07 janeiro 2023

Vento (João de Sá)



Ó este vento que me torce a alma,
Olhando as chamas, no espaldar do escano,
Tecendo o tempo em fios de ano e ano,
Voraz caruncho que ninguém acalma.

Volúvel, este vento amanhecendo...
Corte de longe em coração cigano.
Breve pausa de engano e desengano,
Clamor que me estrutura, corroendo...

Fecho o livro que lia. O impossível
Avantaja-se e torna-se audível,
Mas nada se aproxima que transgrida:

O bater duma porta, uma telha
Partida, vozes, passos numa quelha,
Seja o que for que arremede a vida!

Poema de João de Sá, do livro "Vila à Flor dos Montes", 2008.
Fotografia: A caminho da Ribeirinha, na Quinta da Peça.


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