19 junho 2008

De volta a Meireles


(17-06-2008) Por fim o calor chegou! Cansado dos dias cinzentos, peguei na bicicleta e parti À Descoberta de mais um pedaço do concelho. A escolha recaiu em Meireles. A única visita que fiz a Meireles, a 18 de Abril de 2007 não correu muito bem, terminando a viagem com uma roda que mais parecia um crivo. As fotografias até não ficaram más!
Para simplificar, decidi seguir pela estrada (N213) até à aldeia e depois procurar um caminho alternativo de volta a casa.

Na ida, perto da Quinta da Veiguinha, demorei-me um pouco a fotografar uma giesta que cresce na berma das estradas. Elegi a giesta como Flor do Mês de Maio, mas há uma espécie que só se encontra aqui, mesmo na beira da estrada. É um pequeno arbusto, atingindo menos de um metro de altura, muito esguia, com flores grandes e amarelas, semelhantes às da giesta-negral.
Chegado a Meireles, já me apetecia beber alguma água no café à beira da estrada. Há muitos anos atrás que aqui existe e era ponto de paragem quase obrigatória, para os que se deslocavam de Vila Flor ao Cachão, para viajarem no comboio.
A aldeia, apesar de pequena, está espalhada em várias direcções, desde o Bairro da Cruzinha, ao Bairro da Eira, à Rua do Cimo do Povo. Quando se deixa a estrada nacional e se desce em direcção ao centro, encontramos à direita um importante lagar de azeite, nesta altura encerrado. Um pouco mais abaixo está um nicho com nossa senhora e o menino. Está ladeado por dois bancos, mas com o calor que fazia, as pessoas procuraram lugares mais frescos para descansarem.

Talvez devido ao calor, encontrei mais pessoas na aldeia do que habitualmente! Havia vários grupos, em alegre conversa, algumas mulheres a fazerem na renda ou tapetes de Arraiolos. Meti conversa com eles, não se mostraram surpreendidos com o meu interesse pela aldeia. - A Internet tem tudo, dizia um, o meu filho já me mostrou as minhas oliveiras.
As ruas da aldeia, são estreitas e inclinadas. Nalguns pontos o espaço alarga-se criando pequenos largos: Há um junto ao cemitério, em volta do cruzeiro, outro junto à fonte, e um terceiro em redor da igreja.

A igreja é uma construção muito sóbria, quase uma capela. Apenas o pequeno campanário a destaca, até porque está num dos pontos mais baixos da aldeia. O interior também é modesto, mas está muito cuidado e recheado de imagens. A padroeira, Santa Marinha está colocada à esquerda do sacrário! Da talha dourada de outrora, pouco resta. Não sei se o sacrário foi recuperado, mas há um antigo altar na sacristia.
Depois da visita à igreja, continuei o passeio pelo verdadeiro templo, a natureza. . Em Meireles há até uma curiosidade que dá mais significado a esta ideia. Há uma rocha a que chamam a Fraga do Altar, com a forma de um altar. Encontra-se num ponto elevado, virada para o vale, com uma bela visão do mesmo.

Se a visão do vale que se prolonga até ao Cachão e sobe pelo Tua acima é digna de ser admirada, o mesmo se passa com os campos em volta. As hortas fervilham de verde. O caminho estava cheio de poças de água, sumida dos regos das batateiras pelas galerias abertas pelas toupeiras. Dos lameiros vem o cheiro a fenos. Das silvas, agora em flor, saem melancólicas sinfonias de rouxinóis e felosas.
Quando cheguei à Ribeira de Meireles demorei-me no colorido das suas margens, guardadas por pequenas flores de todas as formas e cores: o roxo dos cardos e das arçâs, o branco das camomilas, o rosa (aqui mais carregado!) das malvas, o amarelo dos pimpilros, tudo condimentado com o azul do céu e o alegre saltitar da água de rocha em rocha.
O meu desafio era grande: subir a encosta de encontro à estrada N214 perto de Vale Frechoso. Não conheço nenhum caminho com esse traçado. Tinha prometido a mim mesmo não voltar a embrenhar-me por essas paragens completamente selvagens.
Vislumbrei ao longe uma rodeira recente que subia encosta acima, com as estevas todas esmagadas! Estava com sorte. Um raide todo o terreno tinha por ali passado recentemente. Quando me encontrava a meio da subida, encharcado de suor, mas eufórico com a progressão, tocou o telemóvel. As perspectivas eram más, chamavam-me com urgência.

Tinha duas hipóteses: continuava a subida até passar os 600 metros de altitude, ou voltava para trás pelo caminho já percorrido. Optei pela segunda hipótese, com muita pena, mas era a mais segura.
Telefonei para que me fossem buscar a Meireles, onde procurei chegar o mais rapidamente possível.
Mais uma vez terminei o passeio a Meireles voltando para casa de carro! Valeu a pena. Ficou-me esta história, algumas centenas de fotografias e a vontade de lá voltar, provando a mim mesmo que a vontade é superior à superstição.

Quilómetros percorridos em BTT: 14
Total de quilómetros de bicicleta: 1834

3 comentários:

Anónimo disse...

Prof. Anibal, as fotos e a descrição sobre a aldeia de Meireles e suas gentes está espetacular. Parabens
Cumprmentos de um natural dessa aldeia, embora esteja longe.
Alberto Rodrigues

Anónimo disse...

a descrição está muito boa realmente, parabens pelo seu trabalho mais uma vez! so queria fazer um pequeno comentario menos bom, pois axo que também é importante dizer o que falta para além do que se têm.
Uma estrada que eu costumo chama-la "a via remendada" acho que se devia olhar mais para uma garantia da população uma vez que temos um optimo ambiente natural

parabens

Anónimo disse...

Simplesmente fantástico! O Professor pode acreditar que ao ler esta descrição quási poética, os meus olhos ficaram com uma luminosidade inexplicável … fui criada nessa aldeia e por isso revejo-me em todos os detalhes por si narrados / ilustrados.
Parabéns pela excelente recolha.
Maria José Fraga