Parti em direcção ao Santuário da S.ª da Lapa. A saída foi mais tardia porque tive que esperar que as baterias da máquina fotográfica se carregassem.
Passei a capela da S.ª dos Remédios e continuei até à Fraga do Frade. Estava um céu limpo mas havia muita neblina. A vista da Vila, habitualmente muito bonita, estava muito enevoada, sem contraste. Continuei. Não devo ter feito as opções certas, de repente vi-me em direcção à Quinta de S. Gonçalo. Não era esse o caminho que queria seguir! Sabia que algures, mais abaixo, passava a estrada para Róios. Segui em corta-mato, algumas vezes com a bicicleta às costas pelo meio de pinhais jovens e densos. Cheguei à estrada, mesmo à entrada de Roios, junto a umas alminhas. O sol já só iluminada metade da aldeia, conclui que tinha feito a opção errada. Descer em direcção ao Vale da Vilariça durante as tardes frias, é ir de encontro às sombras, uma vez que o sol rapidamente se esconde deixando o vale na penumbra e frio.
Depois de umas rápidas fotografias panorâmicas, nem sequer pensei em tomar um café ali ao lado da capela, segui pela estrada que desce em direcção a Lodões.
Encontrei alguns grupos que apanhavam azeitona nas muitas oliveiras que existem por estas bandas.
Antes de chegar a Lodões cortei à direita por um caminho rural. Havia um cabeço, talvez o Cabeço do Pereiro, de onde eu pensava ter uma vista agradável do vale e da aldeia. Acabei por não subir ao cabeço porque o caminho começou a descer. De repente dei comigo a “nadar” em água. De onde sai este ribeiro de água em pleno caminho? Descobri! De uma conduta de água que passa pelo caminho. Tenho acompanhado o problema da água de Vila Flor nos últimos anos; tenho vigiado o nível lento mas crescente da água na Barragem do Peneireiro e fui encontrar ali aquele desperdício descontrolado? Alguma coisa estava mal. Devo acrescentar que hoje foi comunicado à Câmara Municipal a existência dessa fuga de água. Reconheceram saber a existência de uma grande fuga mas ainda não tinham ainda descoberto a sua localização. Afinal este percurso de bicicleta teve uma utilidade inesperada.
Junto à aldeia mais ranchos de pessoas apanhavam azeitona. Aqui as oliveiras misturam-se com videiras e laranjeiras. Estas últimas estão lindas. O verde escuro contrasta com o laranja dos frutos abundantes e maduros. Com a luz quente do fim do dia, a visão é deliciosa.
Cheguei a Lodões pela Rua das Eiras, a aldeia parecia abandonada. Cruzei-me com duas idosas e alguns cães que tentam insistentemente em fazer-me abandonar as ruas o mais rapidamente possível.
Procurei alguns locais de interesse ser perder muito tempo. Encontrei uma capela (Capela de Nossa Senhora do Rosário, Séc. XVI), uma casa brasonada que penso tratar-se do Solar dos Reimão Meneses, do séc XVIII e uma fonte, Fonte Romana, no Largo da Fonte, mas que está datada de 1680. Visitei a escola primária, com ar de abandono e a igreja do séc XVIII dedicada a S. Tiago. Aqui a altitude é de 223 metros.
Os últimos raios de sol chegavam à porta da igreja. Um longo percurso me esperava. Desci à Estrada N102, agora sabia onde estava. Mais à frente ainda parei para fotografar as alminhas do Anjo da Guarda no início da Rua do Bairro. A minha vontade era parar por ali, sujar as botas nos campos, saborear as laranjas e as tangerinas que por ali abundam, mas, - ala que se faz tarde (como se diz por Mogadouro). Com uma pedalada forte cheguei a Sampaio. Olhei para trás. A Serra de Bornes estava enorme, em tons quentes, por cima dos pavilhões verdes das Águas Frize (antigas Águas de Bem Saúde). Nestes passeios de Outono/Inverno, nunca me dá a sede! Muitos litros de água bebi quando “descobria” Miranda do Douro!
Vila Flor estava a uns míseros 5 quilómetros. Mas que 5 quilómetros! Dos 212 metros junto à Ribeira de Roios que passa perto de Sampaio tem que subir-se até aos 520 metros de altitude, perto do Navalheiro, em mais ou menos 4 quilómetros. Não, não vou por aí…
Segui em direcção à Ribeira da Vilariça. Bem que me apetecia parar para descansar e dar uma vista de olhos na antiga fonte das Águas de Bem Saúde, mas o tempo começava a ser valioso. Lancei um olhar rápido à Junqueira. Quem por ali passa, sabe do que estou a falar. Aquela aldeia, que se adormece todos os dias num berço de centenas de metros de altitude, recolhe os últimos raios de calor e brilha de dourado com o fogo que se extingue, lá no alto, perto do Seixo de Manhoses.
Quando cheguei à ponte sobre a ribeira, a Junqueira já estava deitada, as sombras já a tinham coberto. Atingi o limite do concelho de Vila Flor. Estava agora a 140 metros de altitude e tinha 11 quilómetros pela frente até chegar a Vila Flor.
Sabia o que me esperava, por isso pedalei calmamente, doseando as forças, esquecendo o tempo e o cansaço. Guardei a máquina fotográfica, a colheita estava terminada.
Durante a subida ainda enfrentei os olhares incrédulos de alguns trabalhadores que recolhiam da apanha da azeitona. Calculo que comentariam se não seria mais útil eu gastar as energias a apanhar a azeitona, mas esse desafio já o arrumei, por este ano.
Cheguei a Vila Flor pelas dezoito horas. A noite estava fria e eu cansado suado e sujo. Descobri mais um pedaço de Vila Flor. Umas migalhas em partilho aqui, mas a maior parte, vou guardar comigo.
Quilómetros percorridos: 32
Total de quilómetros: 195
Total de fotografias: 3587
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