A respeito das Alminhas, diz:
“Eram estas, em tempos que foram, nota benta e espiritual da paisagem e polvilhavam o solo de Portugal de lés a lés, postadas humildemente à beira dos caminhos das aldeias, vilas e povoados, gritando de contínuo aquelas labaredas vermelhas rusticamente pintadas, no contraste do verde, do escuro ou do branco ambiente.As alminhas lembravam aos vivos o purgatório, mas destinavam-se também à recolha de esmolas, com as quais se celebravam missas pelas almas. Os mealheiros da altura ou eram metálicos de madeira ou de barro, sendo necessário parti-los para retirar as dádivas.
E as almas simples dos que passavam, com fé viva e alma amiserada a crepitar no peito, rezavam baixo um pai-nosso e uma ave-maria, parando a contemplar a Senhora meiga do Carmo ou do Alívio, e as chamas ardentes e rubras onde as almas se esbraseavam em sofrimento e dor. Tiravam do bolso ou da algibeira, quase desprovida, pequeninas moedas da sua penúria, óbulo da viúva precioso e rico dos olhos de Deus e lançavam-no pela greta da caixinha de ferro ou da soleira furada de granito, adrede ali dispostas.
E, ao cabo, de tantos grãozinhos se faria o pão gostoso para a fome, quero dizer, as pequeninas oferendas haviam de juntar-se e converter-se, os pequeninos sacrifícios, na riqueza imensa do Santo Sacrifício do Altar, grandioso sufrágio das pobres Detidas e individadas. Serão o seu resgate do cárcere do Fogo”.
“Que belos que são e como pincelam a paisagem esses nichos esparsos por aldeias, vilas e cidades, de Norte a Sul do país, à beira de caminhos, estradas, ruas e praças!Percebe-se ao longo de todo o livro um forte apelo à construção de nichos, cruzeiros e disseminação de mealheiros. Um grande movimento nacional para que em cada aldeia, em cada bairro, o solo seja sacralizado com a presença de “Alminhas”. O movimento tem tal poder que começam a ser enviados painéis para a construção de alminhas noutros pontos do antigo império.
Quantos deles esperam alma pia e carinhosa para uma restauração em forma, avivando-lhes a pintura ou substituindo-a por um painel azulejado, limpando-lhes o rebordo de pedra ou reaformoseando-lhes a arquitectura! Quanta vez será necessário dar maior solidez à caixa das esmolas embutida na base imunizando-a da cupidez sacrílega de vulgares ratoneiros! Mas a frequente inspecção e recolha das esmolas ali acumuladas será sempre de recomendar às pessoas encarregadas de velar por tão santa tarefa e a maneira mais eficaz de evitar furtos do sagrado pecúlio.”
Em 1955 o Ministro das Obras Públicas determina que a Junta Autónoma das Estradas promovesse a conservação dos nichos existentes junto às estradas nacionais em conjunto com a reparação destas. A conservação das restantes competia às Autarquias Locais e Juntas Fabriqueiras, podendo o estado comparticipar através do Fundo de Desemprego.
1.ª Fotografia - Alminhas junto à estrado do Seixo de Manhoses.
2.ª Fotografia - Alminhas em Lodões.
3.º Fotografia - Alminhas na base de um cruzeiro em Vilas Boas.
1 comentário:
"Podendo o estado comparticipar através do Fundo de Desemprego" para a conservação das alminhas.
Essa está boa! Mas, se calhar, era assim, nos anos cinquenta do século passado, que se fomentava o emprego e se combatia a vaga emigratória!Os mandantes de hoje, como são laicos e modernaços,é que não vão nessa; ordenam que se retire crucifixos das escolas e arranjam empregos precários com barragens, como a do Tua, que não interessam nem ao Menino Jesus. Que comandita, valha-nos Deus!
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