16 abril 2014

e de repente é noite (XV)

A impetuosa deambulação do álcool da escrita atravessando
este apego às pausas nocturnas.
Fumegam as montanhas de tanto tédio expelido
de seus profundos alvéolos
preenchidos com minha ansiedade de toupeira
ante os segredos últimos da terra.
É de noite que as aranhas dos sonhos
segregam mais translúcidas teias
e dúctil é o âmbar das eiras sob as escamas fosforescentes
do luar de Agosto.
Nos solares abandonados, meus herméticos olhos
só repousam no escuro dos corredores
como se descobrissem, de repente,
a substância de que foram feitos.

Poema de João de Sá, do livro "E de repente é noite", 2008.
Fotografia: Pôr do sol - Candoso.

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