Numa das Peregrinações do Mês de Abril foi escolhido como destino as ruínas da Capela de Santa Marinha, em Sampaio. À excepção dos habitantes da aldeia, poucos são os que conhecem a existência destas ruínas. A história segue o seu rumo, as coisas nascem e morrem e isto acontece com tudo. A devoção a Santa Marinha foi muito forte em determinado período da história, depois foi diminuindo e hoje mantém-se em muito poucas freguesias. Muitas capelas desapareceram e já nem as populações sabem da sua existência. No caso de Sampaio, sobrevive o nome do monte, do marco geodésico que nela existe (chamado também de Santa Marinha), as ruínas da capela ainda bem visíveis e a imagem de Santa Marinha, ainda existente na igreja matriz.
A escolha do destino também teve a favor o deslumbramento que senti na primeira vez que visitei o local a 25 de Março de 2007. As giestas em flor estavam magníficas e a visão do vale é indescritível. Voltar a um lugar assim é gratificante.
Este percurso fi-lo acompanhado, no dia 9 de Abril. A ideia foi fazer um bonito passeio até à aldeia de Sampaio; tentar ver a imagem de Santa Marinha na igreja Matriz e subir ao alto do monte para visitar as ruínas da capela.
O caminho seguido até Sampaio foi uma repetição do já percorrido na altura em que visitei a Capela de Nossa Senhora da Rosa, mas nessa altura fui sozinho. Apesar de não ser adepto da cultura do eucalipto a Quinta do Caniço proporciona bonitos percursos uma vez que tem muitos caminhos por entre a grande plantação de eucaliptos. É mesmo possível seguir percursos diferentes para chegar ao mesmo destino. Seguimos pela estrada de Roios até depois da Valonquinta, depois metemos à direita, atravessámos as obras do traçado do IC5 e seguimos pelos montes. O dia estava muito quente e isso proporcionou-nos a primeira surpresa: na borda do caminho havia uma enorme cobra ao sol. O susto foi grande.
Com a Primavera em pleno, só na bordadura do eucaliptal é que ela se manifestava em força. Estevas, linho, arçâs, sargaços, papoilas, roseiras bravas, tudo explodia em flor fazendo a delícia dos insetos. Além daqueles que se alimentam de pólen, fecundando as flores, há também os que se alimentam delas, comendo estames e pétalas com grande voracidade. Foi na observação de toda a vida que fervilhava em redor que nos esquecemos do caminho e chegámos sem dar por isso junto ao cemitério de Sampaio.
A curiosidade pelos sabores ao encontrarmos alguns espargos selvagens levou-nos a provar as amêndoas (ainda leitosas) e as azedas. Acontece que estas azedas (Oxalis pes-caprae), não são as azedas a que estamos habituados em Trás-os-Montes, mas sim o que o colega de caminhada conhecia como azedas, da região de Aveiro. Provei, e gostei. Ao contrário das nossas azedas, em que são as folhas que são comestíveis, nesta espécie, são os longos pedúnculos das flores que têm um sabor ácido, desagradável ao principio, mas suportável depois.
Chegámos à aldeia à hora de almoço. Não encontrámos ninguém a quem pedir informações para termos acesso à igreja e ainda pretendíamos subir ao alto do monte. Optámos por seguir caminho e esquecemos a imagem de Santa Marinha.
Com a pressão da hora adiantada não fizemos as melhores opções para subirmos ao alto do monte de Santa Marinha. A princípio havia um bom caminho por entre pinheiros e sobreiros, mas que terminou no meio do nada, bastante longo do nosso destino. A solução foi fazer o resto do percurso em linha recta, abrindo caminho com alguma dificuldade. O calor era insuportável e a água já não era muita. Atingimos o alto do monte completamente esgotados, com o coração aos pulos e cheios de sede.
Não é difícil localizar as ruínas da capela. As paredes são bem visíveis e pelas mensagens nela escritas são muito visitadas. Num buraco da parede havia mesmo uma vela! Não sei se alguém a deixou ali acesa, mas seria muito perigoso, poderia causar um incêndio.
Sentados junto do marco geodésico comemos alguma fruto e bebemos o resto da água que ainda tínhamos. A hora já ia adiantada e o calor apertava. O pequeno planalto que existo no topo do monte não apresentava o aspecto esperado e que vi em 2007. Na altura a visita aconteceu um pouco mais cedo.
Seria impensável fazer o caminho de regresso a Vila Flor, agora a subir, com tanto calor e sem almoçar. A solução foi telefonar para casa para nos irem buscar à Quinta do Caniço.
Descemos o monte e seguimos pela estrada (já bastante cansados) até que a boleia chegou.
Caminhámos perto de 12 quilómetros mas esta ficou guardada como uma das caminhadas mais cansativas que já fizemos.
Percurso:
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