No dia 19 fiz uma pequena caminhada para me despedir do Outono. A tarde estava gelada. Logo à saída de Vila Flor passei por uma charca e a água tinha a superfície completamente gelada. A solução para o frio é fácil e barata: andar depressa.
Pensei em explorar percursos já meus conhecidos. Não me sinto com preparação para grandes aventuras, e, nesta altura do ano a noite chega muito depressa. Pensei em ir a Candoso mas depois optei por descer de Samões à ribeira do Vimieiro (entre Samões e Candoso), seguir a ribeira até à Ola e subir depois até Samões, regressando a Vila Flor. O percursos servir-me-ia também para testar um GPS que me tinham emprestado.
Depois de passar Samões fui surpreendido por um grande número de estacas de madeira espalhadas ao longo dos montes. Sou levado a pensar que são as marcações para alguma estrada, talvez o IC5! Parece-me estar a ser montado um grande estaleiro perto do marco geodésico do Concieiro, muito perto de Carvalho de Egas. Será que o desenvolvimento está a chegar ou será a mais um contributo para a desertificação do interior?
O grande pinheiro manso entre Samões e Carvalho de Egas nunca tinha sido alvo da atenção merecida. Parei durante algum tempo para o fotografar. Estranhei uma placa suspensa da árvore que dizia: “Não tucar no pinheiro”. Será que alguém tinha coragem de danificar a centenária árvore?
Comecei a descida para o vale. Estas encostas são selvagens, quer do lado de Samões, quer do Candoso. Há muitas formações graníticas com formas curiosas, vigiadas por carvalhos, pinheiros, sobreiros e castanheiros que sobreviveram a um sem número de incêndios. O sol teimava em espreitar por entre as nuvens, mesmo por cima de Candoso, ameaçando-me esconder-se a qualquer instante. E esse instante não demorou a chegar, pouco depois das 17 horas da tarde. Aproveitei os últimos raios que ganharam tonalidades douradas ao passarem por entre as folhas dos carvalhos. Eram os últimos acenos de Outono que se preparava para partir.
Quando cheguei ao coração do vale esperava encontrar os lameiros a transbordarem de água, mas não foi isso que encontrei. A montante do caminho, a ribeira levava alguma água, mas esta desaparecia de repente, como que por magia, num banco de areia que se atravessava no seu caminho. Percorri quase dois quilómetros da ribeira, mas não voltei a ver esse precioso líquido regressar a superfície! Os lameiros estão secos, não vi as tradicionais levadas que espalhavam água por todo o lameiro para favorecer o crescimento de erva fresca.
As sombras não me permitiam grandes manobras fotográficas. Os picos dos montes mais altos, como o Faro ou o Cabeço, nadavam num mar de luz enquanto o fundo dos vales mergulhavam nas sombras e nos silêncios preparando-se para mais uma noite fria. Uma noite capaz de gelar a humidade por baixo de superfície do solo, criando cristais de gelo que já não me recordava de encontrar há muito tempo.
A Ola é um local onde há várias cortes para o gado. Onde há gado há cães pastores. Já apanhei alguns sustos nesse local, mas desta vez consegui passar sem ser notado. Subi por um caminho já bem conhecido até Samões. Mesmo com pouca luz não resisti a tentar registar em fotografia algumas oliveiras com os troncos dilacerados pelos anos. Mesmo com o seu ar fantasmagórico apresentavam-se carregadas com os seus frutos negros, que mais tarde se irão transformar em luz, ou mais certamente num líquido dourado para temperar um saboroso prato de nabiças.
À medida que em subia a encosta, a luz ia descendo deixando-me na mais completa solidão. Acenderam-se as luzes em Samões orientando-me os passos. Não tive dificuldades no percurso porque não me afastei do caminho. Atravessei a aldeia em direcção à igreja; das suas traseiras parte o caminho em direcção a Vila Flor.
Cheguei a Vila Flor já noite cerrada. O percurso tem pouco mais de 12 quilómetros, mas, como sempre, o número de quilómetros é muito subjectivo. Quando demoro muito a fazer poucos quilómetros é bom sinal, é porque foi interessante.
Nota: esqueci-me que dizer que o GPS ficou sem bateria, assim não pude realmente verificar se correspondia às minhas necessidades.
Mapa do percurso
2 comentários:
Levada pela sua mão, percorri os caminhos desse belo passeio!!!
Faz umas descrições tão pormenorizadas que não é difícil acompanhá-lo!!!
As fotos também são muito bonitas e elucidativas!
Parabéns por tudo!
Cumprimentos
Anita
Olá.
Estamos numa época de lembrar os amigos que nos acompanham sempre, mas agora tem outro espírito, o do natal, por tal passamos para deixar os Votos de Boas Festas para todos o Bloguista e amigos deste espaço, que admiramos e seguimos com amizade.
Verdes saudações e votos de Ano 2010 Bom.
At Ento
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