01 dezembro 2008

50 anos - Museu Drª Berta Cabral

Comemoram-se no dia 30 de Novembro de 2008, os 50 anos do museu Dr.ª Berta Cabral. As baixas temperaturas que se fizeram sentir, obrigaram a alterações no seguimento do programa previsto, mas não afastaram aqueles que quiseram estar presentes.
O descerrar da lápide comemorativa acabou por ter lugar durante a manhã e a animação levada a cabo pela Companhia Profissional de Teatro Filandorra teve lugar no auditório do Centro Cultural e não no Largo do Museu, como estava previsto.
A animação foi desenvolvida em duas partes: numa foi feita uma dramatização representando Raul de Sá Correia, na outra, mais carregada de humor, foi representado um texto de Pires Cabral, baseado na história da sopa de pedra.
Na primeira parte foi lido o texto “Os arquivos da memória”, de Batista Bastos, publicado no Expresso em 1992. Num palco decorado com objectos trazidos do museu, dois actores deram vida a Raul de Sá Correia e Maria José, sua esposa.
“Vai a tarde a caminhar para a noite. Numa distinção sóbria e altiva, este homem que parece atribuir aos objectos inanimados uma dimensão móvel, com alma, comportamento e existência - este homem que conferiu a uma espécie particular de trabalho a divisão do afecto, recusando o acaso, manifesta-me a memória das coisas e diz que tudo que possui um secreto e sempre indecifrável significado: "Aquilo que nos rodeia dispõe de uma função diferenciada. E o nosso diálogo é sempre com Deus". Desce a rua antiquíssima, bengala à frente, braço com braço na mulher, e, delicadamente, entra no solar do século XVII, onde mora, onde vive - onde acredita.”

Na segunda parte, o “frade”, arrancou verdadeiras gargalhadas na plateia enquanto ia juntando os ingredientes para o seu caldo de pedra.
Chegado o momento do lançamento dos livros "Vila à Flor dos Montes", de João de Sá e “Vila Flor – Memórias de um outro tempo” de António Meireles, o sr. presidente Artur Pimentel tomou a palavra. Agradeceu ao director do grupo Filandorra por ter feito uma dramatização de um quadro da vida de Raul Sá Correia, dado que o mesmo se funde com o museu. O museu sempre foi e será um ex-libris de Vila Flor. O museu está bem como está, deve ele próprio ser museu. Recolocar as peças, remodelar o espaço, equivale a perder a identidade, uma vez que todos os vilaflorenses conhecem os objectos, sabem onde estão e revêem-se neles. “O museu está hoje como há 50 anos. Mudam-se as janelas, pintam-se as paredes, mas o essencial mantém-se”. Esta tem sido a filosofia de sucessivos presidentes da Câmara.
Para a mesa convidou Alfredo Ramalho, ex presidente da Câmara, Dr. João de Sá, escritor, autor do livro Vila à Flor dos Montes, a Dr. Fátima Meireles, esposa do Dr. António Meireles, autor de do livros Vila Flor – Memórias de um outro tempo, já falecido.
A meio da mesa ficou uma cadeira vazia. O presidente da edilidade esclareceu que a cadeira seria daquele que presidiria às cerimónias, caso estivesse vivo, Raul de Sá Correia.
Realçou a última oferta ao museu, uma grande colecção de miniaturas de automóveis doadas por um habitante de Vilas Boas e o impacto da telenovela “A Outra”, que trouxe uma grande quantidade de visitantes a Vila Flor e ao Museu. Com um número médio anual de 1000 visitantes, soma já cerca de 8000 em 2008.
Tomou depois a palavra a Dr. Fátima Meireles. Emocionada, agradeceu à Câmara Municipal por tornar possível a leitura dos textos do seu marido a todos os vilaflorenses. O Dr. António Meireles, escreveu sobre a Vila Flor do seu tempo (anos 40 e 50), primeiro ao ritmo de um texto por ano, depois, dando conta que o tempos se lhe esgotava, acelerou o ritmo, mas morreu deixando apenas com uma página o texto que tinha em mãos dedicado ao Dr. Cabral Adão.
A actriz Cecília Guimarães (que privou com Adelina Campos), presente na sala, subiu ao palco para ler alguns poemas do livro “Vila à Flor dos Montes”.
O Dr. João de Sá dividiu a sua intervenção em duas partes: numa primeira, falou sobre o museu e sobre Raul de Sá Correia, seu tio, na segunda teceu algumas considerações sobre o livro que estava a ser lançado. Realçou o caracter de seu tio, que com habilitações literárias muito básicas, conseguiu deixar obra de grandeza excepcional: biblioteca, arquivo e museu. Sonhou colocar Vila Flor a ler, não uma literatura qualquer, mas sim literatura universal.
Chamou a atenção para a importância do arquivo, onde se guarda a história de todos e da cada vilaflorense, concordando também com a ideia defendida pelo sr. Presidente da Câmara de "um museu dentro do museu". Lembrou que os objectos quando entram no museu ganham um significado que não tinham enquanto objectos, mas para isso necessitam de espaço, talvez por isso, o museu necessite de mais espaço. Cada objecto é um símbolo que transcende o próprio objecto.
Para terminar as suas flexões sobre o museu, louvou o empenho e dedicação de quem cuida da organização e funcionamento do museu na actualidade, o sr. Rogério Fernandes.
Referindo-se ao seu livro, começou por agradecer a Vila Flor. Apesar de apenas aqui ter vivido um quarto da sua vida, Vila Flor moldou-lhe o carácter, com o vento, a luz, a neve e o tempo.
Agradeceu ao Dr. Pimentel, à Dr.ª Gracinda e a todos os que fizeram com que o livro fosse possível. Descreveu o livro como a “memória do tempo”, um aceno aos desenraizados que talvez com ele vislumbrem, ao longe, um caminho de regresso à leira nativa.
Depois de autografados os livros, gentilmente oferecidos pela Câmara Municipal a todos os presentes, os mais resistentes rumaram para o museu, a fim de assinarem o livro de honra.
Às vinte e uma horas o auditório do Centro Cultural abriu-se de novo para se ouvir fado de Coimbra, interpretado pelo grupo Capas Negras. A afluência foi grande, com mais de 200 pessoas que quase encheram o auditório.
Todas as músicas interpretadas foram seguidas com muita atenção, mas o público entregou-se mais no acompanhamento da “Samaritana” e da “Balada da Despedida”. Também a interpretação de dois fados de Xabregas, marcante fadista de Coimbra, nascido em Samões, foi efusivamente aplaudida.

1 comentário:

Anónimo disse...

Obrigada, Aníbal, por nos dar a conhecer o que foram as comemorações dos 50 anos do Museu Drª Berta Cabral. Foram bem merecidas!!! É um património de todos nós, e é bom que assim continue, porque tem muito valor histórico!!!
Parabéns pelo trabalho!!!
Cumprimentos
Anita