14 fevereiro 2010

Arrematação de S. Sebastião

A arrematação de S. Sebastião, em Freixiel,  é um dos acontecimentos mais interessantes que ocorrem durante o ano nesta freguesia. Este ano não foi excepção e teve lugar no dia 31 de Janeiro.
Durante a manhã realiza-se o peditório e a recolha dos géneros que são postos em arrematação durante a tarde. O surpreendente nesta arrematação é quantidade e variedade de produtos arrematados. Também a existência de pequenos pacotes em arrematação, em que não se sabe o conteúdo, vulgarmente conhecidos por "segredos" dão alguma graça ao evento. Já tenho "picado" alguns destes segredos em anos anteriores, nunca tive o azar de me calhar algo repugnante, mas coisas dessas eram frequentes no passado. Quando cheguei ao adro da igreja, os "segredos" já tinham sido todos arrematados! Seria um erro guardá-los para o final, por isso é com eles que se dá início ao leilão.

Este ano registei a existência de dois galheiros. Os galheiros são ramos, muitas vezes de zimbro, aos quais foram retiradas todas as folhas, deixando apenas os galhos, de 10 a 30 cm onde se penduram produtos. Estes galheiros eram tradicionais nos cantores de reis, que aí penduravam os produtos recolhidos, de casa em casa, quando cantavam os reis, nomeadamente fumeiro. Em Freixiel são usados nesta arrematação de S. Sebastião, sendo todo o galheiro arranjado pela mesma pessoa, que o oferece para a arrematação.
A lista de produtos que podem ser aqui comprados é enorme, com predominância dos produtos da terra: azeite, fumeiro, cebolas, batatas, vinho, figos, ovos, feijão-seco, fruta, figos secos, etc. Há sempre também alguns animais vivos, principalmente galos, pombas e coelhos. Os produtos mais oferecidos e leiloado são bolos, muitos caseiros outros mandados fazer expressamente nas pastelarias. Cada bolo é posto em leilão sempre juntamente com uma garrafa de vinho, espumoso, champanhe ou vinho fino. Cada vez menos frequentes são as línguas de porco, dada a legislação proibir o abate destes animais da forma tradicional. Mesmo assim, este ano ainda havia uma para arrematar.
A arrematação dura toda a tarde, havendo muita gente que vem prevenida de casa com uma cadeira ou um banquinho para ajudar a aguentar toda a tarde.

Não fiquei até ao final para saber o montante arrecadado, mas, a julgar pela quantidade de notas que já enchia a pequena caixa de costura, S. Sebastião deve ter ficado muito satisfeito com a generosidade das pessoas. Não sei se a receita se destinava a ajudar a custear as despesas do restauro da igreja, que anda em obras, mas tenho a certeza que será usada para uma boa causa.

3 comentários:

Transmontana disse...

Bom dia, Aníbal:
Ainda recordo com saudade o meu tempo de infância, e as arrematações de Freixiel.
Embora longe, todos os anos dou o meu simples contributo para que esta tradição não pare.
Gostei de ver o Sr. Presidente da Junta de freguesia, (rapaz do meu tempo e , ainda família e amigo) a leiloar os produtos oferecidos!
Segundo soube, a arrematação ainda rendeu bem e o produto destina-se às obras da igreja.
Parabéns pelo trabalho e que a tradição não morra...
Um abraço
Anita

Anónimo disse...

caro professor,cá estou eu de novo agradecendo a divulgação desta tradição que eu tanto gosto e onde tenho a minha quota parte para ajudar a mante-la,uma vez que ajudo na recolha dos produtos que fazem parte desta arrematação.é tão bonito!!! logo de manhã,lá vamos nós de porta em porta e graças a Deus o nosso povo é bem generoso...já se pode dizer,uma vez que o nosso pároco,José Rodrigues já anunciou.o leilão rendeu à volta de 1.800 euros que revertem a favor da nossa igreja.
sem mais
cumprimentos e bem haja
fátima rosinha
freixiel,15-02-2010

Anónimo disse...

Sem dúvida que isto da Internet e dos blogs é muito bonito, prático e até parece simples; mas quantos de nós nos damos ao trabalho/prazer do Anibal ? Poucos, sem dúvida... e por isso, e também porque ele, sem o querer, nos recorda tantas coisas, tradições, paisagens da(s) nossa(s) terra(s, quero deixar aqui o meu voto de apreço pelo trabalho dele.
Quanto às arrematações de Freixiel, como natural daquela aldeia, mais orgulhoso fico de ver alguém, que nem é de Freixiel, preocupar-se em mostrar neste espaço, que mais não é do que uma aldeia global.
Parabens Anibal
Freeixiel62