03 agosto 2012
Pão sem côdea
- É da minha lembrança, o pão de dois vinténs. Não vale a pena a gente andar a matar-se. Os burritos são da casa , mas que importa!? Os adubos caros como o lume. Pessoal, de grilo! O filho anda na guerra, quem o fabrica?
- Vá, homem anda lá! dou-te uma ajuda. A segada é dura.
- O apetite não existe!
- Anda, anima-te! Come p´ra diante, carrega-lhe no presunto.
- A pinga é valente, é o que me vai valendo. Sangue da videira.
Na eira a máquina trabalha. A máquina vomita. Palha e grão, palha e grão. O motor não pára.
Sacos sobre sacos. O carro já espera.
- Deitar água, depressa, ide a buscar mais! Ai o meu pãozinho - fujam - o motor estoirou.
- Água!
- Água!
- Água!
O fogo de várias línguas lambe e come até fartar.
Tudo estala e foge. O lume assa Julho.
O pão ardeu. Dos sacos nem baraços.
Choros e mãos a abanar.
- Que será de nós?
Tinha de não ter côdea. Não volta a fabricar.
N. Fonseca.
Texto publicado no Jornal Énié, a 08-10-1975
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