Ó este vento que me torce a alma,
Olhando as chamas, no espaldar do escano,
Tecendo o tempo em fios de ano e ano,
Voraz caruncho que ninguém acalma.
Volúvel, este vento amanhecendo...
Corte de longe em coração cigano.
Breve pausa de engano e desengano,
Clamor que me estrutura, corroendo...
Fecho o livro que lia. O impossível
Avantaja-se e torna-se audível,
Mas nada se aproxima que transgrida:
O bater duma porta, uma telha
Partida, vozes, passos numa quelha,
Seja o que for que arremede a vida!
Poema de João de Sá, do livro "Vila à Flor dos Montes", 2008.
Fotografia: A caminho da Ribeirinha, na Quinta da Peça.