16 agosto 2009

Descrição


Assim, com as mãos na água, as mulheres lavavam roupa, e discutiam;

Tratava-se da tarde, ainda tarde, o sol descia para os lados da vila. Ninguém podia objectar que a noite caía sem o conhecimento de milhares de outras; eles regressando da terra, aí por baixo, pela volta dos tristes, pela estrada
de Sampaio, e de Roios;

Tratava-se da vinda do campo, depois do dia de trabalho; as charruas com terra, as mãos
habituadas;

Entretanto, juntava-se gente na praça; quem estivesse no Rossio, ou mais para o fundo da vila, sabia-o; juntava-se gente às portas, alargava-se
o falar;

E a noite caía. Era mais uma. Cai assim, ensombrando as pedras escuras, as vestes
os homens, as mulheres. Uma e outra, mulheres vergadas depois da carga
do dia;

À porta do café, na praça, um dos patrões da vila;
tal como há dez anos, apenas um pouco mais velho;

À porta de casa, cada emigrante
os que chegaram a casa.

De Modesto Navaro, "Ir à Terra"; Edição do autor, 1972.

1 comentário:

Alexandrina Areias disse...

Olá, boa tarde!
Mais uma excelente postagem... tanto na escolha das imagens, como das palavras que as acompanham...!

E como considero este blogue uma 'jóia' na divulgação do concelho de Vila Flor, através das suas excelentes fotografias e da divulgação de textos/poemas de alguns vilaflorenses e dos eventos que vão decorrendo no concelho, decidi atribuir a este blogue o selo "este blog é uma jóia" é só ir buscar no "olhares soltos..."
Continuação de bom domingo.
Cmc's

AA