Quero sorver a manhã
até não haver vestígios
na taça de cristal azul
atravessada pelos voos
alucinados dos melros.
Descobrir os timbres
das vozes que ecoam
por dentro dos caules
- pedaços de tempo
com a inquieta delgadeza
dum pressentimento
de morte iminente,
por se saber
que qualquer chave serve.
Pisar a relva,
senti-la ranger partículas
de luz, gerúndios verdes
de remoto texto clássico,
num percurso
em que o princípio e fim
se abreviam
na singela oscilação
duma baga de loureiro ao sol.
João de Sá, in Pelo Sinal da Terra; edição de autor, 2010.
Fotografia: Estrada para a Ribeirinha, pouco depois de Vilas Boas.
1 comentário:
Mais um belo poema, ilustrado por uma linda foto!!!
Parabéns pelo trabalho apresentado!!!
Um bom dia para si!
Anita
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