11 novembro 2010

O valor das coisas

Esta postagem não serve para ilustrar caminhadas é mais uma desabafo de algumas preocupações que me perseguem já algum tempo.
O vilaflorence, por todos conhecido e por alguns admirado, Modesto Navarro, publicou recentemente no Diário de Notícias uma artigo intitulado Os desastres anunciados do IP2 e do IC5.
Entre outras coisas, chama a atenção para o traçado do IC5, nomeadamente no concelho de Vila Flor, onde vai causar estragos irreparáveis na paisagens e mesmo na economia.
Quem acompanha as minhas deambulações pelo concelho já se apercebeu de que, quando falo no IC5, não o faço com muito entusiasmo.
 Infelizmente não tenho a capacidade visionária de muitas pessoas (principalmente autarcas e outros ligados à política), que vêem progresso em tudo o que leva muito betão. Estou a falar das barragens do Sabor e do Tua, no IP2 e no IC5. Se no que toca às barragens a minha posição é totalmente contra, uma vez que penso que elas vão apenas servir para tornar mais arrogante uma empresa dominadora do mercado chamada EDP, que nos explora até não poder mais e que serve de refúgio a muitos políticos, no que toca às estradas tenho uma posição mais moderada. Reconheço a sua importância e a sua necessidade, não posso é deixar de questionar algumas opções, porque como cidadão contribuinte (e mais ou menos inteligente) a isso tenho direito.
Conheço todo o traçado do IC5. Atravessa concelhos onde vivo há mais de 40 anos e onde me movimento constantemente. Em nenhum concelho o estrago causado pelas opções no traçado é tão importante como no concelho de Vila Flor.
São muitas quintas, terrenos muito bons para a produção de vinho e azeite, que são devastados sem dó nem piedade, por enormes máquinas, que, do grandes que são, intimidam os automobilistas e nos (residentes) fazem sentir pequeninos e insignificantes. Além dos terrenos agrícolas, há dois empreendimentos turísticos de Vila Flor que serão bastante afectados: A Quinta da Pereira e a Valonquinta. Esta última, que se encontra inserida num meio rústico e rural, vai ver a sua propriedade rasgada a meio ficando com a estrada a cerca de 100 metros do edifício destinado ao turismo rural. A orientação do edifício, para sul, que regalava a vista de verde dos pinhos e medronheiros, onde as pombas se lançavam do seu pombal altaneiro, vai, de futuro, oferecer como vista principal uma estrada, quem sabe se entaipada por barreiras sonoras.
A questão não é que a estrada é boa ou má. Eu interrogo-me é se não havia alternativas de traçado que poupassem estes empreendimentos turísticos (um deles que está em actividade há menos de dois anos e foi feito com apoio do estado) e outras quintas, com alguns dos melhores terrenos que existem no concelho. Será que, mais uma vez, os mais fracos é que pagam a factura?

5 comentários:

Alexandrina Areias disse...

Boa tarde prof. Anibal!
Vou comentar esta sua postagem, no sentido de manisfestar a minha total 'solidariedade' digamos assim, no que toca às barragens, pois sou contra a sua construção e não acho que barragem alguma traga progresso a uma região, pois se assim fosse, e olhando o mapa de barragens em Portugal, então o Norte seria muito desenvolvido e todos sabemos que não é nada disso que acontece... e já para não falar no caso da Linha do Tua em que é um Crime a destruição daquela Linha Centenária do caminho de ferro...!
Mas, não sou da mesma opinião no que toca aos traçados do IP2 e do IC5, pois Nenhum Traçado que fosse feito, seria o ideal para Todos... haveria sempre uns mais prejudicados que outros... e as vias são necessárias a todos os que aqui residem e a todos os que desejam visitar-nos e não acho justo que o interior do país não tenha bons acessos... estes fazem muita falta...
Esta é a minha modesta opinião...:)
Bom fim de semana!
Cmc's
AA

m vilares disse...

Boa tarde,

Em primeiro lugar quero agradecer as imagens, as palavras e as viagens do autor ao local que me viu nascer! Um dia estou certa que nos haveremos de conhecer!
Não posso deixar de responder ao anterior comentário... Claro está que nenhum traçado que fosse feito seria ideal para todos... mas há traçados e traçados o que provavelmente é bom para os habitantes das zonas, não é bom para as empresas, porque financeiramente acarreta muitos custos e poucos lucros! Convido a leitora a ver o traçado e a pensar se seria mais fácil/barato rasgar um vale fértil como vê na Valonquinta ou rasgar uma montanha cheia de "calhaus" infertil?! Acho que ninguém está contra o desenvolvimento e os bons acessos... até porque estes já deviam ter chegado há muitos anos atrás e por certo a desertificação não teria chegado onde chegou! Acha que não seria possível salvar a linha do Tua? As aldeias perto do Sabor? Salvaram gravuras rupestres... mas o "mamarracho" da barragem de Foz Côa agrediu o vale... mas continua lá, qui ça para mais tarde ser uma figura rupestre! Já pensou nos custos? E os lucros? Ao analisarmos a conduta das pessoas nos países ricos e desenvolvidos, constatamos que a grande maioria segue o paradigma quântico, isto é, a prevalência e espírito sobre a matéria, ao adoptarem os seguintes princípios de vida: ética como base, integridade, responsabilidade, respeito às leis e os regulamentos (ex: características de um projecto de turismo de habitação - Valonquinta), respeito pelos direitos dos outros cidadãos, o amor ao trabalho, o esforço pela poupança e investimento (Valonquinta), o desejo de superação e a pontualidade. Daí o sucesso desses países! Vejam o documentário “Pare, Escute e Olhe” e a comparação que o jornalista Jorge Pelicano faz de Trás-os-montes com uma terrinha na Suíça… Sorvam as imagens!
Somos, como somos, porque vemos os erros e só encolhemos os ombros e dizemos "não interessa"... Até porque foi a casa do vizinho que foi destruída!
Continuação de boa reflexão!

Maria Vilares

EA disse...

Recentemente fiz um passeio pela linha do tua (entre Ribeirinha e Cachão) e fiquei maravilhado com as paisagens de Outono. Suberbas! No entanto esta beleza está ferida. Ferida de abandono, de podridão. O que a Natureza embelezou, destrui o homem ao permitir que a linha e as suas estações chegassem àquele ponto. Onde estavam as acções (mais que os projectos) para a utilização e viabilidade da linha antes do apareciento da barragem? Não a defendo, mas será que se a pararmos esses projectos não voltam para a gaveta e ficaremos cada vez mais submersos no abandono a que nós, sim porque a culpa é nossa, votamos aquela linha? Sinceramente defendo a preservação da beleza do vale do Tua, mas não a linha. Neste momento, em vez de complementar a paisagem suja-a, torna-a horrenda, e assim não vale a pena.
EA

Alexandrina Areias disse...

À Sr. Maria Vilares, só quero dizer que agradecia que voltasse a fazer o favor de ler o meu comentário, para ver que sou completamente contra a construção destas duas barragens e não a seu favor... pena tenho, é que os poderes autárquicos locais não vejam as coisas da mesma forma e deixem que uma grande empresa como é o caso da EDP contínue a explorar tudo e todos...
Cmc's
AA

m vilares disse...

Cara Srª AA,

Li e reli o seu comentário, muito antes de lhe responder a primeira vez... E agora pedia-lhe para voltar a ler o meu! Falo de traçados da IP2 e IC5... e não de barragens! E passo a citar o que disse no seu comentário ao texto do prof. Aníbal: "...Mas, não sou da mesma opinião no que toca aos traçados do IP2 e do IC5, pois Nenhum Traçado que fosse feito, seria o ideal para Todos"... E a minha resposta assenta nesta questão... Sou a favor do desenvolvimento organizado, estruturado, estudado num todo e não em partes... E no caso do texto do prof. Aníbal que se refere ao prejuízo que os traçados vão causar a dois empreendimentos, que foram investimentos feitos por indivíduos que queriam tornar a sua terra mais competitiva a nível de turismo, cultura, tradição e empregabilidade... Em como deve saber o turismo Rural tem regras de implantação, as quais foram exigidas na altura... e agora, com a IC5 já não são necessários é a isso que me refiro!
Quanto às barragens é outra matéria... em que mais uma vez são lucros e mais lucros...

Um bem haja e obrigada pela sua opinião (é sempre bom trocar ideias!)

mvilares