22 abril 2014

e de repente é noite (XIX)

Em Maio os campos acendiam-se
e o céu, límpido, era mais alto e lento.
A horizonte tornava-se um veleiro
afastando-se num tremular de lenço
em que não cabia nenhuma dor de exílio.
Pela tarde vinham as trovoadas,
seu peito metálico oprimindo
a nossa vigília de medo,
por não reconhecermos a sua voz.
Pouco ou nada sabíamos
do malogro das esperanças
pelos outros sonhadas para nós,
mãos pousadas no vapor das vidraças,
como no extremo de uma comoção enternecida.
E o que se erguia dos novelos de trovões
falava-nos vagamente de uma história antiga
em nada semelhante à vida.

Poema de João de Sá, do livro "E de repente é noite", 2008.
Fotografia: Pôr do sol - Vila Flor

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