27 outubro 2007
Visita a S. Sampainho
No dia 8 de Setembro, fiz uma visita que não reportei aqui no Blog. Foi um passeio a S. Sampainho, na freguesia de Mourão. Esta aldeia abandonada estava nos planos de visitas quase desde início, há um ano atrás, quando fui ao Gavião. Embora já tenha passado muitas vezes próximo, nas minhas deslocações à Alagoa e ao Mourão, nunca me tinha aventurado um pouco mais longe, seguindo a estrada de Vilarinho da Castanheira.
Pouco depois de deixar o Cruzeiro da Sentinela (diz a tradição que assinala o local de encontro entre tropas miguelistas e liberais), basta andar algumas centenas de metros na estrada que conduz a Vilarinho da Castanheira para se ver por sobre o colorido das vinhas, a Capela de S. Plácido, localizada na aldeia abandonada de S. Sampainho. Caminhei ao seu encontro, por entre vinhas de uvas quase maduras (na altura), numa bonita tarde de sol. A capela de S. Plácido está completamente recuperada. É simples, de granito, com as juntas rebocadas e pintadas a branco. A porta é de metálica pintada de verde com alguma decoração de ferro, pintada de branco. A parte superior é de vido, permitindo observar o interior.
Por sobre a porta estão cravadas letras metálicas, douradas, que rezam – S. Plácido. Estou em crer que o mesmo se encontrava inscrito na pedra, embora não de forma tão cintilante! De cada lado da porta espreitam-nos duas carrancas antropomórficas. São os principais motivos de interesse nesta construção singela, uma vez que não há campanário, nem torre, apenas uma cruz sobre a empena do frontispício. A carranca que está melhor conservada é a que está a Norte da porta. É possível distinguir facilmente, os olhos, em baixo relevo, o nariz, a boca, as orelhas e o cabelo. A que está a Sul da porta, está mais danificada pela erosão e foi partida. São visíveis os olhos e a boca.
O interior da capela, está cuidado, limpo e com algumas plantas verdes. Não há qualquer altar, apenas uma cruz e, ao centro, a imagem de S. Plácido.
O espaço que envolve a capela, também está cuidado, com jardim e um agradável cheiro a rosas e alecrim. No cunhal SE. um silhar apresenta decoração constituída por chanfra na aresta com dois rosetões em alto relevo. Não deixa de ser curioso este pormenor decorativo (quinhentista?), completamente desintegrado, levando-me a pensar que terá vindo de um outro lugar (mas de onde?).
Passei de seguida a percorrer o espaço envolvente. Não há grandes sinais de uma aldeia. As duas construções existentes formam um conjunto que poderá ter sido uma quinta ou uma albergaria. O caminho que passa mesmo ao lado, hoje praticamente abandonado, seria uma via de comunicação com algum significado, se pensarmos na importância de Valtorno (e a sua Igreja), e de Vilarinho da Castanheira, que foi sede de concelho.
Uma das construções apenas tem as paredes, de boa construção, feitas de granito. Uma outra construção, ainda com telhado de duas águas, tem um pequeno alpendre com uma porta de entrada e apresenta duas pequenas janelas a Sul. As portas das duas construções conduzem a uma área rectangular, vedada por um murete. Imaginei o espaço cheio de galinhas correndo do galo atrevido, uma burrica presa a uma ferradura cravada na parede e uma velhota sentada ao sol manobrando com mestria um fuso que lançava ao ar arrepelando alvos fios que pendiam da roca. Sentado no chão, a um canto, uma criança de faces vermelhas e surrentas, acariciando um cão magro, submisso, de olhos doces e pelagem da cor dos fetos no fim do Verão. Um carro de bois passava pelo caminho, chiando dos eixos, escorrendo água das rodas que escorria prazenteira encarreirada na beira do caminho. Acordei! Água? Aqui? Nesta altura do ano? A água corria mesmo pelo caminho abaixo, procurei a farta nascente que assim brotava no final de um escaldante Verão. Encontrei um poço, cheio de água, ali perto. As rãs olharam para mim espantadas, mas não as perturbei por muito tempo. Aproveitei para provar uma uva branca que estava mesmo ali, a provocar-me.
Sentei-me numa parede, comendo a uva, com S. Sampainho à minha frente. Nada perturbava o silêncio, nem mesmo as rãs! Adivinhava o Mourão, ali à frente. Na encosta a Poente via algumas casas de Alagoa e o Santuário de Nossa Senhora de Fátima. Também vislumbrava uma capela, lá longe, por cima do Vilarinho da Castanheira. Sem pressas, deixei-me ficar. Longe do mundo, longe da confusão.
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2 comentários:
Com que então as rãs olhavam para ti espantadas e a uva branca proovocava-te! lol
Tens tantas excelentes fotos! Concorre a prémios que ganhas!
Olá
Excelente descrição!!! Grandiosa "visão/viagem" a um/ao passado...
Parabéns!!! Obrigada!!!
Abraço
Esmeralda
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