A Câmara Municipal de Vila Flor, com Apoio Técnico da OASRN, lançou um Concurso Público para a elaboração do Projecto de "Reconstrução do Edifício Centro de Arte Graça Morais (Encontro das Artes/ Espaço Graça Morais)". O interesse neste concurso é evidente pelo número de pessoas, em princípio arquitectos, que têm vindo recolher informação sobre a casa envolvida.
O edifício em questão, não passa despercebido: quer pela sua localização, quer pelos dois painéis de azulejo da Praça da República que ostenta na parede, quer pelo seu alpendre com gradeamento em ferro forjado (que já inspirou muitas das minhas fotografias (1)(2)).
O concurso é de reconstrução, o que indica que não se trata de uma demolição e construção de um novo edifício o que poderiam levar à repetição de alguns erros já cometidos noutros edifícios públicos, em Vila Flor. Talvez por isso, tenho notado a preocupação dos interessados, em saberem mais do que as dimensões da casa e terreno próximo, procurando saber também sobre a história e do ambiente circundante.
A casa está inserida num conjunto de três que pertenceram à família Corte-Real. A que vai ser reconstruída pertenceu a Sebastião Corte-Real, uma outra (onde está a Casa Africana) pertenceu a Miguel Corte-Real e uma terceira que foi de Maria Vicentina Corte-real. Das três casas, a que pertenceu a Sebastião Corte-Real acabou por ficar devoluta, mas há muito gente que se recorda de ainda estar habitada.
Uma das razões possíveis que pode ter conduzido ao estado de abandono seja o facto de, apesar do aspecto imponente do seu varandim e das bonitas águas-furtadas, o seu interior ser constituído por divisões muito exíguas, já para não falar das escadas que dão acesso aos vários pisos. Tal sugere que a casa foi objecto de vários acrescentos, também evidenciados pelo facto de uma das janelas da fachada dar directamente para uma varanda, fazendo parecer que a casa é maior do que realmente é. No gradeamento do varandim é visível a data de 1914 e as iniciais do seu proprietário “SCR”.
Os painéis de azulejos representando a Praça da República em 1930 e em 1937, não existiam em 1994, altura em que a casa ainda era habitada.
A casa tem a fachada principal para a Praça da República mas dá também para a Rua Miguel Corte Real, onde um anexo termina com uma tradicional varanda em madeira.
No rés-do-chão não há nada de referenciável a não ser que as paredes principais são feitas de um misto de xisto e granito revestidas com barro. No primeiro andar, do varandim tem-se acesso a um corredor que atravessa toda a construção. As divisões são pequenas. Alguns tectos têm elementos decorativos em gesso.
De todas as divisões a que apresenta algum interesse para a fotografia é a cozinha. Os objectos devem ter sido aí colocados recentemente, especificamente para a rodagem de algumas cenas da telenovela “A outra”, que passou na TVI.
Da capela pouco resta e dos quartos também. Há uma casa de banho e é de realçar que toda a casa tinha aquecimento central. No sótão, a que se tem acesso por umas escadas muito inclinadas, há um conjunto de dois compartimentos mais amplos e várias pequenas divisões. Há um conjunto de duas janelas com uma vista privilegiada da Praça da República e três outras para a Rua Miguel Corte-Real. O sótão era característica de quase todas as casas da praça, e muitas ainda o mantêm. Mas sobre a praça, vou tentar saber mais, fazendo algumas leituras, e escreverei noutro dia.
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