29 novembro 2011

No Jardim da Saudade (1/2)

Já rolam os ventos brandos do Outono pela Natureza sonolenta além. Descem aos vales, perseguindo os ribeirinhos, brincando com os salpicos irisados de
pequenas cachoeiras, penetrando as frinchas das azenhas, que recomeçaram o trabalho de moer pão e de bucolizar os quadros campestres no chiar mansinho dos rodízios; e abanam as copas desfalcadas dos choupos das margens desprendendo-lhes as folhas, agora uma, logo outra, mais outra, e mais... e mais... que vão caindo, esmaecidas, mortas, nas ondulações da corrente, como lágrimas num rosto, a deslizar suavemente; ou poisando em espasmos nos tapetes relvados, esboços dos novos prados para os cordeirinhos pastarem plas tardinhas.
Correm as encostas como um sopro fugidio, arejando a terra revolvida pelas charruas do lavrador, que a prepararam para a sementeira do centeio, seguidas por bandos de contentes alvéloas, que empinam o rabo ao vento, enquanto debicam os vermezitos que a relha traz à tona.
Embalam os sinos das igrejinhas modestas, dispersas pelos povoados das quebradas, tomando-lhes as badaladas plangentes, escoadas nos crespúculos pelas veigas fora, até aos ouvidos dos trabalhadores da terra, que se descobrem, se inclinam e se edificam na oração das Ave-Marias.

Texto: Excerto do livro Paisagens do Norte, de Cabral Adão.
Fotografia: Por Traz da Serra (Roios)

1 comentário:

Transmontana disse...

Bom dia, Aníbal!

Gostei muito do texto e, não menos, da foto que o ilustra!
Parabéns! Obrigada pelas partilhas que faz e que tanto me agradam.
Um abraço para toda a família.
Anita