31 dezembro 2008

Flor do Mês - Dezembro de 08

Em nenhum mês tive tanto trabalho em descobrir a Flor do Mês, como em Dezembro! E, ainda bem que assim foi, porque acabei por escolher a flor que não existe ou seja a não flor. Passo a explicar: para quem como eu acredita na evolução das espécies, compreende com facilidade que há milhares de anos atrás nenhum ser vivo seria como é hoje. Acontece que a flor, tal qual a conhecemos hoje, é uma adaptação altamente especializada das folhas das plantas tendo em vista a reprodução. Os meus alunos riem em surdina quando lhes digo que quando estamos a cheirar ou a cortar uma flor, estamos a cortar os órgãos sexuais das plantas. É que as flores também têm sexo, a maior parte delas tem os dois sexos!
Há milhares de anos as plantas não possuíam certamente a complexidade que hoje têm, nem ao nível da reprodução, nem ao nível do próprio sistema vascular. As plantas vulgarmente designadas Plantas sem flor, não podem ter flores mas isso não impede que a sua reprodução seja sexuada. É precisamente aqui que entra a curiosidade da escolha destas plantas no mês de Dezembro.
Estas plantas chamadas cientificamente de briófitas (bryon, quer dizer musgo em grego), não têm vasos condutores de seiva, por isso não podem crescer muito. O transporte de substâncias dá-se por difusão entre as células.
Explicar a fecundação é impossível sem recorrer a uma série de “palavrões”, vou tentar ser simples, é sempre bom aprender.
Basicamente os musgos têm duas gerações, numa delas ocorre a reprodução. A parte mais verde do musgo, ou seja aquilo que normalmente estamos habituados a ver é o gametófito e aquela a que um leigo poderia chamar “flores” são os esporófitos. No topo do esporófito está uma cápsula (anterídio), que tem dentro anterozóides. É precisamente a água que faz com que essa cápsula se rompa e permitem também aos anterozoides, que são flagelados (têm um “rabinho” como os espermatozóides!) consigam nadar até à oosfera fecundando-a (os arquegônios crescem também no gametófito e cada um produz uma oosfera). A água é imprescindível neste processo, por isso a reprodução acontece no Inverno e os musgos vivem em locais sombrios, nas rochas, no chão ou nos troncos das árvores.
As fotografias foram tiradas num dia geladíssimo, 27 de Dezembro, atrás da serra e junto dos ribeiros de Roios. Estão representados quatro espécies de musgo distintas. Foi um grande desafio e fiquei muito contente com o resultado.

5 comentários:

Anónimo disse...

As imagens são belas e a explicação é completa.
Obrigada pelos ensinamentos!!!
Bom 2009!!!
Cumprimentos
Anita

JORGE DELFIM disse...

Boa explicação Anibal. Ainda me recordo de estudar este processo no Liceu.

Bom Ano de 2009


Jorge Delfim

AG disse...

Estou longe de casa... mas com recurso a um quiosque internet, não quero deixar de agradecer os votos de bom ano e desejar um EXCELENTE 2009 para todos os vistantes do Blog.
Esperamos um ano melhor, ou pelo menos igual...

At Ento/ViverParambos disse...

Olá.
Vínhamos com a intenção de, simplesmente, deixar os Votos de Bom Ano Novo para todos os frequentadores deste espaço, que sentimos como nosso, mas tivemos o brinde de uma bela lição.
Muito bem explicado e a não flor fica muito bem como a Flor de Dezembro.
Mas o que queríamos mesmo era desejar a continuação de tão belo trabalho, pois melhor é impossível!...será?
sabemos que seremos sempre surpreendidos.
Cá da aldeia mais verde de Portugal as nossas saudações com amizade.
At Ento

Anónimo disse...

Caro Aníbal! um verdadeiro Mestre!!! não só da fotografia, mas dos segredos da Mãe-natureza que tão bem captas e explicas!! - um Bom Ano para ti e para toda a blogosfera que coordenas! - e que este trabalho/esforço/lazer seja por todos reconhecido e apreciado, a bem desta nossa terra sagrada,
com aquele abraço cá desta outra banda da Vilariça e do Sabor,
N.
P.S. - que tenhas tido umas boas entradas e ... até breve!