No dia 17 de Abril fiz mais uma visita ao museu Dra. Berta Cabral em Vila Flor. A cada visita o nosso olhar recai sobre objectos que não vimos em anteriores visitas, ou que não nos despertaram curiosidade. Parei justamente na sala Dr. Alexandre de Matos. Nesta sala há uma boa colecção de máquinas de escrever, mas também vestuário, calçado, objectos de higiene pessoal, etc. reparei numa máquina fotográfica antiga, quase completamente feita de madeira, colocada sobre um tripé também de madeira com um ar de “antes da primeira guerra mundial”. Olhava-me do alto do tripé, com o seu único olho já meio torcido pelos anos. Olhei-a com atenção a toda a volta. A ficha identificativa pouca informação dava: pertenceu a Armando António Costa e foi oferecida ao museu pelo seu sobrinho Abel José Fontes em 1996.
Quando voltei a casa continuei a pensar naquele “caixote de madeira” e no dia 19 voltei ao museu. Procurei por todos os lados alguma referência que me desse indicação da marca, do modelo, da ano de fabrico, mas não encontrei nada. A caixa tem da largura 17 cm e de altura 24 cm. Depois de aberto um pequeno fecho que tem no lado direito, a traseira mexeu-se. No interior da pequena caixa estava um fole com 35 cm de comprimento. O lado esquerdo da câmara é a base da mesma, que serve de suporte para o fole se poder alongar e permitir a fotografia. Quando o fole recolhe, a base desliza para a traseira da máquina completando a pequena caixa de madeira, que assim podia ser transportada com facilidade.
O suporte para a fotografia não era o filme mas sim uma placa fotográfica, para uma única fotografia. Seria interessante saber o ano de fabrico desta curiosa câmara!
As primeiras câmaras fotográficas não tinham fole, baseavam-se num princípio ainda mais simples: duas caixas de madeira que deslizavam uma sobre a outra, permitindo a focagem. O fole só foi introduzido depois de 1882. Foi também no fim da década de 80 que começaram a surgir os primeiros obturadores de diafragma, de forma a limitarem a quantidade de luz que passava pela objectiva. Esta câmara tem uma solução curiosa: trata-se de um disco metálico com 3 orifícios de diâmetros variáveis. Fazendo rodar o disco, coloca-se o orifício pretendido no interior da objectiva, funcionando de forma bastante semelhante do do diafragma das câmaras actuais. Esta câmara também já tem obturador, sobe a forma de uma cortina de tecido, colocada entre o diafragma e a placa sensível. Não consegui descobrir qual era a sua velocidade de obturação ou se a mesma era regulável. Este funcionamento é mais moderno do que o usado ainda nas câmaras de alguns fotógrafos que existem em certos locais históricos, que tiram a tampa da objectiva, contam determinados “segundos”, e voltam a colocar a tampa da objectiva manualmente, para interromper a entrada da luz!
Não consegui saber o ano do fabrico da câmara. Inclino-me para que seja anterior a 1900, uma vez que em neste ano já a Kodak comercializada uma máquina que utilizava rolo, com capacidade para 100 fotografias, que revolucionou a história da fotografia.
Noutras ocasiões falarei de mais câmaras fotográficas antigas que existem no museu.
3 comentários:
Excelente trabalho de investigação e documentação museográfica. Estou certo que a "coca-bichice" do Aníbal o levará a descobrir ainda mais sobre esta bela peça, ou, no mínimo, sobre este tipo de "caixotes" fotográficos, verdadeiros tetetravós da nossa tecnologia digital....
Eu realmente adorei a foto do caixote fotográfico achei ele lindo, uma verdadeira relíquia (se podemos dizer assim).A verdadeira beleza da antiguidade indiscritível... mas você já parou pra pensar como é engraçado o fato que uma câmera tirou foto de outra câmera!?!
queria informar que tenho uma Máquina igual a essa não ademira como bisnéto de um fotografo concentuado como foi meu visavô Eduardo Correia, medalhado com ouro e prata em exposições em Lisboa Paris Viena etc. em 1925 e eu tenho uma foto onde está ele com uma máquina igual a essa,por isso penso que será do fim do sec.XIX inicio do sec.XX
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