01 agosto 2009
O Passado e o Presente (1)
Passado
Depois de tanta canseira,
De tanto correr e mirar,
Vim, afinal, parar
No socalco da ladeira
Que s'estende prazenteira,
Deste meu saudoso lar.
O horizonte, a terra, o ar
Eu conheço muito bem...
Daquele monte, além,
Onde se ergue um altar
Que convida a rezar
A Virgem Santa e Mãe;
Daquele tão lindo monte
Que da Lapa foi chamado,
Um panorama afamado,
De longínquo horizonte
S ' estende mesmo defronte
Para todo e qualquer lado.
Serras de grande porte
Limitam nossa visão...
A Estrela... a poente o Marão,
A branca Sanábria a Norte
E, bem perto, a Bornes forte
De terra que dá bom pão.
Entre o Reboredo escuro
Do carvão que é sua terra
E a Lapa... bela serra
Que escondera, em seguro,
O tesouro belo e puro
Qu'inda hoje ela encerra,
Estende-se, belo e bom,
Da Vilariça o gram vale
Que, não tendo outro igual,
Merece por si o dom,
Em fertilidade e tom,
De ser ele o principal.
Lá no fundo, mansamente,
Num barulhar que ecoa,
A fértil, seiva se escoa
Na caudalosa corrente
Do sabor... e este, finalmente,
Ao grande Douro a doa.
De tudo isto estou certo...
Não me enganam estes sinais.
Mas, ao reparar n ' outros mais
Qu' agora vejo bem perto,
Sinto coração aberto
De pungimentos brutais;
Pois custa-me imenso a crer
Qu'este torrão em flor,
Este sepulcro de amor,
Que m'assistira ao nascer
E m'ensinara a viver,
Seja a minha Vila Flor.
Excerto da Revista "O Passado e o Presente", em dois actos e 10 quadros, escrita por Dr. Artur Trigo Vaz e levada à cena em Vila Flor nos dias 31 de Dezembro de 1949 e 1 de Janeiro de 1950.
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3 comentários:
Belo poema do meu saudoso amigo, Dr. Vaz!
Obrigada, Aníbal, por recordar pessoas tão importantes para todos os vilaflorenses.
Bom fim de semana.
Anita
Que bom que é recordar este excerto...fiz parte do elenco da 2ªedição e foi lindo...ainda tenho saudades..o quanto era bom voltar a repetir..um muito obrigada a si por fazer recordar...
Susana
caro Anibal
Na verdade, foi também levada á cena em 1994(??),e não posso deixar de recordar com saudade, os longos ensaios,o quanto nos divertimos,o nosso ponto que adormeceu, a garrafa de vinho fino escondida detrás do palco, para me ajudar a cantar aquele belíssimo fado(a conselho do Dr.Vaz),e só dei conta que já não tinha o precioso néctar, porque as cachopas mo beberam e invulgarmente, não paravam de rir á gargalhada, até á apresentação, num qualquer dia de fim de primavera inicio de verão,envolvido por um grande entusiasmo de toda a gente(população e actores).Era a história ainda ben recente de Vila Flor,inicio de século, que ali foi falada,cantada e chorada.
Foi fantástico,tenho saudades,sei que há filmes dessa jornada teatral gloriosa,pena eu não ter nenhum,tinha gosto emprestá-lo.
Ficaram dessa experiência, amizades para toda a vida;Susana,Bety,Luiza,Sr.Rogério,sr.Ventura e tantos outros.
FOI BONITO E VALEU A PENA.
Rui Guerra
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