeno desvio para passarmos pela capela de Nossa Senhora do Carrasco. A verdade é que pretendíamos encontrar peónias, para verificarmos se já estavam floridas. De facto encontrámo-las mas a floração estava bastante atrasada. Outra das espécies vegetais que existe neste lugar é a Selo-de-salomão (Polygonatum odoratum), planta que despertou a minha curiosidade logo na primeira vez que a encontrei, precisamente neste local. Na altura entusiasmei-me e cheguei a pensar se seria alguma espécie de orquídea. Desde essa altura que tenho um rizoma em casa, num vaso, mas nunca se desenvolveu muito. Este ano floriu!
Apesar de não ser uma planta muito rara eu não a conhecia e sempre que passo por este local em Benhevai vou espreitar o selo-de-salomão. O seu nome deve ser devido à flor, quando vista de frente parece uma estrela de seis pontas. Não é muito aromática, mas o seu odor é muito agradável o que lhe deu o nome odoratum na designação científica. As peónias ainda não estavam em flor mas pelo selo-de-salomão valeu a pena a visita.
Passámos pela capela de Nossa Senhora do Carrasco e chegámos ao centro da aldeia à hora de almoço. O calor já era incomodativo, a fome também já apertava, mas desistir a tão curta distância também não estava nos nossos planos.
Seguimos até à escola Primária, desnecessariamente, continuando depois em direção à Trindade. Não sabíamos a localização exata do marco geodésico e também não usamos GPS. A ideia foi subir aos pontos mais elevados, porque devia estar algures por perto.
De facto, após alguma insistência pelo meio dos montes, acabámos por encontrar o que procurávamos. Não se destaca muito do terreno envolvente, nem está colocado sobre rochedos, o que é muito frequente, mas está posicionado no local certo para se observar o vale.
A paisagem mais próxima é dominada pelas giestas de flores brancas, já em flor. Mais distantes está a serra de Bornes, Valbom, Vilares da Vilariça, Vilarelhos, Santa Comba e todo o vale, até perder de vista.
Depois de saborearmos uma maçã voltámos a Benlhevai. A manhã já tinha dado lugar à tarde há algumas horas e o cansaço já se fazia sentir. O regresso a casa foi de automóvel. Já esquecidos das dificuldades, só já falávamos das próximas caminhadas.
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