Terminou mais um ciclo de concertos "O Som das Musas", desta vez o V, levado a cabo no Centro Cultural, em Vila Flor. Foi um ciclo marcado por alguma contenção económica, dado o período difícil que atravessamos, mas houve uma grande preocupação em manter a qualidade e em apresentar espetáculos destinados a diferentes tipos de públicos, em eixos temáticos, apresentados como, Raíz-Identidades (fado), Concertos de Memória (música medieval, O Cancioneiro del-rei D. Dinis 1261-1325) e concerto de Jovens Talentos (música clássica).
O nome do ciclo "O Som das Musas" encaixa na perfeição no espetáculo de Cuca Roseta uma vez que é uma jovem, muito bonita, e com uma voz de encantar, atributo próprio do canto das sereias. Foi uma verdadeira musa.
O segundo espetáculo, no dia 12, teve em palco o grupo La Batalla. Foi um momento único para apreciar a verdadeira música medieval, a servir de fundo às Cantigas de Amor, Cantigas de Amigo, de Escarnho e de Maldizer, algumas composta por uma figura ímpar na história de Portugal, o próprio rei D. Dinis. Não se tratando de música muito acessível a ouvidos pouco habituados, quem se deixa embeber pelo som instrumental e pelas vozes sente-se levado para a corte medieval, onde as cores e as vestes envergadas pelos executantes faziam todo o sentido.
No terceiro, e último espetáculo, a Orquestra Esproarte de Mirandela encantou o público presente. O espetáculo começou com o Concerto em Sib M. para Oboé e Orquestras, de Bach. O diálogo entre os violinos e violoncelos com o melancólico instrumento de sopro cativaram de imediato o público. A solista a foi Adriana Castanheira. O palco foi-se compondo ao longo do espetáculo, ficando completamente cheio, já com instrumentos de sopro e percussão, para a última música, Finlândia, de J. Sibelius. O maestro Humberto Delgado fez um paralelismo entre a execução da orquestra e uma açorda. Tal como numa açorda os ingredientes pimenta, azeite, alho e pão, são todos necessários para construir um todo saboroso, também numa orquestra são necessários os vários grupos de instrumentos para executar um peça musical com qualidade, com um som cheio e envolvente.
O espetáculo foi de tal maneira arrebatador que toda a gente sentiu que o tempo passou rápido e que apetecia ouvir a orquestra durante algum tempo.
No final do terceiro concerto tive o prazer de conversar com o diretor artístico do ciclo O Som das Musas, Pedro Caldeira Cabral, também fundador e diretor do grupo La Batalla.
Este festival surgiu através de um convite pessoal do presidente da Câmara Dr. Pimentel a Caldeira Cabral, constatado o sucesso que o Festival de Música Medieval estava a ter em Carrazeda de Ansiães.
Inicialmente o ciclo O Som das Musas ocupava dois fins de semana na época das vindimas. Dirigia-se a um tipo de público já apreciador que, para além e escasso, já assistia a espetáculos semelhantes noutros locais não se conseguindo o público desejado.
Este tipo de eventos pretende criar "dinâmicas sociais e e económicas e promover o encontro entre as pessoas". Não se pode esperar despreza imediata/receita imediata, uma vez que os resultados só serão visíveis ao fim de alguns anos. Só aí se poderá fazer o verdadeiro balanço. É necessário proporcionar este tipo de ofertas com regularidade, de forma que as pessoas as vão integrando nos seus hábitos.
Houve a necessidade de fazer alguns ajustes que se traduziram no corrente ano com na realização dos concertos por altura do S. Martinho, também sempre a pensar em chamar gente a Vila Flor.
Em 2011 comemoram-se os 750 anos do nascimento de D. Dinis, rei com uma visão invulgar e com muito significado para Vila Flor, uma vez que lhe concedeu o foral em 1286. Também a ele se deve o topónimo Vila Flor, que tanto encanta os naturais e residentes. Esta vertente foi explorado no Concerto Memória.
Para Caldeira Cabral o festival foi um sucesso. Em todos os espetáculos houve perto de duas centenas de espetadores. No primeiro dia foi possível ouvir a fabulosa voz de Cuca Roseta. Esta fadista está a ter uma carreira brilhante e, futuramente, será muito difícil voltar a traze-la a Vila Flor. No segundo concerto, com o grupo La Batalla, foi ouvida música erudita. Usando de alguma teatralidade, o grupo constituído por 8 elementos, entre músicos multi instrumentistas e cantores, conseguiu "agarrar" o público. Isso foi notório no silêncio com que as várias peças foram ouvidas. Era um espetáculo destinado a um público mais exigente, mas as expectativas foram superadas.
Quanto ao futuro do festival, quer, a autarquia quer o seu mentor; Pedro Caldeira Cabral mostraram interesse na sua continuação. Este disse mesmo já ter algumas ideias que pretende implementar numa próxima edição, negando-se, no entanto, a divulgá-las sem as ter apresentado e discutido como a Câmara Municipal, organizadora do evento.
A nós, habitantes em permanência deste Reino Maravilhoso, só nos resta desfrutar de tudo que nos for possível viver e esperar que o Som das Musas, venha outra vez alimentar-nos a alma.
Nota: Os vídeos são da Localvisão TV.
1 comentário:
Bom dia, Aníbal!
Gostei de saber do sucesso do festival que decorreu em Vila Flor. Não vi os vídeos para não perturbar o sono e repouso dos vizinhos, a uma hora tão matinal. Logo que seja oportuno, os verei e apreciarei.
É muito bom que estes eventos entrem nos hábitos das nossas gentes, dado que, muitas vezes, são esquecidas, como se não fizessem parte do nosso país.
Obrigada por partilhar connosco, que não tivemos oportunidade de estar presentes.
Um abraço amigo para si e toda a família.
Anita
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