18 agosto 2009

O Passado e o Presente (2)


PASSADO
Quando a moura gente a Ibéria invadiu,
Das terras lusas, de hoje, nem uma só fugiu
À arrogância atrós daquela gente insana
Que, agrupada, aos milhares, em grande caravana,
Percorrera terras num galopar veloz,
p'ra incutir, no ânimo do vencido,
A realidade do valor que tinha tido,
Noutras grandes lutas, aquela pobre gente,
Que pobre se chamou por não ter sido crente.

Aí vêm eles envoltos num turbilhão de pó...
Parece qu'estou a ver aquela gente sem dó,
Sem piedade, sem fé, sem crença e sem amor,
Avançar, destruir, queimar, trespassar sem dor
Os palpitantes peitos da devota gente,
Regar com sangue, extravasado, ainda quente,
A terra agreste que os cavalos vão pisando
E os corpos frios dos soldados entulhando.

Aqui vieram e assentaram arraiais
Fazendo desta terra uma fortaleza mais
Para assegurar a vitória da conquista.
No topo da colina de onde se avista
Todo o caminho que à terra vem parar,
A gente invasora pensou em levantar
Um castelo alto e forte, donde a vigia,
Em constante permanência, ver podia
Todo o movimento d'entrada e de saída.

A fortaleza que p'ra resistir à lida
De futuros combates, construída fora,
Erguia-se naquele altinho onde, agora,
De Deus a majestosa casa se levanta.

PRESENTE
Então, fora ali no lugar da Igreja Santa
Que os mouros ergueram o castelo de que fala?

PASSADO
Sim... depois de abrir ali profunda vala.
Destruindo o rochedo que aflorava à terra
Para aproveitar dele a pedra que ele encerra,
Alicerces fundos e largos são lançados
Que aguentassem com o peso dos murados.

Naquele lugar o castelo fortaleza
Lá estava levantado. Em toda a redondeza,
Um muro alto com ameias e seteiras
Erguido fora para que de duas maneiras
O castelo e a Vila fossem defendidos:
C'oa defesa real dos muros construídos,
E c'oa eventual resistência dos soldados
Na defesa da muralha experimentados...

Excerto da Revista "O Passado e o Presente", em dois actos e 10 quadros, escrita por Dr. Artur Trigo Vaz e levada à cena em Vila Flor nos dias 31 de Dezembro de 1949 e 1 de Janeiro de 1950.

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