

A descida é muito rápida, mas fiz algumas paragens para saborear o Outono. Algumas vinhas ainda tinham uvas. Na bordadura das mesmas havia árvores carregadas de frutos coloridos. Os castanheiros começam a dobrar-se com o peso dos ouriços que ameaçam estourar a qualquer momento.
Num lameiro seco pelo Verão, já despertaram as tão belas quanto mortíferas flores duma planta do género Colchicum. Não sei bem se se trata da Colchicum lusitanum Brot ou da Colchicum autumnale, parentes muito próximas, ambas da família das Colchicaceae. A luz era pouca para me dedicar à macrofotografia, mas, encostei a bicicleta e deitei-me no lameiro à procura de um ângulo favorável desta beldade, também conhecida como dama-nua.

Continuei até Roios. É sempre agradável passear nesta pequena aldeia. Em muitos recantos há vasos com plantas suspensos emprestando um ar colorido e romântico. Depois de um curto passeio por algumas ruas, decidi continuar a descer em direcção a Lodões. O objectivo era subir por um antigo caminho entre a Quinta do Vale da Cal e a Quinta do Israel, que vem apanhar a estrada de Roios já bem próximo de Vila Flor. Esta parte do percurso ia ser uma verdadeira descoberta. Nunca por aí tinha passado, não fazia a mínima ideia de onde me ia meter.


A partir deste ponto, o caminho sobe muito. Mesmo com um clima instável, a paisagem é fantástica. Em vários pontos, abandonei o caminho, para olhar com mais atenção a ribeira que passa por Vila Flor e desce ao encontro da Ribeira de Roios, saltando de pedra em pedra, em pequenas cascatas, em locais escarpados de difícil acesso. A beleza da ribeira, à distância, pode ser maior. Pelo que conheço deste curso de água, perto da Quinta de S. João, junto a Vila Flor, a água espalha um cheiro muito desagradável.

A Quinta do Israel está completamente votada ao abandono. Muitos hectares de olival reclamam cuidados e as casas, mesmo vistas à distância, ameaçam cair. Quando passo por locais como este, gosto de fazer viagens no tempo, tentando adivinhar como seria a vida nestes locais, há algumas décadas atrás. A subida é longa, deu-me tempo para viajar, saborear o silêncio, fotografar pormenores, expurgar o stress e limpar os poros abertos por enxurradas de suor.
Quando cheguei à estrada N608-1, segui em direcção a Roios durante algum tempo para ver os trabalhos de recuperação da via. Por fim, já com os últimos raios de Sol a passarem pela Porta do Sol, regressei a casa. Além da viagem dos quilómetros, 19 ao todo, houve outra viagem: de observação, sensação e introspecção. Mais do que as palavras, as fotografias mostram essas viagens.
Quilómetros do percurso: 19
Total de quilómetros em bicicleta: 1525
3 comentários:
Excelente fotografia a do bogalho, com aqueles "salpicos" de água...
Alexandrina Areias
Olá
Um regalo de fotos!
Abraço
Esmeralda
Há quanto tempo não vejo um bogalho, Deus meu! E este, molhado da chuva, já nos faz sentir a frescura do Outono! Parabéns pela foto.Gosto das gotinhas cristalinas no bogalho e da paisagem desfocada.
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