19 fevereiro 2013

e de repente é noite (I)

Faço isto em nome de um fogo distante.
Uma cadeira lenta para nova estação
contra o inverno.
O frio são os membros mutilados
de um corpo sem espaço
para implantar audaciosas acústicas.
Talvez os verbos se inflamem
ao mais leve estremecimento dos nomes
e tudo regresse ao início,
à postura estática das coisas.
Cerro os lábios, por precaução,
na periferia do vazio. A língua
no vértice do sal destilado
sobre outroras de celestes mansões.
Só a matéria partilha fulgores
com os náufragos tangenciando o ócio
das habitações da noite,
onde a vida não é mais que transitório
olvido da morte.

 Poemas de João de Sá, do livro "E de repente é noite", 2008.
Fotografia: Serra do Facho, em manhã de inverno - Vila Flor.  

1 comentário:

Transmontana disse...

Belo poema, ilustrado por uma linda foto!
Parabéns!