03 janeiro 2014

Na serra do Vieiro

O mau tempo que se tem feito sentir nos últimos dias proporcionou a oportunidade para rever com mais calma algumas das "viagens" realizadas durante 2013 pelos caminhos do concelho. Foram muitas caminhadas, algumas viagens de automóvel e outras de bicicleta, mas em todas há uma máquina fotográfica, com mais ou menos pixels, que fixa o momento para mais tarde recordar.
No início de outubro de 2013 fiz uma caminhada à serra de Vieiro, com o objetivo de estudar o terreno para aí colocar uma pequena brincadeira do passatempo Geocaching. Não pensava demorar muito porque fui de carro até perto das ruínas da capela de São Domingos, fazendo depois a subida à serra a pé.
Estávamos em plena época da vindima, mas pensei que naquela zona já não houvesse uvas por vindimar, mas enganei-me. Logo na Palhona me apercebi que poderia ter sorte e conseguir alguns cenários fotográficos com que não estava a contar.
Independentemente da vindimas, o cenário visto do alto da serra é quase divino, beneficiado pela luz mágica de final de tarde. Apesar da caminhada se ter iniciado logo depois de almoço foi tão interessante que a noite caiu quando ainda me encontrava no ponto mais distante da serra, perto de uma zona chamada Serra Tinta, tendo que fazer o percurso de regresso já de noite.
O rio Tua corre a pouca distância, logo depois da aldeia do Vieiro, traçando uma fronteira natural entre os concelhos de Vila Flor e Mirandela. Conheço cada monte, cada caminho, no concelho de Vila Flor e percorrer com o olhar o Cabeço, o Faro, descer ao Vilarinho e regressar ao Vieiro trás-me à memória, caminhadas já distantes e cores de muitas estações. Pelo contrário, do lado de lá do Tua, praticamente tudo é desconhecido. À exceção de algumas visitas a Abreiro, Navalho e Barcel, o desconhecido atrai-me e sinto muita vontade de percorrer o horizonte até onde a vista chega, ao alto da serra dos Passos a mais de 900 metros de altitude.
Olhando para o lado voltado a sul, o cenário também costuma ser magnífico. Digo costuma porque praticamente toda a área que se avista ardeu no verão passado. As chamas consumiram tudo desde Samões, vale do Pelão, vale da Cabreira, Folgares, perdendo-se lá para a aldeia escondida de Pereiros, no concelho de Carrazeda de Ansiães. Doí o coração. É a zona mais recôndita do concelho, mas a mais tranquila, aquela onde os regatos ainda percorrem áreas onde o homem poucas marcas deixou e onde só passa quem tem mesmo uma forte razão para por ali passar. Grandes caminhadas (e cansativas) já fiz naqueles vales! E que triste me pareceu agora o vale das Mós!
 Depois de "sentir" tudo o que se avista do alto da Sapinha (primeiro dos 3 cumes a percorrer) parti para a segunda etapa. Foi então que encontrei um rancho de vindimadores em plena vindima. Ao contrário dos podadores que ali encontrei em janeiro de 2013 que não apreciaram ser fotografados, os vindimadores não se sentiram incomodados e pude fazer algumas fotografias.
Entusiasmei-me e dei comigo a fotografar a preto e branco, tentando captar algo mais do que as cores, que já por si eram fantásticas. Não quis perturbar os trabalhos e segui o meu caminho em direção ao segundo cume, o marco geodésico de Freixiel (618 metros de altitude). Na caminhada que fizemos em fevereiro tínhamos como objetivo alcançar este marco geodésico, mas, por não haver um acesso marcado, acabámos por passar ao lado sem o encontrarmos. Ele é visível de longas distâncias, mas depois de estarmos perto, não o vemos. Desta vez consegui alcança-lo sem grande dificuldade.
Em redor do marco geodésico está sinalizada a existência de um castro. São visíveis algumas paredes, mas parecem-me muito recentes para serem atribuídas à idade do ferro.
Atingido o segundo pico regressei ao caminho voltando algumas centenas de metros para trás. Foi mais seguro do que seguir em corta-mato em direção ao terceiro. Não é fácil andar pelo meio das estevas e das carquejas, elas rasgam qualquer tecido e penetram na carne, se não tivermos cuidado.
Já na segurança do caminho passa-se junto ao retransmissor de televisão. Servia as povoações de Freixiel de Vieiro, mas não sei se ainda se encontra em atividade. Há também uma antena de rede wireless, mas o sinal é muito fraco. Consegui colocar algumas fotografias no Facebook! Continuei pelo caminho passando pela Fraga Amarela até encontrar um antena gigantesca da TMN. Esse local chama-se Feiteira, foi o terceiro pico da minha caminhada e o meu destino final. Curiosamente algumas aves fizeram ninho no alto da enorme antena! Seriam corvos, águias ou falcões? Gostaria de saber.
 Posicionei-me no ponto mais elevado do monte e registei as coordenadas com a ajuda do GPS. Precisava das coordenadas para conseguir incluir este lugar num roteiro de locais a visitar no âmbito da prática do Geocaching.
E foi quando me encontrava neste local e fui surpreendido com a luz quente do sol em despedida. A constatação do fim do dia não me fez acelerar o passo, enfeitiçou-me continuei a tentar captar a magia da luz que fugia deixando o horizonte com tons rosa muito subtis.
Só quando já não via nada para fotografar, me convenci de que tinha que regressar. Felizmente bastava-me seguir o caminho inverso, sem qualquer possibilidade de me perder.
A certa altura, pareceu-me ver uma sombra junto dos meus pés. Disparei o flash e consegui captar uma pequena cobra que fugiu assustada (tanto quanto eu fiquei).
Depois desta minha caminhada, já outras pessoas visitaram o marco geodésico e a Feiteira, graças às minhas coordenadas.
Foi a quarta ou quinta vez que percorri aquela serra e gostei como se fosse a primeira. A natureza está sempre a surpreender-nos e caminhar sem relógio é das coisas mais "saborosas" que se podem fazer na vida.

1 comentário:

nana disse...

Transmontano à Descoberta, os meus sinceros Parabéns!
Andei a par e passo consigo tal é a maneira expressiva com que nos transmite o que vê com os olhos e com a objectiva.

GOSTEI! Muito obrigada.